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Caderno
de
receitas
do
coração
Equipe S2 C aravana da coragem–
COORDENADORA DE PEQUISA AÇÃO Lia Mandelsberg
ARTISTAS EDUCADORES
CEU GUARAPIRANGA Ana Cristina Anjos, Juliana Leme, Laura Salvatore, Paulo Petrela
Facebook PIÁ Guará
CEU BUTANTA Angelica Avante, Tales Jaloreto
Facebook PIA - CEU Butanta
CEU VILA DO SOL Ana Suely Santana, Jefferson Cristino Hooder
PIA Ceu Vila do SOL
passaram por aqui…
Barbara Freitas
Juliana Bueno
tem o dedo deles…
Bruno César
Rodrigo Munhoz
PIÁ SUL 2 / Edição 2015
Programa de Iniciação Artística (Infância e Arte) da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo
Índice
Sugestão do Chef por Lia Mandelsberg
CardaPiá por Ana Cristina Anjos
CardaPiá por Jefferson Cristino Hooder
Ações
Quando os Interesses se cruzam por Juliana Leme
Menu de Risco - concepção Equipe Sul 2 por Laura Salvatore e Paulo Petrela
Agachar-se, mas nem tanto por Tales Jaloreto
por Paulo Petrela
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Introdução
Lia Mandelsberg
Encontros
Rodízio Gourmet por Laura Salvatore
Traçados de Tempos e Espaços por Ana Suely Santana
Implementação
O começo de um começo iniciante. Start! por Angélica Avante
por Lia Mandelsberg
Cardapiá
Rodízio
Ações compartilhadas
CardaPiá
Relatos de caso
Caravana da Coragem
Introdução
Lia Mandelsberg
Nesse breve e rico ano de 2015 tivemos o dever e a oportunidade de experimentar e criar um
novo jeito de trabalhar no PIÁ.
Éramos 9. E também fomos 11.
Uma Coordenadora de pesquisa ação. Uma dupla de AEs ingressantes implementando o PIÁ
no CEU Butanta, uma dupla de AEs ingressantes para realizar uma reimplementação no CEU
Vila do Sol, e um quarteto de veteranos para continuar um PIÁ no CEU Guarapiranga.
Não foi nada simples. O processo de cada equipamento e de cada equipe era bastante diverso
e exigia atenção específica.
Eu, como coordenadora, iniciei com a vontade de contar aos ingressantes a história do PIÁ e
auxilia-los na compreensão do programa. Acompanhar o processo de Implementação,
articular os processos de escolha de horários, de sala, de locais e formatos de divulgação.
Contribuir para o entendimento do programa junto ao equipamento e a comunidade. Conhecer
cada um dos AEs. Contextualizar e compartilhar as questões políticas do programa PIA na
cidade assim como as questões macro do programa discutidas na reuniões de coordenação.
Acompanhar, participar, contribuir nos encontros com as crianças, levando aos que ainda
estavam chegando o que era o PIÁ, somando e construindo o PIA unindo olhares e
experiências de Artistas Educadores ingressantes e Ingressados.
Nossas reuniões de equipe foram realizadas quase 100% das vezes na grande equipe, com as
9 pessoas presentes. Para apimentar, tivemos a saída de 2 AEs no meio do caminho, e o
ingresso de 2 novos personagens nessa estória.
As questões eram infinitas e quase nunca era possível dar conta de tudo numa reunião só.
Frustrações e cansaço foram surgindo. Testamos muitos formatos de reunião: Formais,
piqueniques, cafés da manhã em casa... Além de pequenas incompatibilidades de horários que
complicavam ainda mais nossa situação. Tínhamos de dar conta de conversar sobre as
questões macro, sobre as demandas de cada equipamento, sobre cada turma, sobre cada
dupla… Uma verdadeira loucura que muitas vezes nos angustiava e parecia tornar aquela
reunião inválida, por vezes senti uma vontade ou cobrança de melhor organização. Optamos
por dividir melhor o tempo para cada demanda, chegar às reuniões com pauta definida e
registrar os combinados em ata. Tudo foi sendo decidido no coletivo. Foi tudo muito
democrático, mas imensamente trabalhoso.
Na metade do ano, movidos pela semana de formação do PIÁ optamos por oferecer uma
oficina como equipe Sul2. Mais uma vez mergulhamos na experiência coletiva. Muitos debates,
reuniões e discussões até chegarmos a um tema de interesse comum e um formato de oficina.
Com contribuições de todos surgiu o Menu de Risco. Oficina que deu frutos, suscitou idéias,
pesquisas e assuntos que perspassaram nosso caminho ao longo desta edição do programa.
Após uma pequena pausa em julho voltamos aos encontros com as crianças.
Foi então que lancei uma proposta, com o objetivo de criar sentido - talvez mais para mim
mesma - e conexão entre os PIAs dos três equipamentos sob minha coordenação. Resolvi
4
Nossa primeira Ação Compartilhada
criar cardápios, os CardaPIÁ, para cada encontro de PIÁ em que eu estivesse presente.
Consistia em viver o encontro e ao final, junto às crianças, construír um cardápio do nosso dia.
Inventamos nomes para nossas ações e brincadeiras e as disponibilizamos em forma de
cardápio, descobrindo o que teria sido a entrada, o prato principal e a sobremesa. Num
próximo encontro, num outro equipamento, eu levava o cardápio e oferecia a turma. As
crianças podiam escolher algo do cardápio que já havia sido feito por um outro PIÁ. Um
intercâmbio entre crianças foi sendo estabelecido. Uma brincadeira quando refeita se
transformava e gerava novos desdobramentos.
Claro que toda a equipe de AEs teve de comprar essa idéia. Era preciso abrir espaço no dia
para a dinâmica dos cardápios acontecer. Era preciso de alguma maneira apresentar o
cardápio como algo apetitoso para que as crianças se interessassem. Fato é que a dinâmica só
funcionou por um tempo e depois disso foi se transformando.
A idéia de trabalhar com cardápios surgiu a partir da sugestão de uma das AEs e se
transformou nas minhas mãos pois desde os meus primeiros anos de PIÁ a temática da
cozinha, da fome e do desejo permeiam minha pesquisa.
No PIÁ é preciso lidar com os ingredientes e manipular de verdade cada alimento. Entendendo
alimento aqui como aquilo que nos move. E aqui neste programa queremos mais que arroz e
feijão. É preciso a mistura, a salada, o tempero. Queremos a entrada, o prato principal e a
sobremesa, menu completo! Chegar num equipamento, montar turmas, conhecer as pessoas,
se afinar com a equipe, conhecer as crianças, construir coisas juntos, brincar, rir, conviver,
viver, criar, sentir, perceber, ser delicado, ser rebelde, desafiar… Tudo isso exige muito
cuidado, muita dedicação, muita vontade. Sinto como se tivéssemos preparado, ao longo do
ano, um grande banquete. Cozinhamos muita coisa, alguns pratos azedaram, alguns
ingredientes foram desperdiçados, alguns bolos embatumaram. Ao passo que muita comida foi
degustada, muitas receitas criadas, muitos bolos cresceram. Para que tudo isso pudesse
acontecer precisamos procurar e encontrar nossa fome, e juntar com nossa vontade de comer.
Num programa no qual é preciso se reinventar a todo instante e recriar o programa a cada
edição, é preciso inquestionávelmente encontrar motivos e se mover pelo desejo. São muitos
os desafios, os entraves, as carências, a precariedade e só a vontade real move pessoas e
transforma contextos.
Nessa perspectiva fomos seguindo. Fui percebendo que eu, como coordenadora, percorria os
três equipamentos, conhecia mais de perto cada AE, muitas crianças e dinâmicas de turma,
muitos problemas e pessoas de cada equipamento. Mas quando nos juntávamos, às sextas
feiras, algo truncava a conversa. Eu buscava conversar na perspectiva de alguém que tinha
uma visão macro, enquanto cada equipe tinha suas preocupações e desejos específicos, sua
necessidade de pensar e elaborar os Encontros ou se debruçar nalgum Relato de Caso
expressivo. A essa altura, também me foram apresentados diversos conflitos entre
duplas de AEs. Sentia que faltava em algumas equipes a experiência em quarteto: formato
original do programa, em que estão presentes quatro linguagens e principalmente, quatro
pessoas distintas que se alternam no encontro com as crianças. Percebi que o formato em
dupla polarizava demasiadamente as questões, principalmente quando se tratavam de artistas
educadores novos. O interessante dos quartetos é justamente a flexibilidade que tal formato
impõe aos AEs e a maior possibilidade de encontro de afinidades que propicia.
No PIÁ a necessidade de dissolver, desapegar, desfazer, desaprender é fundamental. No PIÁ
não estamos para dar aulas, mas para conviver. Algo que escrito ou dito pode parecer simples,
mas que leva muito tempo para acontecer, dado o modelo de educação a que a maioria de nós
esteve exposto e aprendeu ao longo da vida.
5
Uma nova proposta surgiu então para tentar dissolver conflitos, clarear questionamentos,
aprofundar pesquisas e principalmente provar que abrir-se ao novo e desconhecido cria novas
possibilidades do real. Realizamos ao longo de todo o mês de outubro um Rodízio entre os
AEs, em que também participei. Cada AE visitou ao menos uma vez o quarteto. Além disso,
houve um rodízio dos AEs pelos equipamentos, sempre mantendo a seguinte estrutura: um AE
base (aquele que pertence ao equipamento) e um AE visitante. A proposta seguia com o
mesmo enunciado para todos:
SE PREPARE PARA IR
VÁ
MEDITE SOBRE
E daqui seguia uma Sugestão do Chef, um guia para observações e pesquisa durante o
rodízio.
Tudo isso também para refletir sobre questões presentes em nossas discussões tais como
planejamento, continuidade, processo criativo, brincadeira e arte.
Toda essa aventura foi nos conectando cada vez mais. E instigando as possibilidades tão ricas,
diversas e potentes que surgiam. Acredito que conseguimos despertar e abrir o apetite uns dos
outros. E também experimentar pratos que não são os nossos prediletos… Também importante
reconhecer aquilo que não gostamos e que não queremos. E que nada como experimentar 17
vezes uma mesma coisa… (dizem que se pode aprender a gostar de QUALQUER coisa se
prova-lá todas estas vezes)
Parece ás vezes que este ensaio é mais para nós que para qualquer outro. Tudo que contém
neste caderno é recheado de sentido. Um sentido que foi adquirido na experiência, que é
tácito, que é real. Que é resultado de meses de convívio, poucos e intensos meses.
Com esta equipe e nessa posição de coordenação pude reparar mais uma vez o quanto o PIÁ
faz parte de minha maneira de ver o mundo, o quanto me construiu e me constrói. Acredito
imensamente no convívio entre pessoas, adultos e crianças. No convívio sincero e prazeroso
aprendemos sobre nós, sobre a humanidade e sobre o mundo.
Nosso convívio nos provocou, nos deu fome e nos possibilitou ver como somos diferentes.
Como é difícil provocar alguém quando este já está saciado ou não quer cozinhar. Mas
conviver no PIÄ é sinônimo de coletividade; fazer junto é trabalhosíssimo! E nos leva
invariavelmente a democracia… Que talvez não seja o melhor e único jeito de resolver as
coisas em grupo. Numa receita cada alimento tem sua importância específica, nem todos
carregam seu sabor até o momento do prato pronto, e se falta um ingrediente, por vezes ele é
substituível.
Ao longo deste último semestre realizamos diversas ações, muita conversa, muita troca, muitos
estresse e cansaço. Muita disposição e muita contradição. Gastávamos muito tempo batendo
agendas… as vezes mais tempo que o de planejamento de ações ou trocas. Mas havia uma
insistência, talvez mais minha não sei ao certo, de resolver e fazer tudo junto.
Se houve um pecado talvez tenha sido esse, a vontade de estar em todos os lugares, participar
de tudo, e querer que todos se envolvam da mesma maneira. No entanto foi também um
6
grandíssimo aprendizado. Aprender a ceder, a compreender, a conversar, a colocar os pratos
sujos na mesa, e lavar a louça. Perceber que muita coisa não é dita, que ser honesto não é
fácil, que o trabalho é muito, que a vida de cada um é complexa, que tolerância é uma palavra
dúbia…
Entender e vivenciar a certa medida das coisas, que varia, sempre varia. Viver o que é
comprometimento. Aprender que não há receita, mas que também não há banquete sem
ingredientes, receitas, cozinheiros e uma mesa farta, cheia de gente com fome.
Nosso prato principal foi o risco! Nosso ingrediente a criança!
Nesse CADERNO DE RECEITAS DO CORAÇÃO, tem um pouquinho de cada um de nós.
Dividimos nossos ensaios por temas relacionados ás nossas ações durante o ano. Além dos
ensaios constam aqui nossos cardápios e nossas ações compartilhadas.
Uma tentativa de fazer valer esses infindáveis registros e escritos para algo prático, com
sugestões de modos de fazer, pratos prontos e ingredientes.
Cruzamos a cidade sozinhos, em caronas, em duplas, trios, quartetos, em 9 pessoas, ou
acompanhados de mais de 50 crianças. Numa grande expedição ao outro essa foi a nossa
Caravana da Coragem.
Mais uma vez e cada vez mais aprendemos que arte e criança são sinônimos de potência
transformadora. Não separar tanto o mundo mágico do real é a capacidade que a criança tem
de vislumbrar novos mundos, outras possibilidades do real. Crianças fomos e somos todos nós
um dia, e podemos ser em cada um deles.
Ao fazer PIÁ compreendemos o mundo e o recriamos.
Bom Apetite!
7
Encontros
Rodízio Gourmet por Laura Salvatore
Todos os dias, saímos de casa e nos deslocamos até o trabalho. Lá, exercemos funções,
executamos ações e depois voltamos para a casa. Ir, realizar e voltar. Independentemente do
contexto, de onde e com quem. Sempre ir, realizar e voltar. Algo que se habitua a fazer. Torna-
se conhecido.
O piá, um programa em que as equipes se renovam todos os anos. As pessoas
trabalham com outras pessoas e, a maioria daqueles que ficam,trabalha em locais diferentes a
cada ano.Existe o tempo do chegar e dos encontros com a equipe, com as pessoas do local
em que trabalha, com as crianças e seus pais, o tempo de conhecer sua dupla de trabalho para
então iniciar as propostas em arte para fazer com as crianças. Após todo este período de
adaptação, há ainda outro tempo para que o estabelecer das relações entre artistas-
educadores (AEs) e grupos de crianças aconteça. Isto é, as crianças conhecerem os modos de
estar em conjunto dos artistas-educadores e os artistas-educadores conhecerem minimamente
algumas singularidades de cada criança e as características de cada turma. Afinal, quem tem
qualquer tipo de encontro com um grupo de pessoas, sabe que cada parte do todo cria um tipo
de coletividade, sempre única. E para trabalhar de modo que seja provocador tanto para AEs
quanto para crianças, esse conhecimento do coletivo precisa acontecer, uma vez que os
conteúdos e a estética serão brotados dos encontros entre estes seres com todas as suas
sutilezas em ser de espécie humana.Pois gente é paradoxo, é história, delírio, desejo,
memória, loucura, guerra... Componentes que gente tem e que suas combinações criarão as
peculiaridades do grupo. Estas que deverão ser escutadas para a criação de processos que
envolva todos os seus integrantes.
O piá, devido à sua estrutura, gera liberdade, flexibilidade e espaço para que as sutilezas de
um grupo sejam levadas em consideração. Mas, mesmo no piá, que há espaço, respeito ao
tempo da criança etc., mesmo neste programa há o momento em que se chega a uma zona de
conforto onde já se sabe quem é quem e o que interessa e o que não interessa aos envolvidos.
E é neste momento que gostaria de me fixar para continuar este ensaio como tentativa de
reflexão. Ao atingir esta zona, sabe-se, portanto o que funciona e o que não funciona. O que
ocorre, frequentemente é: permanecer no conhecido, naquilo que funciona, muitas vezes sem
perceber que você, AE, tem criado propostas que se inserem nesta zona de estabilidade.
Adquire-se uma metodologia e permanece nela. Mas há algum problema nisso se o prazer
existe, se há interesse e presença das crianças? Não seria uma escolha de aprofundamento de
um método de trabalho?
Assim como há pequenas variações em qualquer zona de conforto, em contraposição, as
zonas de desconforto provocam as pessoas em sentidos não atingidos quando se está inserido
no conhecido, estável e confortável. O desconhecido pode colocar aqueles que se permitem
adentrar nele, numa posição diferente da anterior, do momento de conforto. Assim, pode gerar
uma capacidade de enxergar o mundo e as coisas de um ângulo antes desconhecido. Desse
modo, a zona de desconforto funciona como um catalisador de reflexões e pensamentos.
Assume importante papel na formação de cidadãos, uma vez que cria capacidades de se
enxergar uma mesma situação de diversos modos e contextos. Arrisco associar a zona de
desconforto com a formação de competências como aceitação e compreensão das diferenças
e, portanto, o altruísmo.
No entanto, as zonas de desconfortome parecem de extrema fortuna para se trabalhar num
processo de arte com crianças. O AE pode provocar a si e à criança. O AE pode gerar em si e
no grupointeligências. Importante frisar que o trabalho em arte com crianças opera em diversas
instâncias: corporal (física), emocional (sentimentos) e cognitiva (mente/inteligência). Trata-se
8
de brincadeiras e jogos que envolvem regras onde as crianças podem concordar ou não,
questionar, propor novas regras, segui-las em conjunto, pensar, ver e ser vista; trata-se de
estética, ou seja, experiências provocadas que são capazes de atravessar os sentidos e gerar
aprendizado e transformação. Sendo assim, crianças e educadores são tocados em diversas
instâncias.
Porém, se a criação destas zonas de desconforto é o que mais me interessa enquanto artista e
educadora, como podemos propor que elas existam de fato? Como podemos perceber se
estamos numa zona de conforto?
Toda esta reflexão surgiu após a experiência que realizamos entre os nove AEs da Equipe S2
do piá 2015. Propusemo-nos a fazer um rodízio de AEs entre os três CEUs: Vila do Sol,
Butantã e Guarapiranga. Em apenas um mês, iríamos cada AE trabalhar no lugar de outro,
embora mantivéssemos a base, isto é, a cada dupla de AEs, um seria daquele equipamento e
o outro, o visitante, seria de um equipamento diferente.
Esta experiência gerou em mim uma zona de desconforto, já que estava indo para um local
onde tudo era desconhecido: as crianças, os funcionários, a comunidade, a turma, os
processos criativos. Portanto, euali, naquele espaço onde tudo era novo, não tinha como ser a
mesma. Transformava-me pelo simples fato de me encobrir por outro entorno além do meu
conhecido daquele momento de minha vida.
Esta oportunidade de ver tudo em outro contexto gerou reflexões em muitas camadas, as
vezes complexas de serem traduzidas racionalmente em palavras.
Posso citar uma turma de cinco a sete anos que tinha uma característica de se entregar
completamente às propostas de brincadeiras de modo performativo. Mim e Paulo Petrella já
estávamos acostumados com esta característica daqueles pequenos. Logo, criávamos infinitos
encontros que misturavam brincadeiras, corpo em movimento, materiais plásticos e histórias
lúdicas. Elas mergulhavam de cabeça. Um dia, já na finalização do ano com esta turma,
conversávamos sobre o que poderíamos fazer que ainda não tivéssemos feito. Tivemos a ideia
de confeccionar máscaras com bexigas, jornal e cola. O momento de realização da ideia foi
intenso para nós e para elas que estavam já habituadas a brincarem de modo livre. Esta nova
proposta exigia um tipo de concentração que antes elas não haviam entrado em contato: de
trabalhar em etapas, cumprir as regras de cada etapa para que se pudesse alcançar o objetivo
final, ter máscaras para pintar e brincar.
Elas se entregaram à proposta, embora carregando a memória dos outros encontros, com
muita liberdade. A cola diluída em água ultrapassou os limites da bexiga chegando ao chão,
aos corpos inteiros das crianças transformando-se em outro brinquedo. Nós, os AEs, ficamos
um tempo a mais até conseguirmos retirar a cola do chão, das mãos, braços, pés, das
crianças. Chegamos atrasados no lanche. Os pais, provavelmente, tiveram um pouco mais de
trabalho para dar banho em seus filhos e lavar suas roupas, mas foi nesta experiência que
elas, as crianças, conheceram um pouco mais sobre suas capacidades de concentração; foi ali
que elas atingiram outros estágios em si mesmas. E os AEs, com olhares atentos, perceberam
que tipo de reflexão poderia nascer daquele momento aparentemente caótico.
Outro encontro, com outra turma. Eu na base, o Tales Jaloreto de visitante. A chegada dele e a
falta que as crianças sentiram do Paulo não foi um problema. Rapidamente, elas estavam
envolvidas com as propostas do encontro. A energia de outro educador trouxe ao encontro
uma vivacidade do novo, da novidade, do estar no desconhecido. O Tales entregue às crianças
e elas entregues ao encontro. A proposta era: na árvore, colher urucum e depois, pintar-se.
Mas, é claro que nada saiu conforme o planejado.
9
A Rayssa quis cozinhar o urucum com cascas e folhas e servir a todas e todos. AAna Luiza
aproveitou o som que as sementes faziam quando juntou e criou chocalho em pote de iogurte
sem rótulo, sementes de urucum, celofane e fita adesiva. A Jéssica atraiu-se pelos pelinhos
que a casca do urucum contém. Os juntava em pequenos montes e depois os colocava em
tampinhas de potes de vidro. Além disso, pintavam os rostos dos educadores, com urucum. E
assim foi. Outros brinquedos foram criados por elas. Chocalhos de urucum que nos inspirou a
chacoalhar nossos corpos em partes, em todo, e nos fez ouvir chacoalho dos corações umas
das outras. Alice, depois de pular na salada saladinha bem temperadinha com foguinho fogão e
pimenta corre em minha direção para que eu escutasse o chacoalho do seu coração.
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PREFEITURA DE SÃO PAULO, SECRETARIA DE CULTURA E PROGRAMA DE INICIAÇÃO ARTÍSTICA
ENSAIO PESQUISA AÇÃO
dezembro / 2015
traçado de tempos e espaço: este
traçado passa por tempos
percorridos com crianças de 5 a 14
anos, público do programa de
iniciação artística, frequentadores do
equipamento CEU Vila do sol no
espaço_perído de 2015. diante de
tudo e todos a artista-educadora
escolhe permear este ensaio por
meio de danças com palavras. não
escolhe ensinar, não escolhe
desenvolver, não escolhe criticar, não
escolhe recolher, não escolhe acertar,
não escolhe designar, não escolhe
apontar, não escolhe ariscar, não
escolhe abdicar, não escolhe repetir,
escolhe par.ti.lhar
Ana Suely De Santana
Natural de Paulista (PE), radicada em
São Paulo desde 1998, é Bacharel e
licenciada em teatro em 2008 e
bacharel em produção cultural em 2006,
ambos pela Universidade Anhembi
Morumbi. Pós graduada em A Arte de
Contar Histórias: abordagens poéticas,
filosóficas e performáticas, pelo
Instituto Superior de Ensino e Pesquisa,
orientada pela Prof.ª. Dr.ª. Juliana
Jardim Barboza (2013). Integrou o
núcleo de estudos ao método Stanford
Meisner dirigido por Thomas Rezende
em 2011. Atuou junto à fundação
filantrópica do hospital Sírio-Libanês,
como atriz e interlocutora tendo como
eixo as narrações de histórias e, como
assistente de produção do grupo As
meninas do conto. Em 2015 ingressa no
programa de iniciação artística como
artista educadora em teatro , e,
interlocutora nas montagens teatrais
dos CEUs Uirapuru e Butantã pela
Secretaria Municipal de educação.
Traçado de Tempos e Espaço por Ana Suely Santana
11
ouso falar de um tempo de Amor
um tempo onde não se olhe ódio, não se olhe coR
Tateio o traçado da vida
Insisto onde haja vontade
Ouço oS idiomas das casas
Traduzo a língua do jardim
corpos, mentes est Ar com
Ensaio pesquisa ação
procura Durar mais do que uma breve repetição
Uma escolha sempre é difícil
escolha com Cautela e razão
Aqui é ponto de partida
partiDa sempre dá asas à imaginação
Ouço o chamado da criança
cRiançamuitas vezes tem razão
Agir e pensar com a voz do coração
Teto, telhado, tentativas
Escutas do verbo, do olhar e da emoção
Acolhimento, cobertura, cobertor
aTenção
Rodopios
emOção 12
Juliana Jardim
John Cage
Fernand Deligny
Jane Taller
Columpa Bobb
Giuliano Tierno
Viola Spolin
Jacques Prévert
André François
Mário de Andrade
David Le Breton
Jakob Grimm
Monteiro Lobato
Marina
Ana Paula
Camile
Regina
Johnny
Mikaely
Vitória
Ingrid
Wendell
Sheila Julia
João PedroBeatriz
Larissa
Nicole
Patrícia
13
vazio
14
diário de bordo_junta diária_logbook_registre_segredos do piá_
pic-nic batatinha frita 1, 2 e 3
vampiro-vampirão
Balanço naarvore
pistas do saci
históriasdocoração
brincadeirasdassom
bras
conto contigo
caçasentimentos
cardume
gatoerato
caixamágica
o incrível olho investigador de longe
estátua
15
Implementação
O começo de um começo iniciante. Start! por Angélica Avante
O começo de um começo iniciante. Start!
Esse ensaio de pesquisa-ação tem como objetivo tratar sobre a implementação do
Programa PiÁ no CEU Butantã feita ao longo do ano de 2015.
Iniciar o Programa de INICI-Açao Artística em um equipamento novo quando a equipe
inteira está INCIAndo no PIÁ foi um desafio à nós lançado em meados desse louco ano de
2015.
Em meio a tantos INÍCIOs resolvemos partir de algum começo, conhecer as pessoas
com as quais iríamos atuar, no nosso caso apenas uma dupla.
Veio então minha primeira grata e assustadora surpresa, o meu par era na verdade um
TRIO ou naquele forno tem pão quentinho sendo preparado, e é para daqui 2 MESES!!!
Um misto de felicidade e frio na barriga, era essa a sensação que corria pelas nossas
entranhas naquele início, duro início, pois tão breve sabíamos que um próximo início já estava
para acontecer. A dureza durou algum tempo, eram tantas perguntas e as respostas quase
nunca supria a ansiedade que nos tomava.
A recepção das crianças
Eram poucas, queridas, afetuosas mas um pouco desconfiadas. É dança? É teatro? É
música? É tudo junto.
“É tudo junto” foi a maneira que nós encontramos de explicar o que, mal sabia eu, era
inexplicável.
A tentativa de explicar o PiÁ me cutucava toda vez que alguma criança nova
perguntava durante o seu primeiro encontro “é aula do quê mesmo, tia?”.
É aula de brincar, de viver, experimentar e também de relembrar, inventar, passear, conhecer,
cantar e muitas vezes só de se olhar.
É aula de explicar, de trocar, se vestir, trans-vestir, trans-expressar, transitar...
16
De criar, de se inventar, de se ocupar, de se colocar, de se tornar
De conversar, de ouvir, de calar, de chorar, emocionar , extrapolar
Extrapolar ideias, espaços, corpos, gritos, objetos, materiais
extravasar, gritar, sonhar...Ufa!
O tempo saltou no relógio e já era a hora da nossa primeira despedida, uma bela
pintura na barriga e muitos abraços, já era a hora da pequena Gaia nascer!
Mais uma incerteza, quem será que irá nos presentear com a sua companhia nos
próximos meses? É homem ou mulher, tia? Quando é mesmo que a tia Ju volta? Ela já
nasceu?
Mais um recomeço, agora as crianças já estavam mais ritmadas.
A maneira como os encontros eram conduzidos variou bastante durante o ano. Mas
sempre gerou bastante reflexão durante as nossas conversas em reuniões de equipe. Sugerir,
conduzir, propor ou mediar? Qual a melhor maneira de educar no PiÁ?
Encontrar o equilíbrio entre essas ações parece que foi mesmo um grande desafio ao
longo desse ano. Nessa história que se construía encontro após encontro, a necessidade maior
era OUVIR.
Ouvir a dupla, as crianças, o entorno e principalmente se fazer ouvido. Dialogar mesmo
que aparentemente seja difícil e complexo. A relação da dupla é mesmo complexa.
A certeza
17
A certeza de que cada encontro era um momento único.
A ideia de multiplicação no PiÁ foi rapidamente entendida pelas crianças. Tão logo que
raras as vezes eu as via caladas. A criança do PiÁ entende com facilidade que esse é o
espaço dela e que aqui suas verdades serão ouvidas com respeito e vontade.
A oportunidade (e vontade) de lidar com as suas vontades dessa maneira me
encantou durante todo o processo que ali vivemos. Sugestão trazida por criança é material
colocado em pauta para discutir em grupo e se aceita por todos, vivenciada no PiÁ.
Essa vivacidade é algo bonito de observar na criança. Bonito é mais ainda ver que
naquele espaço, a criança pode sempre sê-la.
18
19
20
Dividir o pão
Celebrar e compartilhar o alimento é um momento importante dos nossos encontros.
Momentos que me trouxeram reflexões sobre importâncias que estão à um passo do nosso
olhar, mas que as vezes não percebemos.
A primeiro olhar, parecia estranho que cada um iria trazer seu lanche e compartilhar com o
restante do grupo. “Mas eu tenho que dividir até o Danone, prô?”, “Já pode comer agora?”.
O momento do lanche foi de extrema importância para a formação do vínculo e
afetividade entre os PiÁs e a equipe. Percebi com mais certeza quando tive a oportunidade de
visitar os outros equipamentos, o CEU Vila do Sol e CEU Guarapiranga. Cada equipamento
tinha sua própria dinâmica de lanche mas alguns fatos me chamaram atenção.
Na visita à turma da manhã do CEU Vila do Sol, com a A.E Ana Suely, presenciei a
descoberta dos legumes pelos pequenos (turma de 5 à 7 anos) e o quanto um bom exemplo
pode fazer a diferença. Já no CEU Guara, reparei no cuidado e no carinho dos AEs em fatiar
todas as frutas de maneira apetitosa. Na visita ao Sacolão das Artes vi crianças repartirem e
compartilharem com um amigo conhecido ali na hora. No Parque Ibirapuera, presenciei Piás se
mobilizando para organizar o “Grande pic -nic” tão esperado por todos, o verdadeiro sentido
para o trabalho em equipe.
Todas essas experiências marcaram e serviram de reforço para a crença de que nós
temos muito o que aprender sobre humanidade uns com os outros. A divisão, a soma, o
partilhar e o experimentar são ingredientes que acresceram os sabores mais incríveis aos
encontros do Piá.
O Fim ou o sempre recomeço
Os frutos de todas essas abordagens multiplicam-se em uma velocidade contagiante!
O Piá tem como característica seu caráter fugaz e ao mesmo tempo permanente. Ali, no
espaço fora da escola, é onde podemos conviver com a criança da maneira mais natural
possível, travando um diálogo com o tempo, o corpo e o entorno.
21
As experiências são marcantes eles mas também para nós. Posso afirmar isso porque
me enxergo nessa criança. Vendo seus olhares e a entrega com que participam de cada
momento, revisito as minhas próprias memórias infantis e recrio a mais bela memória do meu
eu-criança através do meu eu-educador todos os dias. E essa dose considerável de sensações
infantis no dia-a-dia de A.E. no PiÁ é absolutamente necessária.
Como todas essas impressões se conectam? Como uma grande e colorida colcha de
retalhos construída com os mais diversos tecidos tecendo uma grande trama de texturas e fios
diferentes, costurada à varias mãos, cores de linhas. O começo dela se confunde com o meio e
o final, e não importa de qual ângulo você comece olhar, os desenhos irão se sobrepondo. O
PiÁ não é início, meio e fim. É o momento presente!
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Cardapiá por Lia Mandelsberg
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É um PEGA PEGA.
O pegador é o homem bosta ou a mulher diarréia.
Quem é pego deve ficar parado em forma de bosta ( lembrando que uma bosta jamais é igual a
outra)
Para salvar é preciso pular por cima da bosta. Após três vezes pego, a bosta vira uma mulher
diarréia ou um homem bosta.
CINEMA NA CAIXA
Arrume uma caixa grande, do tamanho suficiente para caber sua cabeça e pescoço dentro.
Numa lateral interna da caixa, cole papel sulfite até cobrir toda a extensão.
Na lateral inversa a esta faça um furo.
Entre na caixa e veja o cinema da vida ao vivo e a cores
observação: é simples, mas requer carinho e dedicação. Estude o tamanho da caixa e do furo
e vá a um lugar bem iluminado pelo sol!
TAPETE VOADOR
Arrume um tapete bem grande.
Vá a um lugar bem espaçoso.
Em quatro pessoas já dá pra se divertir bem: um deita no tapete e os outros o puxam bem
rápido.
Dá também para fazer rocambole de gente no tapete.
E também dá pra inventar umas milhares de outras coisas.
ARCO E FLECHA COM CADERNO
Sabe aqueles cadernos que tem um elástico para ajudar a manter fechado?
Apoie um objeto nesse elástico, puxe na sua direção até obter tensão no elástico, e solte o
objeto em direção a um alvo, como se faz com um estilingue.
Cuidado, funciona!
EXPERIMENTAR 17 VEZES UM KIWI
Escolha um alimento que não gosta e o experimente 17x ao longo da vida.
Prove que é real a teoria de é possível aprender a gostar de qualquer coisa se a provar 17
vezes
!
PEGA PEGA BOSTA
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RODA DE APRESENTAÇÃO DO OUTRO
Em roda.
Cada pessoa, como se estivesse se apresentando, irá apresentar o próximo da roda, dizendo
tudo aquilo que sabe da pessoa e pode tornar visível e conhecido para os outros do grupo.
PEGA PEGAAJUDA BOSTA
É uma forma diversificada da brincadeira PEGA PEGA BOSTA
O pegador é o homem bosta ou a mulher diarréia.
Quem é pego deve ficar parado em forma de bosta.
para salvar é preciso pular por cima da bosta. Após três vezes pego, a pessoa vira um parceiro
da mulher diarréia ou do homem bosta e ajuda a pegar também.
DANÇA MALUCA
Em roda, cada um inventa um movimentoo e em sequência todas as pessoas vão aprendendo
todos os movimentos encadeados.
Após repetir e aprender a sequência todos escolhem um lugar e cada um se coloca num ponto
do espaço. Colocamos uma música e juntos decidimos o momento de iniciar a sequência,
todos, ao mesmo tempo, do início ao fim.
PIQUENIQUE LIGHT COM REPOUSO NA ÁRVORE
Providencie um piquenique com comidas leves e em pequena quantidade.
Monte o piquenique ao pé de uma Árvore. Após comer suba na arore e dê um relax
MATAR AULA
No início do encontro do PIA, planeje algo super específico e trabalhoso todos juntos para
depois do piquenique.
Faça o piquenique.
Fique com preguiça.
Resolva „matar aula‟ e não fazer nada do que foi combinado para ficar preguiçando até o fim do
dia.
EXPERIMENTAR 17x UMA PINHA
Escolha um alimento que não gosta e o experimente 17x ao longo da vida.
Prove que é real a teoria de é possível aprender a gostar de qualquer coisa se a provar 17
vezes!
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ALONGANDO E ESPREGUIÇANDO
Antes de fazer qualquer coisa, espreguice e alongue o corpo. Em roda, cada um pode sugerir
para todos um movimento que gosta de fazer e que lhe trás bem estar.
O PIÁ CHAMA VOCÊ
Criem, cantem e dancem uma música para convidar crianças para o PIÁ. Inclua palavras, sons
e movimentos que fazem parte do seu PIÁ, salientando aquilo que é específico do seu grupo e
da sua experiência de PIÁ, e tudo aquilo que você gosta nele.
PINTANDO O CARTAZ PARA CHAMAR AS CRIANÇAS.
Repita o procedimento anterior, porém ao invés de criar sons e movimentos, transforme suas
ideias em algo possível de estar num cartaz.
CORPO OBJETO COM NARRAÇÃO
Uma ou duas pessoas serão os narradores.
os outros do grupo vão se colocando, um por vez, numa pose que deve ir se comlementando.
Os narradores devem observar cada pose (pessoa) que se coloca, e aquilo que o todo está
formando, e ir criando uma história ao mesmo tempo em que a grande cena parada se forma.
CONTAR HISTÓRIAS DE TERROR SEM GRITAR
Nome já diz, é um desafio!
MILK MISHUREKA
O milk mishureka tem muitas versões e variações. Basicamente consiste em misturar os
alimentos de forma esdrúxula e come-los sem fazer careta.
São feitos geralmente no piquenique do PIÁ.
O milk mishureka liquid consiste em misturar por exemplo, todinho, suco de laranja, suco de
pozinho, mupy, num copo com uma rodela de carambola e tomar.
O sandbag milk mishureka pode conter entre dois pães, uma rodela de banana, um pedaço de
queijo, uma bolhaha de maisena, uma uva e uma fatia de presunto.
Delicious!
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ESTATUA DE SOMBRA: O QUE É O QUE É
Vá a um lugar ensolarado e que produza sombras de seu corpo no chão ou parede. Escolha
um tema, objeto ou figura e sozinho ou em grupos monte uma pose que projete a imagem que
escolheu em forma de sombra na superfície escolhida. Os observadores devem adivinhar qual
a figura que você quis representar na sombra.
RISCO…
Desafie-se a fazer algo arriscado, que ninguém deixaria você fazer. A regra única é: não vale
morrer!
PIQUENIQUE, Mil VERSÕES PARA MILK MISHUREKA
Crie suas próprias versões de misturebas alimentícias com os ingredientes disponíveis no
piquenique.
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TREM DE NOMES
Em roda.
Escolha alguém para começar. O primeiro diz seu próprio nome. O segundo diz o nome do
primeiro e depois o seu próprio nome. E assim sucessivamente, o trem vai se encarrilhando.
PARQUE DENTRO
Dentro de uma sala ou qualquer espaço interno.
Utilize os objetos disponíveis para criar espaços lúdicos subdividindo a sala em vários
ambientes, específicos e diversos para fazer coisas que se tem vontade. Exemplos: canto do
piquenique, canto dos instrumentos, canto da piscina de papel celofane, conto do descanso,
etc.
PIQUENIQUE CONVERSADO
Enquanto comemos…
Quando aparece alguma dificuldades dividir e compartilhar o lanche, conversamos sobre isso
e nos ajudamos a entender o sentido de compartilhar enquanto desfrutamos dessa maravilha.
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SAINDO DE FININHO
Em roda gire uma garrafa no centro. Para onde ela apontar quando parar serão os
participantes da vez. Quem está na frente da boca da garrafa pergunta. Quem está de frente
com o fundo da garrafa responde. A resposta NÃO pode conter as palavras SIM, NÃO e
TALVEZ. Além disso a resposta não deve afirmar nem negar nada. Um belo desafio!
ESCONDE ESCONDE INVERTIDO
Uma pessoa se esconde. O grupo, junto, bate cara. Quem achar o escondido primeiro, se
esconde junto. Todos vão se escondendo, NO MESMO ESCONDERIJO, até que todos
estejam juntos. O‟vencedor‟ ou próximo a se esconder será aquele que primeiro encontrou o
escondido.
BIS
Se a brincadeira é boa… Repita várias vezes!!
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TABULEIRO DARWIN
Este é um jogo de tabuleiro que só dá pra brincar quem tem o jogo. Mas…. ele é um jogo de
tabuleiro que você avança nas casas a medida que acerta as perguntas relacionadas a vida e
obra deste grande pesquisador ( ou seja, dá para improvisar)
PELO ESPAÇO, COM O CORPO: Evolução
Com ou sem música, num espaço amplo e num chão aconchegante brinque e dance imitando
os bichos e os humanos, seguindo o processo de evolução: cobras, rastejantes, bebês, nível
baixo/ quadrúpedes, gatos, girafas, crianças no processo de engatinhar, crianças brincando,
nível médio/ macacos, pinguins, humanos, nível alto.
PEGA PEGA SELVAGEM
É um pega pega em que cad um é um bicho e deve se mover tal como ele. Pode também
brincar pensando na cadeia alimentar.
SALTOS ORNAMENTAIS MARAVILHOSO E INVENTADOS
Se tiver um trampolim e um colchenete de ginástica olímpica é melhor.
Um por vez, se prepara, se apresenta, corre, salta no trampolim e cai no colchonete a sua
maneira. A idéia é cria com o corpo maneiras diferentes para cada etapa.
ESCURO ACONCHEGO E HISTÓRIAS DE TERROR
Encontrem um lugar escuro e aconchegante. Encontrem posições e formas bem gostosas de
estar junto, deitados um no colo outro, abraçados e emaranhados. Contem histórias de terror e
aguentem firme o medo através do calor e amor dos outros corpos a sua volta.
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MAPA DO CEU
passeie pelo CEU ou qualquer lugar que estiver. Percorra todo o território e preste atenção nos
detalhes. Após a expedição desenhe um mapa de seu percurso e ilustre com as coisas que
AMOU pelo caminho.
TEATRO
Vá ao teatro! (ou confira a programação do teatro mais próximo, pode ser no próprio CEU onde
você faz PIÁ). Assista algo que alimente sua alma.
PIQUENIQUE NAS NUVENS
Vá a um lugar beeeeeeeem alto e faça um piquenique lá em cima.
TREM DE NOMES
Em roda.
Escolha alguém para começar. O primeiro diz seu próprio nome. O segundo diz o nome do
primeiro e depois o seu próprio nome. E assim sucessivamente, o trem vai se encarrilhando.
PARQUE DENTRO
Dentro de uma sala ou qualquer espaço interno.
Utilize os objetos disponíveis para criar espaços lúdicos subdividindo a sala em vários
ambientes, específicos e diversos para fazer coisas que se tem vontade. Exemplos: canto do
piquenique, canto dos instrumentos, canto da piscina de papel celofane, conto do descanso,
etc.
PIQUENIQUE CONVERSADO
Enquanto comemos…
Quando aparece alguma dificuldades dividir e compartilhar o lanche, conversamos sobre isso
e nos ajudamos a entender o sentido de compartilhar enquanto desfrutamos dessa maravilha.
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Rodízio
Sugestão do Chef por Lia Mandelsberg
CardáPIÁ - para uma pesquisa ação à sua escolha - PIÁ TIQUE
- Entrada
RODÏZIO - Se prepare para ir, Vá , Reflita sobre
- Prato Principal - Bloco de Anotações
ENCONTRO ( anote aqui ingredientes, modos de fazer, etc)
- Sobremesa - Mapa (construa seu mapa, receita ou cardápio de meditações)
( SUGESTÃO DO CHEF:
- Cafés Filopiáticos (para incluir suas referências)
ENGEL, Guido Irineu. Pesquisa-ação. In: Educação em revista. Curitiba: UFPR, 2000.
LARROSA, Jorge. O ensaio e a escrita acadêmica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 28,
n. 2, p. 101-115. 2003.
MACHADO, Marina Marcondes. Só Rodapés: Um glossário de trinta termos definidos na espiral
de minha poética própria, 2015. Disponível em:
< http://www.seer.ufu.br/index.php/rascunhos/article/view/28813 >
- Nossa Cozinha - Instrumental de avaliação (preencha com o coração)
Artista - Cheff:
Potencialidades Dificuldades Desafios Urgência
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CardaPiá
por Ana Cristina Anjos
CardáPIÁ
Para uma Pesquisa Ação
de receitas!
Artista-Cheff
Ana Cristina Anjos
PIÀTIQUE
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ENTRADA
CEU Guará
Ingredientes:
 Majestosas Árvores;
 Uma colher bem cheia de grama verde;
 Uma piscina;
 Uma biblioteca de enfeite;
 Um espaço grande, bem grande;
 Duas quadras de esportes inteiras;
 Um Teatro pouco usado;
 Um pouquinho de urucum para dar cor;
 Alguns funcionários que mal conhecem o PIÁ;
 Uma equipe do PIÁ, com cinco pessoas;
 Uma sala do PIÁ com muita história;
 Um banheiro que é meio masculino, meio feminino e meio infantil;
 Um quintal da cobra;
Modo de fazer:
Coloque todos os ingredientes, menos a biblioteca e o urucum, numa panela com muito
sol. Espere o PIÁ entrar em ação no CEU e deixe ferver bastante. Para finalizar
coloque um pouco de urucum para colorir o CEU e arremate com a biblioteca de
enfeite.
PRATO PRINCIPAL
Encontros do PIÁ no CEU GUARÁ
Ingredientes:
 Um quarteto na quarta e duas duplas terça e quinta;
 Quantidade razoável de crianças, pequenas e grandes, mais alguns adolescentes;
 Uma Árvore, tamanho médio;
 Uma corda;
 Uma pitada de risco;
Modo de fazer:
Comece pela árvore, acrescente a ela uma corda e deixe as crianças livremente ao seu
redor ou subindo se preferir, mas dosando o risco para não ficar muito doce. Não dê
muita atenção aos comentários e olhares dos funcionários do CEU, se não sua receita
pode azedar.
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Pega-Pega Bosta
Ingredientes:
 Crianças e adultos bem dispostos;
 Um homem bosta ou mulher diarreia;
 Um espaço bem grande para correr;
Modo de fazer:
Coloque todos espalhados no espaço bem grande para correr. O homem bosta ou a
mulher diarreia deverá correr atrás de todos. Quem ele ou ela pegar tem que cair no
chão como se fosse uma bosta. Cuidado com para não pisar na bosta, pois pode feder.
Se passa por cima,a bosta volta a ser pessoa.
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Dupla
Ingredientes:
 Dois artistas educadores;
 Algumas Crianças;
 UM CEU com muitos espaços;
 Uma pitada de afinação;
 Duas de desafinação;
 Alguns embrolhos;
 Um ingrediente secreto (só revelado no modo de fazer);
Modo de fazer:
Junte tudo isso e verá que a receita pode não dar muito certo na maioria das vezes,
tente mais algumas vezes com mais vontade e adicione o ingrediente secreto da
flexibilidade.
Quarteto
Ingredientes:
 Quatro artistas educadores;
 Um grupo bem grande ou bem pequeno de crianças e adolescentes;
 Um teatro escuro;
 Algumas lanternas coloridas;
 Um tecido branco;
 E muita imaginação;
Modo de fazer:
Junte as crianças com o teatro escuro, mais algumas lanternas coloridas, muita
imaginação e os artistas educadores, que resultará em diversas histórias de estátuas.
Agora se preferir pode mudar a receita um pouco e acrescentar o tecido branco e terá
formas coloridas que se mexem no escuro e ao final um bom teatro de sombras.
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45
SOBREMESA
Processo Criativo
Ingredientes:
 Uma boa abertura para o imprevisto e o incerto;
 Um pouco de escuta;
 Muita improvisação;
 E uma pitada de risco;
Modo de fazer:
Junte tudo no liquidificador, pode ser que o gosto não fique apropriado, mas também
pode ser que fique delicioso, tudo depende da quantidade utilizada de cada ingrediente
e o comprometimento de cada pessoa na receita. Para finalizar a pitada de risco, pois
sem ela o sabor ficará amargo.
Ação Cultural
Ingredientes:
 Uma equipe do PIÁ;
 Uma comunidade;
 Crianças;
 Um pouco de ação;
 Um tempo de encontro e acolhimento;
 Um local à escolha dos artistas-cheffs;
 Duas porções de vontade e comprometimento;
 Um processo para compartilhar;
 E sair da zona de conforto;
Modo de fazer:
Neste modo de fazer, o artista-cheff terá total liberdade para criar a melhor forma de
juntar os ingredientes. Os ingredientes poderão ser misturados dentro ou fora do
equipamento, com pessoas que já conhecem o PIÁ ou não, para tornar mais
interessante é importante sair da zona de conforto.
Como será o seu modo de fazer?
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MAPA
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NOSSA COZINHA
(Instrumentalde Avaliação)
Artista - Cheff: Ana Cristina Anjos
Potencialidades Dificuldades Desafios Urgência
- Escuta;
- Observação;
- Organização;
- Propor;
- Deixar o registro de
lado para vivenciar o
processo;
- Olhar menos crítico;
- Afinação;
- Entrega;
- Diante deste quadro
a urgência é
conseguir propor e
agregar ao processo;
CAFÉS FILOPIÁTICOS
(Referências)
Ingredientes:
 Só rodapés
Marina Marcondes Machado
 O Ensaio e a escrita Acadêmica
Jorge Larrosa
 Pesquisa-Ação
Guido Irineu Engel
Modo de fazer:
Como o ensaio para mim rompe com a estética da escrita acadêmica, resolvi fazê-lo
com um livro de receitas. Sem a exigência de normas ou regras de escrita e
formatação acadêmica.
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CardaPIÁ
por Jefferson Cristino Hooder
CardaPIÁ
Ensaio de Pesquisação
Arte educador Jefferson Cristino Hooder de Moraes Limas
CEU Vila do Sol - 2015
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Café Filopiático
Nosso organismo é ritmado, tem seu tempo e sua necessidade e tudo é coordenado pelo ritmo
do coração. Estudos dizem que o coração de um recém-nascido bate em média 120 vezes por
minuto, o de uma criança ou jovem de 80 a 90 vezes e o de um adulto de 70 a 80 vezes.O quer
dizer que o coração bate aproximadamente 100 mil vezes por dia, isso é claro se nesse dia não
tiver encontro do PIÁ.
Sim, percebi que o PIÁ pode alterar
significativamente essa conta por que é um
ambiente de fortes emoções, e quando
estamos sobre a influência dessas emoções
nosso organismo fica todo desajustado. O
coração pode acelerar, o ar pode faltar, a
perna pode tremer e até lesões podem
acontecer. Isso tudo por que no PIÁ a gente
faz uma coisa muito poderosa que
costumamos chamar de brincar.
Pode parecer que tudo isso é uma bobagem, é
obvio que ao correr para brincar de pega-pega
nosso organismo precise bombear mais sangue e com isso o coração aumente o seu
“RITMO”, OK, concordo, mas não é só isso, não podemos separar nossas vidas sociais do
nosso ser biológico, a natureza não permite isso ainda, somos carne, ossos, sangue e
pensamentos, tudo tão biológico quanto a flor que mi nha “Piázinha” colhe ao passearmos pelo
CEU.
Partindo desses princípios que iniciei meu
“PERCURSO” no ano de 2015 com meus
grandes pequenos companheiros de PIÁ,
turminhas superespertas, diversas e únicas
em cada ser. Foram oito meses de
investigação sobre onde e quando alguém
teve a péssima ideia de dizer que brincar,
fazer arte e viver são coisas distintas.
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Prato Principal
Os Encontros!
Tínhamos um encontro semanal de duas ou três horas
dependendo da turma, pouco, mas muito intensos. Sempre
regados a amor, inocência, criatividade, vaidades, amizade,
companheirismo, disputas e uma salpicada de conflitos.
Estes eram os ingredientes mais constantes, mas o modo
de preparo era diverso. Primeiro vou adiantar o meu
segredo, pouco preparo das atividades, as vezes confesso
até que nenhum preparo, só a minha experiência com arte
educação e a confiança de que o grupo poderia florescer a
partir de um simples passei pelo parque ou pelo bosque. Os
ouvidos bem abertos, a boca sempre é bom dar uma
fechadae o olhar esse deve sempre estar atento ao que
estava acontecendo a nossa volta e ao que encantava
aquela turma.
Desses passeios posso listar alguns
frutos: a amizade com o casal de corujas
que fez sua toca em um barranco bem
pertinho de onde a gente costumava
fazer o piquenique, elas tiveram cinco
filhotinhos e pudemos vê-los tomando
Sol algumas vezes, caçadas ao saci no
bambuzal, tinta de terra e pintura ao
estilo rupestre, modelagem em argila
tirada do chão por nós mesmos, muitas
subidas nas arvores, roladas no
barranco, brincadeiras de esconder e de
correr, caça ao tesouro, brincadeiras de
aventura, construção de mapa,
observação de animais e plantas, contação de histórias, jogos, dança, música, pintura e
representações.
Sabe o que conseguimos com isso? Não posso dizer por todos, cada participante tem suas
próprias impressões, mas vou dizer o que entendi das observações que fiz sobre a turma e
sobre mim: Superamos muitos limites, nos autoconhecemos muito mais, ousamos fazer
diferente, extrapolamos as barreiras que nos foram impostas, nos arriscamos e percebemos as
verdades e as mentiras do risco, expandimos nosso potencial de criação e o mais importante,
construímos vínculo com o espaço e com as pessoas.
Rodizio
51
Nossa equipe era a Sul 2 e unia os CEUs Vila do Sol, Butantã e Guarapiranga, a coordenadora
foi a Lia e foi ela quem nos propôs o “rodizio de educadores”. Fizemos um esquema de escala
que nos permitiu visitar os três equipamentos e conhecer a rotina das outras turmas e o
trabalho de outros educadores.
Foram experiências incríveis, que me auxiliou a
perceber meus potencias e minhas carências,
ampliou meu entendimento sobre o programa e
agregou ainda mais sorrisos em meu trabalho.
Este sistema de rodizio parecer deixar os
encontros ainda mais efêmeros, pontuais, e eu
até gosto muito dessa despreocupação, mas
acho que vai muito além disso, esse é um
ótimo exercício para praticarmos o desapego
artístico. Para que o encontro seja bem-
sucedido é preciso ter clareza de que os frutos
desse encontro precisam ser colhidos pelas crianças e não pelo arte-educador, aquele é o
momento delas, a reflexão deve ser para elas e com elas, e pode inclusive acontecer em suas
casas após o encontro do PIÁ de forma individual.É preciso plantar a semente com muito
carinho, mas depende de cada um regar para que floresça.
Nesse encontro fugaz não temos como
manipular a sequência de atividades, a
criança é a protagonista, ela vai escolher se
na semana seguinte se vai pedir a
continuidade da atividade.E como posso dar
continuidade a um a uma atividade da qual
não domino?Afinal, estamos falando de uma
ação que foi proposta por um educador que
teve um encontro com a turma.
Precisamos ter uma visão muito ampla e
encarar de frente o desafio de se reinventar,
de aprender algo que não necessariamente
faz parte das suas pesquisas pessoais e entender que a criança pode sim conduzir um
encontro, pode te ensinar o que aprendeu com o outro educador e isso deve contribuir muito
com seu desenvolvimento profissional.
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Sobremesa
GandhyPiorski fala sobre o empreguiçamento da nossa alma, entendo essa expressão como o
fato de diminuirmos o ritmo dos nossos corações por imposição da rotina maçante, e como nos
mostra a ciência, diminuir o ritmo do coração é envelhecer.
Mas envelhecer também pode ser apenas o fato de acumular aniversários e somar
experiências, não precisamos adormecer a criança que á em nós para sempre, precisamos
manter as 90 batidas do coração por minuto sempre que possível epara isso só precisamos
correr com as crianças no pega-pega, nos emocionar com as mesmas histórias que elas, ficar
extasiado com um belo bolo de chocolate e enfim, sentir o ritmo da vida como eles sentem.
O percurso que cada um percorre para chegar a isso é único, em alguns momentos teremos
que apressar o passo para superar um obstáculo, em outros momentos teremos que diminuir
para esperar que o obstáculo saia do caminho, mas se você não sente seu coração ritmar-se
com isso, infelizmente sua criança esta adormecida.
Em uma dessas turmas do PIÁ Vila do Sol de 2015, fizemos muitos encontros de exploradores
de aventura, criamos um grito de guerra, um diário de bordo, algumas histórias, registros e um
mapa dos lugares que brincamos no CEU. Abaixo apresento este mapa que utilizei como
plataforma para ilustrar a reflexão que faço sobre esta experiência incrível que vivi:
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Ações Compartilhadas
Ações
Menu de Risco Oficina em:
-Semana de formação PIÁ 2015 - EMIA
-Seminario cidades e Infâncias 2015 - CEU Caminho do Mar
-1ª semana do brincar na periferia - Sacolão da Artes
- Dia da família - EMEF CEU Guarapiranga
Passeio e encontro das crianças PIÀs dos CEUs Guarapiranga, Vila do Sol e Butantã
- Sacolão das artes ( brincoteca do
sacolão e caravana lúdica - na 1ª semana do Brincar na
Periferia )
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Parque do Ibirapuera ( brincar e compartilhar as experiências do
rodízio)
As ruas são para brincar - Ruas de lazer
Ação de Juliana Leme e Coletivo Aqui que a gente brinca, em parceria com EMEF CEU
Guarapiranga,
Brincantes urbanos, rede de brincantes da zona Sul e PIÁ - Rua Amalfi , Jd Kagohara
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III Misturada Cultural
Participação de Laura Salvatore e Integrantes da equipe Sul 2, em evento realizado por
Jefferson Cristino Hooder e Ponto de Cultura Humaitá - Ponto de Cultura Humaitá (espaço
cultural - Zona Leste)
Encontro de famílias PIÀ no dia da Familia – EMEF CEU GUARAPIRANGA
Queridos Pais, Familiares e Piás,
No próximo Sábado, dia 14/11/2015, das 12h30 às 14h, o PIÁ irá promover o Encontro de Famílias do PIÁ, em parceria com
o Dia da Família na EMEF CEU Guarapiranga.
Será um encontro dedicado à troca de processos, onde a equipe organizará um Quintal de Aventuras, Roda de Conversa, vídeos
e Piquenique para todos os participantes.
Contamos com a presença de todos os familiares das crianças do PIÁ GUARÁ e todos que quiserem participar, serão muito
bem-vindos, para conhecer, brincar e ver o que aprontamos durante o ano!
Quem puder colaborar com o nosso piquenique, será ótimo!
Equipe PIÁ2015
Ana Cristina Anjos :: Juliana Leme :: Laura Salvatore :: Lia Mandelsberg :: Paulo Ferreira
FACEBOOK.COM/PIAGUARA
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Quando os Interesses se cruzam por Juliana Leme
Poderia ser uma característica intrínseca do Programa de Iniciação Artística, que se faz
na prática em equipe, o estabelecimento de parcerias para o trabalho ao longo do ano, no
entanto, ao encontrarmos com nossos pares no inicio da vigência do contrato e chegarmos em
nosso equipamento de atuação, muitas vezes percebemos que o que estabelecemos é apenas
uma relação de obrigatoriedade. O CEU não faz o mínimo esforço para nos auxiliar em nossas
demandas de divulgação, articulação e processuais e a equipe nem sempre encontra desejos
em comum para compartilhar, o que acaba por simplificar ao máximo as nossas ações. Este
ano, porém, felizmente, fui presenteada com uma equipe disposta e aberta ao possível, que fez
nascer várias parcerias bonitas e potentes, boas de partilhar. Por isso, escolho nesse ensaio
de pesquisa-ação, fazer o meu relato sobre nossas ações compartilhadas de 2015 da equipe
Sul 2 (a equipe S2, coração).
Com a nova estrutura do PIÁ, em que o (a) coordenador (a) de pesquisa-ação assumiu
dois ou três equipamentos, formamos uma equipe ampliada denominada Sul 2, que
contemplou os CEUs Guarapiranga, Vila do Sol e Butantã, todos sob a coordenação de Lia
Mandelsberg. Desde o início dessa edição do programa, nossas reuniões de sexta-feira foram
nessa grande equipe, o que nos possibilitou a constante troca das experiências vividas em
cada lugar.
A primeira ação compartilhada nasce do chamamento para a Semana de Formação na
EMIA. Proposta de Lia que escolhêssemos um tema em comum e ministrássemos juntos a
oficina de formação, chegamos ao “Menu de Risco”, um cardápio que proporciona a
experimentação e reflexão sobre o risco no brincar e na infância. Foram vários encontros e e-
mails de planejamento que renderam uma vivência muito provocadora de reflexões, que
acabou ganhando outros espaços...
Um deles foi na 1ª Semana do Brincar na Periferia, encontro idealizado e organizado
por mim e pelo coletivo que integro o “Aqui que a gente brinca!” para formação e trocas de
experiências sobre o brincar na periferia. Esse evento aconteceu no Sacolão das Artes,
ocupação cultural situada no Parque Santo Antonio, onde atuo há 4 anos, desenvolvendo uma
pesquisa-ação sobre a relação entre a criança, cidade e espaços de brincar. A programação da
semana foi pensada para avançar no debate sobre o brincar na periferia, buscando
possibilidades para potencializar nosso trabalho no dia a dia, refletindo sobre as questões que
emergem das especificidades culturais locais, para isso contou com oficinas e palestras para
educadores durante três dias e finalizou com um dia especial para as crianças – com
Brinquedoteca, Caravana Lúdica de Jogos do Mundo e uma apresentação de circo. Aqui está
nossa segunda ação compartilhada e a parceria se estabeleceu em vários âmbitos: O “Menu
de Risco” integrou a programação de oficinas da Semana, os AEs participaram dos encontros
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de formação e por último organizamos um passeio das crianças dos três equipamentos até o
Sacolão das Artes, para esse dia especial para elas... Sobre tudo isso, eu sou só gratidão, foi
emocionante unir essas duas iniciativas para a infância em que faço parte em um mesmo
tempo-espaço!
O outro lugar onde o Menu de Risco foi parar foi o seminário “Processos Artísticos,
cidade e Infância (s), organizado pelos coordenadores regionais do PIÁ e aberto a todos os
interessados.
Ainda durante a 1ª semana do Brincar, eu e Lia conhecemos a Rede de Educadores
Brincantes da Zona Sul e dentre seus integrantes, estava Silvia Tavares, coordenadora
pedagógica da EMEF do CEU Guarapiranga (precisamos sair do CEU para perceber que
tínhamos uma parceira muito potente ao nosso lado!). A partir deste encontro começamos as
nossas ações compartilhadas com a Rede e com alunas da EMEF. Promovemos uma
intervenção e um dia de brincar na rua de lazer Amalfi, bem próxima ao CEU, fortalecendo a
ocupação das ruas pelas pessoas, em especial as crianças, em prol da construção de uma
cidade lúdica!
Por fim, realizamos nosso encontro de pais do PIÁ dentro do “Dia da Família da
EMEF”. Desta forma garantimos a participação de mais famílias no nosso encontro, que muitas
vezes não tem muito quorum e ainda conseguimos uma maior visibilidade do programa...
Após este relato de um ano intenso de parcerias e ações compartilhadas/ coletivas,
concluo com o apelo e a reflexão de que quando encontrarmos parceiros, lugares onde antes
eram impenetráveis se tornam habitáveis, propostas megalomaníacas podem se tornar tão
simples, idéias impraticáveis podem se tornar tão possíveis. E é o possível que me interessa, é
o possível que precisamos para ousar e poder romper com a precariedade que nos sobra.
Este ano a equipe S2 foi atrás do possível! Torço por mais ações em rede e parcerias no PIÁ!
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Menu de Risco por Laura Salvatore e Paulo Petrella
Entrada
A atual sociedade e, especificamente a cidade grande, local em que as preocupações com a
segurança de seus integrantes é eminente, pauta prioritária na imprensa e plataforma de
campanhas eleitorais. Falamos de segurança no trânsito (atropelamentos, colisões), violência
urbana (assaltos, sequestros), violência doméstica (agressões físicas, abuso sexual),
segurança do trabalho, entre outros. Para lidar com essas questões são estabelecidas leis e
normas de restrição para que, situações que ultrapassem esses limites estabelecidos sejam
“destacadas” para serem punidas ou corrigidas de modo que as pessoas se sintam seguras.
Porém, podemos chamar de efeito colateral que essas restrições nos trazem uma sensação de
cerceamento, de falta de liberdade, e até mesmo de direito tolhido. Eis a questão: até que
ponto essas restrições realmente nos protegem em situações de riscos sérios nos protegendo
até mesmo da morte, ou existe um excesso provocado pelo medo das “possíveis
possibilidades” de situações arriscadas?
Se vivemos de fato esse paradigma, não é nada diferente num ambiente educacional que lida
diretamente com pessoas em formação e sendo preparadas para viver em sociedade. E existe
sim uma grande responsabilidade nesses ambientes em lidar com um número muitas vezes
excessivo de crianças confiadas pela família que espera que estejam seguras e salvas ao
voltar para casa. Portanto, além dos muros, paredes, grades, vigias, bedéis, professores, entre
outros, existe uma série de normas impostas pelas instituições, leis, ministérios, vigilância
sanitária etc., para que o ambiente se torne seguro.
Chegamos às palavras de ordem: “não suba”, “desça daí”, “não pode ir pra lá”, “vou avisar sua
mãe”, “você vai se machucar”, tudo para não haja ocorrências e não nos sintamos
responsáveis por prováveis percalços como quedas, cortes e arranhões, o que atrasaria a
dinâmica e a rotina estabelecida. Até que, especificamente no CEU Guarapiranga os Artistas
Educadores do PIÁ ouviram frases como: “Não deixem as crianças andarem descalças na
grama porque pode haver cortes profundos e podemos ser processados!” “Cuidado com o
tatame porque está rasgado na ponta e houve um joelho cortado que infeccionou e...”. Uma
vez que o PIÁ é um programa que propõe outra relação com o espaço, objetos e pessoas
gerou-se aí um estranhamento e um conflito: para nós, as crianças estavam em plena
segurança dentro das atividades, mas aos olhos dos outros, não.
Sendo assim, surgiu a necessidade de estudar, compartilhar e debater este tema: o risco. Com
a oportunidade aberta da Semana de Formação do PIÁ decidimos fazer uma oficina com este
tema objetivando os itens:
• Propor momentos de ludicidade e prazer através do brincar de maneira livre e poética;
• Levar aos participantes objetos para que eles criem suas brincadeiras sem determinação
de regras exceto o momento de início e o momento do fim;
• Estimular a criação de jogos que levem a subversão de regras;
• Criar situações onde os participantes se sintam podados de alguma maneira em relação
aos seus jogos;
• Compartilhar as referências bibliográficas e cinematográficas usadas na pesquisa dessa
oficina;
• Colocar em pauta a discussão sobre risco inventado e risco real, e a posição dos
educadores de acordo com sua disponibilidade perante o seu público e às instituições;
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• Refletir juntamente com os participantes sobre o tema.
Para estruturar esta oficina, usamos uma estratégia usada pela equipe S2 (CEUs Gurapiranga,
Vila do Sol e Butantã) de troca entre os equipamentos que consiste num “menu”, este menu é
desenvolvido em conjunto com as crianças que, elaboram um menu de atividades para que
outro equipamento possa escolher e desenvolver com a seguinte estrutura: atividades de
entrada, prato principal e sobremesa.
Prato Principal
Inicialmente criada para a Semana de Formação do Programa de Iniciação Artística, edição
de 2015, a Oficina “Menu de Risco”, ministrada pelos Artistas -Educadores e Coordenadora da
equipe Sul 2, teve continuidade no seminário Processos Artísticos, Cidade e Infância(s) no
CEU Caminhos do Mar, na Primeira Semana do Brincar na Periferia no sacolão das Artes e no
encontro de pais no CEU Guarapiranga, sempre com a mesma estrutura, um menu de
degustação com Prato Principal, Entrada e Sobremesa. Mas tudo começava com a assinatura
de um Termo de Responsabilidade. Ele determinava que cada pessoa fosse responsável pelos
riscos que pudesse vir a correr:
“TERMO DE RESPONSABILIDADE
Eu______________________, RG__________________, CPF____________________ me
responsabilizo por todo e qualquer risco que eu possa correr e por qualquer acidente que
possa acontecer em decorrência dos riscos os quais porventura eu venha a passar. Me
responsabilizo ainda pelas minhas escolhas em correr ou não cada um dos riscos que surgirem
durante esta oficina de formação “MENU DE RISCO” do PIA - edição 2015.”
Durante a experiência na Semana de Formação do PIÁ, oficina realizada na EMIA – Escola
Municipal de Iniciação Artística, todos assinaram o Termo de Responsabilidade sem hesitar. A
partir do momento em que todos tinham se responsabilizado por si próprios, a Entrada do
Menu de Risco foi servida: um giz, um texto Brincadeiras Arriscadas de Cidália Carvalho e uma
provocação "Arrisque-se num risco!". As pessoas ocuparam diferentes espaços, criando riscos
no chão, no banco, na ponte, quintal, entre outros e, se colocaram sobre riscos, em risco. Após
aproximadamente 15 minutos de degustação da Entrada, ouviu-se o tocar de um sino, o qual
alertava aos participantes que o Prato Principal seria servido, e os convidava a deslocarem-se
para outro lugar do Parque.
O Prato Principal era um Quintal de Aventuras, onde estavam dispostos pelo espaço
diversos tipos de materiais como pneus, tecidos, madeira, pregos, ferramentas, bexigas,
papeis, cordas, isqueiros etc. Naquele instante, os participantes poderiam se aventurar e usar
da criatividade para brincar coletivamente e criar o que desejassem. Uma cabana de madeira
com elementos da natureza foi criada e deixada no local. No desenrolar das brincadeiras, os
ministrantes da oficina alertavam os participantes sobre os riscos envolvidos nas ações do
brincar por meio de placas com frases como: “Cuidado! Você pode cair e ir para no hospital!”, e
outas como “Subir na árvore – Riscos: cair e quebrar os ossos; fratura exposta; contaminação
por bactérias etc”. e não demorou muito a, na EMIA por exemplo (que fica dentro de u m parque
administrado por outra Secretaria) para que os participantes fossem advertidos ou se
sentissem vigiados: algumas brincadeiras que envolviam perigos foram exploradas, como o
jogo de tacos e a tentativa de criação de um balanço na ponte do parque que, rapidamente, foi
interrompida pelo Segurança do Parque. Além disso, o brincar com o fogo também foi cessado,
com a justificativa de que não tínhamos a devida autorização da administração do Parque, por
escrito.
Mais uma vez o sino era tocado chamando os participantes para a sobremesa: pela sala
estavam dispostos três computadores que mostravam os vídeos The Land, documentário que
relata o funcionamento de Adventures Playgrounds, criado na década de 1960 por Lady Allen
of Hurtwood (1897-1976), inspirada nos playgrounds do arquiteto Aldo Van Eyck, onde o
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brincar livre e arriscado é estimulado, existente em diversos países; também foi exibido o trailer
do Documentário Do lado de fora: lições de um Jardim da Infância na floresta. Sobre duas
mesas, havia trechos de referências teóricas de autores como Mia Couto, Cidália Carvalho, Tim
Gill entre outros.
Os participantes tiveram um tempo para a digestão do Prato Principal. Após este momento de
visualização de vídeos, leituras e de alimentar-se de referências, os ministrantes da oficina
serviram um papel, um envelope e uma caneta para que cada pessoa, individualmente,
registrasse por escrito suas reflexões, questões, e/ou pensamentos.
Os envelopes foram misturados e distribuídos entre as pessoas. Aos poucos cada participante
leu a reflexão de outra pessoa ao ponto de se gerar uma discussão coletiva.
Sobremesa
No escopo de buscar uma reflexão crítica e questionadora acerca de atitudes, maneiras,
estilos que costumam ser extremamente comuns no cotidiano de pessoas que, de algum
modo, tem proximidade com crianças em suas vidas. Sejam na função de pais, irmãos, tios,
professores, arte-educadores entre outros, todos tem um tipo de influência e de
responsabilidade na educação destas crianças. Que atitudes, muitas vezes impensadas, são
essas? Como e onde se revelam maneiras de lidar com a criança que costumam ser
reproduzidas sem a necessária consciência do que se possa estar criando ou interferindo no
desenvolver e na formação desta criança?
Com o intuito de buscar compreender, falar sobre, tirar a névoa sobre o tema, criticar, refletir,
questionar, fez-se necessária a realização de uma pesquisa sobre a importância do risco no
brincar.
Em diálogo, os artistas-educadores destacaram onde e como eles identificam a relação dos
educadores com suas crianças a respeito do risco e do medo (considerando que o educador
não é apenas a pessoa formada na área da educação, mas é também aquele que de algum
modo lida com crianças e, por isso tem influência em sua educação).
No iconográfico sobre os benefícios do brincar arriscado do Playground da Inovação (2014),
encontram-se argumentos que incentivam um brincar que contenham altura, velocidade,
ferramentas que possam machucar, elementos perigosos como fogo e água. Além disso, o
iconográfico afirma que as crianças devem experimentar brincadeiras brutas, lutas e brincar em
lugares que elas possam se perder ou desaparecer. Para o Playgrond da Inovação, o excesso
de preocupação de pais, professores etc. cerceia o direito da criança de arriscar-se.
O risco no brincar é fundamental para o desenvolvimento de diferentes patamares da
formação da criança. Com esta qualidade em seu brincar, ela é estimulada a experimentar as
sensações de medo e adrenalina num contexto lúdico, o que a ensina a controlar estas
emoções. Além disso, podem-se enumerar infinitas capacidades que são estimuladas e criadas
no brincar que envolva riscos. Nele, a criança se torna confiante e segura sobre as suas
capacidades; cria uma memória destas experiências na infância para serem aplicadas na idade
adulta; cria adolescentes e adultos inovadores, afinal, sem risco não há inovação; prepara e as
protege para os perigos da vida; ajuda a criança a perceber sua evolução motora, cognitiva e
social; fortalece todo o seu corpo; previne fobias; testa os limites e ensina as consequências de
ultrapassá-los; desenvolve a coragem. (Playground da Inovação, 2014).
Bujes (2010) apresenta uma noção de risco vinculada às ideias de poder e governamento
conforme propostas por Michel Foucault. Noção esta que, segundo a autora, está presente
tanto nas políticas públicas quanto nas práticas cotidianas, isto é, está associada à ideia de
administração social que se relaciona em especial com as iniciativas que tratam da vida das
populações: como geri-las, como garantir sua integridade, como torná-las mais produtivas. Ela
amplia esta discussão quando informa que as reflexões no domínio pedagógico têm resistido a
pensar o campo da infância como atravessado por relações de poder. Para tanto, a autora
alerta por certa desconfiança no olhar para o modo como são feitas as políticas públicas à
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infância.
A noção de governamento criada por Foucault (1993) e desenvolvida por Bujes (2010, p.
160) está relacionada a formas de exercício do poder para conduzir a conduta dos indivíduos.
As ações de governamento não se constituem como um modo próprio de ação das estruturas
políticas ou de gestão do Estado, unicamente; referem-se, igualmente, àquelas formas de agir
que afetam a maneira como os indivíduos conduzem a si mesmos.
A palavra risco, na linguagem cotidiana, é compreendida como perigo, associada à ideia de
uma ameaça. No campo da segurança, risco não designa nem um evento, nem um tipo geral
de evento que ocorre na realidade, mas “um modo específico de tratamento de certos eventos
que têm a possibilidade de ocorrer a um grupo de indivíduos – ou mais exatamente aos valores
ou capital possuído ou representado por uma coletividade, isto é, a uma população” (Ewald,
1991, p. 199). Ao afirmar, então, que nada é inerentemente (em si mesmo) um risco, o autor
argumenta que riscos não existem na realidade. No entanto, todos os eventos podem suscitar
a possibilidade de riscos. Isso sempre depende do modo como o perigo é analisado, o evento
considerado (Bujes, 2010, p.160).
As ideias apresentadas pela autora permitem pensar que há uma confusão entre o que seria
um risco real à criança, e o risco que corre determinado educador ao participar de uma
possível eventualidade onde uma criança possa se machucar. Incluem neste pensamento os
aparatos de disciplina e de segurança que levaram a sociedade (disciplinar) rumo ao
autocontrole, onde quase nada pode, não se questiona sobre o porquê não pode e onde tem-
se o controle dos fatos, em detalhes.
Enquanto a disciplina, como uma mecânica de poder, aprisiona, fixa limites e fronteiras,
determina o permitido e o proibido, produz com suas técnicas as aptidões e capacidades
necessárias ao mundo do trabalho, vê-se desenvolver já no século XVIII uma preocupação
com as populações, com as suas vidas, no sentido de preservá-las. Inicia-se a era do biopoder,
de uma biopolítica voltada para a população. Tendo como superfície de aplicação o corpo-
espécie, a biopolítica assume intervenções e controles reguladores cujos focos são a
fecundidade, a morbidade, a higiene, ou saúde pública, a segurança social. Assim, a vida das
populações, como objeto biológico, se torna passível de intervenção política e governamental.
A sociedade se caracteriza, a partir de então, como uma sociedade de segurança que tanto
explora os dispositivos disciplinares e de soberania quanto funciona segundo uma lógica
estratégica da heterogeneidade. Talvez fosse bom lembrar que, em relação às crianças,
consolida-se também um conceito de infância, como um período com características
específicas, que é preciso proteger das vicissitudes do mundo adulto e, ao mesmo tempo,
vigiar e cuidar. No século XVIII se ampliam as formas de confinamento que atingem as
crianças, não apenas com o surgimento de novas instituições, mas com o deslocamento de
seus propósitos, com vistas à administração da vida infantil. (Bujes, 2010, p. 168)
A noção de risco e as práticas dela derivadas estão associadas a um deslocamento da
sociedade disciplinar para uma outra, que Foucault denominou de sociedade de segurança.
Esta nova forma de organização política, social e econômica é orientada por uma racionalidade
potencialmente capaz de transformar a vida dos indivíduos e das populações e lança mão de
outros instrumentos para exercer o governamento. Os dispositivos de segurança possibilitam,
segundo o filósofo, inserir determinado fenômeno dentro de uma série de acontecimentos
prováveis. Assim, a segurança constitui um tipo de racionalidade – formalizada pelo cálculo de
probabilidades que coloca a intimidade das pessoas numa zona de governamento. Em suma,
os mecanismos de segurança operam uma proliferação/fabricação de riscos que são
confrontados com uma forma de normalização que parte de uma definição do normal e do
anormal, segundo curvas de normalidade. (Bujes, 2010, p. 169)
Se o interesse fosse ao aprimoramento dos mecanismos de proteção à infância, os riscos a
que elas estariam sujeitas poderiam ser localizados em pontos como o nível de escolarização
dos pais, sua situação profissional, sua renda, a forma de estruturação familiar, o acesso a
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atendimento médico comunitário, a posição relativa da criança na constelação familiar, os
hábitos de higiene familiar, as horas frente à TV, a frequência à escola, e tantos outros. (Bujes,
2010, p. 172) O que não acontece, de fato.
Assim sendo, o excessivo cuidado com a criança demonstra que há um processo histórico-
cultural que o deu à luz independentemente do risco que uma criança corra durante o seu
brincar.
Desse modo, torna-se fundamental para cada educador que observe seus modos de lidar
com as crianças quando se encontra em relações que envolvam o risco. A partir desta
observação e consciência de si neste relacionar-se, torna-se importante, então, que o educador
se questione:
• Se os riscos estão vinculados a algum tipo de real perigo ou se eles poderiam causar
problemas de responsabilidade para o educador;
• Se os riscos apresentados no instante de um possível cerceamento da parte do educador
não seriam fundamentais para o desenvolvimento daquela criança; entre outras reflexões que
possam surgir;
• Busque mais informações sobre a importância do risco no desenvolvimento infantil; Ajude
a criar espaços para brincar que ofereçam desafios na medida adequada para diferentes
idades; Estimule entre os adultos discussões abertas sobre segurança e risco; Separe o que é
o medo do próprio adulto do que é de fato perigoso para a criança; Confie mais nas
capacidades da criança e valorize as conquistas desafiadoras. (Playground da Inovação, 2014)
Os Artistas-Educadores da equipe Sul 2 se apropriam do tema para que esta reflexão permeie
e persista dentro do universo infantil, onde pais, educadores, irmãos, tios, trabalhadores de
ambientes escolares como o Segurança, o Inspetor, a Faxineira, o Gestor, a Assessora
Administrativa, e toda e qualquer pessoa que interfira no brincar de crianças, possam refletir
sobre o tema e adquirir o mínimo possível de consciência, ao ponto que se possa criar o
aprendizado da autocrítica e da autotransformação de atitudes impensadas, reproduzidas sem
se ter noção da repercussão de tal ato.
Referências Bibliográficas:
Bento, Maria Gabriela Castro Portugal Granja. O Perigo da Segurança: Estudo das Percepções
de Risco no Brincar de um Grupo de Educadores da Infância. UC/FPCE (Dissertação de
Mestrado), 2012.
Bujes , Maria Isabel Edelweiss. Infância e Risco. Educ. Real., Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 157-
174, set./dez., 2010.
CARVALHO, Cidália. Brincadeiras Arriscadas.
Disponível em: http://milrazoes.blogs.sapo.pt/120217.html
COUTO, Mia. Há quem tenha medo que o medo acabe.
Disponivel em: http://www.papodehomem.com.br/mia-couto-ha-quem-tenha-medo-que-o-medo-
acabe/
GILL, Tim. Sem Medo - Crescer numa sociedade com aversão ao risco. Principia: Cascais,
2010. 1.ed.
Playgrounds: Reinventar la Plaza – Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia – 30 de Abril
de 2014 – 22 de Septiembre de 2014. Siruela.
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Filme documentário: Do lado de fora: lições de um Jardim da Infância na floresta, -
https://vimeo.com/32463946.
Natureza, riscos e brincadeiras numa discussão que dá o que
pensar:
Brincar arriscado – Playgroud da Inovação, 2014:
Documentário “The Land”: http://playfreemovie.com/about/
Fotos
Rodrigo Munhoz
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http://www.tempodecreche.com.br/acao-pedagogica/natureza-riscos-e-brincadeiras-
numa-discussao-que-da-o-que-pensar/
http://www.playground-inovacao.com.br/beneficios-do-brincar-arriscado-porque-se-arriscar-faz-bem/
CardáPIÁ de Risco
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Relato de caso
Agachar-se, mas nem tanto por Tales Jaloreto
Uma brincadeira gramática e poética entre o caminho do saber do artista-educador e a
artisticidade para a criança.
Prefácio ou pré-fácil
Antes do era uma vez, do início de tudo; introduzo os pensamentos, ideias, frases para
compreenderem o conteúdo e estética deste texto, como o próprio prefácio sugere que seja, ou
ainda mais, e se talvez, subestimar o leitor, serve-lhe a palavra pré-fácil, quase mastigado,
antes do fácil, não o faço por mal, mas para que não haja ruídos na comunicação.
- Agachamento é ir ao chão, onde a criança está, mesmo que para apontar outros pontos de
vista(MACHADO, 2015)
- Componentes da artisticidade é utilizado para contrapor linguagens artísticas, termo curricular
e político, sendo assim não existem analfabetos em arte, cujos saberes tenham maior valor que
aquele da experiência inicial das crianças. (MACHADO, 2015)
- Pesquisador bricoleur, foi o termo usado pelo pesquisador norte-americano Joe Kincheloe,
após ver seus alunos mais brilhantes não conseguirem vagas no pós-doutorado, por serem
caóticos demais em seus pensamentos e suas expressões, assim o bricoleur cria sua
metodologia com recursos mistos, suspende certezas e combina novas peças de seu quebra
cabeça metodológico. (MACHADO, 2015)
- Work in progress é homenagear o processo e não um produto final. (MACHADO, 2015)
- Para poder estudar a criança é preciso tornar-se criança; não adianta só observar a criança, é
preciso penetrar além do círculo mágico que dela nos separa, em suas preocupações, suas
paixões, é preciso viver o brinquedo. (BASTIDE in FERNANDES, 2004)
- Perdoai! Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas.
(BARROS, 1998)
-Por viver muitos anos dentro do mato. Moda ave. O menino pegou um olhar de pássaro -
Contraiu visão fontana.Por forma que ele enxergava as coisas. Por igualcomo os pássaros
enxergam. (BARROS, 2011)
- A mãe reparou que o meninogostava mais do vaziodo que do cheio.Falava que os vazios são
maiorese até infinitos.A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou: Meu filho você vai
ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as
suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos. (BARROS, 1999)
- O ensaio duvida do método, não há dúvida de que o método é o grande aparelho de controle
do discurso. O ensaio não adota a lógica do princípio e do fim, nem começa pelos princípios,
pelos fundamentos, pelas hipóteses, nem termina com as conclusões, ou com o final, inicia no
meio e termina no meio, começa falando do que quer falar, diz o que quer e termina quando
sente que chegou ao final, não define conceitos, mas vai precisando-os no textoà medida que
os desdobra e os relaciona. O ensaio assume a forma de exposição. (LAROSSA, 2003)
- Livre da disciplina da servidão acadêmica, a própria liberdade espiritual perde a liberdade,
acatando a necessidade socialmente. (LAROSSA, 2003)
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Foto Bruno Schultze e Lawrence Bodnar
Dito “istos”, o era uma vez é o fim, e concluo de início, assim escolhes se tem algo de
interessante nesta pesquisa bricoleurepensamentos brincantes.
.....
Obrigado por continuar.
CONCLUSÃO DA HIPÓTESE
Esta foi uma semente de inquietação que me foi brotada quando dos meus 1,85m me agachei
a 0,60m (eu sentado) para compreender qual metodologia utilizar para incluir um menino de
abrigo nos jogos e brincadeiras, por vezes proposto, por outro menino bem inteligente vindo de
uma escola-modelo do município de São Paulo. E penso que não são conceitos estes ditos,
mas uma pesquisa a se iniciar.
Venha comigo! Que se imaginarmos uma proposta de brincadeira e jogo, for o repertório
individual de uma criança, dentro do seu mundo lúdico e mágico, e que algumas crianças se
adaptam a este jogo, podemos considerar que estejam dentro da caixa mágica deste indivíduo.
Pois se, outra criança, dentro do seu universo particular não se enquadra nesta caixa, devemos
excluí-la, tentar moldá-la ou ampliar esta caixa?
Pareceu-me maishonesto, inclusivo e respeitoso ampliar a caixa, e saber o que esta segunda
criança tinha a nos dizer. Por fim, nesta microscópica situação deste dia, esta criança mostrou-
se além do jogar bola, das intrigas que causava, e do bater de palmas ritmadas pelo funk.
Fez o seu desenho, questionou se estava bom, fez a “crítica de arte” da exposição, se sentiu
incluída, e demos novas possibilidades e caminhos para sua escolha.
ERA UMA VEZ...
um homem e uma mulher que se amavam, se casaram e tiveram um filho em 1980....bem acho
que posso adiantar um pouco mais esta história. Estávamos em viagem com a Umiharu e
ArtUnlimited, em 2013, pelos estados de Goiás e Minas Gerais, com o projeto Água, arte e
sustentabilidade, no qual estava previsto atendermos oito mil crianças durante três meses pela
Lei Rouanet. Chegamos à primeira cidade, Uberlândia, e receberíamos diariamente cerca de
duzentas crianças, metade por turno. Eram cinco atores-educadores e mais a equipe de
suporte que passeavam com os pequenos pela exposição de obras de artistas brasileiros com
a temática água, desde xilogravuras a aquarelas, explicando sobre ecossistema e serviços que
a água nos provê. Cada artista explicava sua
parte e ia se preparar para o espetáculo, por fim,
eu como último a entrar em cena, acompanhado
dos professores e a equipe, estava com cerca de
cem crianças pulando e a gritar, e a informação
Lia Mandelsberg – coordenadora – PIÁ – Sul 2 - 2015
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não chegava a elas, e para mim era importante que a recebessem, e não apenas falar ao
vento, e dizer que papel estava cumprido. Depois de uma semana, a escolha foi ser criança,
quebrar as armaduras do adulto, me agachei e surgiu o palhaço anarquista, velho de cabelo
apontado para cima, que gostava de bagunça e contar mitos da água. Não consegui o silêncio
para explicar, e nem era este o intuito, mas no meio da bagunça passar algumas informações.
E qual a importância deste fato pessoal dentro deste ensaio? O termo agachar-se da Marina
Marcondes; pois foi na altura delas que os ensinamentos chegaram. Porém peço permissão
para me apropriar deste termo com outro ponto de vista. Agachar-se, mas nem tanto. É
necessário que a criança saiba que ali tem um adulto que quer escutá-la e orientá-la, mas com
empatia ao seu mundo. Não é demais explicar o óbvio, em tempos absurdos de ter que
defendê-lo. É um limite tênue o agachar- se, pois estar muito no “chão” confunde -se com uma
criança, e pouco no chão, perde-se a empatia e a relação que busca estabelecer-se nesta
posição.
HIPÓTESE
Charlotte Hardman in Friedmann, 2011, pergunta-se: Como as crianças podem ser ensinadas e
como classificam ou pensam seu mundo? Como pode ser desenvolvida uma abordagem
antropológicadas crianças? Como pode diferenciar-se de abordagens teóricas que se
preocupam com as crianças no sentido do que refletem do comportamento ou pensamento
adulto?
E repergunto qual metodologia utilizar para o ensino de artisticidade, se cada criança é um
universo? De maneira tradicional utilizam-se metodologias ou formas que englobam o geral,
mas e estes que não se enquadram?Excluí-los e moldá-los?
Neste primeiro ano do PIÁ, dentro do equipamento do CEU Butantã, jogos e brincadeiras
tradicionais tendem a ser comuns e bem aceitas. Mas houve um conflito entre estas
constelações estrelares que nos frequentam.Não serão citados os nomes para resguardá-los,
já que um dos pequenos está sob medida de proteção pelo abrigo.
E dentro da pesquisa sobre metodologia de ensino, foi escolhido a hipótese mais limitada
dentro deste âmbito: a busca pelo método de ensino em uma criança excluída socialmente.
CONTEXTO
No grupo de oito a dez anos, às terças-feiras, definida como turma Ametista, um menino muito
inteligente, denominado aqui, Xubiriba, com boa formação cultural e artística, com amplo
acesso à informação pela educação familiar (assim são as informações que nos chegaram e
que percebíamos) propunha brincadeiras e ideias tão interessantes quanto o PIÁ permite e
está em seus princípios. Em seguida outro menino começa a frequentar, denominamos aqui de
Xubiras.Com outra energia da que estava sendo construída nos encontros, sabíamos pouco
sobre ele, apenas que vinha de abrigo, não se sabe muito da história, e que provável foi
obrigatório sua participação neste programa. Muitas vezes vinha acompanhado, e sumia
durante o encontro, e ia fazer outra atividade, como jogar bola, enfim. Houve instantes mágicos
como uma contação de histórias em que se aproximou e ficou abraçado escutando. Mas na
maioria tentava destruir as brincadeiras inventadas pelo Xubiriba, ou causava confusão com
alguma criança.
No esboço que surgiu da série de reportagens Os EsPíádores, foram construídos microfones
com rolos de papelão e objetos para serem o globo do microfone. Neste dia, algumas pinturas
foram realizadas, e se transformaram em obras de arte a serem avaliadas, depois da curadoria,
pelos pequenos críticos de arte.
E neste dia, enquanto as outras crianças
influenciadas pelo Xubiriba se encantavam
em construir desenhos, organizar as obras, e
sentados ir avaliando-as. Agachei-me, mas
nem tanto; para ter a perspectiva do Xubira,
mas manter o pensamento racional do adulto.
E vi no olhar dele, sentir-se inferior a tudo
aquilo, e em seguida, voltou a sua
normalidade em destruir os desenhos e
brincadeiras alheias. A outra arte-educadora
Foto Angélica Avante
continuou a conduzir a curadoria, enquanto sem palavra alguma, sentei ao seu lado, peguei
todos os tubos de tintas coloridos, e apertei todos juntos no papel, disse a ele que caos
(bagunça) pode ser arte, ela é o que está dentro de você. Falei superficialmente sobre o artista
norte-americano Pollock, que pintava a partir dos mesmos princípios. Xubira fez o mesmo no
papel, abaixou a guarda, e perguntou se estava bom, e claro que estava, já que não buscamos
um produto final, mas uma iniciação artística, mas melhoramos ainda mais, e gotejamos aquele
papel na torneira, e virou a pintura caótica molhada. Expôs junto aos outros, e se sentiu
diminuído novamente quando Xubiribas teve uma ideia incrível de fazer a reportagem em uma
língua estranha, ele era o repórter robô lg e sua tradutora, a repórter luka. E de novo, chamei
Xubira pra perto, pois a crítica pode começar com um não gostei ou gostei, e depois um motivo
para isso. E assim foi este microscópica situação dos encontros do PIÁ. Um dia raro. A
conclusão amigo leitor, já sabes.
Educar é dar sentido. É dar sentido ao nosso estar no mundo. Nossos corpos precisam desse
sentido para se realizar plenamente. Mas também nossos corpos são vazios de imagens e elas
precisam fazer parte da nossa mente para possamos dar respostas ao que se nos apresenta
diuturnamente como desafios da existência. (MUNDUKURU, 2010)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, Manoel de. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.
BARROS, Manoel de. Retrato Do Artista Quando Coisa. Rio de Janeiro: Editora Record, 1998.
BARROS, Manoel de. Exercício de ser criança. Rio de Janeiro: Salamandra, 1999
BASTIDE, R. Nota explicativa. In: FERNANDES, F. Folclore emudança social na cidade de São
Paulo. 3. ed. São Paulo:Martins Fontes, 2004
ENGEL, Guido Irineu. Pesquisa-ação. In: Educação em revista. Curitiba: UFPR, 2000.
FRIEDMANN, Adriana. História do percurso da sociologia e da antropologia na área da
infância, 2011. Disponível em:
<http://iseveracruz.edu.br/revistas/index.php/revistaveras/issue/view/4>
Friedmann, Adriana. O papel do brincar na cultura contemporânea. 2008. Disponível em: <
www.nepsid.com.br/artigos/opapeldobrincart.htm>
HOLM, Anna Marie. A energia criativa natural. Pro-posições, v.15, n. I (43) - jan./abr. 2004.
LARROSA, Jorge. O ensaio e a escrita acadêmica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 28,
n. 2, p. 101-115. 2003.
MACHADO, Marina Marcondes. Só Rodapés: Um glossário de trinta termos definidos na espiral
de minha poética própria, 2015. Disponível em:
<http://www.seer.ufu.br/index.php/rascunhos/article/view/28813>
MUNDUKURU, Daniel. A milenar arte de educar dos povos indígenas, 2010. Disponível em:
<danielmundukuru.blogspot.com.br/2010/04/milenar-arte-de-educar-dos-povos.html >
75
Caravana da Coragem
Expedição. Esta palavra permeou minhas reflexões sobre toda a vivência no PIA neste ano,
falando além dos encontros, do trajeto até o equipamento, das conversas nas reuniões, nas
muitas atividades propostas pela e para a esta equipe. Mais especificamente numa visita ao
CEU Vila do Sol dentro do “Rodízio” proposto pela coordenação, encontro narrado nesse texto,
onde de fato uma expedição em caravana foi realizada, e não voltei o mesmo dessa
experiência.
Partindo do princípio de que, mesmo que em grupo, quem percorre o trajeto é o indivíduo, me
permito escrever em primeira pessoa observando que esse ensaio parte de impressões
pessoais antes de ser um relato de uma experiência.
Em busca da palavra expedição no dicionário encontrei algumas respostas:
 Ação ou efeito de expedir; distribuir ou entregar .Ato de fazer com que alguma coisa
atinja o seu propósito: expedição de um documento;
 Figurado. Conjunto pessoas que viaja para determinado território afim de analisá-lo,
geralmente, com propósito empírico: expedição geológica;
 Prontidão para desenvolver ou executar alguma coisa: falar com expedição.
Remeter ou deliberar várias modalidades de negócios;
 Brasil. Local onde são preparados os objetos que deverão ser expedidos;
 Militar. Ação de mandar tropas para um local específico.
E alguns sinônimos como: campanha, caravana, desembaraço, despacho, diligência, envio e
remessa.
Os encontros no PIÁ Guarapirapiranga, do qual fiz parte da equipe, foram, em sua maioria, fora
da sala e sempre que possível fora do BEC, onde se situa a sala do PIÁ, nem que fosse
apenas o pique- nique que muitas vezes era feito no “Quintal da Bruxa”, lugar onde há árvores
frutíferas e onde morava a Bruxa (personagem da parceira Laura Salvatore numa das turmas
de pequenos). O longo trajeto de minha casa até o CEU Guarapiranga que dependia de metrô
na linha Vermelha do Metrô, Linha Amarela do Metrô, Linha Esmeralda da CPTM, uma
caminhada de quase dez minutos da estação Socorro até o ponto de ônibus onde passa o
Jardim Nakamura 7023, e mais ou menos meia hora até a porta do equipamento. Mas existia
um caminho alternativo em meio aos ostensivos prédios da Marginal Tietê de carona, outro
caminho bem mais confortável fisicamente, e mais desconfortável visualmente. As oficinas
Menu de Risco desenvolvidas pela equipe nos colocaram em muitos trajetos diferentes. Mas
principalmente a proposta de Rodízio nos ocupou em descobrir trajetos, tempos, caminhos e
logísticas dentro da cidade.
Além dos trajetos pessoais, as atividades constantemente eram distribuídas pelo espaço do
CEU Guarapiranga e os trajetos entre esses diferentes lugares, e o como era feito e o que era
encontrado de diferente. Sempre com o propósito de estar atento ao que acontece e deixar que
os acontecimentos influenciem no momento presente, que o ambiente de fato faça diferença.
Se por exemplo, no caminho do barranco de escorregar até o “quintal da Dona Cobra”
(Bambuzal) algum bicho cruzasse o caminho, uma ventania levantasse as folhas ou um grupo
de crianças pequenas, isso não podia ser ignorado e deixar que esse acontecimentos
participem de maneira imaginativa, sensitiva e simbólica o observam que relações se
estabeleciam.
Num desses encontros, no CEU Vila do Sol, com o parceiro Jefferson Cristino, propusemos a
uma turma que em sua maioria eram pré-adolescentes, uma expedição até a ponta do morro
que se avistava de dentro do CEU, mas parecia um lugar inóspito, sem nenhuma construção
ou sinal de vida humana, habitada por uns arbustos e que ninguém conhecia, ou sequer se
por Paulo Petrela
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Caderno de receitas do coração

  • 2. Equipe S2 C aravana da coragem– COORDENADORA DE PEQUISA AÇÃO Lia Mandelsberg ARTISTAS EDUCADORES CEU GUARAPIRANGA Ana Cristina Anjos, Juliana Leme, Laura Salvatore, Paulo Petrela Facebook PIÁ Guará CEU BUTANTA Angelica Avante, Tales Jaloreto Facebook PIA - CEU Butanta CEU VILA DO SOL Ana Suely Santana, Jefferson Cristino Hooder PIA Ceu Vila do SOL passaram por aqui… Barbara Freitas Juliana Bueno tem o dedo deles… Bruno César Rodrigo Munhoz PIÁ SUL 2 / Edição 2015 Programa de Iniciação Artística (Infância e Arte) da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo
  • 3. Índice Sugestão do Chef por Lia Mandelsberg CardaPiá por Ana Cristina Anjos CardaPiá por Jefferson Cristino Hooder Ações Quando os Interesses se cruzam por Juliana Leme Menu de Risco - concepção Equipe Sul 2 por Laura Salvatore e Paulo Petrela Agachar-se, mas nem tanto por Tales Jaloreto por Paulo Petrela 4 8 11 16 24 40 3 41 49 54 59 61 67 72 76 Introdução Lia Mandelsberg Encontros Rodízio Gourmet por Laura Salvatore Traçados de Tempos e Espaços por Ana Suely Santana Implementação O começo de um começo iniciante. Start! por Angélica Avante por Lia Mandelsberg Cardapiá Rodízio Ações compartilhadas CardaPiá Relatos de caso Caravana da Coragem
  • 4. Introdução Lia Mandelsberg Nesse breve e rico ano de 2015 tivemos o dever e a oportunidade de experimentar e criar um novo jeito de trabalhar no PIÁ. Éramos 9. E também fomos 11. Uma Coordenadora de pesquisa ação. Uma dupla de AEs ingressantes implementando o PIÁ no CEU Butanta, uma dupla de AEs ingressantes para realizar uma reimplementação no CEU Vila do Sol, e um quarteto de veteranos para continuar um PIÁ no CEU Guarapiranga. Não foi nada simples. O processo de cada equipamento e de cada equipe era bastante diverso e exigia atenção específica. Eu, como coordenadora, iniciei com a vontade de contar aos ingressantes a história do PIÁ e auxilia-los na compreensão do programa. Acompanhar o processo de Implementação, articular os processos de escolha de horários, de sala, de locais e formatos de divulgação. Contribuir para o entendimento do programa junto ao equipamento e a comunidade. Conhecer cada um dos AEs. Contextualizar e compartilhar as questões políticas do programa PIA na cidade assim como as questões macro do programa discutidas na reuniões de coordenação. Acompanhar, participar, contribuir nos encontros com as crianças, levando aos que ainda estavam chegando o que era o PIÁ, somando e construindo o PIA unindo olhares e experiências de Artistas Educadores ingressantes e Ingressados. Nossas reuniões de equipe foram realizadas quase 100% das vezes na grande equipe, com as 9 pessoas presentes. Para apimentar, tivemos a saída de 2 AEs no meio do caminho, e o ingresso de 2 novos personagens nessa estória. As questões eram infinitas e quase nunca era possível dar conta de tudo numa reunião só. Frustrações e cansaço foram surgindo. Testamos muitos formatos de reunião: Formais, piqueniques, cafés da manhã em casa... Além de pequenas incompatibilidades de horários que complicavam ainda mais nossa situação. Tínhamos de dar conta de conversar sobre as questões macro, sobre as demandas de cada equipamento, sobre cada turma, sobre cada dupla… Uma verdadeira loucura que muitas vezes nos angustiava e parecia tornar aquela reunião inválida, por vezes senti uma vontade ou cobrança de melhor organização. Optamos por dividir melhor o tempo para cada demanda, chegar às reuniões com pauta definida e registrar os combinados em ata. Tudo foi sendo decidido no coletivo. Foi tudo muito democrático, mas imensamente trabalhoso. Na metade do ano, movidos pela semana de formação do PIÁ optamos por oferecer uma oficina como equipe Sul2. Mais uma vez mergulhamos na experiência coletiva. Muitos debates, reuniões e discussões até chegarmos a um tema de interesse comum e um formato de oficina. Com contribuições de todos surgiu o Menu de Risco. Oficina que deu frutos, suscitou idéias, pesquisas e assuntos que perspassaram nosso caminho ao longo desta edição do programa. Após uma pequena pausa em julho voltamos aos encontros com as crianças. Foi então que lancei uma proposta, com o objetivo de criar sentido - talvez mais para mim mesma - e conexão entre os PIAs dos três equipamentos sob minha coordenação. Resolvi 4 Nossa primeira Ação Compartilhada criar cardápios, os CardaPIÁ, para cada encontro de PIÁ em que eu estivesse presente.
  • 5. Consistia em viver o encontro e ao final, junto às crianças, construír um cardápio do nosso dia. Inventamos nomes para nossas ações e brincadeiras e as disponibilizamos em forma de cardápio, descobrindo o que teria sido a entrada, o prato principal e a sobremesa. Num próximo encontro, num outro equipamento, eu levava o cardápio e oferecia a turma. As crianças podiam escolher algo do cardápio que já havia sido feito por um outro PIÁ. Um intercâmbio entre crianças foi sendo estabelecido. Uma brincadeira quando refeita se transformava e gerava novos desdobramentos. Claro que toda a equipe de AEs teve de comprar essa idéia. Era preciso abrir espaço no dia para a dinâmica dos cardápios acontecer. Era preciso de alguma maneira apresentar o cardápio como algo apetitoso para que as crianças se interessassem. Fato é que a dinâmica só funcionou por um tempo e depois disso foi se transformando. A idéia de trabalhar com cardápios surgiu a partir da sugestão de uma das AEs e se transformou nas minhas mãos pois desde os meus primeiros anos de PIÁ a temática da cozinha, da fome e do desejo permeiam minha pesquisa. No PIÁ é preciso lidar com os ingredientes e manipular de verdade cada alimento. Entendendo alimento aqui como aquilo que nos move. E aqui neste programa queremos mais que arroz e feijão. É preciso a mistura, a salada, o tempero. Queremos a entrada, o prato principal e a sobremesa, menu completo! Chegar num equipamento, montar turmas, conhecer as pessoas, se afinar com a equipe, conhecer as crianças, construir coisas juntos, brincar, rir, conviver, viver, criar, sentir, perceber, ser delicado, ser rebelde, desafiar… Tudo isso exige muito cuidado, muita dedicação, muita vontade. Sinto como se tivéssemos preparado, ao longo do ano, um grande banquete. Cozinhamos muita coisa, alguns pratos azedaram, alguns ingredientes foram desperdiçados, alguns bolos embatumaram. Ao passo que muita comida foi degustada, muitas receitas criadas, muitos bolos cresceram. Para que tudo isso pudesse acontecer precisamos procurar e encontrar nossa fome, e juntar com nossa vontade de comer. Num programa no qual é preciso se reinventar a todo instante e recriar o programa a cada edição, é preciso inquestionávelmente encontrar motivos e se mover pelo desejo. São muitos os desafios, os entraves, as carências, a precariedade e só a vontade real move pessoas e transforma contextos. Nessa perspectiva fomos seguindo. Fui percebendo que eu, como coordenadora, percorria os três equipamentos, conhecia mais de perto cada AE, muitas crianças e dinâmicas de turma, muitos problemas e pessoas de cada equipamento. Mas quando nos juntávamos, às sextas feiras, algo truncava a conversa. Eu buscava conversar na perspectiva de alguém que tinha uma visão macro, enquanto cada equipe tinha suas preocupações e desejos específicos, sua necessidade de pensar e elaborar os Encontros ou se debruçar nalgum Relato de Caso expressivo. A essa altura, também me foram apresentados diversos conflitos entre duplas de AEs. Sentia que faltava em algumas equipes a experiência em quarteto: formato original do programa, em que estão presentes quatro linguagens e principalmente, quatro pessoas distintas que se alternam no encontro com as crianças. Percebi que o formato em dupla polarizava demasiadamente as questões, principalmente quando se tratavam de artistas educadores novos. O interessante dos quartetos é justamente a flexibilidade que tal formato impõe aos AEs e a maior possibilidade de encontro de afinidades que propicia. No PIÁ a necessidade de dissolver, desapegar, desfazer, desaprender é fundamental. No PIÁ não estamos para dar aulas, mas para conviver. Algo que escrito ou dito pode parecer simples, mas que leva muito tempo para acontecer, dado o modelo de educação a que a maioria de nós esteve exposto e aprendeu ao longo da vida. 5
  • 6. Uma nova proposta surgiu então para tentar dissolver conflitos, clarear questionamentos, aprofundar pesquisas e principalmente provar que abrir-se ao novo e desconhecido cria novas possibilidades do real. Realizamos ao longo de todo o mês de outubro um Rodízio entre os AEs, em que também participei. Cada AE visitou ao menos uma vez o quarteto. Além disso, houve um rodízio dos AEs pelos equipamentos, sempre mantendo a seguinte estrutura: um AE base (aquele que pertence ao equipamento) e um AE visitante. A proposta seguia com o mesmo enunciado para todos: SE PREPARE PARA IR VÁ MEDITE SOBRE E daqui seguia uma Sugestão do Chef, um guia para observações e pesquisa durante o rodízio. Tudo isso também para refletir sobre questões presentes em nossas discussões tais como planejamento, continuidade, processo criativo, brincadeira e arte. Toda essa aventura foi nos conectando cada vez mais. E instigando as possibilidades tão ricas, diversas e potentes que surgiam. Acredito que conseguimos despertar e abrir o apetite uns dos outros. E também experimentar pratos que não são os nossos prediletos… Também importante reconhecer aquilo que não gostamos e que não queremos. E que nada como experimentar 17 vezes uma mesma coisa… (dizem que se pode aprender a gostar de QUALQUER coisa se prova-lá todas estas vezes) Parece ás vezes que este ensaio é mais para nós que para qualquer outro. Tudo que contém neste caderno é recheado de sentido. Um sentido que foi adquirido na experiência, que é tácito, que é real. Que é resultado de meses de convívio, poucos e intensos meses. Com esta equipe e nessa posição de coordenação pude reparar mais uma vez o quanto o PIÁ faz parte de minha maneira de ver o mundo, o quanto me construiu e me constrói. Acredito imensamente no convívio entre pessoas, adultos e crianças. No convívio sincero e prazeroso aprendemos sobre nós, sobre a humanidade e sobre o mundo. Nosso convívio nos provocou, nos deu fome e nos possibilitou ver como somos diferentes. Como é difícil provocar alguém quando este já está saciado ou não quer cozinhar. Mas conviver no PIÄ é sinônimo de coletividade; fazer junto é trabalhosíssimo! E nos leva invariavelmente a democracia… Que talvez não seja o melhor e único jeito de resolver as coisas em grupo. Numa receita cada alimento tem sua importância específica, nem todos carregam seu sabor até o momento do prato pronto, e se falta um ingrediente, por vezes ele é substituível. Ao longo deste último semestre realizamos diversas ações, muita conversa, muita troca, muitos estresse e cansaço. Muita disposição e muita contradição. Gastávamos muito tempo batendo agendas… as vezes mais tempo que o de planejamento de ações ou trocas. Mas havia uma insistência, talvez mais minha não sei ao certo, de resolver e fazer tudo junto. Se houve um pecado talvez tenha sido esse, a vontade de estar em todos os lugares, participar de tudo, e querer que todos se envolvam da mesma maneira. No entanto foi também um 6
  • 7. grandíssimo aprendizado. Aprender a ceder, a compreender, a conversar, a colocar os pratos sujos na mesa, e lavar a louça. Perceber que muita coisa não é dita, que ser honesto não é fácil, que o trabalho é muito, que a vida de cada um é complexa, que tolerância é uma palavra dúbia… Entender e vivenciar a certa medida das coisas, que varia, sempre varia. Viver o que é comprometimento. Aprender que não há receita, mas que também não há banquete sem ingredientes, receitas, cozinheiros e uma mesa farta, cheia de gente com fome. Nosso prato principal foi o risco! Nosso ingrediente a criança! Nesse CADERNO DE RECEITAS DO CORAÇÃO, tem um pouquinho de cada um de nós. Dividimos nossos ensaios por temas relacionados ás nossas ações durante o ano. Além dos ensaios constam aqui nossos cardápios e nossas ações compartilhadas. Uma tentativa de fazer valer esses infindáveis registros e escritos para algo prático, com sugestões de modos de fazer, pratos prontos e ingredientes. Cruzamos a cidade sozinhos, em caronas, em duplas, trios, quartetos, em 9 pessoas, ou acompanhados de mais de 50 crianças. Numa grande expedição ao outro essa foi a nossa Caravana da Coragem. Mais uma vez e cada vez mais aprendemos que arte e criança são sinônimos de potência transformadora. Não separar tanto o mundo mágico do real é a capacidade que a criança tem de vislumbrar novos mundos, outras possibilidades do real. Crianças fomos e somos todos nós um dia, e podemos ser em cada um deles. Ao fazer PIÁ compreendemos o mundo e o recriamos. Bom Apetite! 7
  • 8. Encontros Rodízio Gourmet por Laura Salvatore Todos os dias, saímos de casa e nos deslocamos até o trabalho. Lá, exercemos funções, executamos ações e depois voltamos para a casa. Ir, realizar e voltar. Independentemente do contexto, de onde e com quem. Sempre ir, realizar e voltar. Algo que se habitua a fazer. Torna- se conhecido. O piá, um programa em que as equipes se renovam todos os anos. As pessoas trabalham com outras pessoas e, a maioria daqueles que ficam,trabalha em locais diferentes a cada ano.Existe o tempo do chegar e dos encontros com a equipe, com as pessoas do local em que trabalha, com as crianças e seus pais, o tempo de conhecer sua dupla de trabalho para então iniciar as propostas em arte para fazer com as crianças. Após todo este período de adaptação, há ainda outro tempo para que o estabelecer das relações entre artistas- educadores (AEs) e grupos de crianças aconteça. Isto é, as crianças conhecerem os modos de estar em conjunto dos artistas-educadores e os artistas-educadores conhecerem minimamente algumas singularidades de cada criança e as características de cada turma. Afinal, quem tem qualquer tipo de encontro com um grupo de pessoas, sabe que cada parte do todo cria um tipo de coletividade, sempre única. E para trabalhar de modo que seja provocador tanto para AEs quanto para crianças, esse conhecimento do coletivo precisa acontecer, uma vez que os conteúdos e a estética serão brotados dos encontros entre estes seres com todas as suas sutilezas em ser de espécie humana.Pois gente é paradoxo, é história, delírio, desejo, memória, loucura, guerra... Componentes que gente tem e que suas combinações criarão as peculiaridades do grupo. Estas que deverão ser escutadas para a criação de processos que envolva todos os seus integrantes. O piá, devido à sua estrutura, gera liberdade, flexibilidade e espaço para que as sutilezas de um grupo sejam levadas em consideração. Mas, mesmo no piá, que há espaço, respeito ao tempo da criança etc., mesmo neste programa há o momento em que se chega a uma zona de conforto onde já se sabe quem é quem e o que interessa e o que não interessa aos envolvidos. E é neste momento que gostaria de me fixar para continuar este ensaio como tentativa de reflexão. Ao atingir esta zona, sabe-se, portanto o que funciona e o que não funciona. O que ocorre, frequentemente é: permanecer no conhecido, naquilo que funciona, muitas vezes sem perceber que você, AE, tem criado propostas que se inserem nesta zona de estabilidade. Adquire-se uma metodologia e permanece nela. Mas há algum problema nisso se o prazer existe, se há interesse e presença das crianças? Não seria uma escolha de aprofundamento de um método de trabalho? Assim como há pequenas variações em qualquer zona de conforto, em contraposição, as zonas de desconforto provocam as pessoas em sentidos não atingidos quando se está inserido no conhecido, estável e confortável. O desconhecido pode colocar aqueles que se permitem adentrar nele, numa posição diferente da anterior, do momento de conforto. Assim, pode gerar uma capacidade de enxergar o mundo e as coisas de um ângulo antes desconhecido. Desse modo, a zona de desconforto funciona como um catalisador de reflexões e pensamentos. Assume importante papel na formação de cidadãos, uma vez que cria capacidades de se enxergar uma mesma situação de diversos modos e contextos. Arrisco associar a zona de desconforto com a formação de competências como aceitação e compreensão das diferenças e, portanto, o altruísmo. No entanto, as zonas de desconfortome parecem de extrema fortuna para se trabalhar num processo de arte com crianças. O AE pode provocar a si e à criança. O AE pode gerar em si e no grupointeligências. Importante frisar que o trabalho em arte com crianças opera em diversas instâncias: corporal (física), emocional (sentimentos) e cognitiva (mente/inteligência). Trata-se 8
  • 9. de brincadeiras e jogos que envolvem regras onde as crianças podem concordar ou não, questionar, propor novas regras, segui-las em conjunto, pensar, ver e ser vista; trata-se de estética, ou seja, experiências provocadas que são capazes de atravessar os sentidos e gerar aprendizado e transformação. Sendo assim, crianças e educadores são tocados em diversas instâncias. Porém, se a criação destas zonas de desconforto é o que mais me interessa enquanto artista e educadora, como podemos propor que elas existam de fato? Como podemos perceber se estamos numa zona de conforto? Toda esta reflexão surgiu após a experiência que realizamos entre os nove AEs da Equipe S2 do piá 2015. Propusemo-nos a fazer um rodízio de AEs entre os três CEUs: Vila do Sol, Butantã e Guarapiranga. Em apenas um mês, iríamos cada AE trabalhar no lugar de outro, embora mantivéssemos a base, isto é, a cada dupla de AEs, um seria daquele equipamento e o outro, o visitante, seria de um equipamento diferente. Esta experiência gerou em mim uma zona de desconforto, já que estava indo para um local onde tudo era desconhecido: as crianças, os funcionários, a comunidade, a turma, os processos criativos. Portanto, euali, naquele espaço onde tudo era novo, não tinha como ser a mesma. Transformava-me pelo simples fato de me encobrir por outro entorno além do meu conhecido daquele momento de minha vida. Esta oportunidade de ver tudo em outro contexto gerou reflexões em muitas camadas, as vezes complexas de serem traduzidas racionalmente em palavras. Posso citar uma turma de cinco a sete anos que tinha uma característica de se entregar completamente às propostas de brincadeiras de modo performativo. Mim e Paulo Petrella já estávamos acostumados com esta característica daqueles pequenos. Logo, criávamos infinitos encontros que misturavam brincadeiras, corpo em movimento, materiais plásticos e histórias lúdicas. Elas mergulhavam de cabeça. Um dia, já na finalização do ano com esta turma, conversávamos sobre o que poderíamos fazer que ainda não tivéssemos feito. Tivemos a ideia de confeccionar máscaras com bexigas, jornal e cola. O momento de realização da ideia foi intenso para nós e para elas que estavam já habituadas a brincarem de modo livre. Esta nova proposta exigia um tipo de concentração que antes elas não haviam entrado em contato: de trabalhar em etapas, cumprir as regras de cada etapa para que se pudesse alcançar o objetivo final, ter máscaras para pintar e brincar. Elas se entregaram à proposta, embora carregando a memória dos outros encontros, com muita liberdade. A cola diluída em água ultrapassou os limites da bexiga chegando ao chão, aos corpos inteiros das crianças transformando-se em outro brinquedo. Nós, os AEs, ficamos um tempo a mais até conseguirmos retirar a cola do chão, das mãos, braços, pés, das crianças. Chegamos atrasados no lanche. Os pais, provavelmente, tiveram um pouco mais de trabalho para dar banho em seus filhos e lavar suas roupas, mas foi nesta experiência que elas, as crianças, conheceram um pouco mais sobre suas capacidades de concentração; foi ali que elas atingiram outros estágios em si mesmas. E os AEs, com olhares atentos, perceberam que tipo de reflexão poderia nascer daquele momento aparentemente caótico. Outro encontro, com outra turma. Eu na base, o Tales Jaloreto de visitante. A chegada dele e a falta que as crianças sentiram do Paulo não foi um problema. Rapidamente, elas estavam envolvidas com as propostas do encontro. A energia de outro educador trouxe ao encontro uma vivacidade do novo, da novidade, do estar no desconhecido. O Tales entregue às crianças e elas entregues ao encontro. A proposta era: na árvore, colher urucum e depois, pintar-se. Mas, é claro que nada saiu conforme o planejado. 9
  • 10. A Rayssa quis cozinhar o urucum com cascas e folhas e servir a todas e todos. AAna Luiza aproveitou o som que as sementes faziam quando juntou e criou chocalho em pote de iogurte sem rótulo, sementes de urucum, celofane e fita adesiva. A Jéssica atraiu-se pelos pelinhos que a casca do urucum contém. Os juntava em pequenos montes e depois os colocava em tampinhas de potes de vidro. Além disso, pintavam os rostos dos educadores, com urucum. E assim foi. Outros brinquedos foram criados por elas. Chocalhos de urucum que nos inspirou a chacoalhar nossos corpos em partes, em todo, e nos fez ouvir chacoalho dos corações umas das outras. Alice, depois de pular na salada saladinha bem temperadinha com foguinho fogão e pimenta corre em minha direção para que eu escutasse o chacoalho do seu coração. 10
  • 11. PREFEITURA DE SÃO PAULO, SECRETARIA DE CULTURA E PROGRAMA DE INICIAÇÃO ARTÍSTICA ENSAIO PESQUISA AÇÃO dezembro / 2015 traçado de tempos e espaço: este traçado passa por tempos percorridos com crianças de 5 a 14 anos, público do programa de iniciação artística, frequentadores do equipamento CEU Vila do sol no espaço_perído de 2015. diante de tudo e todos a artista-educadora escolhe permear este ensaio por meio de danças com palavras. não escolhe ensinar, não escolhe desenvolver, não escolhe criticar, não escolhe recolher, não escolhe acertar, não escolhe designar, não escolhe apontar, não escolhe ariscar, não escolhe abdicar, não escolhe repetir, escolhe par.ti.lhar Ana Suely De Santana Natural de Paulista (PE), radicada em São Paulo desde 1998, é Bacharel e licenciada em teatro em 2008 e bacharel em produção cultural em 2006, ambos pela Universidade Anhembi Morumbi. Pós graduada em A Arte de Contar Histórias: abordagens poéticas, filosóficas e performáticas, pelo Instituto Superior de Ensino e Pesquisa, orientada pela Prof.ª. Dr.ª. Juliana Jardim Barboza (2013). Integrou o núcleo de estudos ao método Stanford Meisner dirigido por Thomas Rezende em 2011. Atuou junto à fundação filantrópica do hospital Sírio-Libanês, como atriz e interlocutora tendo como eixo as narrações de histórias e, como assistente de produção do grupo As meninas do conto. Em 2015 ingressa no programa de iniciação artística como artista educadora em teatro , e, interlocutora nas montagens teatrais dos CEUs Uirapuru e Butantã pela Secretaria Municipal de educação. Traçado de Tempos e Espaço por Ana Suely Santana 11
  • 12. ouso falar de um tempo de Amor um tempo onde não se olhe ódio, não se olhe coR Tateio o traçado da vida Insisto onde haja vontade Ouço oS idiomas das casas Traduzo a língua do jardim corpos, mentes est Ar com Ensaio pesquisa ação procura Durar mais do que uma breve repetição Uma escolha sempre é difícil escolha com Cautela e razão Aqui é ponto de partida partiDa sempre dá asas à imaginação Ouço o chamado da criança cRiançamuitas vezes tem razão Agir e pensar com a voz do coração Teto, telhado, tentativas Escutas do verbo, do olhar e da emoção Acolhimento, cobertura, cobertor aTenção Rodopios emOção 12
  • 13. Juliana Jardim John Cage Fernand Deligny Jane Taller Columpa Bobb Giuliano Tierno Viola Spolin Jacques Prévert André François Mário de Andrade David Le Breton Jakob Grimm Monteiro Lobato Marina Ana Paula Camile Regina Johnny Mikaely Vitória Ingrid Wendell Sheila Julia João PedroBeatriz Larissa Nicole Patrícia 13
  • 15. diário de bordo_junta diária_logbook_registre_segredos do piá_ pic-nic batatinha frita 1, 2 e 3 vampiro-vampirão Balanço naarvore pistas do saci históriasdocoração brincadeirasdassom bras conto contigo caçasentimentos cardume gatoerato caixamágica o incrível olho investigador de longe estátua 15
  • 16. Implementação O começo de um começo iniciante. Start! por Angélica Avante O começo de um começo iniciante. Start! Esse ensaio de pesquisa-ação tem como objetivo tratar sobre a implementação do Programa PiÁ no CEU Butantã feita ao longo do ano de 2015. Iniciar o Programa de INICI-Açao Artística em um equipamento novo quando a equipe inteira está INCIAndo no PIÁ foi um desafio à nós lançado em meados desse louco ano de 2015. Em meio a tantos INÍCIOs resolvemos partir de algum começo, conhecer as pessoas com as quais iríamos atuar, no nosso caso apenas uma dupla. Veio então minha primeira grata e assustadora surpresa, o meu par era na verdade um TRIO ou naquele forno tem pão quentinho sendo preparado, e é para daqui 2 MESES!!! Um misto de felicidade e frio na barriga, era essa a sensação que corria pelas nossas entranhas naquele início, duro início, pois tão breve sabíamos que um próximo início já estava para acontecer. A dureza durou algum tempo, eram tantas perguntas e as respostas quase nunca supria a ansiedade que nos tomava. A recepção das crianças Eram poucas, queridas, afetuosas mas um pouco desconfiadas. É dança? É teatro? É música? É tudo junto. “É tudo junto” foi a maneira que nós encontramos de explicar o que, mal sabia eu, era inexplicável. A tentativa de explicar o PiÁ me cutucava toda vez que alguma criança nova perguntava durante o seu primeiro encontro “é aula do quê mesmo, tia?”. É aula de brincar, de viver, experimentar e também de relembrar, inventar, passear, conhecer, cantar e muitas vezes só de se olhar. É aula de explicar, de trocar, se vestir, trans-vestir, trans-expressar, transitar... 16
  • 17. De criar, de se inventar, de se ocupar, de se colocar, de se tornar De conversar, de ouvir, de calar, de chorar, emocionar , extrapolar Extrapolar ideias, espaços, corpos, gritos, objetos, materiais extravasar, gritar, sonhar...Ufa! O tempo saltou no relógio e já era a hora da nossa primeira despedida, uma bela pintura na barriga e muitos abraços, já era a hora da pequena Gaia nascer! Mais uma incerteza, quem será que irá nos presentear com a sua companhia nos próximos meses? É homem ou mulher, tia? Quando é mesmo que a tia Ju volta? Ela já nasceu? Mais um recomeço, agora as crianças já estavam mais ritmadas. A maneira como os encontros eram conduzidos variou bastante durante o ano. Mas sempre gerou bastante reflexão durante as nossas conversas em reuniões de equipe. Sugerir, conduzir, propor ou mediar? Qual a melhor maneira de educar no PiÁ? Encontrar o equilíbrio entre essas ações parece que foi mesmo um grande desafio ao longo desse ano. Nessa história que se construía encontro após encontro, a necessidade maior era OUVIR. Ouvir a dupla, as crianças, o entorno e principalmente se fazer ouvido. Dialogar mesmo que aparentemente seja difícil e complexo. A relação da dupla é mesmo complexa. A certeza 17
  • 18. A certeza de que cada encontro era um momento único. A ideia de multiplicação no PiÁ foi rapidamente entendida pelas crianças. Tão logo que raras as vezes eu as via caladas. A criança do PiÁ entende com facilidade que esse é o espaço dela e que aqui suas verdades serão ouvidas com respeito e vontade. A oportunidade (e vontade) de lidar com as suas vontades dessa maneira me encantou durante todo o processo que ali vivemos. Sugestão trazida por criança é material colocado em pauta para discutir em grupo e se aceita por todos, vivenciada no PiÁ. Essa vivacidade é algo bonito de observar na criança. Bonito é mais ainda ver que naquele espaço, a criança pode sempre sê-la. 18
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  • 21. Dividir o pão Celebrar e compartilhar o alimento é um momento importante dos nossos encontros. Momentos que me trouxeram reflexões sobre importâncias que estão à um passo do nosso olhar, mas que as vezes não percebemos. A primeiro olhar, parecia estranho que cada um iria trazer seu lanche e compartilhar com o restante do grupo. “Mas eu tenho que dividir até o Danone, prô?”, “Já pode comer agora?”. O momento do lanche foi de extrema importância para a formação do vínculo e afetividade entre os PiÁs e a equipe. Percebi com mais certeza quando tive a oportunidade de visitar os outros equipamentos, o CEU Vila do Sol e CEU Guarapiranga. Cada equipamento tinha sua própria dinâmica de lanche mas alguns fatos me chamaram atenção. Na visita à turma da manhã do CEU Vila do Sol, com a A.E Ana Suely, presenciei a descoberta dos legumes pelos pequenos (turma de 5 à 7 anos) e o quanto um bom exemplo pode fazer a diferença. Já no CEU Guara, reparei no cuidado e no carinho dos AEs em fatiar todas as frutas de maneira apetitosa. Na visita ao Sacolão das Artes vi crianças repartirem e compartilharem com um amigo conhecido ali na hora. No Parque Ibirapuera, presenciei Piás se mobilizando para organizar o “Grande pic -nic” tão esperado por todos, o verdadeiro sentido para o trabalho em equipe. Todas essas experiências marcaram e serviram de reforço para a crença de que nós temos muito o que aprender sobre humanidade uns com os outros. A divisão, a soma, o partilhar e o experimentar são ingredientes que acresceram os sabores mais incríveis aos encontros do Piá. O Fim ou o sempre recomeço Os frutos de todas essas abordagens multiplicam-se em uma velocidade contagiante! O Piá tem como característica seu caráter fugaz e ao mesmo tempo permanente. Ali, no espaço fora da escola, é onde podemos conviver com a criança da maneira mais natural possível, travando um diálogo com o tempo, o corpo e o entorno. 21
  • 22. As experiências são marcantes eles mas também para nós. Posso afirmar isso porque me enxergo nessa criança. Vendo seus olhares e a entrega com que participam de cada momento, revisito as minhas próprias memórias infantis e recrio a mais bela memória do meu eu-criança através do meu eu-educador todos os dias. E essa dose considerável de sensações infantis no dia-a-dia de A.E. no PiÁ é absolutamente necessária. Como todas essas impressões se conectam? Como uma grande e colorida colcha de retalhos construída com os mais diversos tecidos tecendo uma grande trama de texturas e fios diferentes, costurada à varias mãos, cores de linhas. O começo dela se confunde com o meio e o final, e não importa de qual ângulo você comece olhar, os desenhos irão se sobrepondo. O PiÁ não é início, meio e fim. É o momento presente! 22
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  • 24. Cardapiá por Lia Mandelsberg 24
  • 25. É um PEGA PEGA. O pegador é o homem bosta ou a mulher diarréia. Quem é pego deve ficar parado em forma de bosta ( lembrando que uma bosta jamais é igual a outra) Para salvar é preciso pular por cima da bosta. Após três vezes pego, a bosta vira uma mulher diarréia ou um homem bosta. CINEMA NA CAIXA Arrume uma caixa grande, do tamanho suficiente para caber sua cabeça e pescoço dentro. Numa lateral interna da caixa, cole papel sulfite até cobrir toda a extensão. Na lateral inversa a esta faça um furo. Entre na caixa e veja o cinema da vida ao vivo e a cores observação: é simples, mas requer carinho e dedicação. Estude o tamanho da caixa e do furo e vá a um lugar bem iluminado pelo sol! TAPETE VOADOR Arrume um tapete bem grande. Vá a um lugar bem espaçoso. Em quatro pessoas já dá pra se divertir bem: um deita no tapete e os outros o puxam bem rápido. Dá também para fazer rocambole de gente no tapete. E também dá pra inventar umas milhares de outras coisas. ARCO E FLECHA COM CADERNO Sabe aqueles cadernos que tem um elástico para ajudar a manter fechado? Apoie um objeto nesse elástico, puxe na sua direção até obter tensão no elástico, e solte o objeto em direção a um alvo, como se faz com um estilingue. Cuidado, funciona! EXPERIMENTAR 17 VEZES UM KIWI Escolha um alimento que não gosta e o experimente 17x ao longo da vida. Prove que é real a teoria de é possível aprender a gostar de qualquer coisa se a provar 17 vezes ! PEGA PEGA BOSTA 25
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  • 27. RODA DE APRESENTAÇÃO DO OUTRO Em roda. Cada pessoa, como se estivesse se apresentando, irá apresentar o próximo da roda, dizendo tudo aquilo que sabe da pessoa e pode tornar visível e conhecido para os outros do grupo. PEGA PEGAAJUDA BOSTA É uma forma diversificada da brincadeira PEGA PEGA BOSTA O pegador é o homem bosta ou a mulher diarréia. Quem é pego deve ficar parado em forma de bosta. para salvar é preciso pular por cima da bosta. Após três vezes pego, a pessoa vira um parceiro da mulher diarréia ou do homem bosta e ajuda a pegar também. DANÇA MALUCA Em roda, cada um inventa um movimentoo e em sequência todas as pessoas vão aprendendo todos os movimentos encadeados. Após repetir e aprender a sequência todos escolhem um lugar e cada um se coloca num ponto do espaço. Colocamos uma música e juntos decidimos o momento de iniciar a sequência, todos, ao mesmo tempo, do início ao fim. PIQUENIQUE LIGHT COM REPOUSO NA ÁRVORE Providencie um piquenique com comidas leves e em pequena quantidade. Monte o piquenique ao pé de uma Árvore. Após comer suba na arore e dê um relax MATAR AULA No início do encontro do PIA, planeje algo super específico e trabalhoso todos juntos para depois do piquenique. Faça o piquenique. Fique com preguiça. Resolva „matar aula‟ e não fazer nada do que foi combinado para ficar preguiçando até o fim do dia. EXPERIMENTAR 17x UMA PINHA Escolha um alimento que não gosta e o experimente 17x ao longo da vida. Prove que é real a teoria de é possível aprender a gostar de qualquer coisa se a provar 17 vezes! 27
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  • 29. ALONGANDO E ESPREGUIÇANDO Antes de fazer qualquer coisa, espreguice e alongue o corpo. Em roda, cada um pode sugerir para todos um movimento que gosta de fazer e que lhe trás bem estar. O PIÁ CHAMA VOCÊ Criem, cantem e dancem uma música para convidar crianças para o PIÁ. Inclua palavras, sons e movimentos que fazem parte do seu PIÁ, salientando aquilo que é específico do seu grupo e da sua experiência de PIÁ, e tudo aquilo que você gosta nele. PINTANDO O CARTAZ PARA CHAMAR AS CRIANÇAS. Repita o procedimento anterior, porém ao invés de criar sons e movimentos, transforme suas ideias em algo possível de estar num cartaz. CORPO OBJETO COM NARRAÇÃO Uma ou duas pessoas serão os narradores. os outros do grupo vão se colocando, um por vez, numa pose que deve ir se comlementando. Os narradores devem observar cada pose (pessoa) que se coloca, e aquilo que o todo está formando, e ir criando uma história ao mesmo tempo em que a grande cena parada se forma. CONTAR HISTÓRIAS DE TERROR SEM GRITAR Nome já diz, é um desafio! MILK MISHUREKA O milk mishureka tem muitas versões e variações. Basicamente consiste em misturar os alimentos de forma esdrúxula e come-los sem fazer careta. São feitos geralmente no piquenique do PIÁ. O milk mishureka liquid consiste em misturar por exemplo, todinho, suco de laranja, suco de pozinho, mupy, num copo com uma rodela de carambola e tomar. O sandbag milk mishureka pode conter entre dois pães, uma rodela de banana, um pedaço de queijo, uma bolhaha de maisena, uma uva e uma fatia de presunto. Delicious! 29
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  • 31. ESTATUA DE SOMBRA: O QUE É O QUE É Vá a um lugar ensolarado e que produza sombras de seu corpo no chão ou parede. Escolha um tema, objeto ou figura e sozinho ou em grupos monte uma pose que projete a imagem que escolheu em forma de sombra na superfície escolhida. Os observadores devem adivinhar qual a figura que você quis representar na sombra. RISCO… Desafie-se a fazer algo arriscado, que ninguém deixaria você fazer. A regra única é: não vale morrer! PIQUENIQUE, Mil VERSÕES PARA MILK MISHUREKA Crie suas próprias versões de misturebas alimentícias com os ingredientes disponíveis no piquenique. 31
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  • 33. TREM DE NOMES Em roda. Escolha alguém para começar. O primeiro diz seu próprio nome. O segundo diz o nome do primeiro e depois o seu próprio nome. E assim sucessivamente, o trem vai se encarrilhando. PARQUE DENTRO Dentro de uma sala ou qualquer espaço interno. Utilize os objetos disponíveis para criar espaços lúdicos subdividindo a sala em vários ambientes, específicos e diversos para fazer coisas que se tem vontade. Exemplos: canto do piquenique, canto dos instrumentos, canto da piscina de papel celofane, conto do descanso, etc. PIQUENIQUE CONVERSADO Enquanto comemos… Quando aparece alguma dificuldades dividir e compartilhar o lanche, conversamos sobre isso e nos ajudamos a entender o sentido de compartilhar enquanto desfrutamos dessa maravilha. 33
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  • 35. SAINDO DE FININHO Em roda gire uma garrafa no centro. Para onde ela apontar quando parar serão os participantes da vez. Quem está na frente da boca da garrafa pergunta. Quem está de frente com o fundo da garrafa responde. A resposta NÃO pode conter as palavras SIM, NÃO e TALVEZ. Além disso a resposta não deve afirmar nem negar nada. Um belo desafio! ESCONDE ESCONDE INVERTIDO Uma pessoa se esconde. O grupo, junto, bate cara. Quem achar o escondido primeiro, se esconde junto. Todos vão se escondendo, NO MESMO ESCONDERIJO, até que todos estejam juntos. O‟vencedor‟ ou próximo a se esconder será aquele que primeiro encontrou o escondido. BIS Se a brincadeira é boa… Repita várias vezes!! 35
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  • 37. TABULEIRO DARWIN Este é um jogo de tabuleiro que só dá pra brincar quem tem o jogo. Mas…. ele é um jogo de tabuleiro que você avança nas casas a medida que acerta as perguntas relacionadas a vida e obra deste grande pesquisador ( ou seja, dá para improvisar) PELO ESPAÇO, COM O CORPO: Evolução Com ou sem música, num espaço amplo e num chão aconchegante brinque e dance imitando os bichos e os humanos, seguindo o processo de evolução: cobras, rastejantes, bebês, nível baixo/ quadrúpedes, gatos, girafas, crianças no processo de engatinhar, crianças brincando, nível médio/ macacos, pinguins, humanos, nível alto. PEGA PEGA SELVAGEM É um pega pega em que cad um é um bicho e deve se mover tal como ele. Pode também brincar pensando na cadeia alimentar. SALTOS ORNAMENTAIS MARAVILHOSO E INVENTADOS Se tiver um trampolim e um colchenete de ginástica olímpica é melhor. Um por vez, se prepara, se apresenta, corre, salta no trampolim e cai no colchonete a sua maneira. A idéia é cria com o corpo maneiras diferentes para cada etapa. ESCURO ACONCHEGO E HISTÓRIAS DE TERROR Encontrem um lugar escuro e aconchegante. Encontrem posições e formas bem gostosas de estar junto, deitados um no colo outro, abraçados e emaranhados. Contem histórias de terror e aguentem firme o medo através do calor e amor dos outros corpos a sua volta. 37
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  • 39. MAPA DO CEU passeie pelo CEU ou qualquer lugar que estiver. Percorra todo o território e preste atenção nos detalhes. Após a expedição desenhe um mapa de seu percurso e ilustre com as coisas que AMOU pelo caminho. TEATRO Vá ao teatro! (ou confira a programação do teatro mais próximo, pode ser no próprio CEU onde você faz PIÁ). Assista algo que alimente sua alma. PIQUENIQUE NAS NUVENS Vá a um lugar beeeeeeeem alto e faça um piquenique lá em cima. TREM DE NOMES Em roda. Escolha alguém para começar. O primeiro diz seu próprio nome. O segundo diz o nome do primeiro e depois o seu próprio nome. E assim sucessivamente, o trem vai se encarrilhando. PARQUE DENTRO Dentro de uma sala ou qualquer espaço interno. Utilize os objetos disponíveis para criar espaços lúdicos subdividindo a sala em vários ambientes, específicos e diversos para fazer coisas que se tem vontade. Exemplos: canto do piquenique, canto dos instrumentos, canto da piscina de papel celofane, conto do descanso, etc. PIQUENIQUE CONVERSADO Enquanto comemos… Quando aparece alguma dificuldades dividir e compartilhar o lanche, conversamos sobre isso e nos ajudamos a entender o sentido de compartilhar enquanto desfrutamos dessa maravilha. 39
  • 40. Rodízio Sugestão do Chef por Lia Mandelsberg CardáPIÁ - para uma pesquisa ação à sua escolha - PIÁ TIQUE - Entrada RODÏZIO - Se prepare para ir, Vá , Reflita sobre - Prato Principal - Bloco de Anotações ENCONTRO ( anote aqui ingredientes, modos de fazer, etc) - Sobremesa - Mapa (construa seu mapa, receita ou cardápio de meditações) ( SUGESTÃO DO CHEF: - Cafés Filopiáticos (para incluir suas referências) ENGEL, Guido Irineu. Pesquisa-ação. In: Educação em revista. Curitiba: UFPR, 2000. LARROSA, Jorge. O ensaio e a escrita acadêmica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 28, n. 2, p. 101-115. 2003. MACHADO, Marina Marcondes. Só Rodapés: Um glossário de trinta termos definidos na espiral de minha poética própria, 2015. Disponível em: < http://www.seer.ufu.br/index.php/rascunhos/article/view/28813 > - Nossa Cozinha - Instrumental de avaliação (preencha com o coração) Artista - Cheff: Potencialidades Dificuldades Desafios Urgência 40
  • 41. CardaPiá por Ana Cristina Anjos CardáPIÁ Para uma Pesquisa Ação de receitas! Artista-Cheff Ana Cristina Anjos PIÀTIQUE 41
  • 42. ENTRADA CEU Guará Ingredientes:  Majestosas Árvores;  Uma colher bem cheia de grama verde;  Uma piscina;  Uma biblioteca de enfeite;  Um espaço grande, bem grande;  Duas quadras de esportes inteiras;  Um Teatro pouco usado;  Um pouquinho de urucum para dar cor;  Alguns funcionários que mal conhecem o PIÁ;  Uma equipe do PIÁ, com cinco pessoas;  Uma sala do PIÁ com muita história;  Um banheiro que é meio masculino, meio feminino e meio infantil;  Um quintal da cobra; Modo de fazer: Coloque todos os ingredientes, menos a biblioteca e o urucum, numa panela com muito sol. Espere o PIÁ entrar em ação no CEU e deixe ferver bastante. Para finalizar coloque um pouco de urucum para colorir o CEU e arremate com a biblioteca de enfeite. PRATO PRINCIPAL Encontros do PIÁ no CEU GUARÁ Ingredientes:  Um quarteto na quarta e duas duplas terça e quinta;  Quantidade razoável de crianças, pequenas e grandes, mais alguns adolescentes;  Uma Árvore, tamanho médio;  Uma corda;  Uma pitada de risco; Modo de fazer: Comece pela árvore, acrescente a ela uma corda e deixe as crianças livremente ao seu redor ou subindo se preferir, mas dosando o risco para não ficar muito doce. Não dê muita atenção aos comentários e olhares dos funcionários do CEU, se não sua receita pode azedar. 42
  • 43. Pega-Pega Bosta Ingredientes:  Crianças e adultos bem dispostos;  Um homem bosta ou mulher diarreia;  Um espaço bem grande para correr; Modo de fazer: Coloque todos espalhados no espaço bem grande para correr. O homem bosta ou a mulher diarreia deverá correr atrás de todos. Quem ele ou ela pegar tem que cair no chão como se fosse uma bosta. Cuidado com para não pisar na bosta, pois pode feder. Se passa por cima,a bosta volta a ser pessoa. 43
  • 44. Dupla Ingredientes:  Dois artistas educadores;  Algumas Crianças;  UM CEU com muitos espaços;  Uma pitada de afinação;  Duas de desafinação;  Alguns embrolhos;  Um ingrediente secreto (só revelado no modo de fazer); Modo de fazer: Junte tudo isso e verá que a receita pode não dar muito certo na maioria das vezes, tente mais algumas vezes com mais vontade e adicione o ingrediente secreto da flexibilidade. Quarteto Ingredientes:  Quatro artistas educadores;  Um grupo bem grande ou bem pequeno de crianças e adolescentes;  Um teatro escuro;  Algumas lanternas coloridas;  Um tecido branco;  E muita imaginação; Modo de fazer: Junte as crianças com o teatro escuro, mais algumas lanternas coloridas, muita imaginação e os artistas educadores, que resultará em diversas histórias de estátuas. Agora se preferir pode mudar a receita um pouco e acrescentar o tecido branco e terá formas coloridas que se mexem no escuro e ao final um bom teatro de sombras. 44
  • 45. 45
  • 46. SOBREMESA Processo Criativo Ingredientes:  Uma boa abertura para o imprevisto e o incerto;  Um pouco de escuta;  Muita improvisação;  E uma pitada de risco; Modo de fazer: Junte tudo no liquidificador, pode ser que o gosto não fique apropriado, mas também pode ser que fique delicioso, tudo depende da quantidade utilizada de cada ingrediente e o comprometimento de cada pessoa na receita. Para finalizar a pitada de risco, pois sem ela o sabor ficará amargo. Ação Cultural Ingredientes:  Uma equipe do PIÁ;  Uma comunidade;  Crianças;  Um pouco de ação;  Um tempo de encontro e acolhimento;  Um local à escolha dos artistas-cheffs;  Duas porções de vontade e comprometimento;  Um processo para compartilhar;  E sair da zona de conforto; Modo de fazer: Neste modo de fazer, o artista-cheff terá total liberdade para criar a melhor forma de juntar os ingredientes. Os ingredientes poderão ser misturados dentro ou fora do equipamento, com pessoas que já conhecem o PIÁ ou não, para tornar mais interessante é importante sair da zona de conforto. Como será o seu modo de fazer? 46
  • 48. NOSSA COZINHA (Instrumentalde Avaliação) Artista - Cheff: Ana Cristina Anjos Potencialidades Dificuldades Desafios Urgência - Escuta; - Observação; - Organização; - Propor; - Deixar o registro de lado para vivenciar o processo; - Olhar menos crítico; - Afinação; - Entrega; - Diante deste quadro a urgência é conseguir propor e agregar ao processo; CAFÉS FILOPIÁTICOS (Referências) Ingredientes:  Só rodapés Marina Marcondes Machado  O Ensaio e a escrita Acadêmica Jorge Larrosa  Pesquisa-Ação Guido Irineu Engel Modo de fazer: Como o ensaio para mim rompe com a estética da escrita acadêmica, resolvi fazê-lo com um livro de receitas. Sem a exigência de normas ou regras de escrita e formatação acadêmica. 48
  • 49. CardaPIÁ por Jefferson Cristino Hooder CardaPIÁ Ensaio de Pesquisação Arte educador Jefferson Cristino Hooder de Moraes Limas CEU Vila do Sol - 2015 49
  • 50. Café Filopiático Nosso organismo é ritmado, tem seu tempo e sua necessidade e tudo é coordenado pelo ritmo do coração. Estudos dizem que o coração de um recém-nascido bate em média 120 vezes por minuto, o de uma criança ou jovem de 80 a 90 vezes e o de um adulto de 70 a 80 vezes.O quer dizer que o coração bate aproximadamente 100 mil vezes por dia, isso é claro se nesse dia não tiver encontro do PIÁ. Sim, percebi que o PIÁ pode alterar significativamente essa conta por que é um ambiente de fortes emoções, e quando estamos sobre a influência dessas emoções nosso organismo fica todo desajustado. O coração pode acelerar, o ar pode faltar, a perna pode tremer e até lesões podem acontecer. Isso tudo por que no PIÁ a gente faz uma coisa muito poderosa que costumamos chamar de brincar. Pode parecer que tudo isso é uma bobagem, é obvio que ao correr para brincar de pega-pega nosso organismo precise bombear mais sangue e com isso o coração aumente o seu “RITMO”, OK, concordo, mas não é só isso, não podemos separar nossas vidas sociais do nosso ser biológico, a natureza não permite isso ainda, somos carne, ossos, sangue e pensamentos, tudo tão biológico quanto a flor que mi nha “Piázinha” colhe ao passearmos pelo CEU. Partindo desses princípios que iniciei meu “PERCURSO” no ano de 2015 com meus grandes pequenos companheiros de PIÁ, turminhas superespertas, diversas e únicas em cada ser. Foram oito meses de investigação sobre onde e quando alguém teve a péssima ideia de dizer que brincar, fazer arte e viver são coisas distintas. 50
  • 51. Prato Principal Os Encontros! Tínhamos um encontro semanal de duas ou três horas dependendo da turma, pouco, mas muito intensos. Sempre regados a amor, inocência, criatividade, vaidades, amizade, companheirismo, disputas e uma salpicada de conflitos. Estes eram os ingredientes mais constantes, mas o modo de preparo era diverso. Primeiro vou adiantar o meu segredo, pouco preparo das atividades, as vezes confesso até que nenhum preparo, só a minha experiência com arte educação e a confiança de que o grupo poderia florescer a partir de um simples passei pelo parque ou pelo bosque. Os ouvidos bem abertos, a boca sempre é bom dar uma fechadae o olhar esse deve sempre estar atento ao que estava acontecendo a nossa volta e ao que encantava aquela turma. Desses passeios posso listar alguns frutos: a amizade com o casal de corujas que fez sua toca em um barranco bem pertinho de onde a gente costumava fazer o piquenique, elas tiveram cinco filhotinhos e pudemos vê-los tomando Sol algumas vezes, caçadas ao saci no bambuzal, tinta de terra e pintura ao estilo rupestre, modelagem em argila tirada do chão por nós mesmos, muitas subidas nas arvores, roladas no barranco, brincadeiras de esconder e de correr, caça ao tesouro, brincadeiras de aventura, construção de mapa, observação de animais e plantas, contação de histórias, jogos, dança, música, pintura e representações. Sabe o que conseguimos com isso? Não posso dizer por todos, cada participante tem suas próprias impressões, mas vou dizer o que entendi das observações que fiz sobre a turma e sobre mim: Superamos muitos limites, nos autoconhecemos muito mais, ousamos fazer diferente, extrapolamos as barreiras que nos foram impostas, nos arriscamos e percebemos as verdades e as mentiras do risco, expandimos nosso potencial de criação e o mais importante, construímos vínculo com o espaço e com as pessoas. Rodizio 51
  • 52. Nossa equipe era a Sul 2 e unia os CEUs Vila do Sol, Butantã e Guarapiranga, a coordenadora foi a Lia e foi ela quem nos propôs o “rodizio de educadores”. Fizemos um esquema de escala que nos permitiu visitar os três equipamentos e conhecer a rotina das outras turmas e o trabalho de outros educadores. Foram experiências incríveis, que me auxiliou a perceber meus potencias e minhas carências, ampliou meu entendimento sobre o programa e agregou ainda mais sorrisos em meu trabalho. Este sistema de rodizio parecer deixar os encontros ainda mais efêmeros, pontuais, e eu até gosto muito dessa despreocupação, mas acho que vai muito além disso, esse é um ótimo exercício para praticarmos o desapego artístico. Para que o encontro seja bem- sucedido é preciso ter clareza de que os frutos desse encontro precisam ser colhidos pelas crianças e não pelo arte-educador, aquele é o momento delas, a reflexão deve ser para elas e com elas, e pode inclusive acontecer em suas casas após o encontro do PIÁ de forma individual.É preciso plantar a semente com muito carinho, mas depende de cada um regar para que floresça. Nesse encontro fugaz não temos como manipular a sequência de atividades, a criança é a protagonista, ela vai escolher se na semana seguinte se vai pedir a continuidade da atividade.E como posso dar continuidade a um a uma atividade da qual não domino?Afinal, estamos falando de uma ação que foi proposta por um educador que teve um encontro com a turma. Precisamos ter uma visão muito ampla e encarar de frente o desafio de se reinventar, de aprender algo que não necessariamente faz parte das suas pesquisas pessoais e entender que a criança pode sim conduzir um encontro, pode te ensinar o que aprendeu com o outro educador e isso deve contribuir muito com seu desenvolvimento profissional. 52
  • 53. Sobremesa GandhyPiorski fala sobre o empreguiçamento da nossa alma, entendo essa expressão como o fato de diminuirmos o ritmo dos nossos corações por imposição da rotina maçante, e como nos mostra a ciência, diminuir o ritmo do coração é envelhecer. Mas envelhecer também pode ser apenas o fato de acumular aniversários e somar experiências, não precisamos adormecer a criança que á em nós para sempre, precisamos manter as 90 batidas do coração por minuto sempre que possível epara isso só precisamos correr com as crianças no pega-pega, nos emocionar com as mesmas histórias que elas, ficar extasiado com um belo bolo de chocolate e enfim, sentir o ritmo da vida como eles sentem. O percurso que cada um percorre para chegar a isso é único, em alguns momentos teremos que apressar o passo para superar um obstáculo, em outros momentos teremos que diminuir para esperar que o obstáculo saia do caminho, mas se você não sente seu coração ritmar-se com isso, infelizmente sua criança esta adormecida. Em uma dessas turmas do PIÁ Vila do Sol de 2015, fizemos muitos encontros de exploradores de aventura, criamos um grito de guerra, um diário de bordo, algumas histórias, registros e um mapa dos lugares que brincamos no CEU. Abaixo apresento este mapa que utilizei como plataforma para ilustrar a reflexão que faço sobre esta experiência incrível que vivi: 53
  • 54. Ações Compartilhadas Ações Menu de Risco Oficina em: -Semana de formação PIÁ 2015 - EMIA -Seminario cidades e Infâncias 2015 - CEU Caminho do Mar -1ª semana do brincar na periferia - Sacolão da Artes - Dia da família - EMEF CEU Guarapiranga Passeio e encontro das crianças PIÀs dos CEUs Guarapiranga, Vila do Sol e Butantã - Sacolão das artes ( brincoteca do sacolão e caravana lúdica - na 1ª semana do Brincar na Periferia ) 54
  • 55. 55
  • 56. Parque do Ibirapuera ( brincar e compartilhar as experiências do rodízio) As ruas são para brincar - Ruas de lazer Ação de Juliana Leme e Coletivo Aqui que a gente brinca, em parceria com EMEF CEU Guarapiranga, Brincantes urbanos, rede de brincantes da zona Sul e PIÁ - Rua Amalfi , Jd Kagohara 56
  • 57. III Misturada Cultural Participação de Laura Salvatore e Integrantes da equipe Sul 2, em evento realizado por Jefferson Cristino Hooder e Ponto de Cultura Humaitá - Ponto de Cultura Humaitá (espaço cultural - Zona Leste) Encontro de famílias PIÀ no dia da Familia – EMEF CEU GUARAPIRANGA Queridos Pais, Familiares e Piás, No próximo Sábado, dia 14/11/2015, das 12h30 às 14h, o PIÁ irá promover o Encontro de Famílias do PIÁ, em parceria com o Dia da Família na EMEF CEU Guarapiranga. Será um encontro dedicado à troca de processos, onde a equipe organizará um Quintal de Aventuras, Roda de Conversa, vídeos e Piquenique para todos os participantes. Contamos com a presença de todos os familiares das crianças do PIÁ GUARÁ e todos que quiserem participar, serão muito bem-vindos, para conhecer, brincar e ver o que aprontamos durante o ano! Quem puder colaborar com o nosso piquenique, será ótimo! Equipe PIÁ2015 Ana Cristina Anjos :: Juliana Leme :: Laura Salvatore :: Lia Mandelsberg :: Paulo Ferreira FACEBOOK.COM/PIAGUARA 57
  • 58. 58
  • 59. Quando os Interesses se cruzam por Juliana Leme Poderia ser uma característica intrínseca do Programa de Iniciação Artística, que se faz na prática em equipe, o estabelecimento de parcerias para o trabalho ao longo do ano, no entanto, ao encontrarmos com nossos pares no inicio da vigência do contrato e chegarmos em nosso equipamento de atuação, muitas vezes percebemos que o que estabelecemos é apenas uma relação de obrigatoriedade. O CEU não faz o mínimo esforço para nos auxiliar em nossas demandas de divulgação, articulação e processuais e a equipe nem sempre encontra desejos em comum para compartilhar, o que acaba por simplificar ao máximo as nossas ações. Este ano, porém, felizmente, fui presenteada com uma equipe disposta e aberta ao possível, que fez nascer várias parcerias bonitas e potentes, boas de partilhar. Por isso, escolho nesse ensaio de pesquisa-ação, fazer o meu relato sobre nossas ações compartilhadas de 2015 da equipe Sul 2 (a equipe S2, coração). Com a nova estrutura do PIÁ, em que o (a) coordenador (a) de pesquisa-ação assumiu dois ou três equipamentos, formamos uma equipe ampliada denominada Sul 2, que contemplou os CEUs Guarapiranga, Vila do Sol e Butantã, todos sob a coordenação de Lia Mandelsberg. Desde o início dessa edição do programa, nossas reuniões de sexta-feira foram nessa grande equipe, o que nos possibilitou a constante troca das experiências vividas em cada lugar. A primeira ação compartilhada nasce do chamamento para a Semana de Formação na EMIA. Proposta de Lia que escolhêssemos um tema em comum e ministrássemos juntos a oficina de formação, chegamos ao “Menu de Risco”, um cardápio que proporciona a experimentação e reflexão sobre o risco no brincar e na infância. Foram vários encontros e e- mails de planejamento que renderam uma vivência muito provocadora de reflexões, que acabou ganhando outros espaços... Um deles foi na 1ª Semana do Brincar na Periferia, encontro idealizado e organizado por mim e pelo coletivo que integro o “Aqui que a gente brinca!” para formação e trocas de experiências sobre o brincar na periferia. Esse evento aconteceu no Sacolão das Artes, ocupação cultural situada no Parque Santo Antonio, onde atuo há 4 anos, desenvolvendo uma pesquisa-ação sobre a relação entre a criança, cidade e espaços de brincar. A programação da semana foi pensada para avançar no debate sobre o brincar na periferia, buscando possibilidades para potencializar nosso trabalho no dia a dia, refletindo sobre as questões que emergem das especificidades culturais locais, para isso contou com oficinas e palestras para educadores durante três dias e finalizou com um dia especial para as crianças – com Brinquedoteca, Caravana Lúdica de Jogos do Mundo e uma apresentação de circo. Aqui está nossa segunda ação compartilhada e a parceria se estabeleceu em vários âmbitos: O “Menu de Risco” integrou a programação de oficinas da Semana, os AEs participaram dos encontros 59
  • 60. de formação e por último organizamos um passeio das crianças dos três equipamentos até o Sacolão das Artes, para esse dia especial para elas... Sobre tudo isso, eu sou só gratidão, foi emocionante unir essas duas iniciativas para a infância em que faço parte em um mesmo tempo-espaço! O outro lugar onde o Menu de Risco foi parar foi o seminário “Processos Artísticos, cidade e Infância (s), organizado pelos coordenadores regionais do PIÁ e aberto a todos os interessados. Ainda durante a 1ª semana do Brincar, eu e Lia conhecemos a Rede de Educadores Brincantes da Zona Sul e dentre seus integrantes, estava Silvia Tavares, coordenadora pedagógica da EMEF do CEU Guarapiranga (precisamos sair do CEU para perceber que tínhamos uma parceira muito potente ao nosso lado!). A partir deste encontro começamos as nossas ações compartilhadas com a Rede e com alunas da EMEF. Promovemos uma intervenção e um dia de brincar na rua de lazer Amalfi, bem próxima ao CEU, fortalecendo a ocupação das ruas pelas pessoas, em especial as crianças, em prol da construção de uma cidade lúdica! Por fim, realizamos nosso encontro de pais do PIÁ dentro do “Dia da Família da EMEF”. Desta forma garantimos a participação de mais famílias no nosso encontro, que muitas vezes não tem muito quorum e ainda conseguimos uma maior visibilidade do programa... Após este relato de um ano intenso de parcerias e ações compartilhadas/ coletivas, concluo com o apelo e a reflexão de que quando encontrarmos parceiros, lugares onde antes eram impenetráveis se tornam habitáveis, propostas megalomaníacas podem se tornar tão simples, idéias impraticáveis podem se tornar tão possíveis. E é o possível que me interessa, é o possível que precisamos para ousar e poder romper com a precariedade que nos sobra. Este ano a equipe S2 foi atrás do possível! Torço por mais ações em rede e parcerias no PIÁ! 60
  • 61. Menu de Risco por Laura Salvatore e Paulo Petrella Entrada A atual sociedade e, especificamente a cidade grande, local em que as preocupações com a segurança de seus integrantes é eminente, pauta prioritária na imprensa e plataforma de campanhas eleitorais. Falamos de segurança no trânsito (atropelamentos, colisões), violência urbana (assaltos, sequestros), violência doméstica (agressões físicas, abuso sexual), segurança do trabalho, entre outros. Para lidar com essas questões são estabelecidas leis e normas de restrição para que, situações que ultrapassem esses limites estabelecidos sejam “destacadas” para serem punidas ou corrigidas de modo que as pessoas se sintam seguras. Porém, podemos chamar de efeito colateral que essas restrições nos trazem uma sensação de cerceamento, de falta de liberdade, e até mesmo de direito tolhido. Eis a questão: até que ponto essas restrições realmente nos protegem em situações de riscos sérios nos protegendo até mesmo da morte, ou existe um excesso provocado pelo medo das “possíveis possibilidades” de situações arriscadas? Se vivemos de fato esse paradigma, não é nada diferente num ambiente educacional que lida diretamente com pessoas em formação e sendo preparadas para viver em sociedade. E existe sim uma grande responsabilidade nesses ambientes em lidar com um número muitas vezes excessivo de crianças confiadas pela família que espera que estejam seguras e salvas ao voltar para casa. Portanto, além dos muros, paredes, grades, vigias, bedéis, professores, entre outros, existe uma série de normas impostas pelas instituições, leis, ministérios, vigilância sanitária etc., para que o ambiente se torne seguro. Chegamos às palavras de ordem: “não suba”, “desça daí”, “não pode ir pra lá”, “vou avisar sua mãe”, “você vai se machucar”, tudo para não haja ocorrências e não nos sintamos responsáveis por prováveis percalços como quedas, cortes e arranhões, o que atrasaria a dinâmica e a rotina estabelecida. Até que, especificamente no CEU Guarapiranga os Artistas Educadores do PIÁ ouviram frases como: “Não deixem as crianças andarem descalças na grama porque pode haver cortes profundos e podemos ser processados!” “Cuidado com o tatame porque está rasgado na ponta e houve um joelho cortado que infeccionou e...”. Uma vez que o PIÁ é um programa que propõe outra relação com o espaço, objetos e pessoas gerou-se aí um estranhamento e um conflito: para nós, as crianças estavam em plena segurança dentro das atividades, mas aos olhos dos outros, não. Sendo assim, surgiu a necessidade de estudar, compartilhar e debater este tema: o risco. Com a oportunidade aberta da Semana de Formação do PIÁ decidimos fazer uma oficina com este tema objetivando os itens: • Propor momentos de ludicidade e prazer através do brincar de maneira livre e poética; • Levar aos participantes objetos para que eles criem suas brincadeiras sem determinação de regras exceto o momento de início e o momento do fim; • Estimular a criação de jogos que levem a subversão de regras; • Criar situações onde os participantes se sintam podados de alguma maneira em relação aos seus jogos; • Compartilhar as referências bibliográficas e cinematográficas usadas na pesquisa dessa oficina; • Colocar em pauta a discussão sobre risco inventado e risco real, e a posição dos educadores de acordo com sua disponibilidade perante o seu público e às instituições; 61
  • 62. • Refletir juntamente com os participantes sobre o tema. Para estruturar esta oficina, usamos uma estratégia usada pela equipe S2 (CEUs Gurapiranga, Vila do Sol e Butantã) de troca entre os equipamentos que consiste num “menu”, este menu é desenvolvido em conjunto com as crianças que, elaboram um menu de atividades para que outro equipamento possa escolher e desenvolver com a seguinte estrutura: atividades de entrada, prato principal e sobremesa. Prato Principal Inicialmente criada para a Semana de Formação do Programa de Iniciação Artística, edição de 2015, a Oficina “Menu de Risco”, ministrada pelos Artistas -Educadores e Coordenadora da equipe Sul 2, teve continuidade no seminário Processos Artísticos, Cidade e Infância(s) no CEU Caminhos do Mar, na Primeira Semana do Brincar na Periferia no sacolão das Artes e no encontro de pais no CEU Guarapiranga, sempre com a mesma estrutura, um menu de degustação com Prato Principal, Entrada e Sobremesa. Mas tudo começava com a assinatura de um Termo de Responsabilidade. Ele determinava que cada pessoa fosse responsável pelos riscos que pudesse vir a correr: “TERMO DE RESPONSABILIDADE Eu______________________, RG__________________, CPF____________________ me responsabilizo por todo e qualquer risco que eu possa correr e por qualquer acidente que possa acontecer em decorrência dos riscos os quais porventura eu venha a passar. Me responsabilizo ainda pelas minhas escolhas em correr ou não cada um dos riscos que surgirem durante esta oficina de formação “MENU DE RISCO” do PIA - edição 2015.” Durante a experiência na Semana de Formação do PIÁ, oficina realizada na EMIA – Escola Municipal de Iniciação Artística, todos assinaram o Termo de Responsabilidade sem hesitar. A partir do momento em que todos tinham se responsabilizado por si próprios, a Entrada do Menu de Risco foi servida: um giz, um texto Brincadeiras Arriscadas de Cidália Carvalho e uma provocação "Arrisque-se num risco!". As pessoas ocuparam diferentes espaços, criando riscos no chão, no banco, na ponte, quintal, entre outros e, se colocaram sobre riscos, em risco. Após aproximadamente 15 minutos de degustação da Entrada, ouviu-se o tocar de um sino, o qual alertava aos participantes que o Prato Principal seria servido, e os convidava a deslocarem-se para outro lugar do Parque. O Prato Principal era um Quintal de Aventuras, onde estavam dispostos pelo espaço diversos tipos de materiais como pneus, tecidos, madeira, pregos, ferramentas, bexigas, papeis, cordas, isqueiros etc. Naquele instante, os participantes poderiam se aventurar e usar da criatividade para brincar coletivamente e criar o que desejassem. Uma cabana de madeira com elementos da natureza foi criada e deixada no local. No desenrolar das brincadeiras, os ministrantes da oficina alertavam os participantes sobre os riscos envolvidos nas ações do brincar por meio de placas com frases como: “Cuidado! Você pode cair e ir para no hospital!”, e outas como “Subir na árvore – Riscos: cair e quebrar os ossos; fratura exposta; contaminação por bactérias etc”. e não demorou muito a, na EMIA por exemplo (que fica dentro de u m parque administrado por outra Secretaria) para que os participantes fossem advertidos ou se sentissem vigiados: algumas brincadeiras que envolviam perigos foram exploradas, como o jogo de tacos e a tentativa de criação de um balanço na ponte do parque que, rapidamente, foi interrompida pelo Segurança do Parque. Além disso, o brincar com o fogo também foi cessado, com a justificativa de que não tínhamos a devida autorização da administração do Parque, por escrito. Mais uma vez o sino era tocado chamando os participantes para a sobremesa: pela sala estavam dispostos três computadores que mostravam os vídeos The Land, documentário que relata o funcionamento de Adventures Playgrounds, criado na década de 1960 por Lady Allen of Hurtwood (1897-1976), inspirada nos playgrounds do arquiteto Aldo Van Eyck, onde o 62
  • 63. brincar livre e arriscado é estimulado, existente em diversos países; também foi exibido o trailer do Documentário Do lado de fora: lições de um Jardim da Infância na floresta. Sobre duas mesas, havia trechos de referências teóricas de autores como Mia Couto, Cidália Carvalho, Tim Gill entre outros. Os participantes tiveram um tempo para a digestão do Prato Principal. Após este momento de visualização de vídeos, leituras e de alimentar-se de referências, os ministrantes da oficina serviram um papel, um envelope e uma caneta para que cada pessoa, individualmente, registrasse por escrito suas reflexões, questões, e/ou pensamentos. Os envelopes foram misturados e distribuídos entre as pessoas. Aos poucos cada participante leu a reflexão de outra pessoa ao ponto de se gerar uma discussão coletiva. Sobremesa No escopo de buscar uma reflexão crítica e questionadora acerca de atitudes, maneiras, estilos que costumam ser extremamente comuns no cotidiano de pessoas que, de algum modo, tem proximidade com crianças em suas vidas. Sejam na função de pais, irmãos, tios, professores, arte-educadores entre outros, todos tem um tipo de influência e de responsabilidade na educação destas crianças. Que atitudes, muitas vezes impensadas, são essas? Como e onde se revelam maneiras de lidar com a criança que costumam ser reproduzidas sem a necessária consciência do que se possa estar criando ou interferindo no desenvolver e na formação desta criança? Com o intuito de buscar compreender, falar sobre, tirar a névoa sobre o tema, criticar, refletir, questionar, fez-se necessária a realização de uma pesquisa sobre a importância do risco no brincar. Em diálogo, os artistas-educadores destacaram onde e como eles identificam a relação dos educadores com suas crianças a respeito do risco e do medo (considerando que o educador não é apenas a pessoa formada na área da educação, mas é também aquele que de algum modo lida com crianças e, por isso tem influência em sua educação). No iconográfico sobre os benefícios do brincar arriscado do Playground da Inovação (2014), encontram-se argumentos que incentivam um brincar que contenham altura, velocidade, ferramentas que possam machucar, elementos perigosos como fogo e água. Além disso, o iconográfico afirma que as crianças devem experimentar brincadeiras brutas, lutas e brincar em lugares que elas possam se perder ou desaparecer. Para o Playgrond da Inovação, o excesso de preocupação de pais, professores etc. cerceia o direito da criança de arriscar-se. O risco no brincar é fundamental para o desenvolvimento de diferentes patamares da formação da criança. Com esta qualidade em seu brincar, ela é estimulada a experimentar as sensações de medo e adrenalina num contexto lúdico, o que a ensina a controlar estas emoções. Além disso, podem-se enumerar infinitas capacidades que são estimuladas e criadas no brincar que envolva riscos. Nele, a criança se torna confiante e segura sobre as suas capacidades; cria uma memória destas experiências na infância para serem aplicadas na idade adulta; cria adolescentes e adultos inovadores, afinal, sem risco não há inovação; prepara e as protege para os perigos da vida; ajuda a criança a perceber sua evolução motora, cognitiva e social; fortalece todo o seu corpo; previne fobias; testa os limites e ensina as consequências de ultrapassá-los; desenvolve a coragem. (Playground da Inovação, 2014). Bujes (2010) apresenta uma noção de risco vinculada às ideias de poder e governamento conforme propostas por Michel Foucault. Noção esta que, segundo a autora, está presente tanto nas políticas públicas quanto nas práticas cotidianas, isto é, está associada à ideia de administração social que se relaciona em especial com as iniciativas que tratam da vida das populações: como geri-las, como garantir sua integridade, como torná-las mais produtivas. Ela amplia esta discussão quando informa que as reflexões no domínio pedagógico têm resistido a pensar o campo da infância como atravessado por relações de poder. Para tanto, a autora alerta por certa desconfiança no olhar para o modo como são feitas as políticas públicas à 63
  • 64. infância. A noção de governamento criada por Foucault (1993) e desenvolvida por Bujes (2010, p. 160) está relacionada a formas de exercício do poder para conduzir a conduta dos indivíduos. As ações de governamento não se constituem como um modo próprio de ação das estruturas políticas ou de gestão do Estado, unicamente; referem-se, igualmente, àquelas formas de agir que afetam a maneira como os indivíduos conduzem a si mesmos. A palavra risco, na linguagem cotidiana, é compreendida como perigo, associada à ideia de uma ameaça. No campo da segurança, risco não designa nem um evento, nem um tipo geral de evento que ocorre na realidade, mas “um modo específico de tratamento de certos eventos que têm a possibilidade de ocorrer a um grupo de indivíduos – ou mais exatamente aos valores ou capital possuído ou representado por uma coletividade, isto é, a uma população” (Ewald, 1991, p. 199). Ao afirmar, então, que nada é inerentemente (em si mesmo) um risco, o autor argumenta que riscos não existem na realidade. No entanto, todos os eventos podem suscitar a possibilidade de riscos. Isso sempre depende do modo como o perigo é analisado, o evento considerado (Bujes, 2010, p.160). As ideias apresentadas pela autora permitem pensar que há uma confusão entre o que seria um risco real à criança, e o risco que corre determinado educador ao participar de uma possível eventualidade onde uma criança possa se machucar. Incluem neste pensamento os aparatos de disciplina e de segurança que levaram a sociedade (disciplinar) rumo ao autocontrole, onde quase nada pode, não se questiona sobre o porquê não pode e onde tem- se o controle dos fatos, em detalhes. Enquanto a disciplina, como uma mecânica de poder, aprisiona, fixa limites e fronteiras, determina o permitido e o proibido, produz com suas técnicas as aptidões e capacidades necessárias ao mundo do trabalho, vê-se desenvolver já no século XVIII uma preocupação com as populações, com as suas vidas, no sentido de preservá-las. Inicia-se a era do biopoder, de uma biopolítica voltada para a população. Tendo como superfície de aplicação o corpo- espécie, a biopolítica assume intervenções e controles reguladores cujos focos são a fecundidade, a morbidade, a higiene, ou saúde pública, a segurança social. Assim, a vida das populações, como objeto biológico, se torna passível de intervenção política e governamental. A sociedade se caracteriza, a partir de então, como uma sociedade de segurança que tanto explora os dispositivos disciplinares e de soberania quanto funciona segundo uma lógica estratégica da heterogeneidade. Talvez fosse bom lembrar que, em relação às crianças, consolida-se também um conceito de infância, como um período com características específicas, que é preciso proteger das vicissitudes do mundo adulto e, ao mesmo tempo, vigiar e cuidar. No século XVIII se ampliam as formas de confinamento que atingem as crianças, não apenas com o surgimento de novas instituições, mas com o deslocamento de seus propósitos, com vistas à administração da vida infantil. (Bujes, 2010, p. 168) A noção de risco e as práticas dela derivadas estão associadas a um deslocamento da sociedade disciplinar para uma outra, que Foucault denominou de sociedade de segurança. Esta nova forma de organização política, social e econômica é orientada por uma racionalidade potencialmente capaz de transformar a vida dos indivíduos e das populações e lança mão de outros instrumentos para exercer o governamento. Os dispositivos de segurança possibilitam, segundo o filósofo, inserir determinado fenômeno dentro de uma série de acontecimentos prováveis. Assim, a segurança constitui um tipo de racionalidade – formalizada pelo cálculo de probabilidades que coloca a intimidade das pessoas numa zona de governamento. Em suma, os mecanismos de segurança operam uma proliferação/fabricação de riscos que são confrontados com uma forma de normalização que parte de uma definição do normal e do anormal, segundo curvas de normalidade. (Bujes, 2010, p. 169) Se o interesse fosse ao aprimoramento dos mecanismos de proteção à infância, os riscos a que elas estariam sujeitas poderiam ser localizados em pontos como o nível de escolarização dos pais, sua situação profissional, sua renda, a forma de estruturação familiar, o acesso a 64
  • 65. atendimento médico comunitário, a posição relativa da criança na constelação familiar, os hábitos de higiene familiar, as horas frente à TV, a frequência à escola, e tantos outros. (Bujes, 2010, p. 172) O que não acontece, de fato. Assim sendo, o excessivo cuidado com a criança demonstra que há um processo histórico- cultural que o deu à luz independentemente do risco que uma criança corra durante o seu brincar. Desse modo, torna-se fundamental para cada educador que observe seus modos de lidar com as crianças quando se encontra em relações que envolvam o risco. A partir desta observação e consciência de si neste relacionar-se, torna-se importante, então, que o educador se questione: • Se os riscos estão vinculados a algum tipo de real perigo ou se eles poderiam causar problemas de responsabilidade para o educador; • Se os riscos apresentados no instante de um possível cerceamento da parte do educador não seriam fundamentais para o desenvolvimento daquela criança; entre outras reflexões que possam surgir; • Busque mais informações sobre a importância do risco no desenvolvimento infantil; Ajude a criar espaços para brincar que ofereçam desafios na medida adequada para diferentes idades; Estimule entre os adultos discussões abertas sobre segurança e risco; Separe o que é o medo do próprio adulto do que é de fato perigoso para a criança; Confie mais nas capacidades da criança e valorize as conquistas desafiadoras. (Playground da Inovação, 2014) Os Artistas-Educadores da equipe Sul 2 se apropriam do tema para que esta reflexão permeie e persista dentro do universo infantil, onde pais, educadores, irmãos, tios, trabalhadores de ambientes escolares como o Segurança, o Inspetor, a Faxineira, o Gestor, a Assessora Administrativa, e toda e qualquer pessoa que interfira no brincar de crianças, possam refletir sobre o tema e adquirir o mínimo possível de consciência, ao ponto que se possa criar o aprendizado da autocrítica e da autotransformação de atitudes impensadas, reproduzidas sem se ter noção da repercussão de tal ato. Referências Bibliográficas: Bento, Maria Gabriela Castro Portugal Granja. O Perigo da Segurança: Estudo das Percepções de Risco no Brincar de um Grupo de Educadores da Infância. UC/FPCE (Dissertação de Mestrado), 2012. Bujes , Maria Isabel Edelweiss. Infância e Risco. Educ. Real., Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 157- 174, set./dez., 2010. CARVALHO, Cidália. Brincadeiras Arriscadas. Disponível em: http://milrazoes.blogs.sapo.pt/120217.html COUTO, Mia. Há quem tenha medo que o medo acabe. Disponivel em: http://www.papodehomem.com.br/mia-couto-ha-quem-tenha-medo-que-o-medo- acabe/ GILL, Tim. Sem Medo - Crescer numa sociedade com aversão ao risco. Principia: Cascais, 2010. 1.ed. Playgrounds: Reinventar la Plaza – Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia – 30 de Abril de 2014 – 22 de Septiembre de 2014. Siruela. 65
  • 66. Filme documentário: Do lado de fora: lições de um Jardim da Infância na floresta, - https://vimeo.com/32463946. Natureza, riscos e brincadeiras numa discussão que dá o que pensar: Brincar arriscado – Playgroud da Inovação, 2014: Documentário “The Land”: http://playfreemovie.com/about/ Fotos Rodrigo Munhoz 66 http://www.tempodecreche.com.br/acao-pedagogica/natureza-riscos-e-brincadeiras- numa-discussao-que-da-o-que-pensar/ http://www.playground-inovacao.com.br/beneficios-do-brincar-arriscado-porque-se-arriscar-faz-bem/
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  • 72. Relato de caso Agachar-se, mas nem tanto por Tales Jaloreto Uma brincadeira gramática e poética entre o caminho do saber do artista-educador e a artisticidade para a criança. Prefácio ou pré-fácil Antes do era uma vez, do início de tudo; introduzo os pensamentos, ideias, frases para compreenderem o conteúdo e estética deste texto, como o próprio prefácio sugere que seja, ou ainda mais, e se talvez, subestimar o leitor, serve-lhe a palavra pré-fácil, quase mastigado, antes do fácil, não o faço por mal, mas para que não haja ruídos na comunicação. - Agachamento é ir ao chão, onde a criança está, mesmo que para apontar outros pontos de vista(MACHADO, 2015) - Componentes da artisticidade é utilizado para contrapor linguagens artísticas, termo curricular e político, sendo assim não existem analfabetos em arte, cujos saberes tenham maior valor que aquele da experiência inicial das crianças. (MACHADO, 2015) - Pesquisador bricoleur, foi o termo usado pelo pesquisador norte-americano Joe Kincheloe, após ver seus alunos mais brilhantes não conseguirem vagas no pós-doutorado, por serem caóticos demais em seus pensamentos e suas expressões, assim o bricoleur cria sua metodologia com recursos mistos, suspende certezas e combina novas peças de seu quebra cabeça metodológico. (MACHADO, 2015) - Work in progress é homenagear o processo e não um produto final. (MACHADO, 2015) - Para poder estudar a criança é preciso tornar-se criança; não adianta só observar a criança, é preciso penetrar além do círculo mágico que dela nos separa, em suas preocupações, suas paixões, é preciso viver o brinquedo. (BASTIDE in FERNANDES, 2004) - Perdoai! Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. (BARROS, 1998) -Por viver muitos anos dentro do mato. Moda ave. O menino pegou um olhar de pássaro - Contraiu visão fontana.Por forma que ele enxergava as coisas. Por igualcomo os pássaros enxergam. (BARROS, 2011) - A mãe reparou que o meninogostava mais do vaziodo que do cheio.Falava que os vazios são maiorese até infinitos.A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos. (BARROS, 1999) - O ensaio duvida do método, não há dúvida de que o método é o grande aparelho de controle do discurso. O ensaio não adota a lógica do princípio e do fim, nem começa pelos princípios, pelos fundamentos, pelas hipóteses, nem termina com as conclusões, ou com o final, inicia no meio e termina no meio, começa falando do que quer falar, diz o que quer e termina quando sente que chegou ao final, não define conceitos, mas vai precisando-os no textoà medida que os desdobra e os relaciona. O ensaio assume a forma de exposição. (LAROSSA, 2003) - Livre da disciplina da servidão acadêmica, a própria liberdade espiritual perde a liberdade, acatando a necessidade socialmente. (LAROSSA, 2003) 72
  • 73. Foto Bruno Schultze e Lawrence Bodnar Dito “istos”, o era uma vez é o fim, e concluo de início, assim escolhes se tem algo de interessante nesta pesquisa bricoleurepensamentos brincantes. ..... Obrigado por continuar. CONCLUSÃO DA HIPÓTESE Esta foi uma semente de inquietação que me foi brotada quando dos meus 1,85m me agachei a 0,60m (eu sentado) para compreender qual metodologia utilizar para incluir um menino de abrigo nos jogos e brincadeiras, por vezes proposto, por outro menino bem inteligente vindo de uma escola-modelo do município de São Paulo. E penso que não são conceitos estes ditos, mas uma pesquisa a se iniciar. Venha comigo! Que se imaginarmos uma proposta de brincadeira e jogo, for o repertório individual de uma criança, dentro do seu mundo lúdico e mágico, e que algumas crianças se adaptam a este jogo, podemos considerar que estejam dentro da caixa mágica deste indivíduo. Pois se, outra criança, dentro do seu universo particular não se enquadra nesta caixa, devemos excluí-la, tentar moldá-la ou ampliar esta caixa? Pareceu-me maishonesto, inclusivo e respeitoso ampliar a caixa, e saber o que esta segunda criança tinha a nos dizer. Por fim, nesta microscópica situação deste dia, esta criança mostrou- se além do jogar bola, das intrigas que causava, e do bater de palmas ritmadas pelo funk. Fez o seu desenho, questionou se estava bom, fez a “crítica de arte” da exposição, se sentiu incluída, e demos novas possibilidades e caminhos para sua escolha. ERA UMA VEZ... um homem e uma mulher que se amavam, se casaram e tiveram um filho em 1980....bem acho que posso adiantar um pouco mais esta história. Estávamos em viagem com a Umiharu e ArtUnlimited, em 2013, pelos estados de Goiás e Minas Gerais, com o projeto Água, arte e sustentabilidade, no qual estava previsto atendermos oito mil crianças durante três meses pela Lei Rouanet. Chegamos à primeira cidade, Uberlândia, e receberíamos diariamente cerca de duzentas crianças, metade por turno. Eram cinco atores-educadores e mais a equipe de suporte que passeavam com os pequenos pela exposição de obras de artistas brasileiros com a temática água, desde xilogravuras a aquarelas, explicando sobre ecossistema e serviços que a água nos provê. Cada artista explicava sua parte e ia se preparar para o espetáculo, por fim, eu como último a entrar em cena, acompanhado dos professores e a equipe, estava com cerca de cem crianças pulando e a gritar, e a informação Lia Mandelsberg – coordenadora – PIÁ – Sul 2 - 2015 73
  • 74. 73 não chegava a elas, e para mim era importante que a recebessem, e não apenas falar ao vento, e dizer que papel estava cumprido. Depois de uma semana, a escolha foi ser criança, quebrar as armaduras do adulto, me agachei e surgiu o palhaço anarquista, velho de cabelo apontado para cima, que gostava de bagunça e contar mitos da água. Não consegui o silêncio para explicar, e nem era este o intuito, mas no meio da bagunça passar algumas informações. E qual a importância deste fato pessoal dentro deste ensaio? O termo agachar-se da Marina Marcondes; pois foi na altura delas que os ensinamentos chegaram. Porém peço permissão para me apropriar deste termo com outro ponto de vista. Agachar-se, mas nem tanto. É necessário que a criança saiba que ali tem um adulto que quer escutá-la e orientá-la, mas com empatia ao seu mundo. Não é demais explicar o óbvio, em tempos absurdos de ter que defendê-lo. É um limite tênue o agachar- se, pois estar muito no “chão” confunde -se com uma criança, e pouco no chão, perde-se a empatia e a relação que busca estabelecer-se nesta posição. HIPÓTESE Charlotte Hardman in Friedmann, 2011, pergunta-se: Como as crianças podem ser ensinadas e como classificam ou pensam seu mundo? Como pode ser desenvolvida uma abordagem antropológicadas crianças? Como pode diferenciar-se de abordagens teóricas que se preocupam com as crianças no sentido do que refletem do comportamento ou pensamento adulto? E repergunto qual metodologia utilizar para o ensino de artisticidade, se cada criança é um universo? De maneira tradicional utilizam-se metodologias ou formas que englobam o geral, mas e estes que não se enquadram?Excluí-los e moldá-los? Neste primeiro ano do PIÁ, dentro do equipamento do CEU Butantã, jogos e brincadeiras tradicionais tendem a ser comuns e bem aceitas. Mas houve um conflito entre estas constelações estrelares que nos frequentam.Não serão citados os nomes para resguardá-los, já que um dos pequenos está sob medida de proteção pelo abrigo. E dentro da pesquisa sobre metodologia de ensino, foi escolhido a hipótese mais limitada dentro deste âmbito: a busca pelo método de ensino em uma criança excluída socialmente. CONTEXTO No grupo de oito a dez anos, às terças-feiras, definida como turma Ametista, um menino muito inteligente, denominado aqui, Xubiriba, com boa formação cultural e artística, com amplo acesso à informação pela educação familiar (assim são as informações que nos chegaram e que percebíamos) propunha brincadeiras e ideias tão interessantes quanto o PIÁ permite e está em seus princípios. Em seguida outro menino começa a frequentar, denominamos aqui de Xubiras.Com outra energia da que estava sendo construída nos encontros, sabíamos pouco sobre ele, apenas que vinha de abrigo, não se sabe muito da história, e que provável foi obrigatório sua participação neste programa. Muitas vezes vinha acompanhado, e sumia durante o encontro, e ia fazer outra atividade, como jogar bola, enfim. Houve instantes mágicos como uma contação de histórias em que se aproximou e ficou abraçado escutando. Mas na maioria tentava destruir as brincadeiras inventadas pelo Xubiriba, ou causava confusão com alguma criança. No esboço que surgiu da série de reportagens Os EsPíádores, foram construídos microfones com rolos de papelão e objetos para serem o globo do microfone. Neste dia, algumas pinturas foram realizadas, e se transformaram em obras de arte a serem avaliadas, depois da curadoria, pelos pequenos críticos de arte. E neste dia, enquanto as outras crianças influenciadas pelo Xubiriba se encantavam em construir desenhos, organizar as obras, e sentados ir avaliando-as. Agachei-me, mas nem tanto; para ter a perspectiva do Xubira, mas manter o pensamento racional do adulto. E vi no olhar dele, sentir-se inferior a tudo aquilo, e em seguida, voltou a sua normalidade em destruir os desenhos e brincadeiras alheias. A outra arte-educadora Foto Angélica Avante
  • 75. continuou a conduzir a curadoria, enquanto sem palavra alguma, sentei ao seu lado, peguei todos os tubos de tintas coloridos, e apertei todos juntos no papel, disse a ele que caos (bagunça) pode ser arte, ela é o que está dentro de você. Falei superficialmente sobre o artista norte-americano Pollock, que pintava a partir dos mesmos princípios. Xubira fez o mesmo no papel, abaixou a guarda, e perguntou se estava bom, e claro que estava, já que não buscamos um produto final, mas uma iniciação artística, mas melhoramos ainda mais, e gotejamos aquele papel na torneira, e virou a pintura caótica molhada. Expôs junto aos outros, e se sentiu diminuído novamente quando Xubiribas teve uma ideia incrível de fazer a reportagem em uma língua estranha, ele era o repórter robô lg e sua tradutora, a repórter luka. E de novo, chamei Xubira pra perto, pois a crítica pode começar com um não gostei ou gostei, e depois um motivo para isso. E assim foi este microscópica situação dos encontros do PIÁ. Um dia raro. A conclusão amigo leitor, já sabes. Educar é dar sentido. É dar sentido ao nosso estar no mundo. Nossos corpos precisam desse sentido para se realizar plenamente. Mas também nossos corpos são vazios de imagens e elas precisam fazer parte da nossa mente para possamos dar respostas ao que se nos apresenta diuturnamente como desafios da existência. (MUNDUKURU, 2010) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS, Manoel de. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011. BARROS, Manoel de. Retrato Do Artista Quando Coisa. Rio de Janeiro: Editora Record, 1998. BARROS, Manoel de. Exercício de ser criança. Rio de Janeiro: Salamandra, 1999 BASTIDE, R. Nota explicativa. In: FERNANDES, F. Folclore emudança social na cidade de São Paulo. 3. ed. São Paulo:Martins Fontes, 2004 ENGEL, Guido Irineu. Pesquisa-ação. In: Educação em revista. Curitiba: UFPR, 2000. FRIEDMANN, Adriana. História do percurso da sociologia e da antropologia na área da infância, 2011. Disponível em: <http://iseveracruz.edu.br/revistas/index.php/revistaveras/issue/view/4> Friedmann, Adriana. O papel do brincar na cultura contemporânea. 2008. Disponível em: < www.nepsid.com.br/artigos/opapeldobrincart.htm> HOLM, Anna Marie. A energia criativa natural. Pro-posições, v.15, n. I (43) - jan./abr. 2004. LARROSA, Jorge. O ensaio e a escrita acadêmica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 28, n. 2, p. 101-115. 2003. MACHADO, Marina Marcondes. Só Rodapés: Um glossário de trinta termos definidos na espiral de minha poética própria, 2015. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/rascunhos/article/view/28813> MUNDUKURU, Daniel. A milenar arte de educar dos povos indígenas, 2010. Disponível em: <danielmundukuru.blogspot.com.br/2010/04/milenar-arte-de-educar-dos-povos.html > 75
  • 76. Caravana da Coragem Expedição. Esta palavra permeou minhas reflexões sobre toda a vivência no PIA neste ano, falando além dos encontros, do trajeto até o equipamento, das conversas nas reuniões, nas muitas atividades propostas pela e para a esta equipe. Mais especificamente numa visita ao CEU Vila do Sol dentro do “Rodízio” proposto pela coordenação, encontro narrado nesse texto, onde de fato uma expedição em caravana foi realizada, e não voltei o mesmo dessa experiência. Partindo do princípio de que, mesmo que em grupo, quem percorre o trajeto é o indivíduo, me permito escrever em primeira pessoa observando que esse ensaio parte de impressões pessoais antes de ser um relato de uma experiência. Em busca da palavra expedição no dicionário encontrei algumas respostas:  Ação ou efeito de expedir; distribuir ou entregar .Ato de fazer com que alguma coisa atinja o seu propósito: expedição de um documento;  Figurado. Conjunto pessoas que viaja para determinado território afim de analisá-lo, geralmente, com propósito empírico: expedição geológica;  Prontidão para desenvolver ou executar alguma coisa: falar com expedição. Remeter ou deliberar várias modalidades de negócios;  Brasil. Local onde são preparados os objetos que deverão ser expedidos;  Militar. Ação de mandar tropas para um local específico. E alguns sinônimos como: campanha, caravana, desembaraço, despacho, diligência, envio e remessa. Os encontros no PIÁ Guarapirapiranga, do qual fiz parte da equipe, foram, em sua maioria, fora da sala e sempre que possível fora do BEC, onde se situa a sala do PIÁ, nem que fosse apenas o pique- nique que muitas vezes era feito no “Quintal da Bruxa”, lugar onde há árvores frutíferas e onde morava a Bruxa (personagem da parceira Laura Salvatore numa das turmas de pequenos). O longo trajeto de minha casa até o CEU Guarapiranga que dependia de metrô na linha Vermelha do Metrô, Linha Amarela do Metrô, Linha Esmeralda da CPTM, uma caminhada de quase dez minutos da estação Socorro até o ponto de ônibus onde passa o Jardim Nakamura 7023, e mais ou menos meia hora até a porta do equipamento. Mas existia um caminho alternativo em meio aos ostensivos prédios da Marginal Tietê de carona, outro caminho bem mais confortável fisicamente, e mais desconfortável visualmente. As oficinas Menu de Risco desenvolvidas pela equipe nos colocaram em muitos trajetos diferentes. Mas principalmente a proposta de Rodízio nos ocupou em descobrir trajetos, tempos, caminhos e logísticas dentro da cidade. Além dos trajetos pessoais, as atividades constantemente eram distribuídas pelo espaço do CEU Guarapiranga e os trajetos entre esses diferentes lugares, e o como era feito e o que era encontrado de diferente. Sempre com o propósito de estar atento ao que acontece e deixar que os acontecimentos influenciem no momento presente, que o ambiente de fato faça diferença. Se por exemplo, no caminho do barranco de escorregar até o “quintal da Dona Cobra” (Bambuzal) algum bicho cruzasse o caminho, uma ventania levantasse as folhas ou um grupo de crianças pequenas, isso não podia ser ignorado e deixar que esse acontecimentos participem de maneira imaginativa, sensitiva e simbólica o observam que relações se estabeleciam. Num desses encontros, no CEU Vila do Sol, com o parceiro Jefferson Cristino, propusemos a uma turma que em sua maioria eram pré-adolescentes, uma expedição até a ponta do morro que se avistava de dentro do CEU, mas parecia um lugar inóspito, sem nenhuma construção ou sinal de vida humana, habitada por uns arbustos e que ninguém conhecia, ou sequer se por Paulo Petrela 76