O documento discute a abordagem associacionista da alfabetização, que vê o processo de aprendizagem como associação mecânica entre estímulos e respostas. Apresenta exemplos de como crianças usam seus próprios conhecimentos para dar sentido aos textos lidos, indo além da mera decodificação.
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Associacionismo
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Para o associacionismo, a aprendizagem se dá através de conexões progressivas de estímulo (E)
resposta (R). Tais conexões se produzem a partir de uma cadeia de estímulos que, partindo do mais
simples, vai progressivamente atingindo níveis de complexidade cada vez maiores. Isso explica a
forma de organização das cartilhas.
Barbosa nos alerta para os perigos da abordagem associacionista:
Subjacente a essa concepção, transparece um modelo específico de leitura: ler é sonorizar a escrita
e, para tanto, o leitor deve mobilizar um dispositivo desenvolvido no processo de alfabetização que
permite a transformação de sinais gráficos em sinais sonoros: de posse dessa estratégia, o
alfabetizado consegue identificar cada palavra escrita, mesmo aquelas cujos significados ele não
conheça (1990, p. 70).
A abordagem associacionista da alfabetização traduzse metodologicamente na chamada pedagogia
tradicional de alfabetização, que reduz os processos de aprendizagem aos métodos de ensino. Ao
enfatizar os domínios perceptivos da aprendizagem, o associacionismo estabelece, como prérequisito
para a alfabetização, a maturidade (psicológica) e a prontidão (visomotora).
Dessa forma, o associacionismo nega todo um repertório de conhecimento produzido, acumulado e
organizado pelo sujeito aprendiz – o conhecimento oriundo de sua experiência de vida – reduzindo a
aprendizagem e o ensino a uma questão de método.
As metodologias tradicionais da alfabetização de base associacionista concebem a aprendizagem da
escrita como transcrição linear de sinais sonoros (fala) em sinais gráficos (escrita), reduzindo a
alfabetização aos aspectos de codificação do oral (para escrever) e decodificação da escrita (para
ler). Ao “confundir” MÉTODOS de ensino com PROCESSOS de aprendizagem, tal prática
alfabetizadora enfatiza o ensino em detrimento da aprendizagem – que, neste caso, se efetiva por
meio da memorização e da repetição. Na abordagem associacionista aprender a ler e a escrever é
dominar a técnica de codificação e decodificação.
Como a professora ensina? Como as crianças aprendem? Impasses e contradições no ensinar e
no aprender
Historicamente, a prática alfabetizadora tem privilegiado a questão do método. Ao eleger o método
como conteúdo da alfabetização, a prática pedagógica restringese a uma concepção
associacionista, que vê o conhecimento da leitura e da escrita como associação mecânica de
estímulos visuais e respostas sonoras.
A concepção associacionista de alfabetização reduz o ato de ler e escrever a uma questão de
percepção. Assim sendo, o ensino se fundamenta no jogo combinatório e mecânico grafiasom, som
grafia e no treino da percepção auditivovisual.
O rinoceronte Quindim, ao conduzir as crianças do Sítio do Picapau Amarelo pelo País da Gramática,
alerta e insiste muito para que seus alunos não confundam letra e som.
Trotou, trotou e, depois de muito trotar, deu com eles numa região onde o ar chiava de modo
estranho.
– Que zumbido é este – indagou a menina [Narizinho]? – parece que andam voando por aqui
milhões de vespas invisíveis.
– É que já entramos em terras do País da Gramática – explicou o rinoceronte – Estes zumbidos
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são os Sons Orais, que voam soltos no espaço.
– Não comece a falar difícil que nós ficamos na mesma – falou Emília.
– Sons Orais, que pedantismo é esse?
– Som Oral quer dizer som produzido pela boca. A, E, I, O, U são Sons Orais, como dizem os
senhores gramáticos.
– Pois diga logo que são letras! – gritou Emília.
– Mas não são letras! – protestou o rinoceronte. – Quando você diz A ou O, você está
produzindo um som, não está escrevendo uma letra. Letras são sinaizinhos que os homens
usam para representar esses sons. Primeiro há os Sons Orais, depois é que aparecem as letras
para marcar esses sons orais. Entendeu?
O ar continuava num zunzum cada vez maior. Os meninos pararam, muito atentos a ouvir.
– Estou percebendo muitos sons que conheço – disse Pedrinho, com a mão em concha ao
ouvido.
– Todos os sons que andam zumbindo por aqui são velhos conhecidos seus, Pedrinho.
– Querem ver que é o tal alfabeto? – Lembrou Narizinho – E é mesmo!... Estou distinguindo
todas as letras do alfabeto...
– Não, menina; você está apenas distinguindo todos os sons das letras do alfabeto – corrigiu o
rinoceronte com uma pachorra igual a de Dona Benta – se você escrever cada um desses sons,
então, sim, então surgem as letras do alfabeto.... (LOBATO, 1934)
Sabemos que o processo de codificaçãodecodificação faz parte da aprendizagem da leitura e da
escrita. No entanto, a alfabetização, por sua multidimensionalidade, envolve outros aspectos que se
relacionam à codificaçãodecodificação. Estamos falando dos processos de significação e de atribuição
de sentidos: a apropriação da leitura e da escrita é um processo complexo de codificação do oral e de
decodificação do escrito que se desenvolve não pela memorização e repetição, mas sim através da
elaboração de significados e da produção de sentidos. Para exemplificar o que estamos falando,
apresentamos a seguir duas situações:
Situação 1:
Numa cartilha, encontramos o seguinte texto:
Edu deu o bebê a Dadá.
Dadá é a babá do bebê.
Fábio é o bebê.
Dadá deu cocada ao bebê.
Dadá deu bife ao bebê.
Após a leitura deste texto, Douglas, aluno do primeiro ano do ciclo, comenta:
– A babá é doida!
– Por que você acha isso Douglas? pergunta a professora.
– Onde já se viu dar bife ao bebê! Ele não tem dente, não sabe mastigar. Vai engasgar, vomitar e
morrer.
Situação 2:
Smolka (1991, p. 59), em seu livro A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como um
processo discursivo, nos traz a seguinte situação:
A professora escreve na lousa:
A mamãe afia a faca
e pede para uma criança ler. A criança lê corretamente.
Um adulto pergunta à criança:
– Quem que é a mamãe?
– É a minha mãe, né?
– E o que é “afia”?