Arquivologia, sustentabilidade e inovação. VI Congresso Nacional de Arquivologia. Anais do VI CNA 2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Congresso Nacional de Arquivologia (6 : 2014 : Santa Maria)
Congresso Nacional de Arquivologia, 20 a 23 de outubro de 2014, Santa Maria [recurso eletrônico] : Arquivologia, sustentabilidade e inovação / organizado
por Débora Flores, Andréa Gonçalves dos Santos e Flavia Helena Conrado ; coord. Daniel Flores.; revisado por Sérgio Ricardo Rodrigues [realização Associação dos
Arquivistas do Rio Grande do Sul] – Santa Maria : AARS, 2014.
Versão eletrônica. ; il. ; 4 ¾ pol.
ISBN: 978-85-68533-01-7
1. Arquivologia - Congresso. 2. Sustentabilidade. 3. Inovação. I. Flores, Débora., org. II. Santos, Andréa Gonçalves do., org. III. Conrado, Flávia Helena.,
org. IV. Flores, Daniel., coord. V. Rodrigues, Sérgio Ricardo., revisor V. Título: Arquivologia, sustentabilidade e inovação.
CDU: 930.25:658
Tags:
Arquivologia, Anais, Documentos Digitais, Daniel Flores, GED, SIGAD, Repositórios Arquivísticos Digitais, RDC-Arq, CTDE, CONARQ, Arquivo Nacional, Bacharel em Arquivologia, CNA, VI CNA, Arquivística, Ensino e Pesquisa em Arquivologia, Park Hotel Morotim, Santa Maria, RS, Archives, Miguel Ferreira, Manuela Moro Cabero, Diplomática Contemporânea, Gestão de Documentos, Administração de Arquivos Permanentes, Archivematica, RODA, ICA-AtoM, AtoM, Sustentabilidade em Arquivos, Inovação em Arquivos,
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Arquivologia, sustentabilidade e inovação. VI Congresso Nacional de Arquivologia. Anais do VI CNA 2014. Santa Maria - RS.
1. 1
VI Congresso Nacional de Arquivologia: Arquivologia, sustentabilidade e inovação
VI Congresso Nacional de
Arquivologia:
Arquivologia, sustentabilidade
e inovação
3. 3
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Congresso Nacional de Arquivologia (6 : 2014 : Santa Maria)
Congresso Nacional de Arquivologia, 20 a 23 de outubro de 2014, Santa
Maria [recurso eletrônico] : Arquivologia, sustentabilidade e inovação / organizado
por Débora Flores, Andréa Gonçalves dos Santos e Flavia Helena Conrado ; coord.
Daniel Flores.; revisado por Sérgio Ricardo Rodrigues [realização Associação dos
Arquivistas do Rio Grande do Sul] – Santa Maria : AARS, 2014.
Versão eletrônica. ; il. ; 4 ¾ pol.
ISBN: 978-85-68533-01-7
1. Arquivologia - Congresso. 2. Sustentabilidade. 3. Inovação. I. Flores,
Débora., org. II. Santos, Andréa Gonçalves do., org. III. Conrado, Flávia Helena.,
org. IV. Flores, Daniel., coord. V. Rodrigues, Sérgio Ricardo., revisor V. Título:
Arquivologia, sustentabilidade e inovação.
CDU: 930.25:658
Ficha Elaborada pelo Bibliotecário Filipe Xerxenesky da Silveira – CRB 10/1497
4. 4
Comissão Organizadora do VI CNA
Andrea Gonçalves dos Santos - Mestrado
Camila Lacerda Couto - Especialização
Cléo Belicio Lopes - Especialização
Daniel Flores - Pós-Doutorado
Débora Flores - Mestrado
Denize Brum Camargo - Graduação
Flavia Helena Conrado - Mestrado
Jorge Alberto Soares Cruz - Mestrado
Maria Cristina Kneipp Fernandes - Especialização
Mateus de Moura Rodrigues - Especialização
Raquel Miranda da Silva - Especialização
Rita de Cássia Portela da Silva - Mestrado
Rosani Gorete Feron - Especialização
Valéria Raquel Bertotti - Mestrado
Viviane Portella de Portella - Mestrado
Comissão Central de Programação Científica
Prof. Dr. Daniel Flores (UFSM) - Presidente
Prof. Dr. André Zanki Cordenonsi (UFSM) - Membro
Prof. Me. Jorge Alberto Soares Cruz (UFSM) - Membro
Prof. Dr. José Maria Jardim (UNIRIO) - Membro
Prof. Dr. Rafael Port da Rocha (UFRGS) - Membro
Profa. Ma. Valéria Raquel Bertotti (UFRGS) - Membro
Secretaria de apoio da Comissão Central de Programação Científica
Arquiv. Ma. Andrea Gonçalves dos Santos (FURG) - Membro
Arquiv. Mnda. Daiane Segabinazzi Pradebon - Membro
Arquiv. Ma. Flavia Helena Conrado (IFRS/ POA) - Membro
Arquiv. Ma. Neiva Pavezi (UFSM) - Membro
5. 5
Comissão de Pareceristas - Avaliadores
Alicia Casas de Barran (EUBCA) - MERCOSUL
Ana Celeste Indolfo (Arquivo Nacional) - Inst. Arquivísticas
Ana Célia Rodrigues - UFF
André Malverdes - UFES
Angelica Alves da Cunha Marques - UnB
Anna Carla Almeida Mariz - UNIRIO
Anna Szlecher (UnC) - MERCOSUL
Aurora Leonor Freixo - UFBA
Beatriz Kushnir (AGCRJ) - Inst. Arquivísticas
Carla Mara da Silva Silva- UFAM
Carlos Augusto Silva Ditadi - Conarq
Carlos Blaya Perez - UFSM
Cíntia das Chagas Arreguy - UFMG
Dhion Carlos Hedlund - FURG
Eliana Maria dos Santos Bahia - UFSC
Eliandro dos Santos Costa - UEL
Eliezer Pires da Silva - UNIRIO
Fernanda Kieling Pedrazzi - UFSM
Flávio Leal da Silva - UNIRIO
Francisco José Aragão Pedroza Cunha - UFBA
Hamilton Vieira de Oliveira - UFPA
Heloísa Liberalli Bellotto - USP
Janilton Fernandes Nunes - UFAM
João Eurípedes Franklin Leal - Conarq
Jorge Eduardo Enriquez Vivar - UFRGS
José Augusto Chaves Guimarães - UNESP
Josemar Henrique de Melo - UEPB
Julianne Teixeira e Silva - UFPB
Katia Isabelli de Bethânia Melo de Souza - UnB
Leandro Ribeiro Negreiros - UFMG
Marcieli Brondani de Souza - UFAM
Margarete Farias de Moraes - UFES
Maria Do Rocio Fontoura Teixeira - UFRGS
Maria Laura Rosas (EUBCA) - MERCOSUL
Maria Leandra Bizello - UNESP
Maria Teresa Navarro de Britto Matos - UFBA
Maria Virginia Moraes de Arana - UFES
Mateus de Moura Rodrigues - FURG
Paulo Roberto Elian dos Santos (Fiocruz) - Inst. Arquivísticas
Lucivaldo Vasconcelos Barros - UFPA
Luiz Eduardo Ferreira da Silva - UFPA
Renato Tarciso Barbosa de Sousa - UnB
Rita de Cassia Portela da Silva - UFRGS
Rosa Zuleide Lima de Brito - UFPB
6. 6
Rosane Suely Alvares Lunardelli - UEL
Sérgio Renato Lampert - FURG
Sônia Elisabete Constante - UFSM
Telma Campanha de Carvalho Madio - UNESP
Úrsula Blattmann - UFSC
Welder Antônio Silva - UFMG
Comissão de Apoio
Secretária
Melina Pereira
Comissão de Divulgação
Everton Tolves
Pâmela Menezes Flores
André Grendene Azevedo
Maria Eduarda Flores
Comissão de Transportes
Daiane Regina Segabinazzi Pradebon
Comissão Artística
Arion Pilla
Comissão de Projetos
Jonas Ferrigolo Melo
Juliana Kirchhof
Sérgio Ricardo da Silva Rodrigues
Comissão de Inscrições, Credenciamento e Certificados
Camila Medeiros
Tamiris Carvalho
Catiana Ramiro
Comissão de Infraestrutura
Adriéli Mello
Douglas Duarte
Editoração e Revisão
Sérgio Ricardo da Silva Rodrigues
7. 7
Associação dos Arquivistas do RS - AARS
Biênio 2013 - 2015
Diretoria
PRESIDENTA: Débora Flores
VICE-PRESIDENTA: Andrea Gonçalves dos Santos
1ª SECRETÁRIA: Camila Lacerda Couto
2ª SECRETÁRIA: Maria Cristina Kneipp Fernandes
1ª TESOUREIRA: Raquel Miranda da Silva
2º TESOUREIRO: Cléo Belicio Lopes
CONSELHO FISCAL - TITULARES
Denize Camargo
Rosani Gorete Feron
Viviane Portela de Portela
CONSELHO FISCAL - SUPLENTES
Daniel Flores
Flavia Helena Conrado
Jorge Alberto Soares Cruz
8. 8
SUMÁRIO
Sobre o Evento………………………………………………………………09
AARS………………………………..………………………………………...11
Comunicações Orais – Eixo Epistemologia da Arquivologia e Formação
Profissional……………………………………………………………………12
Comunicações Orais – Eixo Inovação e Sustentabilidade em
Arquivos……………………………………………………….......………...328
Comunicações Orais – Eixo Acesso à Informação……………………..370
Comunicações Orais – Eixo Documentos Arquivisticos Digitais……...615
Comunicações Orais – Eixo Patrimônio Documental e Memória……..730
Comunicações Orais – Eixo Gestão Documental……………………….949
Comunicações Pôsteres – Eixo Documentos Arquivísticos Digitais...1121
Comunicações Pôsteres – Eixo Inovação e Sustentabilidade em
Arquivos…………………………………………………………………….1143
Comunicações Pôsteres – Eixo Gestão Documental…………………1168
Comunicações Pôsteres – Eixo Patrimônio Documental e Memória
……….……………………………………………………………………...1220
9. 9
SOBRE O EVENTO
VI CONGRESSO NACIONAL DE ARQUIVOLOGIA
VI CNA - 2014
Santa Maria - RS
A realização do Congresso Nacional de Arquivologia é o resultado do
envolvimento e da cooperação das associações regionais de arquivistas que unem
esforços com a Executiva Nacional de Associações Regionais de Arquivologia –
ENARA – criada em 2006 durante o II CNA ocorrido em Porto Alegre –, ademais da
comunidade arquivística, atuante nas discussões em prol do desenvolvimento da
Arquivologia.
Realizar um congresso, grandioso e importante como este para os
profissionais arquivistas, é um trabalho árduo, mas também prazeroso, pois é ele um
marco para o avanço da teoria arquivística e de suas tecnologias para a comunidade
brasileira. Comunidade esta, cada vez mais, exigente e consciente da importância
da gestão documental e informacional, considerando não somente a atividade fim da
arquivística, mas ainda, sob um olhar na sustentabilidade e nas inovações que
contribuem para o desenvolvimento e uma melhor aplicabilidade da gestão
documental nas empresas e demais espaços de atuação do profissional arquivista.
Assim, em um congresso nacional como este, é sabido que as discussões
geradas neste grandioso evento, espaço para o conhecimento e debates teóricos,
enriquecem ainda mais a comunidade científica e ampliam, consequentemente, as
discussões acerca da Arquivologia e sua teoria no Brasil.
Como contribuição para os profissionais envolvidos no evento, que ocorre na
união de uma comunidade nacional em um mesmo espaço, enriquece a articulação
entre ensino, pesquisa e extensão, representando, portanto, um elemento
importante no desenvolvimento da comunidade científica no âmbito da educação
superior contemporânea.
Os congressos nacionais de arquivologia, que vêem acontecendo desde
2004, têm contribuído significativamente às discussões de classe. Cada evento vem
carregado de ideias e visões, que ao longo dos dias são debatidas pela comunidade
arquivística, resultando assim em novos conceitos, novos conhecimentos,
potencializando o papel do arquivista na sociedade contemporânea, sendo o cerne
do desenvolvimento de políticas e leis que se tornaram referência em outras áreas
do conhecimento.
A realização deste evento é a oportunidade de atualização dos profissionais
participantes, explorando novas tendências na gestão documental, trazendo-se
temas de abordagem contemporânea e oportunizando, ainda, a presença de
palestrantes de renome nacionais e internacionais.
As comissões organizadora e científica somam esforços para apresentar uma
programação que venha fomentar amplo debate sobre as questões da atualidade na
gestão arquivística e da gestão da informação, com vista a construir uma
perspectiva para evidenciar as discussões acadêmica e científica, considerando as
diferentes dimensões, na dicotomia: educação superior e vida profissional. Isso
significa fortalecer os princípios para com a arquivística e a gestão da informação,
propiciando uma formação acadêmica e uma atuação profissional que articule
10. 10
organicamente com o conhecimento científico, técnico, político e, ainda, uma postura
ética.
A interação entre as diversas formações e campos de atuação do profissional,
proporciona troca e difusão de conhecimento, pressupondo sujeitos comprometidos
com a evolução teórica e tecnológica da sua área de atuação. Desta forma, o evento
visa divulgar, refletir e discutir as novas tendências da gestão arquivística e da
gestão da informação, integrando seus diversos atores: docentes, discentes,
gestores, técnicos, profissionais e comunidade em geral.
Desde a década de 70 o Brasil tem por tradição realizar congressos nacionais
de arquivologia. Mas foi o ano de 2004 que ficou marcado em virtude da sequência
dos congressos sofrer alteração.
Assim, o I Congresso Nacional de Arquivologia - CNA se realizou na cidade
sede do governo federal, Brasília em 2004, tendo como tema “Os arquivos no século
XXI”.
O II CNA, se realizou na acolhedora cidade de Porto Alegre em 2006, tendo
como tema “Os desafios do arquivista na sociedade do conhecimento”. Este
encontro foi um marco para o arquivologia nacional pois neste congresso se criou a
Executiva Nacional de Associações Regionais de Arquivologia, a ENARA, que desde
então, passou a organizar os CNAs junto com a associação regional do estado sede
do congresso.
O III CNA se realizou na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro em 2008,
tendo como tema “A Arquivologia e suas múltiplas interfaces”.
O IV CNA se realizou na linda cidade de Vitória em 2010, tendo como tema “A
gestão de documentos arquivísticos e o impacto das novas tecnologias da
informação”.
O V CNA se realizou na bela cidade de Salvador em 2012, tendo como tema
“Arquivologia e internet”.
E agora, o VI CNA, em 2014, se realiza no coração do Rio Grande do Sul, em
Santa Maria. É o primeiro congresso nacional que ocorre em uma cidade que não é
uma capital, e que nos enche de orgulho poder sediar e acolher estes profissionais
que aqui chegam para discutir e compartilhar conhecimentos da Arquivologia.
O VI CNA conta com sessões plenárias apresentando temas como “A
Diplomática Contemporânea e a Epistemologia da Arquivologia”, “Inovação em
acesso e preservação digital” e “Avaliação de documentos: metodologia,
procedimentos e implicações”. O evento conta também com quatro mini-cursos:
“Preservação digital”, “Diplomática contemporânea”, “O documento arquivístico
digital” e “ISO30300” com ministrantes do Brasil, Espanha e Portugal, além das
comunicações orais e apresentação de pôsters.
As apresentações foram divididos por eixos temáticos: Epistemologia da
Arquivologia e formação profissional, Inovação e sustentabilidade em arquivos,
Acesso à informação, Documentos arquivísticos digitais, Patrimônio Documental e
memória e Gestão Documental.
11. 11
A AARS
A Associação dos Arquivistas do Estado do Rio Grande do Sul (AARS), criada
em 1999, surgiu a partir da extinção dos Núcleos da Associação dos Arquivistas
Brasileiros em julho de 1998, quando os associados do Núcleo Regional do RS se
reuniram e, após muita discussão, aprovaram a constituição de uma associação
estadual. Na ata de fundação, constavam 32 associados, que, com muita
disposição, conseguiram criar uma entidade forte e reconhecida nacionalmente. A
Associação é dirigida por uma diretoria eleita por dois anos.
Atualmente, a AARS conta com mais de 270 associados, já foi representante
das associações de classe no Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ) e
Coordena a gestão da Executiva Nacional de Associações de Arquivologia do país
até a realização do VI CNA. No ano de 2007, a AARS conseguiu sua inscrição na
Seção de Associações Profissionais - SPA, do Conselho Internacional de Arquivos
CIA. Em 2006, a Associação promoveu o II Congresso Nacional de Arquivologia,
com aproximadamente 500 participantes. E hoje, mais uma vez reafirma sua
dedicação em prol dos profissionais arquivistas.
A Associação dos Arquivistas do Estado do Rio Grande do Sul tem por
objetivos: a) promover a defesa dos interesses dos profissionais que atuam na área
da arquivologia; b) incrementar estudos para melhorar o nível técnico e cultural dos
profissionais de arquivo; c) cooperar com os órgãos governamentais e entidades
nacionais e internacionais; públicas e privadas, em tudo que se relacione com
arquivos; d) promover a valorização, o aperfeiçoamento e a difusão do trabalho
arquivístico, por meio de estudos, congressos, conferências, exposições, cursos,
seminários, mesas redondas, e outras atividades; e) estabelecer e manter
intercâmbio com associações congêneres; f) participar dos eventos que se
relacionem com as atividades da área; g) colaborar com o Arquivo Nacional, os
arquivos estaduais e municipais, no desenvolvimento de políticas de arquivo; g) a
representação judicial ou extrajudicial dos associados mediante autorização da
Assembleia Geral.
A atual diretoria da AARS tomou posse em 29 de julho de 2013, e tem seu
mandato até julho de 2015. Além das atividades de defesa profissional, como
divulgação da regulamentação da profissão, intervenções em concursos irregulares
com vagas para arquivista, cursos de capacitação e treinamentos, a AARS enfrenta
em 2014 um novo desafio. Após sediar em 2006 o então II Congresso Nacional de
Arquivologia, a AARS recebe novamente o evento, porém na sua VI edição.
13. 13
Reflexões sobre as relações entre a Arquivologia e a Ciência da
Informação1
Alexandre de Souza Costa2
RESUMO
Reflete sobre as relações da Arquivologia com a Ciência da Informação. Apresenta
algumas propriedades da interdisciplinaridade sob a perspectiva de Hilton Japiassú
e Olga Pombo. Delineia algumas aproximações entre a Arquivologia e a Ciência da
Informação a partir das perspectivas de alguns autores contemporâneos. Sugere o
aprofundamento e verticalização teórica que abordem a relação entre os dois
campos. Propõe a inserção de disciplinas relacionadas à Ciência da Informação nos
cursos de graduação em Arquivologia e a abordagem das disciplinas relacionadas
ao campo arquivístico nos programas de pós-graduação em Ciência da Informação.
Compreende a importância dessa questão ao abordar essa temática nos estudos
realizados no Brasil recentemente.
Palavras-chave: Arquivologia; Ciência da Informação; Interdisciplinaridade
Reflections about relations between archival science and information science
It reflects about relations between archival science and information Science. It shows
some properties of interdisciplinarity from the perspective of Hilton Japiassú and
Olga Pombo. Outlines some approaches between archival science and information
science from the perspectives of some contemporary authors. It suggests deepening
theoretical and vertical integration to address the relations between the two fields.
Proposes the inclusion of disciplines related to information science in undergraduate
archival science courses and approach of related disciplines from archival science
field in graduate programs in information science. It understands the importance of
this issue when addressing this subject in Brazil studies recently.
Key words: Archival science; Information science; Interdisciplinarity
INTRODUÇÃO
Diante de novas demandas para resolução de problemas relacionados ao
conhecimento, surgem perspectivas na contemporaneidade que se apresentam para
criação de novas possibilidades no universo técnico, político e científico. Uma
dessas perspectivas é o relacionamento entre campos de conhecimento científico a
partir de suas teorias e métodos de aplicação.
1
Este trabalho foi extraído da dissertação de mestrado “Produção de conhecimento em Arquivologia sob a
égide dos programas de pós-graduação em Ciência da Informação” orientada por José Maria Jardim sob os
auspícios da Universidade Federal Fluminense.
2
Doutorando em Ciência da Informação pelo convênio Universidade Federal do Rio Janeiro/Instituto Brasileiro
de Informação em Ciência e Tecnologia (UFRJ/IBICT). alexandredesouzacosta@gmail.com
14. 14
Nesta direção, apresenta-se uma questão recente no Brasil: o relacionamento
entre o campo da Ciência da Informação e o campo da Arquivologia, principalmente
a partir dos anos de 1990 do século XX no Brasil.
Sobre a questão de campo Pierre Bourdieu, sociólogo e antropológo francês,
desenvolveu esse conceito e deste, o conceito de “campo científico” no que diz
respeito à Sociologia da Ciência. Nesta perspectiva, Bourdieu argumenta que o
campo da ciência não se difere em nada de um campo social como outro qualquer,
pois sempre há um embate, uma luta de forças em busca de legitimidade e
reconhecimento social em um determinado espaço simbólico.
Desta forma, temos uma concorrência pelo monopólio da competência
científica e a necessidade de legitimidade nos discursos em um primeiro nível
institucional e, logo após, no nível pessoal. Sobre isto, afirma Bourdieu (1983, p.
123, grifos do autor): “os julgamentos sobre a capacidade científica de um estudante
ou de um pesquisador estão sempre contaminados, no transcurso de sua carreira,
pelo conhecimento da posição nas hierarquias instituídas”.
Um outro aspecto sobre a busca de legitimidade e o reconhecimento social é
a questão política. Desta maneira, as questões epistemológicas se confundiriam
com questões políticas. Um exemplo disto seriam as bolsas de financiamento de
projetos de pesquisa que seriam e/ou são liberadas pelas agências de fomento de
acordo com certas pesquisas de pessoas de grupos hegemônicos estabelecidos
institucionalmente. Assim, os critérios de avaliação seriam sempre adstritos à
manutenção da hegemonia estabelecida e conquistada com esforços “científicos”.
Bourdieu ainda coteja o conhecimento científico ao capital e, por isso, possui
suas regras de distribuição:
A estrutura da distribuição do capital científico está na base das
transformações do campo científico e se manifesta por intermédio das
estratégias de conservação ou de subversão da estrutura que ela mesma
produz. Por um lado, a posição que cada agente singular ocupa num dado
momento na estrutura do campo científico é a resultante, objetivada nas
instituições e incorporada nas disposições, do conjunto de estratégias
anteriores desse agente e de seus concorrentes (elas próprias dependentes
da estrutura do campo, pois resultam das propriedades estruturais da
posição a partir da qual são engendradas). Por outro lado, as
transformações da estrutura do campo são o produto de estratégias de
conservação ou de subversão que têm seu princípio de orientação e
eficácia nas propriedades da posição que ocupam aqueles que as
produzem no interior da estrutura do campo (BOURDIEU, 1983, p. 134).
Por fim, Bourdieu afirma que as posições estratégicas no campo científico são
ideológicas disfarçadas de epistemológicas. Desta forma, o discurso engendrado
15. 15
pelos que estão institucionalmente amparados é de se manterem justificando sua
posição e, ao mesmo tempo, desacreditarem os que estão em posição oposta, ou
seja, os pesquisadores contra hegemônicos. Tem-se então, uma relação de poder.
Nesta direção, apresenta-se uma questão recente no Brasil: o relacionamento
entre a Ciência da Informação e a Arquivologia, principalmente a partir da
representação da tabela de áreas no CNPQ, na produção de teses e dissertações
com temáticas arquivísticas em programas de pós-graduação em Ciência da
Informação, na inserção de disciplinas com temas da Ciência da Informação nos
cursos de graduação em Arquivologia, e das disciplinas com temas arquivísticos nos
programas de pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil. Estes eventos
ocorreram nitidamente a partir dos anos de 1990.
A QUESTÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE
No âmbito científico, as disciplinas cujo objeto de estudo é a informação tais
como a Ciência da Informação, a Biblioteconomia, e a Arquivologia3
, têm-se
abordado a questão da interdisciplinaridade. Contudo, a fim de compreender a
dimensão deste fenômeno faz-se necessário apresentá-lo a partir de alguns matizes.
A interdisciplinaridade mostra-se como uma das respostas à fragmentação do
saber, ou seja, um alto grau de especialização por parte das ciências ou saberes
compartimentados (JAPIASSÚ, 1976). Esta especialização apresenta como
componentes aspectos políticos, econômicos e sociais. A interdisciplinaridade viria
como proposta no bojo da pós-modernidade e criaria a possibilidade do diálogo
entre (inter) as disciplinas formando uma ideia de interação. O resultado desta
interação, a partir do rigor teórico-metodológico aplicado e tendo por mediação a
interdisciplinaridade, traria novas perspectivas de abordagens científicas.
Convém lembrar que a interdisciplinaridade não é um conceito e nem um
fenômeno recente. Esta perspectiva nos remete, por exemplo, à França do século
XVIII; em meio ao Iluminismo e anterior à Revolução Francesa, houve um
movimento filosófico e cultural liderado por Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot
chamado de Enciclopedismo que previa a catalogação do conhecimento humano a
3
É importante apontar que a informação passou a ser mais observada pela Arquivologia a partir da noção de
informação arquivística ou informação registrada orgânica. Este termo foi utilizado por Jean Yves-Rosseau e
Carol Couture (1998) conforme citado anteriormente na delimitação do problema desta pesquisa.
16. 16
partir de princípios racionais. Havia nesta catalogação uma divisão ou “árvores de
conhecimento”, compartimentando os ramos do saber humano.
Historicamente, as disciplinas foram uma invenção no final do século XVIII no
ocidente como forma de institucionalizar departamentos acadêmicos. Já havia nessa
época a noção de autonomia, ou seja, embora estivessem ligados à Filosofia que
seria a integradora de todos os conhecimentos, os departamentos eram
independentes (BURKE, 2003).
Desta maneira, Japiassú (1976, p. 60, grifos do autor) baseado em Heinz
Heckhausen expõe que antes da abordagem do interdisciplinar é necessário que se
tenha bem definido o que é uma disciplina ou disciplinas. O autor lista sete
componentes que devem ser observados:
1- o domínio material das disciplinas, constituído pelo conjunto de objetos
pelos quais elas se interessam e dos quais se ocupam;
2- o domínio de estudo que nada mais é senão o ângulo específico sob o
qual a disciplina considera seu domínio material, podendo ser comum a
várias disciplinas (...);
3- o nível de integração teórica dos conceitos fundamentais e unificadores
de uma disciplina, capazes de abranger todos os fenômenos próprios, tendo
em vista uma reconstrução da “realidade” do domínio de estudo a fim de
explicar e prever os fenômenos que a ele se referem;
4- os métodos próprios para apreender a transformar os fenômenos,
havendo perfeita concordância entre a aplicação dos métodos e as leis
gerais do nível de integração teórica;
5- os instrumentos de análise que repousam, sobretudo, na estratégia
lógica, nos raciocínios matemáticos e na construção de modelos;
6- as aplicações das disciplinas: quanto mais elas se orientam para
aplicação profissional, mais ecléticas se revelam em sua concepção
epistemológica, exigindo, assim, programas pluridisciplinares;
7- as contingências históricas: em seu processo de evolução histórica, cada
disciplina se encontra, em cada fase, num momento de transição, em
contacto com forças e influências internas e externas (...).
Nesta perspectiva, cada disciplina ou campo de conhecimento possuem suas
bases (princípios, métodos, objeto e teorias) e fronteiras bem delimitadas, mas em
um projeto interdisciplinar específico há uma intensa troca entre os envolvidos de tal
maneira que as delimitações de fronteiras são suplantadas em prol da busca para
atender o fenômeno pesquisado.
Deste modo,
Passamos por graus sucessivos de cooperação e de coordenação
crescentes antes de chegarmos ao grau próprio ao interdisciplinar. Este
17. 17
pode ser caracterizado como o nível em que a colaboração entre as
diversas disciplinas ou entre os setores heterógenos de uma mesma ciência
conduz a interações propriamente ditas, isto é, a uma certa reciprocidade
nos intercâmbios, de tal forma que, no final do processo interativo, cada
disciplina saia enriquecida. Podemos dizer que nos reconhecemos diante de
um empreendimento interdisciplinar todas as vezes em que ele conseguir
incorporar os resultados de várias especialidades, que tomar de empréstimo
a outras disciplinas certos instrumentos e técnicas metodológicos, fazendo
uso dos esquemas conceituais e das análises que se encontram nos
diversos ramos do saber, a fim de fazê-los integrarem e convergirem, depois
de terem sido comparados e julgados. Donde poderemos dizer que o papel
específico da atividade interdisciplinar consiste, primordialmente, em lançar
uma ponte para religar as fronteiras que haviam sido estabelecidas
anteriormente entre as disciplinas com objetivo preciso de assegurar a cada
uma seu caráter propriamente positivo, segundo modos particulares e com
resultados específicos (JAPIASSÚ, 1976, p.75, grifos do autor).
O autor ainda nos lembra de que o conceito de interdisciplinaridade evoca
três outros conceitos no que diz respeito ao relacionamento de disciplinas ao qual
ele chamou de “conceitos vizinhos” (JAPIASSÚ, 1976, p.72). O Quadro 1 expressa
estes conceitos e as diferenças entre eles.
Quadro 1 Definições dos conceitos de Multidisciplinaridade, Pluridisciplinaridade,
Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade e suas especificidades.
DEFINIÇÃO DESCRIÇÃO GERAL TIPO DE SISTEMA
Multidisciplinaridade
Gama de disciplinas que propomos
simultaneamente, mas sem fazer
aparecer as relações que podem
existir entre elas.
Sistema de um só nível e de
objetivos múltiplos; nenhuma
cooperação.
Pluridisciplinaridade
Justaposição de diversas disciplinas
situadas geralmente no mesmo nível
hierárquico e agrupadas de modo a
fazer aparecer as relações existentes
entre elas.
Sistema de um só nível e de
objetivos múltiplos;
cooperação, mas sem
coordenação.
Interdisciplinaridade
Axiomática comum a um grupo de
disciplinas conexas e definida no nível
hierárquico imediatamente superior, o
que introduz noção de finalidade.
Sistema de dois níveis e de
objetivos múltiplos;
coordenação procedendo do
nível superior.
Transdisciplinaridade
Coordenação de todas as disciplinas
e interdisciplinas do sistema de
ensino inovado, sobre a base de uma
axiomática geral.
Sistema de níveis e objetivos
múltiplos; coordenação com
vistas a uma finalidade
comum dos sistemas.
Fonte: Elaboração própria com base em Japiassú (1976).
18. 18
Em uma perspectiva contemporânea acerca da questão da
interdisciplinaridade, Olga Pombo4
professora da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa apresenta interdisciplinaridade da seguinte forma:
Por interdisciplinaridade, deverá então entender-se qualquer forma de
combinação entre duas ou mais disciplinas com vista à compreensão de um
objecto a partir de uma confluência de pontos de vista diferentes e tendo
como objectivo final a elaboração de uma síntese relativamente ao objecto
comum. (...). Conforme os casos e os níveis de integração pretendidos, ela
pode traduzir-se num leque muito alargado de possibilidades: transposição
de conceitos, terminologias, tipos de discurso e argumentação, cooperação
metodológica e instrumental, transferência de conteúdos, problemas,
resultados, exemplos, aplicações, etc (1994, grifo da autora).
Em uma proposta acerca da “Epistemologia da Interdisciplinaridade”, Pombo
aponta que a questão da interdisciplinaridade não é isolada em si, mas há um grupo
de quatro palavras que apresentam uma disputa pelo mesmo “terreno”. Neste
contexto, este terreno de disputa é a raiz em comum que elas possuem, ou seja, a
disciplina, que teriam três significados (i) disciplina como ramo do saber – ramos do
saber universalmente consolidados como Matemática, Física, Biologia, Psicologia,
Sociologia, entre outras; (ii) disciplina como componente curricular – disciplinas do
ensino básico que se recortam sobre as disciplinas científicas; (iii) disciplina como
conjunto de normas e leis – trata da disciplina enquanto comportamento de um
determinado grupo social.
Embora Pombo apresente um grupo de quatro palavras inicialmente, a autora
incita que são três e não quatro, pois etimologicamente pluri e multi possuem o
mesmo significado.
Diante deste modelo Pombo expõe o seguinte:
A ideia é a de que as tais três palavras, todas da mesma família,
devem ser pensadas num continuum que vai da coordenação à
combinação e desta à fusão. Se juntarmos a esta continuidade de
forma um crescendum de intensidade, teremos qualquer coisa deste
género: do paralelismo pluridisciplinar ao perspectivismo e
convergência interdisciplinar e, desta, ao holismo e unificação
transdisciplinar (POMBO, 2003, p. 5, grifos da autora).
4
Disponível em http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/mathesis/interdisciplinaridade.pdf. Acesso em 5 de
Julho de 2010.
19. 19
Ainda Pombo (2005, p.11, grifos da autora) em uma palestra conferida no
Congresso Luso-Brasileiro sobre Epistemologia e Interdisciplinaridade na Pós-
Graduação, conclui seu pensamento da seguinte forma:
Sem interesse real por aquilo que o outro tem para dizer não se faz
interdisciplinaridade. Só há interdisciplinaridade se somos capazes de
partilhar o nosso pequeno domínio do saber, se temos a coragem
necessária para abandonar o conforto da nossa linguagem técnica e para
nos aventurarmos num domínio que é de todos e de que ninguém é
proprietário exclusivo. Não se trata de defender que, com a
interdisciplinaridade, se alcançaria uma forma de anular o poder que todo
saber implica (o que equivaleria a cair na utopia beata do sábio sem poder),
mas de acreditar na possibilidade de partilhar o poder que se tem, ou
melhor, de desejar partilhá-lo. Como? Desocultando o saber que lhe
corresponde, explicitando-o, tornando-o discursivo, discutindo-o.
Diante do exposto, observaremos algumas tentativas de estabelecimento de
relação entre as áreas da Ciência da Informação e a Arquivologia no Brasil.
INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE A ARQUIVOLOGIA E A CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO
No que tange à interdisciplinaridade entre a Ciência da Informação e
Arquivologia, os primeiros estudos que tratam da questão foram iniciados a partir
dos anos de 1990. No ano de 1992, em um artigo intitulado “As relações entre a
Arquivística e a Ciência da Informação”, Jardim e Fonseca (1995, p.48) abordam
que ambas as disciplinas tratam da questão da informação, no entanto, na
perspectiva dos autores a relação entre as disciplinas era pouco observada:
Apesar da Arquivística e da Ciência da Informação partilharem do mesmo
domínio de estudos – a informação – os níveis de interação que apresentam
são bastante precários. Ainda que a informação seja contemplada por
ambas as disciplinas a partir das suas diferentes propriedades e
especificidades quanto à produção, uso e disseminação, o território
disponível para o intercâmbio teórico e prático mostra-se extremamente
vasto.
Neste mesmo artigo, os autores apontam que embora a informação enquanto
objeto seja contemplado pelas duas disciplinas, no plano internacional não pode ser
observado o relacionamento entre elas. Além disso, os autores afirmam que a
literatura clássica da Ciência da Informação não contempla a informação
20. 20
arquivística. Por outro lado, a literatura arquivística também não menciona a Ciência
da Informação (JARDIM; FONSECA, 1995, p. 47).
Smit (2003), por seu turno considera que a Biblioteconomia, a Arquivologia e
a Museologia são disciplinas que apresentam um objetivo em comum, tornar
informações acessíveis. Por isso estes campos seriam interfaces da Ciência da
Informação. Smit (2003) ainda aborda que se observamos as práticas feitas em
tempos remotos, as instituições recebiam tanto materiais arquivísticos como
materiais bibliográficos. Com a invenção da imprensa, os materiais começaram a ser
separados por conta das diferenças de tipologia. Ainda Smit (2003) interpreta que
tanto a Biblioteconomia como a Arquivologia são modalidades pragmáticas da
Ciência da Informação.
Nesta direção, Araújo (2011) expressou o seguinte:
Uma outra área do conhecimento, fortemente relacionada à CI [Ciência da
Informação], é a Arquivologia. A Arquivologia sempre teve traços identitários
com a Biblioteconomia. Ambas são igualmente antigas e ligadas ao
surgimento dos suportes escritos do conhecimento humano. Ambas
desenvolveram, ao longo dos séculos, técnicas e procedimentos para, num
primeiro momento, conservar e guardar os documentos; depois organizá-los
de maneira a serem recuperados e, em tempos mais recentes, para tornar
acessíveis seus conteúdos. E, tal como a Biblioteconomia, também a
Arquivologia não conseguiu desenvolver, ao longo dos anos, um corpo de
conhecimentos propriamente científicos.
Na perspectiva de Araújo (2011), a Ciência da Informação, por seu caráter
interdisciplinar “acomodaria” a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia
(também inserida nesta perspectiva) e permitiria que estas áreas se
desenvolvessem.
Sobre este aspecto, podemos destacar a conferência feita por José Maria
Jardim na abertura do 3º Congresso Nacional de Arquivologia realizado em 2008 no
Rio de Janeiro. Jardim expõe que o discurso sobre a relação interdisciplinar entre a
Arquivologia e a Ciência da Informação é mencionado, porém, não é praticado. Além
disso, Jardim afirma que a ideia de subordinação da Arquivologia à Ciência da
Informação ganha espaço, sobretudo no Brasil e que não procede
internacionalmente (JARDIM, 2008, p. 37). Como pode ser observada, esta questão
se repete e parece inalterada em quase 20 anos após o texto deste mesmo autor
juntamente com Maria Odila Fonseca na página anterior.
Jardim (2008, p.38) ainda apresenta o que parecem ser equívocos no caso
brasileiro:
21. 21
Um equívoco é a perspectiva, pelo menos em algumas interpretações, de
que a Arquivologia é uma modalidade pragmática ou universo de aplicação
da Ciência da Informação. Essa perspectiva reduz a Arquivologia a um
campo de aplicação da Ciência da Informação, passando ao largo dos
dispositivos teóricos da área. Ainda que os dispositivos teóricos da Ciência
da Informação possam e devam ser no universo empírico arquivístico, isso
não equivale necessariamente a uma relação de subordinação da
Arquivologia em relação à Ciência da Informação. Essa concepção vem
ganhando espaço no Brasil, inclusive, de alguma forma, no campo
arquivístico.
E mais:
Um outro equívoco, é a ideia de que Arquivologia, junto com a
Biblioteconomia e a Museologia, constituem-se na base da Ciência da
Informação. Ao menos em relação à Arquivologia, basta analisar a história
da área e também da Ciência da Informação para afirmar que essa
afirmação é inconsistente.
Desta forma, Jardim (2008, p. 38) entende que a Arquivologia é uma área
autônoma do conhecimento, contudo, isto não compromete a possibilidade de obter
relações interdisciplinares:
(...) parece-me equivocada a perspectiva de que a autonomia da
Arquivologia é incompatível com o imperativo da sua interdisciplinaridade.
Autonomia e relações interdisciplinares não são categorias excludentes. Um
campo de conhecimento pode manter relações interdisciplinares com
diversas outras áreas sem que sua autonomia, como um campo, seja
diluída. Autonomia não significa insulamento.
Mariz (2004) observou as relações entre os dois campos a partir de uma
abordagem sistêmica. Verificou que na Ciência da Informação, os Sistemas de
Informação são bastante importantes enquanto campo de estudo. No que diz
respeito à Arquivologia, a autora observa que não há um consenso sobre o que são
Sistemas de Arquivos, que poderiam ser entendidos como Sistemas de
Recuperação de Informação, logo como Sistemas de Informação. Desta maneira,
Mariz aponta que a abordagem sistêmica poderia ser um ponto de convergência
entre as áreas. Mariz ainda incita para a possibilidade de instrumentalização da
relação entre as duas áreas:
22. 22
(...) parece-nos fundamental para a Arquivística, assim como para várias
outras áreas do conhecimento, buscar nos estudos e reflexões oriundos da
Ciência da Informação insumos para o aprimoramento de suas atividades
teóricas e práticas. Mais do que constatar relações, seria preciso criá-las.
Tais relações enriqueceriam ambas as áreas abrindo novos horizontes para
as abordagens à informação em seus aspectos de produção, gestão e
difusão (MARIZ, 2004, p.34).
Em dissertação sobre a informação arquivística, produzida por Eliezer Pires
da Silva, podemos observar uma possibilidade de diálogo entre Arquivologia e a
Ciência da Informação. Nesta pesquisa, o autor propõe uma perspectiva
informacional concernente aos arquivos. Nesta perspectiva, o objeto da Arquivologia
seria a informação arquivística. Assim, ao considerarmos a informação como objeto
de estudo da Ciência da Informação, podemos entender que potencialmente a
informação arquivística poderá ser inserida como tema de interesse para pesquisa
desta área.
No entanto, Silva, na conclusão de seu trabalho, compreende a noção de
informação arquivística da seguinte forma: “A dimensão de inovação no emprego da
expressão informação arquivística ainda não está clara” (SILVA, 2009, p. 116, grifos
do autor). E mais: “Pode-se também inferir que os argumentos sobre as mudanças
na Arquivologia hoje não apresentaram uma articulação capaz de embasar um
conceito de informação arquivística” (SILVA, 2009, p. 116).
Um aspecto interessante no relacionamento entre os dois campos no Brasil
foi identificado por Fonseca (2005, 102 p.):
A associação com a ciência da informação parece ser uma característica da
evolução da área arquivística no Brasil. (...) considerando a homogeneidade
com que teses e dissertações com temática arquivística são acolhidas em
diferentes programas de pós-graduação em ciência da informação, (...).
Podemos tomar como exemplo, o levantamento feito por Fonseca em seu
livro5
“Arquivologia e ciência da informação”, no qual a autora mapeia e identifica um
considerável número de produção de teses e dissertações referentes aos temas
arquivísticos em programas de pós-graduação em Ciência da Informação,
sobretudo, a partir dos anos 90. De acordo com a pesquisa de Fonseca (2005, p.
93), de um total de 53 trabalhos – entre teses e dissertações – 26, ou seja,
5
O livro da autora é fruto de sua Tese intitulada “Arquivologia e Ciência da Informação: (re)definição de marcos
interdisciplinares” apresentada como requisito para obtenção do título de Doutor no programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação pelo convênio UFRJ/IBICT.
23. 23
aproximadamente 50%, foram resultados de pesquisas em programas de pós-
graduação em Ciência da Informação.
Pinheiro em duas oportunidades (2006 e 2009), mapeou as relações
interdisciplinares da Ciência da Informação com diversos campos do conhecimento.
As relações com a Arquivologia foram apresentadas em duas subáreas/disciplinas
de acordo com a pesquisa dessa autora - Necessidades e usos da Informação e
Representação da Informação.
Uma possível interpretação para esta aproximação entre a Ciência da
Informação e a Arquivologia, no âmbito dessas subáreas/disciplinas é a questão da
necessidade de recuperação da informação arquivística preconizada pela Conselho
Internacional de Arquivos em uma tentativa de normatizar internacionalmente os
padrões de descrição em arquivos, além disso é tem se tornado frequente os
estudos de padrões de interoperabilidade de metadados no ambiente eletrônico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que tange às relações entre a Arquivologia e a Ciência da Informação,
para que de fato este relacionamento seja interdisciplinar, será necessário o
aprofundamento e verticalização teórica em pesquisas que abordem esta
perspectiva entre os dois campos. Desta forma, será necessário avaliar
contingências históricas no Brasil e no mundo, metodologias, saberes, práticas de
ambas as áreas e como elas se relacionam. O caso brasileiro aponta que esta
relação se dá principalmente na pesquisa de temas arquivísticos em programas de
pós-graduação de Ciência da Informação, isto poderá ser melhor aprofundado em
outra oportunidade. Contudo, será necessário o acompanhamento e análise dessas
pesquisas para verificação dos níveis de integração entre ambos os campos de
conhecimento.
Dessa forma, sugerimos a leitura de contribuições mais específicas às
questões epistemológicas do campo. Tratam-se das teses e dissertações que
abordaram temas semelhantes ao desta pesquisa. Atribuímos à Maria Odila
Fonseca o início de estudos com esta característica no Brasil com a tese “Ciência da
Informação e Arquivologia: relações interdisciplinares”, defendida no ano de 2004.
Desde a tese de Maria Odila Fonseca, ocorreram pelo menos mais cinco pesquisas
24. 24
das quais temos conhecimento sobre este aspecto: “Os espaços de diálogos da
formação e configuração da Arquivística como disciplina no Brasil”, de Angélica
Cunha Marques, defendida no ano de 2007; “A noção de informação arquivística na
produção de conhecimento em Arquivologia no Brasil (1996-2006)”, de Eliezer Pires
da Silva, defendida no ano de 2009; “Zonas interdisciplinares entre a Arquivologia e
a Ciência da Informação: cartografia das práticas discursivas”, de Welder Antônio
Silva, também defendida em 2009; e, “Interlocuções entre a Arquivologia Nacional e
a internacional no delineamento da disciplina no Brasil”, novamente de Angélica
Cunha Marques, defendida no ano de 2011; “Produção de conhecimento em
Arquivologia sob a égide dos programas de pós-graduação em Ciência da
Informação”, de Alexandre de Souza Costa, defendida no ano de 2011.
Ademais, uma iniciativa que poderia demonstrar a relação entre a
Arquivologia e a Ciência da Informação seria a pesquisa sobre a inserção de
disciplinas relacionadas à Ciência da Informação nos cursos de graduação em
Arquivologia bem como uma verticalização sobre as disciplinas relacionadas à
Arquivologia nos programas de pós-graduação em Ciência da Informação. Seria
necessário observar qual é a abordagem na aplicação destas disciplinas e qual
contribuição interdisciplinar se origina delas, algo que transcende os limites deste
trabalho.
Outro aspecto relacionado é a constatação de Pinheiro (2005), de que são
raros os estudos teóricos e históricos, mais concentrados na linha de pesquisa
Epistemologia e Interdisciplinaridade da Ciência da Informação do Programa de Pós-
Graduação do IBICT. Dessa maneira, estudos relacionados ao relacionamento entre
campos científicos, e nesse caso entre a Ciência da Informação e Arquivologia
poderiam cobrir pelo menos uma parte dos estudos dessa linha.
Entende-se que, ao abordar esta questão há um fortalecimento da discussão
dessa temática e uma possível contribuição em relação ao estado da questão, ainda
que modestamente, para ampliação do debate sobre esse tema no Brasil.
REFERÊNCIAS
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e Museologia: Relações institucionais e teóricas. Encontros Bibli, Florianópolis, v.
16, n. 31, p. 110-130, 2011.
25. 25
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de Janeiro: Zahar, 2003. 241 p.
FONSECA, Maria Odila. Arquivologia e ciência da informação. Rio de Janeiro:
FGV, 2005. 124 p.
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1976.
JARDIM, José Maria. As relações interdisciplinares da Arquivologia. In: III
Congresso Brasileiro de Arquivologia. Anais... Rio de Janeiro, 2008. (CD-Rom)
JARDIM, José Maria; FONSECA, Maria Odila. As relações entre a Arquivística e a
Ciência da Informação. Cadernos de Pós-Graduação em Ciência da Informação,
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CASADO, Elias Sanz (Orgs.). A Ciência da Informação criadora de conhecimento.
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PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro. Processo evolutivo e tendências contemporâneas
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POMBO, O. Epistemologia da Interdisciplinaridade. In: SEMINÁRIO
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http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/investigacao/portofinal.pdf. Acesso em:
04 dezembro 2011.
POMBO, Olga. Interdisciplinaridade e integração de saberes. Liinc em revista. Rio
de Janeiro, v. 1, n.1, p. 4-16, 2005.
SILVA, Eliezer Pires da. A noção de informação arquivística na produção de
conhecimento em arquivologia no Brasil (1996-2006). 110f. Dissertação
26. 26
(Mestrado em Ciência da Informação) – Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia,
Universidade Federal Fluminense, 2009.
SMIT, Johanna W. Arquivologia/Biblioteconomia: Interfaces da Ciência da
Informação. Informação & Informação, Londrina, v. 8, n. 1, 2003.
27. 27
MERCADO DE TRABALHO PARA ARQUIVISTAS: um estudo da
demanda no setor Público em Manaus6
Greceane do Nascimento dos Santos7
Célia Regina Simonetti Barbalho8
Rosinilda Damasceno dos Santos Filha9
RESUMO
Esta pesquisa busca contribuir para a área da Arquivologia por meio de estudo das
necessidades e capacidade produtiva do setor público na esfera estadual, quanto ao
emprego de mão de obra qualificada para gerenciar os setores de arquivo na cidade
de Manaus. Trata-se de uma análise exploratória sobre os arquivos públicos
estaduais. O objetivo geral foi verificar o mercado de trabalho para o profissional,
Arquivista. Do universo total de instituições estaduais, cinquenta e nove, foram
selecionadas aleatoriamente como amostra representativa, vinte e cinco por cento,
com o intuito de identificar profissionais que trabalham nos arquivos dessas
instituições. O instrumento de pesquisa, aplicado junto ao montante de dezessete
órgãos dentre os quais estão seis secretarias, duas autarquias, duas empresas
públicas, duas fundações públicas, um conselho, uma instituição do poder executivo,
uma instituição do poder legislativo e uma instituição do poder judiciário do governo
do Estado do Amazonas, se constituiu de um questionário estruturado com questões
abertas e fechada aplicada aos responsáveis pelos arquivos desses. Os resultados
obtidos demonstraram uma deficiência pertinente a todo processo da gestão
documental que compreende a produção, utilização e destinação. O resultado desta
pesquisa poderá concorrer para a melhoria qualitativa dos arquivos públicos no
Estado do Amazonas, pois evidencia a necessidade de profissionais especializados
para atuarem nos arquivos das instituições cujos documentos se encontram
dispersos acarretando em perda da memória, tão valiosa para os órgãos bem como
para a sociedade.
Palavras-chave: Formação profissional. Arquivo público. Mercado de trabalho.
Arquivista.
1 INTRODUÇÃO
6
Este trabalho é oriundo da Pesquisa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC-
SA/0139/2012) do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Ciência da Informação (NEPCI), Universidade Federal do
Amazonas (UFAM). Pesquisa realizada no período de setembro/2012 a julho/2013, tendo como Autora Greceane
do Nascimento dos Santos, Orientadora Célia Regina Simonetti Barbalho, Colaboradores Bruno Trece e
Rosinilda Damasceno dos Santos Filha.
7
Graduanda em Arquivologia na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). greceanenascimento@gmail.com
8
Doutora em Comunicação e Semiótica pela Universidade Católica (PUC). celia.simonetti@gmail.com
9
Bacharel em Arquivologia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). rosilda.damasceno@hotmail.com
28. 28
A criação da Lei 8.159, em janeiro de 1991, conhecida como Lei de Arquivos,
foi um avanço no reconhecimento do valor que estes órgãos possuem no contexto
da Administração Pública considerando que seu artigo 1° aponta que é dever do
Poder Públicas a gestão documental e a proteção especial a documentos de
arquivos, como instrumento de apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento
científico e como elementos de prova e informação. Entretanto ainda hoje é possível
encontrar instituições públicas que não possuem o cargo de arquivista em seu
quadro de servidores, e o procedimento da organização da documentação é
realizado por profissional não habilitado.
Desta forma, para entender quem ocupa o lugar nos arquivos públicos e a
expectativa da sua presença, esta pesquisa busca levantar nas instituições públicas
estaduais como se constituem os órgãos de arquivo, com o intuito de descrever essa
realidade de modo a compreender a atual dinâmica do mercado de trabalho em
Manaus.
Os objetivos da pesquisa foram compostos de forma a conhecer a demanda
por profissionais formados de nível superior para o segmento dos arquivos na cidade
de Manaus; identificar o nível e formação dos recursos humanos que atuam nos
arquivos públicos na cidade de Manaus; levantar as deficiências dos recursos
humanos que atuam nos arquivos públicos da cidade de Manaus; e examinar as
expectativas dos arquivos públicos quanto ao emprego de mão de obra
especializada.
Ao investigar a importância deste profissional para promover a dinâmica
esperada dos arquivos públicos bem, como a demanda por profissionais Arquivistas
com foco na atuação no setor público estadual na cidade de Manaus, a pesquisa
procurou contribuir para melhoria qualitativa dos arquivos públicos no Estado do
Amazonas.
Para atender ao disposto, o artigo está composto de um referencia teórico
que discute as questões inerentes a Arquivologia no Brasil, o documento e o ciclo
documental e a sua relação com o Arquivista e o papel destes órgãos na esfera
pública. Apresenta ainda o percurso metodológico composto para atender ao
objetivo bem como os resultados obtidos com os dados coletados via questionários
aplicados aos sujeitos integrantes da pesquisa.
29. 29
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A ARQUIVOLOGIA NO BRASIL
A Arquivística no Brasil experimentou um impulso a partir da década de 70.
Nesse período tiveram lugar três fatores; a criação dos cursos de graduação, que
ocorreu a partir de 1974, a composição dos coletivos profissionais e a
regulamentação da profissão de Arquivista e de Técnico de Arquivo, em 1978. A
partir dos anos 80, no marco da modernização do Arquivo Nacional, foram
estabelecidos novos procedimentos para os arquivos estatais e municipais e
ampliadas às discussões sobre estas instituições em âmbito nacional.
A partir da evolução natural do modus operandis, as organizações passaram
a enfrentam problemas como volume de papéis produzidos e acumulados, fazendo-
se necessária à avaliação dos documentos com o apoio do arquivista, o qual
participa juntamente com outros profissionais na elaboração e na aplicação da
tabela de temporalidade, com o intuito de estabelecer prazos de guarda ou
eliminação dos documentos.
Segundo Fernandes (2003, p.3) a falta de profissionais habilitados para
atuarem nos arquivos das instituições públicas, que se encontram em desordem,
acarreta na perda de documentação valiosa para o bom direcionamento e realização
das atividades rotineiras da administração.
A arquivologia busca formar profissionais capacitados e com habilidades, para
atuarem na recuperação e acesso à informação contidas nos documentos
arquivístico, que no futuro serão a memória histórica da sociedade, tomando por
base o seu ciclo de vida.
2.2 DOCUMENTO E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS
O documento está relacionado ao suporte onde contém um registro,
independentemente de qual seja este suporte. O documento de arquivo é o
documento criado no decorrer das atividades para determinados fins, em uma
organização para está servindo a mesma com as informações nele contidas.
30. 30
Segundo Paes (2008) a principal finalidade dos arquivos é servir à
administração, constituindo-se, com o decorrer do tempo, de base para o
conhecimento da história. Sua função básica é tornar disponível a informação
contida no acervo documental sob sua guarda.
As informações contidas nos documentos são indispensáveis para a tomada
de decisões em organizações públicas e privadas. Segundo Bellotto (2002):
Os documentos têm, ademais, seus elementos de utilização: o uso primário
e o uso secundário. O uso primário será dispositivo, comprobatório,
testemunhal, segundo as razões de criação do documento. O uso
secundário é sempre informativo, nas modalidades requisitadas pela
pesquisa (BELLOTTO, 2002, p.24).
As afirmações da autora apontam para a compreensão do documento de uso
primário como aquele que está sendo sempre utilizado pela administração, fazendo
parte do arquivo corrente. O documento de uso secundário encontra-se no arquivo
intermediário ou até mesmo no arquivo permanente para consultas e pesquisas.
Os documentos também possuem um ciclo de vida, conforme sua evolução e
utilização.
A abordagem das três idades demonstra as etapas de utilização pelo qual o
documento passa. Que segundo Paes (2004) seriam estes os estágios de evolução,
seria o arquivo de primeira idade ou corrente, arquivo de segunda idade ou
intermediário e o arquivo de terceira idade ou permanente.
O arquivo de primeira idade ou corrente é constituído de documentos que são
consultados com frequência pela administração. O arquivo de segunda idade ou
intermediário, formado por documentos que estão perdendo a frequência de uso,
mas ainda podem ser solicitados. O arquivo de terceira idade ou permanente,
constituído de documentos que perderam o seu valor administrativo e agora
possuem valor histórico, podendo ser utilizados para pesquisa.
É matéria de estudo dos Arquivistas o conhecimento de alguns princípios
fundamentais da Arquivística, princípio da proveniência, indivisibilidade ou
integridade, territorialidade, unicidade, organicidade e cumulatividade.
Os princípios arquivísticos, são importantes para promover uma eficaz gestão
de documentos, pois eles contribuem de forma significativa, sendo empregados em
todas as fases do ciclo vital dos documentos, pois viabilizam o uso futuro de
arquivos permanentes. Segundo Bellotto (2006) os arquivos permanentes não se
constroem por acaso “[...] pois a história se faz com uma infinidade de papéis
31. 31
cotidianos, inclusive com os do dia-dia administrativo, além de fontes, não
governamentais”.
O profissional Arquivista possui competência para gerenciar documentos e
informações, pois além de conhecer os princípios arquivisticos, possui habilidades
adquiridas ao longo de sua formação.
2.3 PROFISSIONAL ARQUIVISTA
O ingresso dos arquivistas no mundo do trabalho ocorre com frequência, por
meio de concurso público, contrato temporário, contrato por tempo indeterminado e
processo seletivo. (SOUZA, 2011, p. 178).
A incorporação à prática profissional no mundo do trabalho dos arquivistas
tem vários requisitos, dos quais se considera o principal a titulação, o qual resulta do
disposto na lei que reconhece a profissão, promulgada em 1978, em particular em
seu Capítulo 2°, dedicada aos arquivistas (SOUZA, 2011, p. 179). No Brasil, a
Classificação Brasileira de Ocupação (CBO) do Ministério do Trabalho assinala
como espaços de trabalho para Arquivistas:
Museus públicos ou particulares, em arquivos oficiais dos estados,
municípios ou universidades, em centros de documentação vinculados a
empresas ou instituições s públicas ou privadas, no ensino etc.
Desenvolvem suas atividades em equipes com supervisão ocasional, como
empregados registrados ou como autônomos. Em algumas atividades,
alguns profissionais podem estar sujeitos aos efeitos da exposição a
materiais tóxicos e a micro organismos. (SOUZA, 2011, p. 176).
A ausência de um conselho profissional obriga os arquivistas a efetuem seu
registro no Ministério do Trabalho e Emprego, de acordo com o Decreto n° 93.480 de
29 de outubro de 1986, o qual que estabelece:
Art. 1°- Para efeitos de reclassificação e de ingresso nas categorias
funcionais de Arquivologia e de Técnico de Arquivo do Grupo – Arquivo do
Serviço Civil do poder Executivo, se exigirá o registro profissional previsto
no artigo 4° da Lei n° 6.546 de julho de 1978. (SOUZA. 2011, p. 167).
O profissional Arquivista, após concluir sua formação em nível superior, deve
fazer o seu registro como profissional no Ministério do Trabalho do Emprego, para
poder está apto a desenvolve suas atividades aonde for admitido.
32. 32
Para identificar o nível de aceitabilidade e visibilidade dos Arquivistas no
mundo do trabalho, como profissional da informação, o Decreto n°82.590, de 6 de
novembro de 1978, relaciona dentre suas atribuições profissionais: “[...]
planejamento, orientação e acompanhamento do processo documental e
informativo” (BRASIL, 1978).
De acordo com a descrição do cargo conforme o Ministério do Trabalho é
possível afirmar que o trabalho do Arquivista tem por objetivo organizar
documentação de arquivos institucionais e pessoais; criar projetos de museus e
exposições; organizar acervos; dar acesso à informação; conservar acervos;
preparar ações educativas e culturais; planejar e realizar atividades técnico-
administrativas; orientar implantação de atividades técnicas além de assessorar nas
atividades de ensino, pesquisa e extensão quando da atuação em ambientes de
instituições de ensino superior.
Com a evolução dos suportes de informação integrando às atuais tecnologias
de comunicação, observa-se a melhoria contínua dos processos, produtividade,
acesso e disponibilização de conhecimento e informações. O arquivista deverá está
apto a manusear as novas tecnologias com habilidades para usá-las em sua
atuação, pois:
O arquivista hoje não pode esquecer que vive e atua profissionalmente na
chamada “era da informação”, na qual, as tecnologias da informação e da
comunicação têm presença marcante. Os novos suportes documentais, com
os quais terá de lidar, exigem conhecimento, competência, métodos e meios
de produção, utilização e conservação física especiais. São fatores novos
os quais os arquivistas passam agora a serem instruídos e treinados, não
obstante concorrem o risco de, em virtude de um vertiginoso crescimento
das possibilidades da eletrônica nas áreas documentais, nunca
conseguiram abarcar a plenitude destes conhecimentos tão mutantes e
dependentes de equipamentos tão rapidamente tornados obsoletos.
(BELLOTO, 2004, p.299).
O Arquivista executa funções relacionadas à gestão de documentos e tem
papel fundamental para que cada uma delas seja executada de modo satisfatório
para a organização.
Cabe a este profissional acompanhar cada processo pelo qual passa o
documento, desempenhando, conforme Santos (2009, p.179-181), as seguintes
funções: criação ou produção, avaliação, aquisição, conservação ou preservação,
classificação, descrição e difusão. Tais funções serão basilares para fomentar o uso
da informação na administração pública.
33. 33
2.4 O PAPEL DA INFORMAÇÃO PARA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
No mundo globalizado, é importante avaliar o fluxo das informações
recebidas, a fim de que seja possível promover sua utilização eficaz no ambiente
organizacional. A busca e o uso da informação devem consistir em um processo
dinâmico, ordenado, capaz de suprir a necessidade existente, que venha resultar em
novas ações ou novos conhecimentos ao seu usuário. (DURIGAN, 2010).
Para Moreno (2007, p. 13), são fundamentais para o sucesso do processo de
tomada de decisão a agilidade e a confiabilidade das informações, portanto “[...] a
informação deve estar disponível quando necessária, deve ser confiável,
apresentada de modo seguro e de forma que o decisor consiga interpretá-la
facilmente”.
A Administração Pública pode ser definida considerando-se os modos: formal,
matéria e operacional. Pelo modo formal, entende-se o conjunto de órgãos
instituídos para a consecução dos objetivos do Governo. No sentido material, é o
conjunto das funções necessárias dos serviços públicos em geral. Em acepção
operacional, é o conjunto de desempenho perene sistemático, legal e técnico, dos
serviços próprios do Estado ou por eles assumidos em benefícios da coletividade
(MEIRELLES, 1992). Em todos os modos o uso da informação para tomada de
decisão é essencial para promover a eficácia da gestão pública.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa, cujo objetivo é analisar a demanda por profissionais que
atuam nos arquivos das instituições públicas na cidade de Manaus, no Amazonas,
se apropriou enquanto técnicas de pesquisa, da aplicação de um questionário com
questões abertas e fechadas.
Considerando seus objetivos a pesquisa foi de natureza quantitativa e
exploratória.
34. 34
O universo da pesquisa foi composto por 59 (cinquenta e nove) órgãos
distribuídos na esfera pública estadual. Este levantamento foi realizado por meio da
consulta as instituições públicas listadas no Portal do Governo do Estado do
Amazonas em 13 de janeiro de 2013, o que aponta a dimensão dos órgãos públicos
estaduais existentes na cidade de Manaus. Este total possui, segundo o Portal duas
divisões, a saber, órgãos e entidades, além de instituições, cada uma subdividida
conforme exposto no Quadro 1.
Quadro 1 – Universo da Pesquisa
FONTE: Baseado em dados disponíveis em: www.amazonas.am.gov.br, acesso em: 13.01.2013
A amostra da pesquisa foi composta por 25% das instituições que
constituem o universo exposto no Quadro 1.
Dentro de cada uma das divisões apresentadas no Quadro 1 foram
selecionadas 25% das instituições, a partir do critério de possuir um servidor
responsável pela divisão. Este processo de amostragem foi realizado
35. 35
aleatoriamente, sendo selecionadas dezessete instituições, das quais doze
participaram da pesquisa.
Foram aplicados questionários aos responsáveis pelo órgão de arquivo das
instituições públicas, sujeitos da pesquisa, tomando por base a necessidade de
conhecimento sobre o processo de arquivamento executado na instituição.
Para obter coleta de dados foi aplicado um questionário, composto de
questões abertas e fechadas (ANEXO 1), na presença da pesquisadora.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os dados apresentados são relacionados as instituições públicas estaduais
da cidade de Manaus, levantados por meio do exame da atuação dos responsáveis
pelo setor de arquivo, e principalmente as funções pertinentes ao profissional
Arquivista.
Gráfico 1 – Grau de instrução dos entrevistados
25%
50%
25%
main-title
FUNDAMENTAL
MÉDIO
SUPERIOR
PÓS-GRADUAÇÃO
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 1 demonstra o grau de instrução dos entrevistados, responsáveis
pelo setor de arquivo na administração pública estadual. Do total de 12 (doze)
sujeitos, 3 (três) possuem grau de instrução referente ao nível médio, 3 (três) ao
nível de pós-graduação; e 6 (seis) profissionais com nível superior.
36. 36
Gráfico 2 – Faixa etária dos entrevistados
8%
50%
42%
18 À 30 ANOS
30 À 45ANOS
ACIMA DE 45 ANOS
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 2 corresponde a faixa etária da mão de obra dos entrevistados,
sendo 6 (seis) na faixa de 30 à 45 anos, 5 (cinco) sujeitos na faixa de idades acima
de 45 anos existem e apenas um responsável pelo arquivo que possui menos de 30
anos.
Gráfico 3 – Existência de um setor de arquivo
92%
8%
SIM
NÃO
TERCEIRIZADO
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 3 aponta que 92% das instituições possuem setor de arquivo,
sendo que na Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS) este
serviço prestado é terceirizado.
Gráfico 4 - Qual é a forma de arquivamento dos documentos
37. 37
58%
42% CENTRALIZADA
DESCENTRALIZADA
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 4 destaca a forma de arquivamento dos documentos, que pode ser
centralizada, é realidade em 7 (sete) instituições pesquisadas; e/ou descentralizada
existente 5 (cinco) instituições que possuem esta forma de arquivamento.
A compreensão dos sujeitos sobre a importância da contribuição do serviço
de arquivo para tomada de decisões administrativas da instituição é em sua
totalidade, pois eles consideram a existência do arquivo é relevante para o processo
de tomada de decisão. Isso implica em afirmar que estes sujeitos percebem a
importância do órgão para o desempenho organizacional.
Gráfico 5 – Profissionais qualificados para organizar a documentação arquivística na
instituição
42%
58%
SIM
NÃO
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 5 aponta os resultados sobre a existência de profissionais
qualificados para a organização documental arquivística, 50% (cinquenta e oito por
cento) dos entrevistados não se sentem qualificados para desempenhar a função. A
observação pode ser entendida pelo fato que, apesar da existência de setores de
arquivos nas instituições há o desconhecimento por parte dos funcionários
responsáveis sobre a finalidade do mesmo.
38. 38
Diante tal fato, é possível inferir que os gestores destes arquivos, não
possuem habilidades e conhecimento sobre gestão documental e não se acham
qualificados para assumirem tais funções.
Gráfico 6 – Capacitação para a função
42%
58%
SIM
NÃO
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 6 corresponde existência de treinamento específico para o
desempenho da função. 58% (cinquenta e oito por cento) dos entrevistados não se
qualificam, muito menos passam por treinamentos específicos para desempenhar a
função, o que permite inferir que há um despreparo por parte dos funcionários
responsáveis pelo setor para lidar com o processo de gestão documental.
Gráfico 7 – Frequência da solicitação de informações
83%
17%
DIÁRIA
A CADA 2DIAS
A CADA 5DIAS
A CADA 15DIAS
ACADA 30DIAS
NÃO LEMBRA
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 7 destaca a frequência com que são solicitadas informações
contidas nos documentos sendo que na maioria das instituições tal demanda é
diária, o que implica na necessidade de nomear profissionais habilitados para lidar
com a organização e atendimento. O 17% responderam que as informações são
solicitadas a cada 15 dias.
39. 39
Gráfico 8 – Disponibilização de informação
73%
27%
SIM
NÃO
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 8 destaca que a disponibilidade de informação ocorre em 73%
(setenta e três por cento) dos arquivos, ou seja, na metade das instituições as
informações são fornecidas sob demanda e nos outros 27% não, o que ressalta a
ineficácia de órgãos.
Gráfico 9 – Dificuldade para obter a informação
33%
67%
SIM
NÃO
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 9 revela a dificuldade na obtenção de informação no arquivo por
parte do responsável 67% (sessenta e sete por cento) dos entrevistados, não
apresentam dificuldades para a obtenção das informações, e 33% (trinta e três por
cento) de alguma forma não atende satisfatoriamente a instituição, o que pode gerar
uma dificuldade na tomada de decisões.
Gráfico 10 – Existência gestão documental
40. 40
55%
45%
SIM
NÃO
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 10 destaca que 55% das instituições possuem uma política de
gestão documental. Ademais, Alguns dos entrevistados não responderam por
desconhecimento do que seja a gestão documental, e 45% (quarenta e cinco por
cento) dos entrevistados responderam que a instituição não apresenta nenhuma
forma de gestão documental, fato este que evidencia a precariedade no trato do
acervo existente nas instituições.
Gráfico 11 – Atendimento satisfatoriamente as exigências da Lei de Acesso à
Informação
64%
36% SIM
NÃO
Fonte: elaborado pelos autores
O Gráfico 11 ressalta o atendimento satisfatório as exigências da lei de
acesso a informação, sendo que apenas 64% (sessenta e quatro por cento) dos
entrevistados, afirmam que atendem a lei de acesso a informação em sua
instituição, alguns dos entrevistados não responderam, e 36% (trinta e seis por
cento) responderam que a instituição não atende as exigências da lei de acesso à
informação, outros desconhecem o que seria a Lei de acesso à informação.
Pelo exposto por meio dos dados coletados, observa-se que há uma
demanda a ser atendida pelos órgãos públicos existentes na cidade de Manaus e
41. 41
que integraram esta pesquisa, quanto ao tratamento adequado para promover a
organização e acesso à documentação por eles produzida.
A inexistência de pessoal qualificado compromete a oferta do serviço bem
como a preservação da memória reunida nos documentos custodiados pelos
arquivos existentes.
5 CONCLUSÕES
O principal recurso para o bom funcionamento de um serviços arquivísticos é
a capacidade instalada por meio das competências daqueles que nele atuam, pois
ter recursos econômicos, tecnológicos e ainda normativos favorece a boa prática da
gestão dos arquivos. As pessoas com desconhecimento dos fundamentos e os
procedimentos arquivísticos, não atuarão como um agente para o desenvolvimento
do bom funcionamento do serviço.
É fato que a instrução teórica somente, senão que por ser a arquivologia uma
disciplina eminentemente prática, demanda pela necessidade de um
desenvolvimento hábil trabalho empírico sobre documentos ao longo de toda
formação do arquivista para que esta seja plena. Trabalho empírico, que muitas
vezes os gestores dos arquivos sem formação profissional tem realizado com
alguma habilidade, não retrata a melhor técnica de manejar o repositório. (CASAS
DE BARRÁN, 1996, p.183). O papel do arquivista é relevante para a sociedade, pois
ele é o profissional que trabalha com diversas questões como destacado no
referencial teórico, o qual pode representar uma multiplicidade de competências e
habilidades complexas dentro de um ambiente de repartição pública ou privada.
Pode-se aferir, como resultado desta pesquisa, a qual objetivou conhecer a
demanda por profissionais formados de nível superior para o segmento dos
arquivos, que a qualificação dos servidores envolvidos e diretamente ligados a
atividade do arquivo promove o eficaz acesso de informações pertinente ao acervo
documental institucional, e sua ausência prejudica em demasia os procedimentos
em relação a gestão documental, especialmente sobre a questão da produção,
utilização e destinação.
É evidente, pelos dados levantados, que há um grande desconhecimento em
relação aos procedimentos, principalmente na questão da classificação e eliminação
42. 42
dos documentos, pois arquivo público não pode ser constituído de preciosidades
colecionadas, reunidas sem organicidade e sem formar grupos significativos de
fundos como afirma Belloto (2006, p. 27).
A pesquisa, ao realizar os objetivos propostos, dimensionou que há um amplo
mercado de trabalho a ser ocupado por profissionais formados em nível superior, os
quais no exercício de suas funções deverão promover o amplo acesso a informação
conduzindo ao pleno exercício da cidadania.
REFERÊNCIAS
BELLOTO, Heloísa Liberalli. Arquivística: objetos princípios e rumos. São Paulo:
Associação de Arquivistas de São Paulo, 2002. 41p.
_________________________. Arquivos permanentes: Tratamento documental. 2.
Ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. 320p.
______________________. Arquivos Permanentes: Tratamento Documental. 4.ª
ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 263 – 278.
BRASIL. Lei nº 6.546, de 4 de julho de 1978. Dispõe sobre a regulamentação das
profissões de Arquivista e de Técnico de Arquivo, e dá outras providências. D.O. [da
União]. Brasília, DF, 5 jul. 1978. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6546.htm>. Acesso em: 30
ago. 2014.
______. Lei nº 8.159, de 08 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de
arquivos públicos e privados e dá outras providências. D.O. [da União]. Brasília, DF,
9 jan. 1991. Seção 1, p. 455. Regulamentada pelo Decreto nº 4.073, de 03/01/2002.
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1991/lei-8159-8-janeiro-
1991-322180-normaatualizada-pl.html>. Acesso em: 30 ago. 2014.
______. Lei nº 12.257, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações
previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art.
216 da Constituição Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990;
revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8
de janeiro de 1991; e dá outras providências. D.O. [da União]. Brasília, DF, 18 nov.
2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 30 ago. 2014.
43. 43
CASAS DE BARRÁN, Alicia. Personal de archivos: formación professional integral.
En: nuestra palabra: textos archivísticos pan-americanos. Lima, IPGH, 1996, P.
183-190.
DURIGAN, Gisele Maral et. al. Competência Informacional no contexto da
Segurança pública.In
FERNANDES, Ângela. LIRA, Rísia, O arquivista e o mercado de trabalho.
Disponível em: <http://www.ascom.ufpa.br/links/outros/arquivista.pdf>. Acesso em:
10/01/2013.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 17. Ed. São Paulo:
Malheiros, 1992.
PAES, Marilena Leite. Arquivo: teoria e prática. 3 ed.Rio de Janeiro; FGV Editora,
2004. 228p.
PORTAL DO GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS. Instituições. Disponível
em: <http://www.amazonas.am.gov.br/>. Acesso em: 10/01/2013.
______. Órgãos e Entidades. Disponível em: <http://www.amazonas.am.gov.br/>.
Acesso em: 10/01/2013.
SOUZA, Katia Isabelli Melo de. Arquivista, visibilidade profissional: formação,
associativismo e mercado de trabalho. 1ª. ed. Brasília: Starprint, 2011. v. 1. 252p.
ANEXO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTO DE ARQUIVOLOGIA E BIBLIOTECONOMIA
CURSO DE ARQUIVOLOGIA
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA
NOME DO PROJETO: PIBIC – AS/ 0139/ 2012. MERCADO DE TRABALHO PARA
ARQUIVISTA: um estudo da demanda no setor público em Manaus.
1.IDENTIFICAÇÃO:
NOME DA ENTIDADE:
RAMO DE ATUAÇÃO:
CARGO DO(A) ENTREVISTADO(A):
INSTITUIÇÃO DO SETOR PÚBLICO:
2.QUAL O SEU GRAU DE INSTRUÇÃO?
( ) NÍVEL FUNDAMENTAL ( ) NÍVEL MÉDIO
( ) SUPERIOR ( ) PÓS-GRADUAÇÃO
3.QUAL SUA FAIXA ETÁRIA?
( ) 18 A 30 ANOS
( ) 30 A 45 ANOS
( ) ACIMA DE 45 ANOS
44. 44
4.EXISTE NA INSTITUIÇÃO UM SETOR DE ARQUIVO?
( ) SIM ( ) NÃO
5.SE, SIM. O SERVIÇO PRESTADO É TERCERIZADO?
( ) SIM ( ) NÃO
6.SE NÃO FOR TERCERIZADO, QUAL É A FORMA DE ARQUIVAMENTO
DOS DOCUMENTOS?
( ) CENTRALIZADA QUE É UM SÓ ARQUIVO PARA TODA EMPRESA.
( ) DESCENTRALIZADA QUE É UM ARQUIVO PARA CADA
DEPARTAMENTO/ SETOR.
7.VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTE A CONTRIBUIÇÃO DESSE SERVIÇO
DE ARQUIVO PARA A TOMADA DE DECISÕES ADMINISTRATIVAS DA
INSTITUIÇÃO?
( ) SIM ( ) NÃO
8.EXISTEM PROFISSIONAIS QUALIFICADOS PARA ORGANIZAR A
DOCUMENTAÇÃO ARQUIVÍSTICA NA INSTITUIÇÃO?
( ) SIM ( ) NÃO
9.OS FUNCIONÁRIOS PASSAM POR TREINAMENTO ESPECÍFICO PARA
DESEMPENHAR A FUNÇÃO?
( ) SIM ( ) NÃO
10.QUAL O TIPO DE TREINAMENTO É OFERECIDO A ESTES
PROFISSIONAIS?
______________________________________________________________
___________________________________________________QUAL A
FREQUÊNCIA DE INFORMAÇÕES CONTIDAS EM ALGUM DOMENTO DO
ARQUIVO?
( ) DIÁRIA
( ) A CADA 2 DIAS
( ) A CADA 5 DIAS
( ) A CADA 15 DIAS
( ) A CADA 30 DIAS
( ) NÃO LEMBRA
11. CONSEGUIU DISPONIBILIZAR A INFORMAÇÃO?
( ) SIM ( ) NÃO. COMO RESOLVEU A QUESTÃO?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
____
12. VOCÊ ENCONTROU DIFICULDADE PARA OBTER A INFORMAÇÃO?
( ) SIM ( ) NÃO
13.A INSTITUIÇÃO POSSUI GESTÃO DOCUMENTAL?
( ) SIM ( ) NÃO
14.A INSTITUÇÃO TEM ATENDIDO SATISFATORIAMENTE A AS
EXIGÊNCIAS DA LEI DE ACESSO A INFORMAÇÃO?
( ) SIM ( ) NÃO
Data:___/___/___
Assinatura do Entrevistado (a):__________________________________
Assinatura da Entrevistadora:_______________________
45. 45
CO-OCORRÊNCIA DE PALAVRAS-CHAVE NAS COMUNICAÇÕES
LIVRES DO V CNA: mapeamento do conhecimento
produzido em Arquivologia
Cristiano Bassetti de Leon10
Rita de Cássia Portela da Silva11
RESUMO
O presente trabalho apresenta uma análise cientométrica de coocorrência de
palavras-chave das comunicações livres nos anais do V Congresso Nacional de
Arquivologia, realizado em Salvador-BA no ano de 2012. Visa demonstrar a
configuração atual da construção de conhecimento em Arquivologia e seu
desenvolvimento. Para tanto, apresenta-se o cenário teórico de desenvolvimento da
pesquisa, situado no âmbito da comunicação científica. Faz-se comparação entre o
panorama vislumbrado nas palavras-chave e uma proposta de agenda de pesquisa
em Arquivologia. Vemos o quanto estão disseminadas as palavras gestão
documental, arquivologia, acesso, preservação, arquivos especializados, arquivo,
informação, difusão, memória, etc. nos trabalhos apresentados, lembrando que do
corpus de mais de 400 palavras, cerca de 20 se destacaram compondo mesmo um
retrato da pesquisa em Arquivologia e da disseminação do conhecimento
arquivístico.
PALAVRAS-CHAVE: Evento científico. Cientometria. Coocorrência de palavras-
chave.
RESUMEN:
El presente trabajo presenta un análisis cientométrica de co-ocurrencia de palabras
clave de las comunicaciones libres en los anales del V Congreso Nacional de
Archivologia, celebrado en Salvador-BA en el año 2012. Pretende demostrar la
configuración actual de la construcción del conocimiento en Archivologia y su
desarrollo. Con este fin, se presenta el escenario de desarrollo de investigación
teórica en el contexto de la comunicación científica. Se hace la comparación entre el
panorama previsto em las palabras clave y una propuesta de agenda de
investigación en Archivologia. Vemos cómo se difunden las palabras. gestión de
documentos, archivologia, preservación, acceso, archivos especializados, archivo,
información, difusión, memoria, etc. em los trabajos presentados, recordando que en
el corpus de más de 400 palabras, circa de 20 se han destacado compondo un
cuadro de la investigación en Archivologia y de la difusión del conocimiento
archivístico.
PALABRAS CLAVE: Evento científico. Cienciometría. Coocurrencia de palabras.
10
Acadêmico do Curso de Arquivologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
cristianoleon@gmail.com
11
Mestre em Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Professora Assistente da
Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
ritacps@gmail.com
46. 46
1 INTRODUÇÃO E CONTEXTO DO ESTUDO
Na primeira metade do séc. XX, dada a necessidade crescente de pessoal
capacitado para lidar com o volume de documentos criados a partir da instauração
da república, inicia-se no Arquivo Nacional a ministração de cursos de
aperfeiçoamento e capacitação de funcionários que trabalham com documentação.
Na Década de 1970, estes cursos foram ampliados através da Fundação Getúlio
Vargas e outras instituições (PAES, 2004, p. 43) culminando nos primeiros cursos de
graduação em Arquivologia no Brasil, em particular o da Universidade Federal de
Santa Maria - RS, em 1978, conforme Ohira (2005):
No Brasil, a formação de arquivistas encontrou sua gênese nos programas
de aperfeiçoamento do Arquivo Nacional, que tiveram inicio em 1911, se
consolidando de maneira regular e permanente somente a partir de 1958.
Em 1972, o Conselho Federal de Educação concedeu às Universidades
brasileiras o poder de organizar programas de graduação em Arquivologia,
possibilitando a criação de cursos de graduação a partir de 1977. (OHIRA,
2005)
Com um número crescente de profissionais em arquivos, surgiram os
primeiros congressos, reuniões para debater o fazer arquivístico e compartilhar
experiências. Neste sentido, ainda em 1972, entre 12 e 15 de outubro, foi realizado
na cidade do Rio de Janeiro o 1º Congresso Brasileiro de Arquivologia através da
recém-criada Associação dos Arquivistas Brasileiros - AAB, fundada em 20 de
outubro de 1971. Este congresso se repetiu em São Paulo dois anos depois e
manteve certa periodicidade sendo realizado com frequência desde 1972
principalmente no eixo Rio de Janeiro-São Paulo até o final dos anos 1980. Após
1986, foi realizado em Salvador - BA, Brasília - DF, uma vez em Santa Maria - RS e
uma vez em João Pessoa-PB. Sendo que o último evento foi novamente realizado
no Rio de Janeiro em 2012.
Em julho de 1998 a AAB dissolveu seus núcleos regionais deixando um vácuo
de representação profissional a ser preenchido. Desta forma, arquivistas de vários
estados se organizaram em associações regionais ou estaduais de arquivistas: A
Associação de Arquivistas do Rio Grande do Sul - AARGS, a Associação dos
Arquivistas de Goiás - AAG, a Associação dos Arquivistas de Brasília, entre outras.
Desta nova organização regionalizada de arquivistas e da necessidade de aproximar
o debate sobre sua área profissional dos Arquivistas, saindo do eixo sudeste, nasceu
47. 47
o Congresso Nacional de Arquivologia - CNA que se encontra atualmente em sua
sexta edição.
Ocorrido primeiramente em Brasília no ano de 2004, organizado e realizado
pela UNB - Universidade de Brasília, O I CNA reuniu Arquivistas, Bibliotecários,
Historiadores, Professores e alunos de graduação de todo o país. Foram 75
trabalhos apresentados ao redor de seu tema: "Os arquivos no século XXI: políticas
e práticas de acesso às informações".
Nos anos seguintes com periodicidade bianual, continuaram ocorrendo estes
encontros conforme a tabela 2, onde apresentamos os eventos com seus
respectivos temas:
QUADRO 1 : Edições do Congresso Nacional de Arquivologia
ANO CIDADE TEMA
2004 Brasília – DF Os arquivos no século XXI: políticas e práticas de
acesso às informações
2006 Porto Alegre - RS Os desafios do Arquivista na sociedade do
conhecimento
2008 Rio de Janeiro - RJ Arquivologia e suas múltiplas interfaces
2010 Vitória - ES A Gestão de Documentos Arquivísticos e o
Impacto das novas Tecnologias de Informação e
Comunicação
2012 Salvador - BA Arquivologia e internet: Conexões para o futuro
2014 Santa Maria - RS Arquivologia: sustentabilidade e inovação
Fonte: dados da pesquisa.
É possível verificar, baseado nos temas dos CNAs, uma evolução quase
cronológica em função dos avanços tecnológicos. As temáticas deixam transparecer,
em uma primeira vista, a preocupação, face ao acesso à informação, da relação
acesso x tecnologia. As implicações destas temáticas, apesar de não fazerem parte
deste trabalho, não podem ser ignoradas, pois refletem o fazer diário do arquivista e
demonstram o quão alinhado com as necessidades dos profissionais se encontra o
CNA.
Em 2006, a partir das moções do II CNA, foi fundada a ENARA - Executiva
Nacional das Associações Regionais de Arquivologia, como forma de se ter uma
estrutura de representatividade que aproximasse as associações regionais de
arquivistas, desde então, ela vem colaborando com a organização dos CNAS. Em
48. 48
outubro de 2014, em sua 6ª edição o CNA completará 10 anos e, conforme o texto
de apresentação do evento12
, acredita-se que será um congresso que continuará
construindo a integração profissional, incentivando e qualificando a pesquisa
científica em Arquivologia, focando na capacitação e qualificação profissional, bem
como no fortalecimento da Arquivologia no País.
Neste cenário, o CNA se configura como um evento de origem tanto científica
quanto acadêmica, pois embora mantido e organizado por entidades de classe, no
caso as Associações de Arquivistas, conta com a colaboração de universidades e
instituições de fomento à pesquisa, o que corrobora sua importância acadêmica. No
que se refere a submissão e apresentação das comunicações livres, os trabalhos
são avaliados por comissão científica, de acordo com os preceitos do sistema blind
peer review, que determina a análise das propostas com o devido sigilo da autoria
(pessoal ou institucional) dos participantes, como forma de assegurar a idoneidade
na seleção dos trabalhos.
Diante do exposto, o presente estudo visa mapear a construção de
conhecimento em Arquivologia, a partir da análise das comunicações livres do V
CNA. Acredita-se que a análise cientometrica, pautada pela co-ocorrência de
palavras-chave, proporcione subsídios para o mapeamento da produção de
conhecimento em Arquivologia no Brasil.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Comunicação Científica
Informação e conhecimento são palavras que trazem a tona significados tão
similares que em nosso uso diário se confundem, ou seja, quando questionadas
sobre seus significados, muitas vezes as pessoas empregam as mesmas definições
para ambas as palavras de modo que, no senso comum chegam a se equivaler. A
esse respeito é muito esclarecedora a afirmação de Malheiros (1998, p.23) ao dizer
que “[...] no discurso corrente, muitas vezes, informação e conhecimento se
equivalem, não havendo mesmo consenso entre especialistas, sobre onde termina
aquela e começa este.” Uma simples consulta a um dicionário pode demonstrar
como tal afirmação é presente e a palavra informação tem seu sentido ampliado com
12
Disponível em:<http://www.aargs.com.br/cna/> Acesso em abr. 2014.
49. 49
a adição dos significados de comunicação e de conhecimento. Vejamos como
exemplo o dicionário Michaelis13
, ele define informação como:
1 Ato ou efeito de informar. 2 Transmissão de notícias. 3 Comunicação. 4
Ação de informar-se. 5 Instrução, ensinamento. 6 Transmissão de
conhecimentos. 7 Indagação. 8 Opinião sobre o procedimento de alguém. 9
Parecer técnico dado por uma repartição ou funcionário. 10 Investigação. 11
Inquérito. (MICHAELIS, 2014, grifo nosso).
Da mesma forma, ainda segundo o dicionário Michaelis, Conhecimento é o
"ato ou efeito de conhecer; Faculdade de conhecer; Idéia, noção; informação,
notícia.[...]" (Op cit, grifo nosso) de modo que vemos amalgamados os conceitos de
informação, conhecimento e comunicação.
Comunicar, no strictu sensu da palavra, é o ato de transmitir informação e
portanto, de acordo com os conceitos anteriores, é fazer saber, dar conhecimento. O
processo comunicacional normalmente ocorre pelo menos entre dois sujeitos
comunicantes, um meio pelo qual se dará a comunicação e uma mensagem que se
quer comunicar. As formas ou meios pelos quais se procede a comunicação variam
muito, variaram muito ao longo da história e continuam evoluindo neste momento.
Nossos antepassados precisavam se comunicar para manter laços familiares,
de grupo, suas tradições e conhecimentos. Graças a nossa memoria, nosso
conhecimento se torna cumulativo, isso nos permite usar o que a geração anterior a
nossa aprendeu como base para evoluir em termos de informação, conhecimento,
organização, etc. Como prova disto, Sir Isaac Newton em carta a Robert Hooke
escerveu: "[…] Se vi mais longe foi por estar sobre os ombros de gigantes."14
fazendo referência aos pensadores que vieram antes dele e em cujos
conhecimentos ele se baseou.
Agora precisamos determinar o que é ciência e como se relaciona com o
conhecimento e com a comunicação para definirmos a comunicação científica,
retomando o dicionário Michaelis online, vemos que ciência é:
sf (lat scientia) 1 Ramo de conhecimento sistematizado como campo de
estudo ou observação e classificação dos fatos atinentes a um determinado
grupo de fenômenos e formulação das leis gerais que os regem. 2 Erudição,
instrução, literatura. 3 Soma dos conhecimentos práticos que servem a
13
Dicionário Michaelis, disponível em:< http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php? > Acesso
em abr. 2014.
14
"[…] If I have seen further it is by standing on ye
shoulders of Giants." "Newton to Hooke, 5 Feb. 1676;
Corres I, 416". Disponível em: <http://www.isaacnewton.org.uk/essays/Giants>. Acesso em Abril 2014.
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determinado fim. 4 Conhecimentos humanos considerados no seu todo,
segundo a sua natureza e progresso.
Kerlinger (1980, p. 1-2) nos diz que a ciência nasceu da necessidade de
padronizar o conhecimento para assim poder validá-lo, em suas palavras, "a ciência
se desenvolveu, em parte, pela necessidade de um método de conhecimento e
compreensão mais seguro e digno de confiança do que os métodos relativamente
desprovidos de controle geralmente usados". Por outro lado, Aguiar (1991) refere à
informação científica como:
[...] o conhecimento que constituiu, em um certo momento da evolução da
ciência, um acréscimo ao entendimento universal então existente sobre
algum fato ou fenômeno, tendo-se tornado disponível como resultado de
uma pesquisa científica, ou seja, de um trabalho de investigação conduzido
segundo o método científico (AGUIAR, 1991).
Daí a Comunicação Científica, resultante das práticas sociais de
pesquisadores no que se refere à publicação de suas descobertas, onde o que se
comunica deve ser validado pelos pares antes de ir a público. Desta forma, um
trabalho deve ter seus métodos e resultados analisados ou revistos por cientistas do
mesmo nível do autor antes de sua publicação (Revisão pelos pares ou peer
review). Todo trabalho publicado é analisado pelos pares, que podem sugerir
correções e melhorias para aprovação e publicação.
Esta forma de compartilhamento ou exposição de resultados entre cientistas
não é nova, segundo MEADOWS (1988, p. 5-7) ela remete ao século XVII onde,
inicialmente por meio de cartas, os pensadores da época consultavam amigos e
colegas sobre suas pesquisas e dúvidas, assim como compartilhavam
conhecimentos de modo informal. Mais tarde, organizados em sociedades científicas
na Inglaterra e na França, esses pensadores se tornaram responsáveis por
publicações que foram as precursoras dos periódicos científicos modernos. Essas
associações previam inicialmente a disseminação do conhecimento cientifico entre
os seus membros (França) e posteriormente entre qualquer um que tivesse
interesse (Inglaterra). Ponto interessante é a forma como foram constituídas essas
associações, pois enquanto na Inglaterra eram como clubes onde o associado
pagava uma taxa para publicar seus trabalhos, na França, os cientistas da Academie
Royale des Sciences tinham status de servidor público e recebiam proventos do
estado para realizar e publicar suas pesquisas.
51. 51
Na década de 1660, surgiram os primeiros periódicos dedicados à publicação
de trabalhos científicos, na França o Journal des Sçavants foi publicado pela
primeira vez em 5 de janeiro de 1665, alguns meses depois, na Inglaterra se iniciava
a publicação do Philosophical Transactions. Neste periódico, segundo MEADOWS
(1988, p. 6) consta em sua ata de criação a primeira orientação para que antes de
ser publicado, um texto teria de ser aprovado pelo conselho e revisto por alguns de
seus membros.
2.2 Canais de Comunicação Científica
Existem diversas formas de se publicar o conhecimento científico, através de
periódicos em papel ou eletrônicos, livros, boletins, informes, anais de congressos,
seminários, colóquios, palestras, relatórios, patentes, etc. Cada uma destas formas
de comunicação pode ser classificada em duas categorias relativas à sua natureza
editorial: literatura convencional (formal) e literatura cinzenta (informal), elas
compõem os canais de comunicações científicas formais e informais.
Por literatura convencional entende-se todo texto publicado que possui algum
vinculo com uma organização editorial comercial, em geral possui disponibilidade e
fácil acesso, apesar de seu conteúdo muitas vezes não ser tão atualizado devido à
característica morosa do processo editorial.
A literatura cinzenta representa o oposto da convencional, ela não possui
vinculo com empresas editoriais (salvo raros casos), apresenta dificuldade de
acesso, pois normalmente são produzidos pequenas quantidades de impressos ou
cd-roms distribuídos entre os participantes dos eventos que as geram. Normalmente
são o resultado da publicação de trabalhos acadêmicos em congressos, fóruns,
colóquios etc, que, dada a velocidade de produção, não possuem muito cuidado na
edição, podendo ocorrer de o nome de um trabalho no sumário ser diferente do
original, assim como se perderem dados dos textos, como nome dos autores,
palavras-chave etc.
Os textos apresentados em congressos, encontros e colóquios científicos e
posteriormente publicados na forma de anais permitem de que os autores possam
discutir diretamente com seus pares e, dessa forma, venham a aprimorar suas
pesquisas. Dada à velocidade em que estas publicações surgem e pelo fato de não
serem comercialmente vinculadas a editoras, não possuem grande disseminação,
ficando restritas aos participantes dos eventos.
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Mais recentemente, a partir dos anos 90 com o advento da internet, eles
deixaram de ser impressos e passaram a ser disponibilizados on-line nos sites dos
organizadores dos eventos além de cd-rom, o que denota a característica de
perenidade destas comunicações, pois nem sempre o site do evento esta acessível
ou o cd-rom manterá suas características de acesso intactas. Porém, como nos
informa Campello (2000), a apresentação de trabalhos em congressos permite uma
discussão e uma melhoria nos trabalhos e o progresso mais acentuado da pesquisa:
A apresentação de trabalhos em encontros constitui a oportunidade que o
pesquisador tem de ver seu trabalho avaliado pelos pares ou colegas, de
forma mais ampla, diferentemente do que ocorre, por exemplo, quando
submete um artigo a um periódico científico que é avaliado por uma
comissão editorial composta por um número restrito de membros e que,
normalmente, demora meses para completar o trabalho de julgamento. A
apresentação oral do trabalho no encontro tem a vantagem de possibilitar
que críticas e sugestões sejam feitas na hora, de forma a permitir uma
retroalimentação instantânea, podendo envolver vários pontos de vista
(CAMPELLO, 2000, p. 56).
O que permite uma grande vantagem em relação aos canais formais de
publicação em termos de capital intelectual. A autora afirma ainda que "a
possibilidade de se comunicar pessoalmente com seus pares é de fundamental
importância para o cientista, constituindo uma das maiores motivações para seu
comparecimento a eventos", e que seu contrário, ou seja, a não participação nestes
eventos pode causar sensação de isolamento e frustração (op cit).
2.3 Estudos métricos da informação científica
Como qualquer área de conhecimento, a ciência precisa ter uma noção do
que é produzido e ondem se encontram os tópicos mais importantes, quais são os
autores mais influentes ou quais publicações/autores são mais citados em relação a
outros. Esta necessidade de conhecer e quantificar as produções de conhecimento,
assim como o uso da informação em centros de documentação e bibliotecas, levou
ao desenvolvimento de métodos que tem por objetivo medir e quantificar a
informação científica, também conhecidos como técnicas bibliométricas: a
bibliometria, a bibliotecometria, a cientometria, a informetria, a patentometria e a
webmetria. Na tabela abaixo, mostramos um resumo das técnicas, suas finalidades
e objetos de estudos elaborada por Noronha & Maricato(2008) a partir de Macias-
Chapula(1998) e Sanz Casada(2006):