Transição, Integração e Mobilidade no Ensino Superior
1. Transição, Integração e Mobilidade no Ensino Superior Pedro Jacobetty [email_address] Jorge Horta Ferreira jorge.horta.ferreira@iscte.pt Projecto ETES Os Estudantes e os seus Trajectos no Ensino Superior Coordenadores: António Firmino da Costa (CIES-ISCTE) João Teixeira Lopes (ISFLUP) Apoio :
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3. Abordagem sociológica intensiva e multidimensional, centrada nos trajectos dos estudantes do Ensino Superior, que possibilita a identificação de factores promotores ou inibidores de orientações individuais para o sucesso, insucesso ou abandono. Pretende-se assim explicitar as regularidades sociológicas presentes nos percursos e opções dos estudantes, bem como as contratendências e contradições identificáveis à escala individual. Análise biográfica de estudantes do Ensino Superior
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7. Humberto Costa: Uma vitória preparada pelo processo de socialização Jaime Sampaio: Quando o improvável acontece: ultrapassando constrangimentos pesados, com o precioso apoio do estado • Percurso tendencial • Origens sociais com recursos económicos e escolares razoáveis • Estratégia familiar focada na escolarização • Percurso de transição para o ES bem conseguida • Boa preparação escolar anterior • Percurso com objectivos definidos • Percurso de integração conseguida no ES • Relação positiva com o curso e a escola, de um modo geral • Modos de estudar esporádicos, mas organizados, com elaboração frequente de trabalhos práticos • Relação de reforço e complementaridade entre as sociabilidades e os estudos • Percurso sem dificuldades de conciliação entre esferas de vida (estudo, trabalho, lazer e sociabilidade) • Percurso de contratendência (percurso inesperado) • Origens sociais com poucos recursos escolares e pouquíssimos recursos económicos • Percurso focado na educação (prioridade estabelecida após ter ponderado abandonar no 10º ano, ao que o pai se opôs, emocionado, levando-o a reconsiderar) • Boa preparação escolar anterior • Teve apoios sociais (bolsa de montante avultado, redução de propinas e outros custos), fundamentais no percurso • Percurso de integração conseguida no ES • Relação positiva com o curso e a escola, de um modo geral • Modos de estudar esporádicos, mas organizados, com elaboração frequente de trabalhos práticos • Redes de sociabilidade diversificadas, entre a escola e o local de residência, com relação de reforço relativamente aos estudos no 1º caso e relação de alternativa no 2º
8. Humberto Costa: Uma vitória preparada pelo processo de socialização Jaime Sampaio: Quando o improvável acontece: ultrapassando constrangimentos pesados, com o precioso apoio do estado “ Os meus pais incentivaram-me sempre, mas tanto me incentivaram a entrar, como me incentivaram a dizer “se não for isto, podes ter aquela opção ou outra qualquer. Se quiseres, anulamos a matrícula e vamos candidatar-te naquela universidade, ou noutra”. Houve sempre muito apoio e todo o interesse em que eu vingasse, pois as minhas vitórias seriam as vitórias deles (…)” “ Já quando eu era muito pequeno, achava muito estranho (…) ia a casa de pessoas que comiam comidas como uma que eu achei fabulosa, bifes com cogumelos e molhos de natas. Os meus jantares, pelo menos umas quatro vezes por semana, eram ovos estrelados com fiambre, e aquilo para mim era estranho.” “ (…) eles [pais] não tinham mesmo possibilidades, e se eu tivesse vindo para a faculdade sem a bolsa não conseguia mesmo, era quase impossível, (…) muito, muito difícil.” “ Desde o 1º ano, tive bolsa da Acção Social. (…) recebia 55 contos (…). O apoio era esse e já era bastante bom, já dava para eu fazer a minha vida perfeitamente.”
9. Vânia Giraldo: Um percurso de formação deliberado e partilhado Martinho Salvador: Quando as redes se rompem • Percursos com problemas de transição para o ES/vida adulta • Boa preparação escolar anterior • Indefinição de projecto de vida • Curso não preferido • Expectativas desajustadas face ao curso (relativas ao plano de estudos) • Percurso com problemas de integração • Deslocado • Ruptura dos laços sociais • Episódio marcante (morte do pai) enquanto estudava • Percurso focado na educação • Recursos económicos razoáveis • Disposições orientadas para a escola • A conclusão do ES fazia parte dos seus objectivos e projectos de vida • Boa preparação escolar anterior • Expectativas ajustadas ao curso • Integração positiva a todos os níveis (plano de estudos, professores, colegas, actividades para- -escolares) • Apoio do quadro familiar durante o ES • Sem dificuldades de conciliação entre esferas de vida (trabalho e estudo) • Relação de reforço entre sociabilidades e os estudos
10. Vânia Giraldo: Um percurso de formação deliberado e partilhado Martinho Salvador: Quando as redes se rompem “ Eu nunca fui muito de objectivos, não tive como “objectivo específico ir para um curso superior.” “ (…) a família, o sítio e os amigos são o apoio de todo o ser humano (…) quando tu perdes isso tudo ao mesmo tempo torna-se mais difícil concretizar seja o que for” “ (…) porque aqueles com que eu poderia conviver, conviviam uns com os outros naquelas festas habituais entre universitários e não sei quê, que é uma coisa a que eu também nunca fui dado e continuo a não ser (…) como nunca fui assim, facilitou-se um bocadinho essa questão de me sentir desintegrado.” “ A minha cultura e das minhas colegas era a de estudar (…) A motivação parte também muito dos colegas, quem está ao nosso lado (…) No meu grupo de trabalho ninguém chumbou nenhum ano e temos todos mais ou menos as mesmas médias.” “ [O curso] tinha muita matemática, e realmente a mim fascina-me um bocado a matemática, muita tecnologia alimentar, alguma física… Pronto, tudo áreas que vinham na sequência do meu 12º ano. Achei interessante e então por isso candidatei-me com o curso na primeira opção. (…) Achava fascinantes todas as disciplinas que estavam no conteúdo programático do curso. (…) Foi tudo de encontro aos meus gostos (…).”
11. Vânia Giraldo: Um percurso de formação deliberado e partilhado Vasco Álvares: Objectivos de estudo indefinidos com projecto de vida garantido • Percurso focado na educação • Recursos económicos razoáveis • Disposições orientadas para a escola • A conclusão do ES fazia parte dos seus objectivos e projectos de vida • Boa preparação escolar anterior • Expectativas ajustadas ao curso • Integração positiva a todos os níveis (plano de estudos, professores, colegas, actividades para- -escolares) • Apoio do quadro familiar durante o ES • Sem dificuldades de conciliação entre esferas de vida (trabalho e estudo) • Relação de reforço entre sociabilidades e os estudos • Percursos com dificuldades de integração no ensino superior • Origens sociais com recursos elevados • Objectivos indefinidos (com enfoque no lazer) • Preparação escolar anterior insuficiente • Curso não preferido • Problemas de integração (plano de estudos, pedagogia e perspectivas profissionais) • Modos de estudar descontinuados, em continuidade com os da escolaridade anterior e não evolutivos • Com dificuldades de conciliação entre esferas de vida (lazer, trabalho e estudo) • Amigos mais próximos não mobilizados para o ensino superior
12. Vasco Álvares: Objectivos de estudo indefinidos com projecto de vida garantido “ No 12º foi o descalabro (…) Foi um ano de deboche total em que saía à noite, ia surfar sempre que me apetecia, enfim. (…) Chumbei eu e chumbou todo o meu grupo de amigos a todas as disciplinas. Éramos uns cinco gajos e ninguém fez nada.” “ (…) o curso não estava ligado aos meus interesses. Eu nunca tive um gosto em especial por nada, desde o liceu. Não fui daquelas pessoas que queria ser médica ou assim. Eu nunca tive aquele apego de dizer: «pá, vamos fazer isto». (…) [O curso] era fazer redes eléctricas, o que não tem qualquer tipo de interesse. Pá é uma seca, basicamente. (…) Quando chegou o 2º semestre, eu praticamente deixei de ir às aulas.” “ O meu grupo de amigos nunca foi um grupo que tenha estudado ou que tenha seguido estudos. (…) tenho alguns amigos que fizeram o 9º ano, a grande maioria fez o 12º, mas estudar na faculdade, praticamente ninguém o fez.” “ Não tive que adquirir esta casa nem pago renda, pronto, era pertença da minha família. (…) foi basicamente oferecida, nunca tive que lutar pela casa, não tive que contrair nenhum empréstimo. (…) Se eu não sentisse que tinha o meu futuro relativamente assegurado na óptica, onde me encontro há 12 anos, era obrigado a ter que me fazer à vida e se calhar a ter que estudar mais alguma coisa.”