O documento discute o conceito de cross-docking, que é uma operação logística na qual produtos são recebidos e redirecionados para seus destinos finais sem armazenagem intermediária, de forma a acelerar o fluxo e reduzir custos. Ele explica os benefícios do cross-docking, como redução de custos e aumento da velocidade, e também possíveis desafios, como a necessidade de coordenação entre fornecedores e demanda.
1. CROSS-DOKING
INTRODUÇÃO
O atual ambiente de negócios exige operações logísticas mais rápidas e de menor
custo, capazes de suportar estratégias de marketing, gerenciar redes de fornecedores
e clientes, e viabilizar práticas como Just-In-time. O cross-docking é um conceito de
operação logística interessante como resposta a essas necessidades. Ele acelera o
fluxo de mercadorias, reduz os custos por condensar cargas e, idealmente, dispensa
armazenagem. Vejamos porquê. O fundamento básico do cross-docking é o
roteamento dos produtos que vêm dos fornecedores para os consumidores sem
estocagem. Para uma melhor compreensão do que se trata, vejamos o seguinte
exemplo. Vamos considerar a operação de uma rede de mini-mercados instalados em
postos de gasolina. Suponhamos que existem cinco tipos de produtos, cada um com
seu fornecedor exclusivo: bebidas, biscoitos, chocolates, revistas e cigarros. Também
consideremos que existam 20 lojas. Assim, cinco caminhões (um de cada fornecedor)
chegam ao armazém pelo lado chamado “entrada”. Vinte caminhões entram pelo lado
“saída”. Os produtos, à medida que são retirados dos caminhões dos fornecedores,
são encaminhados (roteados) para os veículos que levarão as mercadorias para as
lojas, na quantidade certa para cada cliente. Essa operação leva poucas horas e
dispensa qualquer estocagem. Analisemos o que aconteceu nesse exemplo. O fluxo
de mercadorias foi acelerado porque os fornecedores e clientes se “encontraram”
todos no mesmo lugar, e não houve grandes esperas ou armazenagens. O custo foi
reduzido porque tanto as cargas de entrada como de saída eram condensadas, tinham
uma única origem (respectivamente fábrica e CD) e um único destino
(respectivamente CD e loja). Tudo isso foi conseguido apesar de se trabalhar com
cinco fornecedores e 20 lojas. Ou seja, verificamos através de um exemplo como o
cross-docking pode oferecer respostas aos desafios logísticos que vimos no primeiro
parágrafo. Alguns problemas, no entanto, podem acontecer. Um deles é conseguir
toda essa coordenação para reunir cinco fornecedores sem grandes atrasos. Por outro
lado, gerenciar as informações de seleção, arrumação e roteamento dos produtos com
um mínimo de estocagem pode ser crítico. Esses são os principais problemas técnicos
a serem solucionados para implementação do cross-docking.
DEFINIÇÃO DE CROSS-DOCKING
Uma definição bastante simplista de cross-docking é:
“cross-docking é uma operação na qual os produtos são
roteados aos seus destinos tão logo são recebidos em um
armazém ou centro de distribuição”.
Uma outra definição, mais elaborada, é: “cross-docking é
um processo onde produtos são recebidos em uma
dependência, ocasionalmente junto com outros produtos
de mesmo destino, são enviados na primeira
2. oportunidade, sem uma armazenagem longa. Isso requer alto conhecimento dos
produtos de entrada, seus destinos, e um sistema para roteá-los apropriadamente aos
veículos de saída”.
Independente de qual frase seja adotada como definição, existem três pontos
essenciais para que uma operação seja chamada de cross-docking.
1. O tempo total de permanência da mercadoria nas dependências onde ocorre o
cross-docking deve ser levado ao mínimo. Alguns especialistas limitam o tempo
máximo para que se considere cross-docking como um dia; alguns prestadores de
serviços logísticos, por outro lado, não cobram taxas de estocagem se o produto
permanecer até três dias. O que se deve ter em mente é que o tempo de permanência
dos produtos é um fator crítico em um cross-docking.
2. Após o recebimento, o produto deve ser enviado diretamente ao veículo de saída ou
permanecer em uma área de picking, mas nunca pode ser estocado. Estoque foi
eliminado com o cross-docking.
3. É indispensável um sistema capaz de coordenar as trocas de produtos e
informação. É fundamental coordenação entre os diferentes participantes do cross-
docking, especialmente quanto aos tempos em que os veículos chegarão ao operador
de cross-docking.
Por último, chamaremos a empresa que de fato realiza o cross-docking, coordenando
e implementando as atividades de Operador de Cross-Docking (OCD).
BENEFÍCIOS E DESVANTAGENS DO CROSS-DOCKING
Para que o cross-docking seja possível e
atinja seus objetivos, alguns cuidados
devem ser tomados, principalmente
quanto à escolha dos produtos,
fornecedores, fluxos de informação e
produtos e das pessoas. Por exemplo,
produtos que requerem um mínimo de
manuseio, possuem alto custo de
estocagem (perecibilidade, custo de
oportunidade), possuem códigos de
barras que auxiliam o processo de roteamento e possuem um padrão de demanda
conhecido e de baixa variabilidade são ideais para serem distribuídos por cross-
docking.
Os fornecedores também devem ser escolhidos com cuidado. Os fornecedores ideais
são capazes de disponibilizar a quantidade pedida do produto no tempo exato. São
também capazes de configurar seus produtos de modo eficiente quanto ao manuseio e
possuem um bom canal de comunicação com o OCD. Observe que a configuração
física do produto é crítica para determinação da complexidade do cross-docking,
porque produtos rotulados, arrumados e de fácil manuseio são trabalhados mais
rapidamente e dispensam cuidados adicionais.
O fluxo de informações ideal sincroniza os parceiros da operação, coordena o fluxo de
materiais corretamente para suprir a demanda e, preferencialmente, dispensa papéis.
O cross-docking ideal possui uma rede de transporte, equipamentos e operações para
3. dar suporte ao fluxo de produtos do fornecedor ao consumidor. Deve prover, sempre
que necessário, embalagem, montagem de kits, ordenação e outros serviços.
Enfim, as pessoas que trabalham no cross-docking ideal reconhecem a importância da
movimentação dos produtos ao invés da sua estocagem. Sendo capazes de perceber
pontos fortes e fracos, atualizar-se tecnologicamente e coordenar fornecedores e
consumidores.
Portanto, o cross-docking é um processo complexo, cheio de detalhes, e que por isso
mesmo exige maturidade dos clientes e dos fornecedores, no sentido de saber
especificar suas necessidades reais e suas limitações.
Podemos então pensar nos principais benefícios e dificuldades do cross-docking. Os
principais benefícios econômicos vêm da economia de trabalho (em movimentação e
armazenagem), redução de custos em estocagem, redução das perdas em estoque e
dos custos de oportunidade. As principais dificuldades ocorrem porque muitas pessoas
não sabem operar cross-docking.
Benefícios do cross-docking:
• Aumenta velocidade do fluxo de produtos e circulação do estoque.
• Reduz custo de manuseio.
• Permite consolidação eficiente de produtos.
• Dá suporte às estratégias de Just-In-Time.
• Promove melhor utilização dos recursos.
• Reduz necessidade de espaço.
• Reduz danos aos produtos por causa do menor manuseio.
• Reduz furtos e compressão dos produtos.
• Reduz obsolescência (e problemas com prazo de validade) dos produtos.
• Acelera pagamento ao fornecedor, logo melhora parcerias.
• Diminui o uso de papéis associados ao processamento de estoque.
Desvantagens do Cross-docking:
• Dificuldade de determinação dos produtos candidatos.
• Requer sincronização dos fornecedores e demanda.
• Relações imperfeitas com fornecedores; pequena ou nenhuma credibilidade nos
fornecedores; relutância dos fornecedores.
• Sindicatos temem perda de empregos.
• Dependências inadequadas ou retornos sobre investimentos insuficientes para justificar a
compra, reforma ou construção de um CD apropriado.
• Sistemas de informação inadequados.
• Gerência nem sempre possui uma visão holística e orientada da cadeia de suprimentos.
• Medo de stock-out pela ausência de estoque de segurança.
REALIZAÇÃO DE UM CROSS-DOCKING
4. Vistos os benefícios e as dificuldades de operação de um Cross-Docking, deve-se pensar em
uma metodologia de projeto e operação de cross-docking. A tabela a seguir mostra os
principais passos de uma dessas metodologias, proposta pelo Warehouse Education and
Research Council.
Fase 1: Negociação
• Identificar produtos e fornecedores “candidatos” ‘a operação de Cross-Docking.
• Identificar pontos fortes e fracos no atual sistema: operação atual, instalações e
equipamentos, sistemas de informação, clientes e transportes.
• Desenvolver recomendações preliminares para eliminação de fraquezas e fortalecimento.
• Comunicar recomendações com fornecedores e negociar linhas gerais do Cross-Docking.
• Determinar requisitos da Fase 2: Planejamento e Design.
Fase 2: Planejamento e Design
• Design do Cross-Docking.
• Desenvolver análises econômicas das alternativas.
• Selecionar a alternativa mais apropriada.
Fase 3: Justificativa Econômica
• Criar modelos de custos integrados e determinar retorno sobre investimento.
• Criar modelos de custos dos produtos e determinar lucratividade.
• Determinar custos e economias projetados e nível de compartilhamento ao longo da
cadeia de suprimento.
Fase 4: Implementação
• Desenvolver um plano de implementação.
• Implementar um programa-piloto.
• Implementar um sistema amplo de cross-docking.
• Desenvolver procedimentos e padrões para monitoramento periódico e expansão do
programa.