SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 6
Baixar para ler offline
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos
contemporâneos.São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1992 ( principalmente
o capítulo VI – A época do funcionalismo).
A idéia de que a obra de arte apresente um bem de valor intrínseco, estranho ao
trabalho comum, permeia a maioria dos estudos sobre a arte. A obra do historiador e
pensador da arte Giulio Carlo Argan (1909-1992) refuta tal noção e parte de uma
premissa contrária: a de que a arte consista num modo de produção de valor entre
outros, portanto circunscrito historicamente, e de que assim constitua uma forma
paradigmática de trabalho.
História da Arte Italiana, de Argan, lançada pela Cosac & Naif, é uma obra
vasta e algo enciclopédica, em três volumes. Seu projeto é expressamente didático:
dirige-se aos estudantes do ensino público médio e universitário, da Itália, e os livros
também compreendem uma pequena coletânea, com textos de referência, de outros
autores, organizados por Bruno Contardi, colaborador de Argan.
Analogamente, o acervo de ilustrações é abundante, e tem qualidade –
inclusive na edição da Cosac & Naif – e portanto dispensa a consulta, pelo menos para o
básico, a outras fontes. Tudo isto torna a obra extremamente útil ao estudante. Mas o
seu interesse ultrapassa em muito o horizonte prático das obrigações escolares e
contribui efetivamente para a sua dignificação. Pois oferece uma história da arte muito
superior em termos de densidade de reflexão e de riqueza de dados à História da arte,
de E. H. Gombrich, que a Zahar publicou, e que, sem tirar aqui o mérito de sua fluência
e clareza, foi concebida originalmente para o curso secundário inglês. Ademais, para o
leitor brasileiro que já leu algo de Argan, o conjunto pode ensejar uma visão mais
sistemática acerca da obra vasta e complexa do autor.
Isto, no caso, é crucial, porque, diversamente da maior parte da historiografia
didática de raiz anglo-saxã a que se recorre, a obra de Argan, precisamente por não ser
de cunho empirista, pede uma aproximação ciente do raciocínio ambicioso e sistemático
do autor. Com efeito, a se considerar o ponto de vista pós-moderno, que, como se sabe,
gravita em torno da fragmentação e da recusa à historicidade – ou que, no dizer de
Robert Kurz, faz da incoerência virtude –, o autor italiano será o último de uma
linhagem de pensadores com a ambição de refletir sistematicamente.
Já foram publicados de Argan no Brasil: História da arte como história da
cidade (Martins Fontes, 1992); Arte moderna – do Iluminismo aos movimentos
contemporâneos (Companhia das Letras, 1993); Clássico Anticlássico – o
Renascimento de Brunelleschi a Brueghel (Companhia das Letras, 1999);Projeto e
destino (Ática, 2000). Há também uma ensaística notável e consistente, de autores
brasileiros que discutem o pensamento de Argan (1).
Na obra presente, porém, se distingue mais facilmente o fio do pensamento do
autor. Apesar do que o título sugere, a obra não se prende ao meio italiano. O título e a
destinação ensejaram a Argan uma estratégia: dirigir-se a um público jovem e amplo,
sujeito a uma educação de massa e a uma indústria cultural, já pautadas pela irreflexão e
pela recusa do juízo histórico.
Se o estudante italiano é o primeiro interlocutor circunstancial, o móvel é levá-
lo a se situar num ponto de vista histórico, dialético e materialista, extensivo a uma
escala bem maior de interlocutores. Em síntese, o propósito do autor foi o de fazer uma
história reflexiva – da arte ocidental, por certo-, que vem desaguar e nutrir os debates
sobre a arte moderna.
Nesse sentido, o pretexto serve, porque a arte italiana, mais do que nenhuma
outra, esteve ao longo de muitos séculos no centro dos acontecimentos da história da
arte. O tema propicia, pois, um raciocínio sobre o desenvolvimento histórico das várias
práticas e experiências denominadas de “arte”, que, no caso desta obra, abrange da pré-
história e, a seguir, da arte minóica, de Creta, a um breve capítulo sobre o romantismo e
o futurismo italianos.
A brevidade se explica; é que os três volumes em questão se ligam
argumentativamente a um quarto, Arte Moderna, publicado originalmente, em 1970, ou
seja, logo após os três em questão. E a mudança do título, apesar dos elos de ligação,
também é explicável; não cabia aqui persistir sob a mesma denominação, uma vez que
com o advento da arte moderna as linhas mestras desta independem do campo italiano,
reduzido na modernidade a uma posição periférica.
De fato, a arte moderna, para Argan, se engendrou a partir do Iluminismo e em
estreita conexão, mesmo se antitética, com a Revolução Industrial. Assim, com a
industrialização tardia da Itália se somando ao peso de sua tradição de excelência
artesanal e do individualismo autoral correlato, a arte italiana não dispôs da condição
básica da nova arte e caiu fora da nova dinâmica produtiva. Com efeito, a lógica e a
energia das transformações da arte moderna passavam a decorrer de uma confrontação
ou tensão estabelecida com o sistema geral da produção, dado pela superação do modo
de trabalho artesanal e pela produção em larga escala.
O leitor poderá notar que a perspectiva moderna de Argan se delineia a partir
da consciência de um descentramento. Falará isso algo ao leitor brasileiro? Decerto, a
excentricidade italiana, frente à dinâmica da arte moderna, comporta a valorização da
excelência artesanal, conforme dito acima. Já, no Brasil, o descentramento frente a arte
moderna é de outro teor e comporta, na sua bagagem, a desvalorização escravocrata do
trabalho artesanal.
Não obstante essas diferenças opostas ou em simetria, acha-se, entretanto,
alguma tangência hodierna entre tais descentramentos? O certo é que o interesse por
Argan no Brasil é de fato bem maior do que em países mais próximos da Itália e nos
quais a história da arte está bem arraigada, em outras bases teóricas – talvez, menos
consistentes e sistemáticas-, como é o caso da França, da Inglaterra, sem falar nos EUA.
Sem opinar nessa discussão, que não cabe aqui, há um dado, no quadro
brasileiro de caos e carência bibliográfica, que pode atuar para a compreensão no país
da obra de Argan como surpreendente “vantagem comparativa” em relação ao ambiente
intelectual dos países centrais. O dado, no caso, é que o autor enciclopédico e o
especialista no patrimônio histórico italiano foi introduzido no Brasil como o
observador da arte e da arquitetura modernas. Isso pode ter um efeito catalisador para a
compreensão das premissas de Argan. O viés moderno ou o foco na atualidade constitui
o prisma de Argan, segundo um partido filosófico que, além de já se delinear no Kant
que se mostra interpelado pela Revolução Francesa e pelo destino do Iluminismo,
explicita-se com o Hegel que prioriza a tarefa filosófica de investigar o presente.
Assim, o travelling, o modo de prospecção adotado por Argan deriva
estruturalmente da experiência formadora da arte moderna. A urgência crítica de julgar
a hora, que estrutura, além das suas sínteses, também a sua dicção e os seus pólos de
interlocução, como os estudantes, o distingue dentre os demais historiadores e o leva a
equiparar a história e a crítica de arte.
Fundar-se no saber da arte moderna não é um ponto de gosto pessoal. Esse
partido está diretamente ligado à escolha filosófica de Argan, de tomar a arte como
modo paradigmático de trabalho, e este, por sua vez, como base da consciência,
seguindo a Fenomenologia do Espírito, de Hegel, e também a obra de Marx. Nesse
sentido, a arte moderna foi, dentre todas as demais modalidades artísticas históricas,
aquela que se concebeu fundamental e completamente como trabalho, totalizando-se
reflexivamente como tal. Assim, ela tornou uma lei a explicitação de sua própria
produção, mostrando os insumos, a ordem da produção e criticando o seu próprio valor.
Desse modo, Argan não só concebe a arte como uma entre outras formas de produção
de valor, mas como “liberação do trabalho de suas negatividades sociais” (Occasioni di
critica).
Logo, é a partir da arte moderna, posta como negação frontal da alienação que
rege o trabalho assalariado no sistema geral da produção, que Argan analisa as
formações passadas. O juízo de determinação histórico lhe permite, por um lado, situar
a experiência artística entre outros modos de produção e apropriação do valor, próprios
à época.
Julgada historicamente, a arte figurativa ou mimética do período clássico grego
(séc. 5 a.C.) surge não como algo intemporal, mas como a resultante de uma mescla de
consciência e idealização, a forma cognitiva da sua atualidade, um mergulho na
premissa de então, de unidade essencial entre a Physis (Natureza) e o Logos, como
princípio da consciência. Analogamente, a arte dos mosaicos cristão-imperiais de
Ravena é correlacionada ao princípio do neoplatonismo plotiniano de negar a
especificidade da matéria para transubstanciá-la em luz.
Neste modo de julgar, como noutro, marcadamente sintético e reflexivo, vale o
que foi formulado por Walter Benjamin no Trabalho das Passagens (nº 2, 6):
“Descobrir, na análise do pequeno momento particular, o cristal do acontecimento
total”. Assim, o prisma da arte moderna, como trabalho, leva-o a ver em cada
experiência o que jaz armazenado como trato próprio e específico da matéria
transformada, como trabalho concentrado no intento material da experiência
configurada a partir do indicativo preciso e urgente do agir.
Logo, o trabalho como organização e esforço que em cada contexto prefigura a
experiência segundo um projeto de futuro, mas que, no calor da ação, resta sujeito ao
regime de valor da época, desponta decantado pela análise. Assim, o trabalho,
beneficiado pela análise moderna que o confronta à historicidade do valor, é redimido.
Ou seja, liberado das cadeias de antes, desperta para vir alimentar a experiência presente
e atual da arte, mesmo no caso do objeto antigo, que, como evidência de trabalho,
subsiste e apresenta um novo valor resultante da síntese atualizadora.
Desse modo, ao mesmo tempo em que toda experiência artística histórica, sob
o prisma da arte moderna, surge como trabalho e, logo, como transformação intencional
do seu presente, as raízes da experiência moderna, em contrapartida, se aprofundam e se
redefinem, porquanto afloram os seus elementos constitutivos passados, extraídos pelo
juízo que diferencia e pela reflexão que os atualiza e totaliza dialeticamente.
Nesse sentido, por exemplo, a arte medieval românica é desdobrada como
reafirmação da obra de Deus, revelada também pelo trabalho humano. Por sua vez, o
processo de glorificar a Deus via o ato do trabalho serve ao homem novo, do burgo,
para se liberar da servidão ancestral ao castelo, auto-afirmar-se como produtor de bens e
do próprio presente e faz da catedral a obra máxima da arte românica, uma construção
multiplamente funcional, que serve de memória cívica, de tesouro comunal e como
proteção física da população.
A reinterpretação de modalidades artísticas do passado também explicita
elementos constitutivos da arte moderna e correlatamente afirma o teor desta como
construção histórica. Em suma, é possível afirmar que a “artisticidade”, exposta como
trabalho acumulado, ao ser combinada ao juízo histórico arma uma reflexão que volta
necessariamente ao contexto moderno. Dessa forma, afirma-se também que a arte é uma
prática de conhecimento do presente e que este, como objeto de trabalho e portanto em
transformação, comporta um projeto de futuro, entrevisto como o do trabalho
emancipado, à luz exemplar da arte moderna.
O que advirá daí para o debate da situação da arte no Brasil? Com certeza, já se
poder prever que tanto mais fecundos serão os desdobramentos quanto mais largo o
círculo de leitores atingidos. Para tal, é importante que a editora responsável pela versão
brasileira venha a atender ao espírito originário do projeto, que concebeu a História da
Arte Italiana como equipamento de uso corrente para o estudante do sistema público
italiano.
Se é importante a preservação do patamar de reprodução visual alcançado nesta
edição, cumpre, por outro lado, oferecer também ao estudante daqui, com menor poder
aquisitivo, uma versão acessível. Sem o que, no fogo lento que faz o caldo das
exclusões à brasileira, haveremos de provar mais um caso de “idéias fora do lugar”. Um
exemplo? Interpretar a obra de Argan e a arte moderna como modelos de linguagem.
Este ponto de vista seria o de um novo “classicismo”, o que, para Argan, ao contrário do
“clássico”, significa “desconfiança na capacidade da arte de exprimir a realidade
histórica presente”, vale dizer, denegação da urgência moderna de entender o presente e
projetar autonomamente o futuro.
Nota
1
Ver Rodrigo Naves. “Prefácio”, in G.C.A., "Arte Moderna – Do
Iluminismo aos Movimentos Contemporâneos", op. cit., págs. XI-XXIV;
Paulo Sergio Duarte, “A história que se escuta e vê”, "Jornal do
Brasil", suplemento "Idéias", 12/12/92, págs. 6-7; Lorenzo Mammì,
“Prefácio à edição brasileira”, in G. C. Argan, "História da Arte
Italiana". Ademais, o Centro Maria Antonia, da USP, realizou um
seminário Argan (10-12/11/2003), com seis palestras e que reuniu um
público grande.
[resenha publicada originalmente na seção Trópico da UOL]

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Arte minóica e micênica
Arte minóica e micênicaArte minóica e micênica
Arte minóica e micênicaTataVaz TataVaz
 
2.da era cristã ao período bizantino
2.da era cristã ao período bizantino2.da era cristã ao período bizantino
2.da era cristã ao período bizantinoAna Barreiros
 
Resenha: Escola Carioca - Yves Bruand
Resenha: Escola Carioca - Yves BruandResenha: Escola Carioca - Yves Bruand
Resenha: Escola Carioca - Yves BruandIZIS PAIXÃO
 
ARTE NA EUROPA OCIDENTAL NA IDADE MÉDIA & ARTE ROMÂNICA
ARTE NA EUROPA OCIDENTAL NA IDADE MÉDIA & ARTE ROMÂNICAARTE NA EUROPA OCIDENTAL NA IDADE MÉDIA & ARTE ROMÂNICA
ARTE NA EUROPA OCIDENTAL NA IDADE MÉDIA & ARTE ROMÂNICACristiane Seibt
 
Aula 3 pre historia na arte e na arquitetura [revisado em 060314]
Aula 3 pre historia na arte e na arquitetura [revisado em 060314]Aula 3 pre historia na arte e na arquitetura [revisado em 060314]
Aula 3 pre historia na arte e na arquitetura [revisado em 060314]glauci coelho
 
Artistas que participaram da semana de arte moderna
Artistas que participaram da semana de arte modernaArtistas que participaram da semana de arte moderna
Artistas que participaram da semana de arte modernaMarcelle Saboya Ravanelli
 
Laboratorio de Linguagem 2D e 3D
Laboratorio de Linguagem 2D e 3DLaboratorio de Linguagem 2D e 3D
Laboratorio de Linguagem 2D e 3DEduardo Becker Jr.
 
O barroco no brasil
O barroco no brasilO barroco no brasil
O barroco no brasilCEF16
 
Historia da arte- período da idade média - resumo
Historia da arte- período da  idade média - resumoHistoria da arte- período da  idade média - resumo
Historia da arte- período da idade média - resumoAndrea Dressler
 
Arquitetura mesopotâmica
Arquitetura mesopotâmicaArquitetura mesopotâmica
Arquitetura mesopotâmicaDoug Caesar
 
Cultura do Mosteiro - Arte paleocristã e bizantina
Cultura do Mosteiro - Arte paleocristã e bizantinaCultura do Mosteiro - Arte paleocristã e bizantina
Cultura do Mosteiro - Arte paleocristã e bizantinaCarlos Vieira
 

Mais procurados (20)

ARTE PRÉ COLOMBIANA
ARTE PRÉ COLOMBIANAARTE PRÉ COLOMBIANA
ARTE PRÉ COLOMBIANA
 
Arte minóica e micênica
Arte minóica e micênicaArte minóica e micênica
Arte minóica e micênica
 
Benevolo 75
Benevolo 75 Benevolo 75
Benevolo 75
 
2.da era cristã ao período bizantino
2.da era cristã ao período bizantino2.da era cristã ao período bizantino
2.da era cristã ao período bizantino
 
Resenha: Escola Carioca - Yves Bruand
Resenha: Escola Carioca - Yves BruandResenha: Escola Carioca - Yves Bruand
Resenha: Escola Carioca - Yves Bruand
 
Mosaico
MosaicoMosaico
Mosaico
 
Arte bizantina
Arte bizantinaArte bizantina
Arte bizantina
 
Arte paleocristã
Arte paleocristãArte paleocristã
Arte paleocristã
 
Egito 02
Egito 02Egito 02
Egito 02
 
ARTE NA EUROPA OCIDENTAL NA IDADE MÉDIA & ARTE ROMÂNICA
ARTE NA EUROPA OCIDENTAL NA IDADE MÉDIA & ARTE ROMÂNICAARTE NA EUROPA OCIDENTAL NA IDADE MÉDIA & ARTE ROMÂNICA
ARTE NA EUROPA OCIDENTAL NA IDADE MÉDIA & ARTE ROMÂNICA
 
Aula 3 pre historia na arte e na arquitetura [revisado em 060314]
Aula 3 pre historia na arte e na arquitetura [revisado em 060314]Aula 3 pre historia na arte e na arquitetura [revisado em 060314]
Aula 3 pre historia na arte e na arquitetura [revisado em 060314]
 
Artistas que participaram da semana de arte moderna
Artistas que participaram da semana de arte modernaArtistas que participaram da semana de arte moderna
Artistas que participaram da semana de arte moderna
 
Laboratorio de Linguagem 2D e 3D
Laboratorio de Linguagem 2D e 3DLaboratorio de Linguagem 2D e 3D
Laboratorio de Linguagem 2D e 3D
 
O Barroco No Brasil
O Barroco No BrasilO Barroco No Brasil
O Barroco No Brasil
 
O barroco no brasil
O barroco no brasilO barroco no brasil
O barroco no brasil
 
Contexto Histórico do Bairro do Itaim Bibi, SP
Contexto Histórico do Bairro do Itaim Bibi, SPContexto Histórico do Bairro do Itaim Bibi, SP
Contexto Histórico do Bairro do Itaim Bibi, SP
 
Arte barroca
Arte barrocaArte barroca
Arte barroca
 
Historia da arte- período da idade média - resumo
Historia da arte- período da  idade média - resumoHistoria da arte- período da  idade média - resumo
Historia da arte- período da idade média - resumo
 
Arquitetura mesopotâmica
Arquitetura mesopotâmicaArquitetura mesopotâmica
Arquitetura mesopotâmica
 
Cultura do Mosteiro - Arte paleocristã e bizantina
Cultura do Mosteiro - Arte paleocristã e bizantinaCultura do Mosteiro - Arte paleocristã e bizantina
Cultura do Mosteiro - Arte paleocristã e bizantina
 

Destaque

Arte moderna e modernismo no brasil pdf
Arte moderna e modernismo no brasil pdfArte moderna e modernismo no brasil pdf
Arte moderna e modernismo no brasil pdfMargarethFranklim
 
Mediascape, Tecnologia e Redes Comunicativas - Profª. Tatiana Tosi
Mediascape, Tecnologia e Redes Comunicativas - Profª. Tatiana TosiMediascape, Tecnologia e Redes Comunicativas - Profª. Tatiana Tosi
Mediascape, Tecnologia e Redes Comunicativas - Profª. Tatiana TosiSustentare Escola de Negócios
 
Ejercicios transformada laplace
Ejercicios transformada laplaceEjercicios transformada laplace
Ejercicios transformada laplaceoswaldo cedeño
 
"La crisis del design" Giulio Carlo Argan
"La crisis del design" Giulio Carlo Argan"La crisis del design" Giulio Carlo Argan
"La crisis del design" Giulio Carlo Arganshayvel
 
Propiedades de La Transformada de Laplace
Propiedades de La Transformada de LaplacePropiedades de La Transformada de Laplace
Propiedades de La Transformada de LaplaceÁngel Leonardo Torres
 
S8. transformada de-laplace
S8. transformada de-laplaceS8. transformada de-laplace
S8. transformada de-laplaceNeil Sulca Taipe
 
Panorama da Arquitetura Ocidental cap 2
Panorama da Arquitetura Ocidental cap 2Panorama da Arquitetura Ocidental cap 2
Panorama da Arquitetura Ocidental cap 2Carlos Elson Cunha
 
Clássico e romântico [modo de compatibilidade]
Clássico e romântico [modo de compatibilidade]Clássico e romântico [modo de compatibilidade]
Clássico e romântico [modo de compatibilidade]Viviane Marques
 
Bauhaus & Estilo Internacional
Bauhaus & Estilo InternacionalBauhaus & Estilo Internacional
Bauhaus & Estilo InternacionalDenise Lima
 
HGA - Plano de ensino e cronograma 1°S de 2015
HGA - Plano de ensino e cronograma 1°S de 2015HGA - Plano de ensino e cronograma 1°S de 2015
HGA - Plano de ensino e cronograma 1°S de 2015alunip
 
Arte comentada, da pré história ao pós-moderno
Arte comentada, da pré história ao pós-modernoArte comentada, da pré história ao pós-moderno
Arte comentada, da pré história ao pós-modernoJesrayne Nascimento
 
Walter Gropius - Bauhaus
Walter Gropius - BauhausWalter Gropius - Bauhaus
Walter Gropius - Bauhaushcaslides
 
Arts & Crafts e Arte Nova
Arts & Crafts e Arte NovaArts & Crafts e Arte Nova
Arts & Crafts e Arte NovaMichele Pó
 
Estrutura+do+ensaio
Estrutura+do+ensaioEstrutura+do+ensaio
Estrutura+do+ensaioAdriele Leal
 
As principais vanguardas artísticas
As principais vanguardas artísticasAs principais vanguardas artísticas
As principais vanguardas artísticasnpjorgecosta
 
Saber ver arquitetura bruno zevi
Saber ver arquitetura   bruno zeviSaber ver arquitetura   bruno zevi
Saber ver arquitetura bruno zeviJúlia Mitre
 
Movimentos artísticos
Movimentos artísticosMovimentos artísticos
Movimentos artísticosBruno Costa
 
Impressionismo e Pós-Impressionismo
Impressionismo e Pós-ImpressionismoImpressionismo e Pós-Impressionismo
Impressionismo e Pós-Impressionismocamilagarciaia
 

Destaque (20)

Arte moderna e modernismo no brasil pdf
Arte moderna e modernismo no brasil pdfArte moderna e modernismo no brasil pdf
Arte moderna e modernismo no brasil pdf
 
Mediascape, Tecnologia e Redes Comunicativas - Profª. Tatiana Tosi
Mediascape, Tecnologia e Redes Comunicativas - Profª. Tatiana TosiMediascape, Tecnologia e Redes Comunicativas - Profª. Tatiana Tosi
Mediascape, Tecnologia e Redes Comunicativas - Profª. Tatiana Tosi
 
Ejercicios transformada laplace
Ejercicios transformada laplaceEjercicios transformada laplace
Ejercicios transformada laplace
 
Aldo rossi
Aldo rossiAldo rossi
Aldo rossi
 
"La crisis del design" Giulio Carlo Argan
"La crisis del design" Giulio Carlo Argan"La crisis del design" Giulio Carlo Argan
"La crisis del design" Giulio Carlo Argan
 
Propiedades de La Transformada de Laplace
Propiedades de La Transformada de LaplacePropiedades de La Transformada de Laplace
Propiedades de La Transformada de Laplace
 
Transformada de laplace
Transformada de laplaceTransformada de laplace
Transformada de laplace
 
S8. transformada de-laplace
S8. transformada de-laplaceS8. transformada de-laplace
S8. transformada de-laplace
 
Panorama da Arquitetura Ocidental cap 2
Panorama da Arquitetura Ocidental cap 2Panorama da Arquitetura Ocidental cap 2
Panorama da Arquitetura Ocidental cap 2
 
Clássico e romântico [modo de compatibilidade]
Clássico e romântico [modo de compatibilidade]Clássico e romântico [modo de compatibilidade]
Clássico e romântico [modo de compatibilidade]
 
Bauhaus & Estilo Internacional
Bauhaus & Estilo InternacionalBauhaus & Estilo Internacional
Bauhaus & Estilo Internacional
 
HGA - Plano de ensino e cronograma 1°S de 2015
HGA - Plano de ensino e cronograma 1°S de 2015HGA - Plano de ensino e cronograma 1°S de 2015
HGA - Plano de ensino e cronograma 1°S de 2015
 
Arte comentada, da pré história ao pós-moderno
Arte comentada, da pré história ao pós-modernoArte comentada, da pré história ao pós-moderno
Arte comentada, da pré história ao pós-moderno
 
Walter Gropius - Bauhaus
Walter Gropius - BauhausWalter Gropius - Bauhaus
Walter Gropius - Bauhaus
 
Arts & Crafts e Arte Nova
Arts & Crafts e Arte NovaArts & Crafts e Arte Nova
Arts & Crafts e Arte Nova
 
Estrutura+do+ensaio
Estrutura+do+ensaioEstrutura+do+ensaio
Estrutura+do+ensaio
 
As principais vanguardas artísticas
As principais vanguardas artísticasAs principais vanguardas artísticas
As principais vanguardas artísticas
 
Saber ver arquitetura bruno zevi
Saber ver arquitetura   bruno zeviSaber ver arquitetura   bruno zevi
Saber ver arquitetura bruno zevi
 
Movimentos artísticos
Movimentos artísticosMovimentos artísticos
Movimentos artísticos
 
Impressionismo e Pós-Impressionismo
Impressionismo e Pós-ImpressionismoImpressionismo e Pós-Impressionismo
Impressionismo e Pós-Impressionismo
 

Semelhante a Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. ARGAN

Apostila Metodologia Cientifica para curso de Arquitetura e Urbanismo
Apostila Metodologia Cientifica para curso de Arquitetura e UrbanismoApostila Metodologia Cientifica para curso de Arquitetura e Urbanismo
Apostila Metodologia Cientifica para curso de Arquitetura e UrbanismoGRUPO S.I.T.U
 
chartier, roger. a história cultural - entre práticas e representações.pdf
chartier, roger. a história cultural - entre práticas e representações.pdfchartier, roger. a história cultural - entre práticas e representações.pdf
chartier, roger. a história cultural - entre práticas e representações.pdfMirianneAlmeida1
 
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentos
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentosEntre museus de arte obras monumento e arquivos-documentos
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentosgrupointerartes
 
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentos
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentosEntre museus de arte obras monumento e arquivos-documentos
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentosgrupointerartes
 
Arte africana e autenticidade
Arte africana e autenticidadeArte africana e autenticidade
Arte africana e autenticidadeLuci Cruz
 
Gravuras portuguesas vitor_oliveira_jorge
Gravuras portuguesas vitor_oliveira_jorgeGravuras portuguesas vitor_oliveira_jorge
Gravuras portuguesas vitor_oliveira_jorgeAngel Hernandez
 
Literatura brasileira iv
Literatura brasileira ivLiteratura brasileira iv
Literatura brasileira ivRoncalli Gomes
 
Arquivo anpuh artigocompleto johan joachim
Arquivo anpuh artigocompleto  johan joachimArquivo anpuh artigocompleto  johan joachim
Arquivo anpuh artigocompleto johan joachimthatianne pinheiro lima
 
Processos da poética: o paradoxo como paradigma - o museu como ideia
Processos da poética: o paradoxo como paradigma - o museu como ideiaProcessos da poética: o paradoxo como paradigma - o museu como ideia
Processos da poética: o paradoxo como paradigma - o museu como ideiaAnarqueologia
 
127 texto do artigo-240-2-10-20200104
127 texto do artigo-240-2-10-20200104127 texto do artigo-240-2-10-20200104
127 texto do artigo-240-2-10-20200104LucasGabriel820719
 
O FIM DAS VANGUARDAS Ricardo Nascimento Fabbrini*
O FIM DAS VANGUARDAS Ricardo Nascimento Fabbrini*O FIM DAS VANGUARDAS Ricardo Nascimento Fabbrini*
O FIM DAS VANGUARDAS Ricardo Nascimento Fabbrini*Pedro Lima
 

Semelhante a Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. ARGAN (20)

Argan
ArganArgan
Argan
 
Apostila Metodologia Cientifica para curso de Arquitetura e Urbanismo
Apostila Metodologia Cientifica para curso de Arquitetura e UrbanismoApostila Metodologia Cientifica para curso de Arquitetura e Urbanismo
Apostila Metodologia Cientifica para curso de Arquitetura e Urbanismo
 
chartier, roger. a história cultural - entre práticas e representações.pdf
chartier, roger. a história cultural - entre práticas e representações.pdfchartier, roger. a história cultural - entre práticas e representações.pdf
chartier, roger. a história cultural - entre práticas e representações.pdf
 
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentos
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentosEntre museus de arte obras monumento e arquivos-documentos
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentos
 
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentos
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentosEntre museus de arte obras monumento e arquivos-documentos
Entre museus de arte obras monumento e arquivos-documentos
 
Anita malfatti
Anita malfattiAnita malfatti
Anita malfatti
 
Arte africana e autenticidade
Arte africana e autenticidadeArte africana e autenticidade
Arte africana e autenticidade
 
Santuário cactusan
Santuário cactusanSantuário cactusan
Santuário cactusan
 
Gravuras portuguesas vitor_oliveira_jorge
Gravuras portuguesas vitor_oliveira_jorgeGravuras portuguesas vitor_oliveira_jorge
Gravuras portuguesas vitor_oliveira_jorge
 
Literatura brasileira iv
Literatura brasileira ivLiteratura brasileira iv
Literatura brasileira iv
 
Arquivo anpuh artigocompleto johan joachim
Arquivo anpuh artigocompleto  johan joachimArquivo anpuh artigocompleto  johan joachim
Arquivo anpuh artigocompleto johan joachim
 
Processos da poética: o paradoxo como paradigma - o museu como ideia
Processos da poética: o paradoxo como paradigma - o museu como ideiaProcessos da poética: o paradoxo como paradigma - o museu como ideia
Processos da poética: o paradoxo como paradigma - o museu como ideia
 
Clássicos
ClássicosClássicos
Clássicos
 
127 texto do artigo-240-2-10-20200104
127 texto do artigo-240-2-10-20200104127 texto do artigo-240-2-10-20200104
127 texto do artigo-240-2-10-20200104
 
Hist da arte
Hist da arteHist da arte
Hist da arte
 
Arte africana moderna
Arte africana modernaArte africana moderna
Arte africana moderna
 
52.2 pereira
52.2 pereira52.2 pereira
52.2 pereira
 
O FIM DAS VANGUARDAS Ricardo Nascimento Fabbrini*
O FIM DAS VANGUARDAS Ricardo Nascimento Fabbrini*O FIM DAS VANGUARDAS Ricardo Nascimento Fabbrini*
O FIM DAS VANGUARDAS Ricardo Nascimento Fabbrini*
 
Marcio noronha
Marcio noronhaMarcio noronha
Marcio noronha
 
lala uhul
lala uhullala uhul
lala uhul
 

Mais de Cristina Zoya

Apostila de musicalizacao
Apostila de musicalizacao Apostila de musicalizacao
Apostila de musicalizacao Cristina Zoya
 
Gabarito C E L Centro de Línguas
Gabarito C E L Centro de LínguasGabarito C E L Centro de Línguas
Gabarito C E L Centro de LínguasCristina Zoya
 
Mobilidade 1 2014 lista aptos
Mobilidade 1 2014 lista aptosMobilidade 1 2014 lista aptos
Mobilidade 1 2014 lista aptosCristina Zoya
 
Gabarito da prova de artes 2013
Gabarito da prova de artes 2013Gabarito da prova de artes 2013
Gabarito da prova de artes 2013Cristina Zoya
 
Santos -projeto_tcc_1._ago.2013
Santos  -projeto_tcc_1._ago.2013Santos  -projeto_tcc_1._ago.2013
Santos -projeto_tcc_1._ago.2013Cristina Zoya
 

Mais de Cristina Zoya (10)

Apostila de musicalizacao
Apostila de musicalizacao Apostila de musicalizacao
Apostila de musicalizacao
 
Gabarito C E L Centro de Línguas
Gabarito C E L Centro de LínguasGabarito C E L Centro de Línguas
Gabarito C E L Centro de Línguas
 
Mobilidade 1 2014 lista aptos
Mobilidade 1 2014 lista aptosMobilidade 1 2014 lista aptos
Mobilidade 1 2014 lista aptos
 
Intercambio 03 2014
Intercambio 03 2014Intercambio 03 2014
Intercambio 03 2014
 
Treasure hunt
Treasure huntTreasure hunt
Treasure hunt
 
Treasure hunt
Treasure huntTreasure hunt
Treasure hunt
 
Gabarito da prova de artes 2013
Gabarito da prova de artes 2013Gabarito da prova de artes 2013
Gabarito da prova de artes 2013
 
Prova de Artes 2013
Prova de Artes 2013Prova de Artes 2013
Prova de Artes 2013
 
Santos -projeto_tcc_1._ago.2013
Santos  -projeto_tcc_1._ago.2013Santos  -projeto_tcc_1._ago.2013
Santos -projeto_tcc_1._ago.2013
 
Normas ABNT
Normas ABNTNormas ABNT
Normas ABNT
 

Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. ARGAN

  • 1. ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos.São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1992 ( principalmente o capítulo VI – A época do funcionalismo). A idéia de que a obra de arte apresente um bem de valor intrínseco, estranho ao trabalho comum, permeia a maioria dos estudos sobre a arte. A obra do historiador e pensador da arte Giulio Carlo Argan (1909-1992) refuta tal noção e parte de uma premissa contrária: a de que a arte consista num modo de produção de valor entre outros, portanto circunscrito historicamente, e de que assim constitua uma forma paradigmática de trabalho. História da Arte Italiana, de Argan, lançada pela Cosac & Naif, é uma obra vasta e algo enciclopédica, em três volumes. Seu projeto é expressamente didático: dirige-se aos estudantes do ensino público médio e universitário, da Itália, e os livros também compreendem uma pequena coletânea, com textos de referência, de outros autores, organizados por Bruno Contardi, colaborador de Argan. Analogamente, o acervo de ilustrações é abundante, e tem qualidade – inclusive na edição da Cosac & Naif – e portanto dispensa a consulta, pelo menos para o básico, a outras fontes. Tudo isto torna a obra extremamente útil ao estudante. Mas o seu interesse ultrapassa em muito o horizonte prático das obrigações escolares e contribui efetivamente para a sua dignificação. Pois oferece uma história da arte muito superior em termos de densidade de reflexão e de riqueza de dados à História da arte, de E. H. Gombrich, que a Zahar publicou, e que, sem tirar aqui o mérito de sua fluência e clareza, foi concebida originalmente para o curso secundário inglês. Ademais, para o leitor brasileiro que já leu algo de Argan, o conjunto pode ensejar uma visão mais sistemática acerca da obra vasta e complexa do autor. Isto, no caso, é crucial, porque, diversamente da maior parte da historiografia didática de raiz anglo-saxã a que se recorre, a obra de Argan, precisamente por não ser de cunho empirista, pede uma aproximação ciente do raciocínio ambicioso e sistemático do autor. Com efeito, a se considerar o ponto de vista pós-moderno, que, como se sabe, gravita em torno da fragmentação e da recusa à historicidade – ou que, no dizer de Robert Kurz, faz da incoerência virtude –, o autor italiano será o último de uma linhagem de pensadores com a ambição de refletir sistematicamente. Já foram publicados de Argan no Brasil: História da arte como história da cidade (Martins Fontes, 1992); Arte moderna – do Iluminismo aos movimentos
  • 2. contemporâneos (Companhia das Letras, 1993); Clássico Anticlássico – o Renascimento de Brunelleschi a Brueghel (Companhia das Letras, 1999);Projeto e destino (Ática, 2000). Há também uma ensaística notável e consistente, de autores brasileiros que discutem o pensamento de Argan (1). Na obra presente, porém, se distingue mais facilmente o fio do pensamento do autor. Apesar do que o título sugere, a obra não se prende ao meio italiano. O título e a destinação ensejaram a Argan uma estratégia: dirigir-se a um público jovem e amplo, sujeito a uma educação de massa e a uma indústria cultural, já pautadas pela irreflexão e pela recusa do juízo histórico. Se o estudante italiano é o primeiro interlocutor circunstancial, o móvel é levá- lo a se situar num ponto de vista histórico, dialético e materialista, extensivo a uma escala bem maior de interlocutores. Em síntese, o propósito do autor foi o de fazer uma história reflexiva – da arte ocidental, por certo-, que vem desaguar e nutrir os debates sobre a arte moderna. Nesse sentido, o pretexto serve, porque a arte italiana, mais do que nenhuma outra, esteve ao longo de muitos séculos no centro dos acontecimentos da história da arte. O tema propicia, pois, um raciocínio sobre o desenvolvimento histórico das várias práticas e experiências denominadas de “arte”, que, no caso desta obra, abrange da pré- história e, a seguir, da arte minóica, de Creta, a um breve capítulo sobre o romantismo e o futurismo italianos. A brevidade se explica; é que os três volumes em questão se ligam argumentativamente a um quarto, Arte Moderna, publicado originalmente, em 1970, ou seja, logo após os três em questão. E a mudança do título, apesar dos elos de ligação, também é explicável; não cabia aqui persistir sob a mesma denominação, uma vez que com o advento da arte moderna as linhas mestras desta independem do campo italiano, reduzido na modernidade a uma posição periférica. De fato, a arte moderna, para Argan, se engendrou a partir do Iluminismo e em estreita conexão, mesmo se antitética, com a Revolução Industrial. Assim, com a industrialização tardia da Itália se somando ao peso de sua tradição de excelência artesanal e do individualismo autoral correlato, a arte italiana não dispôs da condição básica da nova arte e caiu fora da nova dinâmica produtiva. Com efeito, a lógica e a energia das transformações da arte moderna passavam a decorrer de uma confrontação ou tensão estabelecida com o sistema geral da produção, dado pela superação do modo de trabalho artesanal e pela produção em larga escala.
  • 3. O leitor poderá notar que a perspectiva moderna de Argan se delineia a partir da consciência de um descentramento. Falará isso algo ao leitor brasileiro? Decerto, a excentricidade italiana, frente à dinâmica da arte moderna, comporta a valorização da excelência artesanal, conforme dito acima. Já, no Brasil, o descentramento frente a arte moderna é de outro teor e comporta, na sua bagagem, a desvalorização escravocrata do trabalho artesanal. Não obstante essas diferenças opostas ou em simetria, acha-se, entretanto, alguma tangência hodierna entre tais descentramentos? O certo é que o interesse por Argan no Brasil é de fato bem maior do que em países mais próximos da Itália e nos quais a história da arte está bem arraigada, em outras bases teóricas – talvez, menos consistentes e sistemáticas-, como é o caso da França, da Inglaterra, sem falar nos EUA. Sem opinar nessa discussão, que não cabe aqui, há um dado, no quadro brasileiro de caos e carência bibliográfica, que pode atuar para a compreensão no país da obra de Argan como surpreendente “vantagem comparativa” em relação ao ambiente intelectual dos países centrais. O dado, no caso, é que o autor enciclopédico e o especialista no patrimônio histórico italiano foi introduzido no Brasil como o observador da arte e da arquitetura modernas. Isso pode ter um efeito catalisador para a compreensão das premissas de Argan. O viés moderno ou o foco na atualidade constitui o prisma de Argan, segundo um partido filosófico que, além de já se delinear no Kant que se mostra interpelado pela Revolução Francesa e pelo destino do Iluminismo, explicita-se com o Hegel que prioriza a tarefa filosófica de investigar o presente. Assim, o travelling, o modo de prospecção adotado por Argan deriva estruturalmente da experiência formadora da arte moderna. A urgência crítica de julgar a hora, que estrutura, além das suas sínteses, também a sua dicção e os seus pólos de interlocução, como os estudantes, o distingue dentre os demais historiadores e o leva a equiparar a história e a crítica de arte. Fundar-se no saber da arte moderna não é um ponto de gosto pessoal. Esse partido está diretamente ligado à escolha filosófica de Argan, de tomar a arte como modo paradigmático de trabalho, e este, por sua vez, como base da consciência, seguindo a Fenomenologia do Espírito, de Hegel, e também a obra de Marx. Nesse sentido, a arte moderna foi, dentre todas as demais modalidades artísticas históricas, aquela que se concebeu fundamental e completamente como trabalho, totalizando-se reflexivamente como tal. Assim, ela tornou uma lei a explicitação de sua própria produção, mostrando os insumos, a ordem da produção e criticando o seu próprio valor.
  • 4. Desse modo, Argan não só concebe a arte como uma entre outras formas de produção de valor, mas como “liberação do trabalho de suas negatividades sociais” (Occasioni di critica). Logo, é a partir da arte moderna, posta como negação frontal da alienação que rege o trabalho assalariado no sistema geral da produção, que Argan analisa as formações passadas. O juízo de determinação histórico lhe permite, por um lado, situar a experiência artística entre outros modos de produção e apropriação do valor, próprios à época. Julgada historicamente, a arte figurativa ou mimética do período clássico grego (séc. 5 a.C.) surge não como algo intemporal, mas como a resultante de uma mescla de consciência e idealização, a forma cognitiva da sua atualidade, um mergulho na premissa de então, de unidade essencial entre a Physis (Natureza) e o Logos, como princípio da consciência. Analogamente, a arte dos mosaicos cristão-imperiais de Ravena é correlacionada ao princípio do neoplatonismo plotiniano de negar a especificidade da matéria para transubstanciá-la em luz. Neste modo de julgar, como noutro, marcadamente sintético e reflexivo, vale o que foi formulado por Walter Benjamin no Trabalho das Passagens (nº 2, 6): “Descobrir, na análise do pequeno momento particular, o cristal do acontecimento total”. Assim, o prisma da arte moderna, como trabalho, leva-o a ver em cada experiência o que jaz armazenado como trato próprio e específico da matéria transformada, como trabalho concentrado no intento material da experiência configurada a partir do indicativo preciso e urgente do agir. Logo, o trabalho como organização e esforço que em cada contexto prefigura a experiência segundo um projeto de futuro, mas que, no calor da ação, resta sujeito ao regime de valor da época, desponta decantado pela análise. Assim, o trabalho, beneficiado pela análise moderna que o confronta à historicidade do valor, é redimido. Ou seja, liberado das cadeias de antes, desperta para vir alimentar a experiência presente e atual da arte, mesmo no caso do objeto antigo, que, como evidência de trabalho, subsiste e apresenta um novo valor resultante da síntese atualizadora. Desse modo, ao mesmo tempo em que toda experiência artística histórica, sob o prisma da arte moderna, surge como trabalho e, logo, como transformação intencional do seu presente, as raízes da experiência moderna, em contrapartida, se aprofundam e se redefinem, porquanto afloram os seus elementos constitutivos passados, extraídos pelo juízo que diferencia e pela reflexão que os atualiza e totaliza dialeticamente.
  • 5. Nesse sentido, por exemplo, a arte medieval românica é desdobrada como reafirmação da obra de Deus, revelada também pelo trabalho humano. Por sua vez, o processo de glorificar a Deus via o ato do trabalho serve ao homem novo, do burgo, para se liberar da servidão ancestral ao castelo, auto-afirmar-se como produtor de bens e do próprio presente e faz da catedral a obra máxima da arte românica, uma construção multiplamente funcional, que serve de memória cívica, de tesouro comunal e como proteção física da população. A reinterpretação de modalidades artísticas do passado também explicita elementos constitutivos da arte moderna e correlatamente afirma o teor desta como construção histórica. Em suma, é possível afirmar que a “artisticidade”, exposta como trabalho acumulado, ao ser combinada ao juízo histórico arma uma reflexão que volta necessariamente ao contexto moderno. Dessa forma, afirma-se também que a arte é uma prática de conhecimento do presente e que este, como objeto de trabalho e portanto em transformação, comporta um projeto de futuro, entrevisto como o do trabalho emancipado, à luz exemplar da arte moderna. O que advirá daí para o debate da situação da arte no Brasil? Com certeza, já se poder prever que tanto mais fecundos serão os desdobramentos quanto mais largo o círculo de leitores atingidos. Para tal, é importante que a editora responsável pela versão brasileira venha a atender ao espírito originário do projeto, que concebeu a História da Arte Italiana como equipamento de uso corrente para o estudante do sistema público italiano. Se é importante a preservação do patamar de reprodução visual alcançado nesta edição, cumpre, por outro lado, oferecer também ao estudante daqui, com menor poder aquisitivo, uma versão acessível. Sem o que, no fogo lento que faz o caldo das exclusões à brasileira, haveremos de provar mais um caso de “idéias fora do lugar”. Um exemplo? Interpretar a obra de Argan e a arte moderna como modelos de linguagem. Este ponto de vista seria o de um novo “classicismo”, o que, para Argan, ao contrário do “clássico”, significa “desconfiança na capacidade da arte de exprimir a realidade histórica presente”, vale dizer, denegação da urgência moderna de entender o presente e projetar autonomamente o futuro. Nota 1 Ver Rodrigo Naves. “Prefácio”, in G.C.A., "Arte Moderna – Do Iluminismo aos Movimentos Contemporâneos", op. cit., págs. XI-XXIV; Paulo Sergio Duarte, “A história que se escuta e vê”, "Jornal do
  • 6. Brasil", suplemento "Idéias", 12/12/92, págs. 6-7; Lorenzo Mammì, “Prefácio à edição brasileira”, in G. C. Argan, "História da Arte Italiana". Ademais, o Centro Maria Antonia, da USP, realizou um seminário Argan (10-12/11/2003), com seis palestras e que reuniu um público grande. [resenha publicada originalmente na seção Trópico da UOL]