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Corrente el´trica e campo magn´tico
                                e                  e
                                   Rafael Palota da Silva

                                   28 de setembro de 2010


1    Experimento de Oersted                              Assim, o aparecimento de um campo
                                                      magn´tico juntamente com a passagem de uma
                                                            e
Ainda no ano de 1820, os cientistas do mundo          corrente el´trica foi pela primeira vez obser-
                                                                 e
todo acreditavam que os fenˆmenos el´tricos e
                              o           e           vado.
magn´ticos eram toalmente independentes um
      e                                                  Essa descoberta foi fundamental para a uni-
do outro. No entanto, o f´    ısico dinamarquˆs
                                             e        fica¸˜o da eletricidade com o magnetismo, que
                                                          ca
Hans C. Oersted notou que isso n˜o era ver-
                                     a                passaram a construir um importante ramo da
dade.                                                 ciˆncia denominado eletromagnetismo.
                                                        e
   Ao realizar diversas experiˆncias, Oers-
                                   e
ted observou que uma corrente el´trica, pas-
                                     e
                                                      2    Lei de Biot-Savart
sando por um condutor, desviava uma agulha
magn´tica colocada na sua vizinhan¸a, de tal
      e                                 c             Como acabamos de ver, toda vez que uma
modo que a agulha assumia uma posi¸˜o per-ca          corrente el´trica passa por um condutor re-
                                                                  e
pendicular ao plano definido pelo fio e pelo cen-       til´
                                                         ıneo, este gera na regi˜o ao seu redor, um
                                                                                a
tro da agulha.                                        campo magn´tico. A intensidade desse campo
                                                                     e
   Utilizando-se inicialmente de um fio con-           magn´tico pode ser determinado com uso de
                                                            e
dutor retil´ıneo, por onde passava uma cor-           uma express˜o matem´tica imp´
                                                                    a        a        ırica conhecida
rente el´trica, Oersted psicionou sobre esse fio
         e                                            como lei de Biot-Savart.
uma agulha magn´tica, orientada livremente
                     e
na dire¸˜o norte-sul, fazendo uma corrente pas-
        ca                                                                   µ0 i
                                                                        B=     ·
sar pelo fio, observou que a agulha sofria um                                 2π r
desvio na sua orienta¸˜o, e que esse desvio era
                        ca
                                                      onde B ´ o vetor indu¸˜o magn´tica, µ0 ´ a
                                                               e              ca        e          e
perpendicular a esse fio.
                                                      permeabilidade magn´tica do v´cuo, cujo valor
                                                                            e        a
   Ao interromper a passagem da corrente              ´ 4π × 10−7 T m/A, i ´ a corrente el´trica e r ´
                                                      e                     e             e          e
el´trica, a agulha voltou a se orientar na
  e                                                   a distˆncia entre o condutor e o ponto onde se
                                                            a
dire¸˜o norte-sul. Assim, ele concluiu que a
    ca                                                deseja medir o campo magn´tico.
                                                                                  e
corrente el´trica no fio se comportava como um
           e
´ a colocado pr´ximo a agulha magn´tica. Ou
ım˜              o                      e
seja, a corrente el´trica estabeleceu um campo
                   e                                  3    For¸a magn´tica sobre um
                                                              c      e
magn´tico no espa¸o em torno dela, e esse
      e               c                                    condutor
campo foi o respons´vel pelo desvio da agulha.
                      a
   Podemos concluir que cargas el´tricas em
                                      e               J´ sabemos que cargas el´tricas est˜o sujei-
                                                       a                         e           a
movimento geram, em torno delas, um campo             tas ` a¸˜o do campo magn´tico. Uma cor-
                                                          a ca                     e
magn´tico.
      e                                               rente el´trica ´ um fluxo de cargas el´tricas em
                                                              e      e                     e

                                                  1
movimento. Logo, uma corrente el´trica deve
                                     e                   A dire¸˜o dessa for¸a pode ser facilmente
                                                                ca          c
tamb´m sofrer a a¸˜o de uma fr¸a devida ao
      e            ca            c                    determinado pela regra da m˜o direita da se-
                                                                                   a
campo magn´tico.
             e                                        guinte forma; espalme sua m˜o direita dei-
                                                                                     a
  Como n˜o existe corrente sem condutor, essa
           a                                          xando o seu polegar esticado para o lado. Ali-
for¸a deve aparecer sempre que um condu-
   c                                                  nhando este dedo com o sentido da corrente
tor percorrido por uma corrente el´trica esteja
                                   e                  el´trica e os outros dedos com o sentido do
                                                        e
num campo magn´tico.
                  e                                   campo magn´tico, a palma da m˜o estar´ vol-
                                                                   e                   a      a
  Para calcular o m´dulo dessa for¸a, vamos
                     o                c               tada para o sentido da for¸a magn´tica.
                                                                                c        e
utilizar a equa¸˜o da for¸a sobre uma carga q
               ca        c
em movimento num campo magn´tico. e
                                                      4    Uma espira imersa num
                F = qvBsenφ                                campo magn´tico - O efeito
                                                                     e
Agora, por´m, n˜o temos apenas uma carga q,
            e    a                                         motor
mas um condutor percorrido por uma corrente
el´trica i.
  e                                                   Espira vem de espiral, nome que se d´ a cada
                                                                                              a
   Por defini¸˜o, a corrente el´trica ´ um fluxo
              ca              e      e                uma das voltas de um fio enrolado. Mas esse
de cargas el´tricas, sendo assim, matematica-
              e                                       nome ´ usado mesmo quando a volta ´ retan-
                                                             e                                 e
mente, temos                                          gular.
                        ∆q                               Imagine, ent˜o, uma espira retangular
                                                                        a
                    i=
                        ∆t                            imersa num campo magn´tico uniformemente,
                                                                                  e
Substituindo essa express˜o na equa¸˜o da
                           a            ca            de maneira que dois de seus lados estejam dis-
for¸a magn´tica obtemos
    c       e                                         postos perpendicularmente `s linhas do campo.
                                                                                    a
                                                         ´ a
                                                         E f´cil ver que uma corrente el´trica i per-
                                                                                          e
               F = i∆tvBsenφ
                                                      correndo essa espira vai ter sentidos opostos
Suponha agora que apenas um segmento do               em lados opostos. Suponha agora que o campo
condutor, de comprimento l, esteja imerso no          magn´tico e o plano da espira sejam horizon-
                                                            e
campo magn´tico. A intensidade vai depender
            e                                         tais. Pela regra da m˜o direita, pode-se verifi-
                                                                             a
da carga ∆q que percorre esse segmento l. Se          car que os lados da espira que s˜o perpendicu-
                                                                                       a
a carga percorre o segmento num intervalo de          lares ao campo magn´tico v˜o sofrer a a¸˜o de
                                                                             e      a            ca
tempo ∆t, a sua velocidade m´dia ser´
                             e      a                 for¸as verticais, de sentidos opostos. Note que
                                                          c
                         l                            essas for¸as tendem a fazer a espira girar.
                                                               c
                   v=                                    Se de alguma forma, for poss´  ıvel fazer com
                        ∆t
                                                      que o sentido de rota¸˜o se mantenha cons-
                                                                               ca
Fazendo essa substitui¸˜o na express˜o da
                      ca            a                 tante, essa espira ser´ o elemento b´sico de um
                                                                            a              a
for¸a, temos
   c                                                  motor.
                F = Bilsenφ
Como seria de se esperar, essa ´ uma express˜o
                               e            a         5    Campo gerado por uma bo-
muito semelhante ` do m´dulo da for¸a so-
                   a       o            c                  bina ou solen´ide
                                                                        o
bre uma carga em movimento. Tamb´m aqui,
                                      e
como no caso das cargas el´tricas em movi-
                             e                        Se um condutor retil´  ıneo gera um campo
mento, a for¸a ser´ nula se o condutor es-
             c      a                                 magn´tico circular, pode-se imaginar que um
                                                           e
tiver disposto na mesma dire¸˜o do campo
                                 ca                   condutor circular, formando uma espira, gere
magn´tico.
      e                                               um campo magn´tico retil´
                                                                      e         ıneo.

                                                  2
Isso de fato pode ocorrer quando, em vez            incˆmodas e poluentes.
                                                           o
de uma unica espira, tivermos um conjunto
          ´                                               Essa nova tecnologia come¸ou a surgir em
                                                                                       c
de espiras enroladas formando uma bobina so-           1831, quando foi descoberto um novo fenˆmeno
                                                                                                o
len´ide.
    o                                                  eletromagn´tico: a indu¸˜o eletromagn´tica.
                                                                   e              ca              e
   O campo no interior de um solen´ide ´ dire-
                                     o    e            Um campo magn´tico vari´vel, junto a um
                                                                           e         a
tamente proporcional ao n´mero de espiras e `
                           u                   a       circuito el´trico, faz aparecer uma corrente
                                                                  e
intensidade da corrente que as percorre. Se o            e                      ´
                                                       el´trica nesse circuito. E o princ´ b´sico dos
                                                                                         ıpio a
interior, o n´cleo do solen´ide, for preenchido
              u            o                           geradores e das grandes usinas de eleticidade,
com um material ferromagn´tico, a intensidade
                            e                          que tornaram poss´ uma nova era - a era da
                                                                           ıvel
do campo magn´tico aumenta enormemente.
                 e                                     eletricidade.
   Ali´s, ´ dessa forma que se constr´em os
      a e                                o
eletro´ as, bobinas enroladas em n´cleos de
       ım˜                             u
ferro que, quando percorridas por uma corrente
el´trica geram um intenso campo magn´tico.
  e                                      e
   A grande vantagem do eletro´ a, al´m do
                                  ım˜     e
intenso campo magn´tico que pode gerar, ´ a
                      e                      e
possibilidade de ser acionado, ou n˜o, bastando
                                   a
um chave que permita, ou n˜o, a passagem da
                             a
corrente el´trica. Os eletro´ as tˆm in´meras
            e               ım˜ e        u
aplica¸˜es tecnol´gicas, desde simples campai-
       co         o
nhas e relˆs a gigantescos guindastes.
           e


6    Conclus˜o
            a
A a¸˜o do campo magn´tico sobre uma cor-
     ca                    e
rente el´trica e o fenˆmeno inverso, a gera¸˜o
         e            o                      ca
de um campo magn´tico por uma corrente
                        e
el´trica, s˜o conhecidos h´ quase dois s´culos.
  e        a                a            e
S˜o, certamente, fenˆmenos respons´veis por
  a                    o               a
uma revolu¸˜o tecnol´gica que modificou dras-
             ca       o
ticamente a nossa vida.
   Mas essa revolu¸˜o n˜o surgiu imediata-
                     ca     a
mente. Embora j´ se conhecesse a tecnologia
                   a
dos eletro´ as, com suas in´meras aplica¸˜es,
           ım˜                u            co
demorou ainda algumas d´cadas para que tudo
                            e
isso pudesse ser aplicado na pr´tica. Faltava
                                 a
desenvolver uma tecnologia capaz de gerar a
enorme quantidade de energia que esses dispo-
sitivos exigiam. As pilhas eram as unicas fontes
                                   ´
de energia el´trica, mas eram (e ainda s˜o...)
               e                           a
caras e muito pouco pr´ticas. Para iluminar
                          a
alguns metros de rua eram necess´rias enor-
                                     a
mes pilhas que utilizavam substˆncias qu´
                                a        ımicas

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Corrente eletrica e_campo_magnetico

  • 1. Corrente el´trica e campo magn´tico e e Rafael Palota da Silva 28 de setembro de 2010 1 Experimento de Oersted Assim, o aparecimento de um campo magn´tico juntamente com a passagem de uma e Ainda no ano de 1820, os cientistas do mundo corrente el´trica foi pela primeira vez obser- e todo acreditavam que os fenˆmenos el´tricos e o e vado. magn´ticos eram toalmente independentes um e Essa descoberta foi fundamental para a uni- do outro. No entanto, o f´ ısico dinamarquˆs e fica¸˜o da eletricidade com o magnetismo, que ca Hans C. Oersted notou que isso n˜o era ver- a passaram a construir um importante ramo da dade. ciˆncia denominado eletromagnetismo. e Ao realizar diversas experiˆncias, Oers- e ted observou que uma corrente el´trica, pas- e 2 Lei de Biot-Savart sando por um condutor, desviava uma agulha magn´tica colocada na sua vizinhan¸a, de tal e c Como acabamos de ver, toda vez que uma modo que a agulha assumia uma posi¸˜o per-ca corrente el´trica passa por um condutor re- e pendicular ao plano definido pelo fio e pelo cen- til´ ıneo, este gera na regi˜o ao seu redor, um a tro da agulha. campo magn´tico. A intensidade desse campo e Utilizando-se inicialmente de um fio con- magn´tico pode ser determinado com uso de e dutor retil´ıneo, por onde passava uma cor- uma express˜o matem´tica imp´ a a ırica conhecida rente el´trica, Oersted psicionou sobre esse fio e como lei de Biot-Savart. uma agulha magn´tica, orientada livremente e na dire¸˜o norte-sul, fazendo uma corrente pas- ca µ0 i B= · sar pelo fio, observou que a agulha sofria um 2π r desvio na sua orienta¸˜o, e que esse desvio era ca onde B ´ o vetor indu¸˜o magn´tica, µ0 ´ a e ca e e perpendicular a esse fio. permeabilidade magn´tica do v´cuo, cujo valor e a Ao interromper a passagem da corrente ´ 4π × 10−7 T m/A, i ´ a corrente el´trica e r ´ e e e e el´trica, a agulha voltou a se orientar na e a distˆncia entre o condutor e o ponto onde se a dire¸˜o norte-sul. Assim, ele concluiu que a ca deseja medir o campo magn´tico. e corrente el´trica no fio se comportava como um e ´ a colocado pr´ximo a agulha magn´tica. Ou ım˜ o e seja, a corrente el´trica estabeleceu um campo e 3 For¸a magn´tica sobre um c e magn´tico no espa¸o em torno dela, e esse e c condutor campo foi o respons´vel pelo desvio da agulha. a Podemos concluir que cargas el´tricas em e J´ sabemos que cargas el´tricas est˜o sujei- a e a movimento geram, em torno delas, um campo tas ` a¸˜o do campo magn´tico. Uma cor- a ca e magn´tico. e rente el´trica ´ um fluxo de cargas el´tricas em e e e 1
  • 2. movimento. Logo, uma corrente el´trica deve e A dire¸˜o dessa for¸a pode ser facilmente ca c tamb´m sofrer a a¸˜o de uma fr¸a devida ao e ca c determinado pela regra da m˜o direita da se- a campo magn´tico. e guinte forma; espalme sua m˜o direita dei- a Como n˜o existe corrente sem condutor, essa a xando o seu polegar esticado para o lado. Ali- for¸a deve aparecer sempre que um condu- c nhando este dedo com o sentido da corrente tor percorrido por uma corrente el´trica esteja e el´trica e os outros dedos com o sentido do e num campo magn´tico. e campo magn´tico, a palma da m˜o estar´ vol- e a a Para calcular o m´dulo dessa for¸a, vamos o c tada para o sentido da for¸a magn´tica. c e utilizar a equa¸˜o da for¸a sobre uma carga q ca c em movimento num campo magn´tico. e 4 Uma espira imersa num F = qvBsenφ campo magn´tico - O efeito e Agora, por´m, n˜o temos apenas uma carga q, e a motor mas um condutor percorrido por uma corrente el´trica i. e Espira vem de espiral, nome que se d´ a cada a Por defini¸˜o, a corrente el´trica ´ um fluxo ca e e uma das voltas de um fio enrolado. Mas esse de cargas el´tricas, sendo assim, matematica- e nome ´ usado mesmo quando a volta ´ retan- e e mente, temos gular. ∆q Imagine, ent˜o, uma espira retangular a i= ∆t imersa num campo magn´tico uniformemente, e Substituindo essa express˜o na equa¸˜o da a ca de maneira que dois de seus lados estejam dis- for¸a magn´tica obtemos c e postos perpendicularmente `s linhas do campo. a ´ a E f´cil ver que uma corrente el´trica i per- e F = i∆tvBsenφ correndo essa espira vai ter sentidos opostos Suponha agora que apenas um segmento do em lados opostos. Suponha agora que o campo condutor, de comprimento l, esteja imerso no magn´tico e o plano da espira sejam horizon- e campo magn´tico. A intensidade vai depender e tais. Pela regra da m˜o direita, pode-se verifi- a da carga ∆q que percorre esse segmento l. Se car que os lados da espira que s˜o perpendicu- a a carga percorre o segmento num intervalo de lares ao campo magn´tico v˜o sofrer a a¸˜o de e a ca tempo ∆t, a sua velocidade m´dia ser´ e a for¸as verticais, de sentidos opostos. Note que c l essas for¸as tendem a fazer a espira girar. c v= Se de alguma forma, for poss´ ıvel fazer com ∆t que o sentido de rota¸˜o se mantenha cons- ca Fazendo essa substitui¸˜o na express˜o da ca a tante, essa espira ser´ o elemento b´sico de um a a for¸a, temos c motor. F = Bilsenφ Como seria de se esperar, essa ´ uma express˜o e a 5 Campo gerado por uma bo- muito semelhante ` do m´dulo da for¸a so- a o c bina ou solen´ide o bre uma carga em movimento. Tamb´m aqui, e como no caso das cargas el´tricas em movi- e Se um condutor retil´ ıneo gera um campo mento, a for¸a ser´ nula se o condutor es- c a magn´tico circular, pode-se imaginar que um e tiver disposto na mesma dire¸˜o do campo ca condutor circular, formando uma espira, gere magn´tico. e um campo magn´tico retil´ e ıneo. 2
  • 3. Isso de fato pode ocorrer quando, em vez incˆmodas e poluentes. o de uma unica espira, tivermos um conjunto ´ Essa nova tecnologia come¸ou a surgir em c de espiras enroladas formando uma bobina so- 1831, quando foi descoberto um novo fenˆmeno o len´ide. o eletromagn´tico: a indu¸˜o eletromagn´tica. e ca e O campo no interior de um solen´ide ´ dire- o e Um campo magn´tico vari´vel, junto a um e a tamente proporcional ao n´mero de espiras e ` u a circuito el´trico, faz aparecer uma corrente e intensidade da corrente que as percorre. Se o e ´ el´trica nesse circuito. E o princ´ b´sico dos ıpio a interior, o n´cleo do solen´ide, for preenchido u o geradores e das grandes usinas de eleticidade, com um material ferromagn´tico, a intensidade e que tornaram poss´ uma nova era - a era da ıvel do campo magn´tico aumenta enormemente. e eletricidade. Ali´s, ´ dessa forma que se constr´em os a e o eletro´ as, bobinas enroladas em n´cleos de ım˜ u ferro que, quando percorridas por uma corrente el´trica geram um intenso campo magn´tico. e e A grande vantagem do eletro´ a, al´m do ım˜ e intenso campo magn´tico que pode gerar, ´ a e e possibilidade de ser acionado, ou n˜o, bastando a um chave que permita, ou n˜o, a passagem da a corrente el´trica. Os eletro´ as tˆm in´meras e ım˜ e u aplica¸˜es tecnol´gicas, desde simples campai- co o nhas e relˆs a gigantescos guindastes. e 6 Conclus˜o a A a¸˜o do campo magn´tico sobre uma cor- ca e rente el´trica e o fenˆmeno inverso, a gera¸˜o e o ca de um campo magn´tico por uma corrente e el´trica, s˜o conhecidos h´ quase dois s´culos. e a a e S˜o, certamente, fenˆmenos respons´veis por a o a uma revolu¸˜o tecnol´gica que modificou dras- ca o ticamente a nossa vida. Mas essa revolu¸˜o n˜o surgiu imediata- ca a mente. Embora j´ se conhecesse a tecnologia a dos eletro´ as, com suas in´meras aplica¸˜es, ım˜ u co demorou ainda algumas d´cadas para que tudo e isso pudesse ser aplicado na pr´tica. Faltava a desenvolver uma tecnologia capaz de gerar a enorme quantidade de energia que esses dispo- sitivos exigiam. As pilhas eram as unicas fontes ´ de energia el´trica, mas eram (e ainda s˜o...) e a caras e muito pouco pr´ticas. Para iluminar a alguns metros de rua eram necess´rias enor- a mes pilhas que utilizavam substˆncias qu´ a ımicas 3