O documento discute a crescente atenção da economia para o bem-estar e a felicidade das pessoas. Estudos mostram que trabalhadores satisfeitos são mais produtivos e que acima de certo nível de renda, maiores ganhos não trazem mais felicidade. No entanto, a eterna insatisfação humana mantém a busca por mais renda e status.
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Economia6• CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
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EEddiittoorr:: Vicente Nunes
vicentenunes.df@dabr.com.br
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InflaçãoDólar EuroBolsas Global30Bovespa CDB
11,15%R$3,282
Índice Bovespa nos
últimos dias (em pontos)
Título da dívida externa
brasileira na terça-feira
Na terça-feira Últimas cotações (em R$)
Comercial, venda
na terça-feira
Na terça-feira
Prefixado
30dias(aoano)
IPCAdoIBGE(em%)Naterça-feira
Capitaldegiro
48.495
18/12 19/12 22/12 23/12
50.889
R$2,705
( ▲ 1,64%)
US$5,198
(Estável)
Julho/2014 0,01
Agosto/2014 0,25
Setembro/2014 0,57
Outubro/2014 0,42
Novembro/2014 0,51
0,42%
Nova York
16/dezembro 2,73
17/dezembro 2,73
18/dezembro 2,65
19/dezembro 2,65
22/dezembro 2,65 15,14%1,53%
SãoPaulo
» PAULO SILVA PINTO
A
história pode ser vista sob
o ângulo da transforma-
çãodanaturezaemrique-
za.Começoucomabusca
do ser humano por conforto: car-
ne, grãos e abrigo. Mas logo veio a
ostentação, na forma de adornos,
tótens, pirâmides, templos e palá-
cios.Aciênciasurgiucomoinstru-
mento para a busca de avanços e
também para a compreensão de
nossatrajetória.
Pouco mais de dois séculos
atrás, começou a se desenhar a
vertente do conhecimento dedi-
cada à prosperidade: a econo-
mia. Assumiu-se como desafio
teórico mostrar como conquis-
tar o máximo possível de tudo o
que é bom. Fórmulas surgiram
para garantir que a produção só
tenha um viés, o de alta. Ques-
tionar o postulado de que o di-
nheiro faz as pessoas mais feli-
zes era coisa de mesa de bar, sem
espaço sério na academia.
Só que o jeito de ver as coisas
está mudando. E num ritmo cada
vez mais intenso, como mostrará
série que o Correio publica a par-
tir de hoje.“Dedicamos excessiva
atenção à renda”, alerta o profes-
sor Bruno Frey, do Departamento
de Economia da Universidade de
Zurique, um dos maiores expoen-
tes dos estudos da busca pela feli-
cidade.“Aspessoasprecisamvalo-
rizararelaçãocomamigosefamí-
lia”, recomenda ele, que integra a
lista dos 50 economistas mais im-
portantesdoplaneta.
Pode-se argumentar que, para
perceber essas coisas, a ciência
econômica é supérflua. No en-
tanto, ela vem oferecendo uma
grande ajuda, com releituras so-
bre o conhecimento que se acu-
mulou até hoje. A ideia não é
mais ter o máximo. É saber o
quanto é preciso — e possível —
ter, além de identificar a medida
do esforço que vale a pena apli-
car na empreitada.
Processodeescolha
Asnovasteoriaspermitemdes-
trinchar algumas formas de deci-
são de que as pessoas não se dão
conta,eque,muitasvezes,sãono-
civas para elas. Do mesmo modo
que se calcula o valor presente de
uma empresa presumindo todo o
lucro que ela terá em décadas, e
descontando-seataxadejuros,os
economistas conseguem explicar,
por exemplo, por que nós resisti-
mostantoafazerexercíciosfísicos
e seguir dietas que nos permitirão
terumavidamelhoremaislonga.
A diferença de morrer aos 80
ou aos 85 não aparenta ser um
ganho de cinco anos aos olhos de
um quarentão. Dá-se a essa de-
turpação o nome de desconto hi-
perbólico. A vantagem da desco-
berta é que se pode mostrar a coi-
sa pelo lado inverso, destacando
que um benefício que parece pe-
queno agora crescerá exponen-
cialmentenofuturo.
Tudo isso parece um pouco
com outra área de ciência. E mui-
tas vezes é. Em 2002, o Prêmio
Nobel de Economia foi concedido
a Daniel Kahneman, professor de
psicologia da Universidade de
Princeton que estudou os proces-
sos de escolhas financeiras. É co-
mo se tivéssemos dois cérebros,
ele explica, um racional; outro,
emocional.Ambosestãoemcons-
tantediálogoeconflito.Foiumba-
quediantedaracionalidadequese
atribuía ao Homo economicus,o
ser dentro de nós que toma deci-
sõessobreconsumoepoupança.
Kahneman também mostrou
que várias escolhas são equivoca-
das,porqueaspessoasnãoconse-
guem prever o prazer que terão
com determinada escolha. Gas-
tammuitoparacomprarumcarro
zero, por exemplo, e acabam por
descobrir que o cheiro de novo
passalogoequeseriamelhorusar
odinheirodeoutraforma.
Amoredinheiro
Do Nobel de Kahneman para
cá, o interesse pelo bem-estar das
pessoas em suas decisões que en-
volvem dinheiro só cresceu.“Nin-
guémsabeporqueaeconomiada
felicidade tem ganhado tanta
atenção de pesquisadores, gover-
nos e público. Mas deve ser pelas
crescentes demonstrações de que
não estamos ficando mais felizes,
embora sejamos muito mais ricos
que os nossos avós”, pondera o
professorAndrewOswald,daUni-
versidadedeWarwick,naInglater-
ra. “Eu gosto de pensar que isso
ocorre também porque os econo-
mistas estão começando a ver as
coisascomoelasdevemser.Oque
poderia ser mais importante do
que a felicidade humana? A única
surpresa que cabe é não terem
percebidoissoantes”,emenda.
Um dos vários estudos de Os-
wald sobre a economia da felici-
dade mostra que trabalhadores
satisfeitos conseguem elevar em
12%aprodutividade.Mas,seéas-
sim, por que há chefes que ainda
acreditam mais na disseminação
do medo e de ameaças para con-
seguir o máximo de suas equipes?
“Muitas empresas ainda estão de-
fasadas. Acham que os funcioná-
riosdevemsertratadosnabaseda
força, da ditadura, como se fos-
sem soldados.Talvez isso funcio-
nassenosanos1950,quandoain-
dústria manufatureira era o que
havia de mais importante. Mas
não serve para o mundo de hoje,
em que as pessoas trabalham em
escritórios, usando o cérebro e a
iniciativa”,ressalta.
No Brasil, o assunto também
tematraídoatençãodeeconomis-
tas de variadas tendências.“Isso é
de enorme interesse. O amor ao
dinheirodeveserabandonadoem
favordafruição.Temosdetertem-
podeapreciarasobrasdearte.To-
do mundo está percebendo que a
competição desenfreada destrói
as pessoas”, afirma Luiz Gonzaga
Belluzzo, professor de economia
daUniversidadeEstadualdeCam-
pinas (Unicamp). Ele nota que Jo-
hn Maynard Keynes já menciona-
vaissonadécadade1920,quando
escreveu o texto As consequências
econômicasparaosnossosnetos.
Quantocustaa
felicidade
A eterna insatisfação humana
Governoseempresassededicamcadavezmaisamedirobem-estar.Umtrabalhadorsatisfeitoelevaematé12%aprodutividade
Distribuição
de renda
Uma contribuição que não é
nova para a compreensão do
bem estar econômico, anterior
até mesmo a John Maynard
Keynes, é a teoria da utilidade
marginal decrescente. Cada
dólar, cada real, que alguém
recebe tem importância menor
que o anterior. Assim, torna-se
necessário ganhar cada vez
mais para conseguir uma
satisfação no mínimo
semelhante à de antes. Essa
ideia serve de embasamento
para os programas de
distribuição de renda, pois
demonstra que um pagamento
extra de R$ 100 para uma
pessoa miserável tem grande
impacto em sua vida, ao passo
de que será visto quase que
com indiferença por alguém de
classe média.
Quando se acostuma com de-
terminadopadrãodevidae,even-
tualmente, enfrenta-se dificulda-
de para pagar as contas, vive-se
ansiedadeeangústia.Poroutrola-
do, há consenso de que ganhos
elevadosderendatêmefeitoredu-
zido, ainda que não sejam nulos,
para fazer as pessoas mais felizes.
Um prêmio de loteria, por exem-
plo, traz grande alegria. Mas dura
algumas semanas ou meses. De-
pois, o ganhador adapta suas ex-
pectativasaopadrãoconquistado.
Aumentosderendanãosóten-
dem a proporcionar ganhos de fe-
licidade de forma decrescente co-
moacabamencontrandoumteto,
além do qual acréscimos de bem-
estarsãoneglicenciáveis,segundo
economistas. “Eu duvido que os
países fiquem mais felizes depois
de atingir o nível de renda da Eu-
ropa nos anos 1990 (cerca de
US$ 40 mil anuais, ou R$ 107,3
mil). Acima desse patamar, a
única coisa que existe é a publici-
dade convencendo as pessoas a
compraremumcarromaispoten-
te que o do vizinho, ou um relógio
mais caro, o que não traz ganho
nenhum para a sociedade de mo-
do mais amplo”, argumenta An-
drew Oswald, da Universidade de
Warwick,naInglaterra.
Há controvérsias sobre esse
patamarmáximodarelaçãoentre
aumento de renda e felicidade.
Economistas norte-americanos
apontam US$ 13.500 mensais
(R$ 36.200) como o limite. Uma
coisa porém é livre de divergên-
cia: o que importa para as pes-
soas, muitas vezes, não é a renda
em si, mas a comparação com os
outros. Pesquisas mostram que
uma pessoa que tem o salário do-
brado fica muito aborrecida, em
vez de comemorar, se descobre
que o ganhodoscolegasfoimulti-
plicadoportrês.Éumadescoberta
quelevamaiságuaparaomoinho
dosdefensoresdaequidade.
Os ganhos da economia da fe-
licidade vão além da compreen-
são das escolhas individuais. Para
o economista Pedro Fernando
Neri, consultor do Senado, há
grande potencial para a concep-
ção de políticas públicas,“desde
que o governo tome o cuidado de
não ser paternalista”. A mobilida-
de urbana, por exemplo, é algo
que ajuda muito. Para a teoria
econômica tradicional, se a pes-
soa mora longe do trabalho, o
tempo gasto diariamente é con-
trabalançado pela vantagem de
umacasamaioroumaisbarata.
Estudo de Bruno Frey, da Uni-
versidade de Zurique, mostra,
porém, que a soma das vanta-
gens de desvantagens de diferen-
tes escolhas não tem soma equi-
valente: quanto mais tempo se
gasta diariamente, menor o bem-
estar, ainda que se viva em uma
casa melhor. (PSP)
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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 24 de dezembro de 2014 • Economia • 7
» PAULO SILVA PINTO
A
o mesmo tempo em que
aponta para o futuro, a
economia da felicidade
representa uma volta ao
passado, quando as ciências con-
versavam entre si e a busca do
bem-estar do ser humano estava
no centro das discussões. Rober-
to Romano, professor de filosofia
da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) lembra
que Adam Smith (1723-1790), o
pai da economia moderna, bus-
cava no livre mercado a otimiza-
ção da qualidade de vida, assim
como Karl Marx (1818-1883), o
criador do comunismo, mirava a
mesma direção por outro cami-
nho.“Ele fez uma críticaao modo
de produção que destruía os cor-
pos humanos”, relata Romano.
“Era comum encontrar na
Europa da época trabalhadores
que tinham uma vida pior do
que a dos escravos das Améri-
cas”, assinala o antropólogo Ro-
berto DaMatta, professor da
Pontifícia Universidade Católi-
ca do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Ele explica que a preocupação
da felicidade é algo próprio do
processo civilizatório. Os índios
Apynayé, que DaMatta estudou
décadas atrás, “não procuram a
felicidade, nem sabem o que é
isso. Mas são felizes”.
Se no iluminismo do século
18 a felicidade estava no centro
das atenções, o que ocorreu de
errado? “Vieram os séculos mal-
ditos 19 e 20, em que as religiões
se voltaram mais para o pecado
e tanto a esquerda quanto a di-
reita se tornaram ascéticas”, diz
Romano. Ele atribui à difusão
das ideias do filósofo Immanuel
Kant (1724-1804) a construção
da ideia de um mundo que deve
funcionar “como uma engrena-
gem perfeita”, sem espaço para
as ideias de felicidade.
Nesse processo, a ciência eco-
nômica transformou-se em algo
cheio de fórmulas,“desumaniza-
do” na opinião de Romano. Ou-
tras áreas, segundo ele, também
foramprejudicadasporessemo-
do de ver as coisas, mesmo a fi-
losofia, na qual os pesquisadores
tendem a uma excessiva espe-
cialização. Às vezes constroem a
carreira sobre um capítulo de
determinado autor, sem olhar
para todo o seu trabalho e mui-
to menos para outros nomes.
Nesse ambiente, falta receptivi-
dade para discutir o sentido da
vida. “Outro dia eu falei da im-
portância da busca da felicida-
de em uma discussão pública e
um dos participantes disse que
era uma bobagem”, conta.
DaMatta nota que o significa-
do do que é viver bem varia con-
forme a cultura. Depois do dou-
torado em Harvard, ele ganhou
uma cátedra na Universidade de
Notre Dame, uma das mais im-
portantes dos Estados Unidos.
Mas voltou ao Brasil porque sen-
tia que a vida dele era mais com-
pleta aqui. “Lá, quando se faz
umaaulaboa,elaterminaepron-
to. Aqui, se a aula é boa, todos
continuam conversando depois
que ela acaba”, diz.
Um dos ingredientes essen-
ciais, em qualquer sociedade,
ressalta DaMatta, é a convivência
com a família e com amigos.“Há
homens de 50 anos que se reú-
nem para comer salaminho e
contarmentirassobreconquistas
sexuais. Isso faz deles mais feli-
zes”, comenta. Outro ponto que
ele considera essencial é ter a cla-
ra noção daquilo que se conse-
gue fazer e o que não se conse-
gue.“AprendiissocomosAlcoóli-
cos Anônimos.” Ele frequentou
reuniõesdogrupoquandoacom-
panhava um filho, hoje falecido.
Angústia
O antropólogo identifica na
grande quantidade de informa-
çõesdisponíveishojeemdiauma
das fontes de angústia moderna.
“No passado, havia corrupção,
mas nós nem nos dávamos conta
disso. Agora, é impossível não to-
mar conhecimento. E também
não se consegue ficar indiferente
a tudo isso”, diz.
Isso está longe de passar des-
percebido por funcionários de
instituições que estão, ou estive-
ram,envolvidascomoproblema.
Para o gerente de suprimentos
dos Correios, ÉrcoleTramontano,
é necessário indignar-se. “Mas é
possível fazer isso sem ser infe-
liz”, defende. Ele concorda que,
para muitas pessoas, isso é difícil,
não só pelas informações sobre a
Uma engrenagem perfeita
Noemprego,independentementedocargo,aspessoassempreesperamoreconhecimentodequeexecutarambemasfunções.
Funcionáriossentem-seconstrangidosquandodescobremquedonosdasempresasparaasquaistrabalhamestãometidosemcorrupção
corrupção, mas por todas as
mazelas do mundo.“Tem muita
gente que se sente constrangi-
da em ser feliz com tanta notí-
cia ruim”, afirma.
Tramontano desenvolve
ações de estímulo da felicidade
em sua equipe de 150 pessoas,
responsáveis por responder às
necessidades de 10,3 mil pontos
de atendimento dos Correios em
todoopaís.Eleafirmaqueépossí-
vel ser rigoroso no trabalho sem
causargrandestranstornosàspes-
soas.“Quandoumfornecedornão
cumpreosprazos,eleéchamadoe
eu comunico que terá de pagar
multa. É simples assim. Não é ne-
cessárioserpetulante”,destaca.
Para Tramontano, a maior
dificuldade está no modo de as
pessoas verem as coisas. “Fica-
mos sempre adiando o momento
de ser feliz. Se cumprimos uma
tarefa, ficamos na expectativa de
ver o trabalho completo. E quan-
do conseguimos isso, deixamos a
felicidade para quando vier o re-
conhecimento de que aquele foi
um bom trabalho”, conclui.
O modo de avaliar a evolução
dequalquerpaís,eseugoverno,é
olhar para o crescimento do Pro-
duto Interno Bruto (PIB). Mas o
indicador tem sido questionado
comoumamedidadebem-estar.
Mesmo o Índice de Desenvolvi-
mento Humano (IDH), que leva
emcontaarendaaoladodeindi-
cadores sociais, como a expecta-
tiva de vida, dá margem a dúvi-
dassobreoquantoaspessoases-
tãorealmentefelizes.
OprimeirodesafioaoPIBveio
em1972dodistantereinodoBu-
tão,queficaaospésdoHimalaia,
encravado entre a Índia e a Chi-
na. O país criou a Felicidade In-
terna Bruta (FIB).Todos os anos,
umaamostradoscidadãosécon-
vidada a responder 249 conjun-
tos de questões. Em um deles,
por exemplo, as pessoas devem
avaliar, em uma escala de seis
pontos, seu nível de satisfação
comasaúde,arelaçãocomosfa-
miliares e o trabalho. Em outro
conjunto,éindagadoseacharam
um sentido para a vida, se têm li-
berdadeparaexpressaropiniões,
se suas atividades proporcionam
realização e se as pessoas em sua
vidapreocupam-secomelas.
Não há um resultado numéri-
coparaoFIB,maseleajudaogo-
verno a tomar várias decisões,
segundo o administrador e pu-
blicitário Rogério Oliveira, 39
anos, que já foi três vezes ao país
e lá conseguiu uma das fontes de
inspiração para seu trabalho de
consultoria em empresas. Olivei-
ra explica que os valores do país
não são necessariamente os que
se usam em outros lugares.“Eles
consideram a educação impor-
tante na medida em que permite
às pessoas se expressarem. Mas
fazer um doutorado, por exem-
plo, não é visto como algo que
possaampliarafelicidade”,diz.
Uma crítica recorrente ao sis-
tema butanês é o fato de o país
ser uma monarquia, com resul-
tados questionáveis em termos
de democracia. Oliveira afirma,
porém, que o rei leva uma vida
simples, e que as liberdades vem
sendoampliadas.
Diferenças
A experiência do Butão e o
crescimentodofocodafelicidade
na economia tem levado gover-
nos a se preocupar com o assun-
to. A França contratou um grupo
de vencedores do Nobel de Eco-
nomiaparaavaliarcomoosfran-
ceses de sentem. O Reino Unido
foi na mesma linha. As conclu-
sões apresentadas até agora não
fogemmuitodoquejáéconheci-
do:oPIBéumindicadorlimitado
e outras pesquisas, sobretudo na
áreasocial,sefazemnecessárias.
Em 2011, a Assembleia Geral
da Organização das Nações Uni-
das (ONU) aprovou uma resolu-
ção convidando os países mem-
bros a medir a felicidade de seus
cidadãos e a usar os resultados
para orientar políticas públicas.
A busca da felicidade é apontada
como objetivo humano funda-
mental, que abarca os Objetivos
deDesenvolvimentodoMilênio.
Um dos modos de medir e
comparar a felicidade das pes-
soaséperguntaraelasoquepen-
sam, por meio de pesquisas de
opinião. O problema disso é que
a avaliação da felicidade é algo
subjetivo. E quando se levam em
conta diferenças culturais, tudo
ficaaindamaisdifícil.
Para fugir da subjetividade,
há a tentativa de sistematizar
números globais. OWorld Hap-
piness Report, dos economistas
John Helliwell, Richard Layard e
Jeffrey Sachs, foi feito pela últi-
ma vez no ano passado e colo-
cou o Brasil em 24º lugar entre
156 países. (PSP)
Povo fala
JÚNIORROCHA,
31 anos, instrutor de trânsito
Odinheiroéum
complementoda
felicidade.Seeu
ganhassenaMega-
Sena,eupoderia
tornarasmúsicasque
componhoconhecidas
maisrapidamente.
Tenho200
composiçõesde
reggae,MPBeatésertanejo.Termuitodinheiro
nãoéindispensávelparaserfeliz.Seapessoa
estácomdepressão,nãoadiantanada.Há
pessoasquenascememorreminfelizes.Não
temjeito.Oimportanteéagentevivercadadia
comosefosseoúltimo.
RAIMUNDODEFREITASLANTYER,
56 anos, motorista
No meu modo de ver,
o dinheiro não faz
uma pessoa mais
feliz.Vejo gente muito
rica e infeliz e
também conheço
pessoas que moram
em casa de taipa e são
muito felizes.Eu sou
espírita há 20 anos e
acho que o que mais importa não é a
materialidade,mas sim fazer o bem.É isso
o que eu ensino aos meus filhos.É muito
difícil eu jogar em loteria.Se ganhasse,
iria usar o dinheiro para ajudar a família
e instituições de caridade.
AMANDAROSINA,
24 anos, vendedora
Dinheiro é coisa
passageira,você gasta
e acabou.Eu luto
para ter dinheiro,mas
não sou gananciosa.
Não trabalharia em
algo que eu não gosto,
por exemplo,para
ganhar mais.Até
porque só quem
trabalha no que gosta faz as
coisas benfeitas,sente prazer
em sair de casa todos os dias
para produzir.Acho que a
coisa mais importante para a
felicidade é ter saúde.
NATÁLIADEOLIVEIRA,
28 anos, psicóloga
O dinheiro ajuda a
felicidade em parte,
porque proporciona
conforto.Mas
também causa muita
infelicidade em
alguns casos,como
nas situações de briga
de irmãos em disputas
por herança.O
importante na vida é ter
equilíbrio,saber dar o
valor real às coisas.
Infelizmente,nem sempre
as pessoas conseguem.
DINHEIROFAZAPESSOASERFELIZ?
RONIDOURADO,
26 anos, não estuda nem trabalha
Às vezes,o dinheiro
ajuda a ser feliz.Se eu
tivesse um pouco de
dinheiro sobrando
agora,passaria o fim
de ano em Salvador.
Mas,como deixei o
emprego de vendedor
em agosto,não será
possível.Mas a
minha vida está boa.Moro em Posse,
na Bahia.É um lugar com menos
empregos do nas cidades grandes,
mas as pessoas são mais felizes,
porque há menos correria e a
violência é menor.
FLÁVIAAMARAL,
34 anos, advogada
O dinheiro não traz
toda a felicidade.
Claro que ajuda nas
despesas do dia a dia,
traz conforto.É
possível também
ajudar a família.Mas
também atrapalha ao
trazer para perto da
gente pessoas
interesseiras.O trabalho é uma fonte
de felicidade quando a gente pensa
não só na remuneração,mas nos
resultados.O que eu mais me realiza
no meu trabalho é quando eu consigo
ajudar as pessoas.
BILTISBRAGASOUZA,
30 anos, auxiliar de serviços gerais
Para algumas coisas,
o dinheiro ajuda.
Para outras, não. É o
caso das doenças
incuráveis. Se eu
tivesse mais dinheiro,
compraria um carro
e estudaria inglês.
Mas farei isso de
qualquer jeito, só vai
demorar mais. Gosto muito
do meu trabalho. Ficar em
casa, não dá. No próximo
ano, vou começar a estudar
em um curso técnico de
secretariado.
DENNERENESOUSAALVES,
19 anos, militar
Felicidade é ter uma
casa e uma família
boa.Na vida,temos
que correr atrás
dessas coisas que nos
fazem bem.E isso
independe de
dinheiro.Claro que se
eu ganhasse na loteria
tudo ficaria mais
fácil,poderia ajudar,mas a
gente não precisa disso para
ser feliz.Se eu ganhar muito
dinheiro,não vou mudar o
que eu sou.A gente tem que
ser humilde.
PIB não
diz tudo
ÉrcoleTramontano,dosCorreios,comandaumaequipede150pessoas.Paraele,éumexercíciodiárioserfeliz
Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
Quanto custa afelicidade
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Economia7• CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
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EEddiittoorr:: Vicente Nunes
vicentenunes.df@dabr.com.br
3214-1148
» PAULO SILVA PINTO
E
m tempos de escassez de
mão de obra qualificada,
reter talentos é a maior
preocupação das empre-
sas mais dinâmicas, que veem a
felicidade no ambiente de traba-
lhocomoumalvoconstante.Em-
bora ofereçam benefícios visto-
sos a seus funcionários, elas sa-
bemqueissoestálongedesersu-
ficiente. Erdman Correia da Silva,
26 anos, não tem dúvidas sobre a
razão que o leva a querer conti-
nuar no laboratório Sabin por
longo tempo: a perspectiva de
crescer. “As pessoas precisam
olhar para a frente e verem que
há boas perspectivas profissio-
nais. É o que nos move”, diz.
Há um ano na companhia, ele
foi promovido depois do terceiro
contracheque. Entrou como re-
cepcionista,cargoqueaindaocu-
pa por meio período. O resto do
tempo fica no departamento de
audiovisual, onde escreve rotei-
ros de filmes de treinamento.
“Faço historinhas com persona-
gens, para não ficar com cara de
telecurso”, explica.
Se pudesse escolher o trabalho
ideal, Erdman gostaria de ser ci-
neasta. Mas não deixa de fazer
seus curta metragens nos mo-
mentos de folga. E garante que é
feliz. Tem melhor remuneração,
mais benefícios e perspectivas de
crescimento do que no emprego
anterior, na seção de filmes de
uma grande livraria.“Eu gostava
de conversar com clientes sobre
filmes. Mas não conseguiria evo-
luirnaqueleemprego”,conta.Não
tevequetomariniciativaparasair.
A solução veio com a entrada de
umbanconoblocodecontroleda
empresa, a que se seguiu a deci-
são de demitir os funcionários
maisantigosecaros.
No Sabin, a cobrança de metas
érigorosa,masaideiaémanteros
funcionários por muito tempo. Se
Erdman ficar lá por cinco anos,
ganharáumsalárioamais.Seche-
gar a 20, levará um carro zero. Em
dezembro, os funcionários rece-
bem tíquete alimentação de
R$ 880 em vez dos tradicionais
R$ 440.“A felicidade da equipe é
essencial para a cordialidade no
atendimentoaopúblico”,afirmaa
presidente da empresa, Lídia Ab-
dalla. Mas há outros benefícios: a
rotatividade média das firmas do
setor é de 6% mensais; no Sabin, é
deapenas0,5%entreos2.250fun-
cionários espalhados por nove ci-
dades — em Brasília, sede da em-
presa,estão1.450.
Valor social
Alémdeagradoseperspectivas
de avanço na carreira, o profissio-
nalficamaisfelizquandovêosre-
sultados do que fez, na avaliação
do diretor de Gestão de Pessoas
do Banco do Brasil, Carlos Netto.
“Éfundamentalparaosfuncioná-
rios ter noção do significado do
valor social do trabalho. Isso faz
toda a diferença. Como a escola
não ensina isso, precisamos mos-
trar”, diz. Desde o ano passado, o
tema faz parte de uma campanha
interna do BB, mostrando, por
exemplo,queosegurodevidapo-
de ajudar um jovem a pagar a fa-
culdadenaausênciadopai.
Isso não substitui os bene-
fícios. O banco gasta por ano
» FRANCELLE MARZANO
Belo Horizonte (MG) — Parte
da felicidade nas empresas está
relacionada à liberdade de ir e vir,
dizem os sócios da KOT Enge-
nharia, Bruno Miranda e João
Gabriel Sá. Por isso, o clima sem-
pre é de festa na empresa. Eles
contam que, por ano, investem
pelomenosR$170milnaautoes-
tima dos funcionários. Entre os
benefíciosestãoaflexibilidadede
horário,salacomtevê,games,so-
fá, pufs para descontração, tem-
po para ginástica laboral todos os
dias, estrutura moderna, em vão
livre, sem divisões entre as pes-
soas, alimentação saudável, ca-
pacitação e treinamentos.
“Nãocustaquasenadaserfeliz.
O gasto que temos é o de tocar
projetosquecontribuamparaafe-
licidade dos colaboradores. Con-
tudo,osbenefícioqueelestrazem,
como a alta produtividade, são
enormes. Não temos nem como
mensurá-los. O que posso dizer é
que 90% dos nossos clientes se
mostram felizes”, afirma João Ga-
briel.“Mas que fique claro: toda a
liberdade na empresa é atrelada a
responsabilidades. Ninguém tem
horário fixo, porém, sempre há
prazos para a entrega de projetos.
Ou seja, a pessoa pode trabalhar
muitas horas em um dia e menos
em outros. Se tem algum médico
ou compromisso, pode sair para
resolver sem se preocupar em ter
quedarmuitasatisfaçãonotraba-
lho”,complementaBruno.
Na Plan B, agência de comuni-
cação, a felicidade dos colabora-
doreséumprincípiobásico.Sócio
da empresa, ClécioWains conta
que depende muito da produção
intelectual.“Sempre procuramos
uma solução fantástica para os
cliente. Assim, se não tivermos
um bom ambiente de trabalho,
onde as pessoas se sintam felizes,
não conseguimos chegar com
uma boa solução para quem está
nos pagando”, reflete. Ele ressalta
queabuscapelafelicidadelevoua
Plan B a buscar uma nova sede,
cominvestimentosdeR$700mil.
O objetivo foi proporcionar
maisdinamismoecriatividadeaos
empregados,quepassaramacon-
tar com espaço pet para seus ani-
mais (eles podem levar seus ca-
chorros para o trabalho), lounge
paradescanso,cozinha,minirram-
padeskateechuveirosparaquem
chegadebicicleta.Osprópriostra-
balhadoresderamideiasparapla-
nejar o ambiente, envolveram-se
com o projeto, o que faz com que
sesintamumpoucodonosdone-
gócioetrabalhemmaisfelizes.Que
o diga Paula Albino, 27 anos, há
cinco na empresa.“Uma compa-
nhia que valoriza seus profissio-
nais têm retornos maiores. Se so-
mos felizes, somos mais produti-
vos.Ouseja,todosganham”,diz.
Osonhodemuitosbrasileirosé
virarfuncionáriopúblico,embus-
ca da estabilidade e de uma boa
remuneração. Seria de esperar
que,umavezconquistadoocargo,
ficassem felizes.“Mas o que se vê,
quando se entra em muitos locais
de trabalho, são servidores estu-
dando para fazer novos concur-
sos”, afirma Mário César Ferreira,
do Instituto de Psicologia da Uni-
versidadedeBrasília(UnB).
Em geral, os funcionários que
continuam galgando novas posi-
ções querem ganhar melhor, con-
seguir uma jornada mais flexível
ou um órgão que lhes garanta
“maiorprestígiosocial”,relataFer-
reira. Entre as queixas na função
que exercem está, muitas vezes, a
irrelevância do que fazem, por ser
algo aquém do que permite a for-
mação que possuem. “O que se
ouve é: consegui passar onde eu
queria, mas estou infeliz, fazendo
tarefas imbecis”, ressalta. Parao
professor, o problema está no de-
senho dos concursos, que não
permite a escolha das pessoas
maisadequadasparaoscargos.“O
queseexigeémemóriadeelefante
para repetir um monte de infor-
maçõesqueserãoinúteisdepois.”
Outroproblemarecorrentenas
repartiçõespúblicas,segundoFer-
reira, é o assédio moral. No Banco
Central, os funcionários podem
procurar uma ouvidoria quando
enfrentam esse tipo de dificulda-
de. A chefe do departamento de
gestãode pessoasdoBC, Nilvane-
te Ferreira da Costa, explica que é
preciso distinguir quando uma
pessoaéseguidamentedesqualifi-
cada pelo chefe, quando há ofen-
sas, que também são punidas, e
outras situações.“Alguns tipos de
conflitossãonaturais”,explica.
MasosfuncionáriosdoBCnão
precisam quebrar a cabeça para
saber se tem ou não razão nas si-
tuações que enfrentam. Podem
procurar,aqualquermomentoda
jornada de trabalho, o serviço de
atendimento psicológico para fa-
lardeseusproblemas.
Amotivaçãotemamesmacara
noserviçopúblicoenasempresas,
defende o diretor de recursos hu-
manos da Advocacia Geral da
União (AGU), Antonio de Oliveira
Aguiar.“Todo mundo quer fazer
partedeumtimequeestáganhan-
do”, explica ele, responsável pelos
11 mil funcionáriosda instituição.
Auditor fiscal, ele pediu para ser
transferidoparaaAGUexatamen-
te porque não via as mesmas pos-
sibilidadesderealizaçãoprofissio-
nalnoMinistériodaFazenda.
Desde 2011, Aguiar toca um
programadequalidade devidana
AGU, com salas para que os fun-
cionários possam descansar e ou-
tras para fazer as refeições.Todos
os anos, há uma semana em que
sediscuteobem-estaredicaspara
a qualidade de vida. Segundo ele,
alguns benefícios foram imedia-
tos: pessoas que não se falavam
havia muito tempo fizeram as pa-
zes.“No fundo, todo mundo sabe
o que precisa para ser feliz, mas
acaba criando vários obstáculos
paraisso”,sentenciaAguiar.(PSP)
Dilemas de
servidores
Liberdade é fundamental
Empresas oferecem bem-estar
pararetertalentos
Foi-seotempoemqueoambientedetrabalhoserestringiaàcobrançaporresultados.Companhiasseconscientizam
dequeempregadosfelizessãomaiscomprometidoscomofuturodosnegócios.E,melhor,reduzemasdespesascomsaúde
Leia mais na página 8»
Licenças
por doença
O Banco do Brasil gastará
R$ 953 milhões com a saúde
dos funcionários em 2014,
dos quais R$ 450 milhões
com o seguro e R$ 53
milhões com outros
procedimentos. Esse valor
não tem diminuído porque
grande parte só é destinada à
medicina preventiva. Mas o
número de licenças por
razões de saúde, diz,
é cada vez menor.
Quanto custa afelicidade
AntonioOliveiraAguiaréresponsávelpeloprogramadequalidadedevidadaAGU:“Atéamizadesjáreatamoscomonossotrabalho”
Minervino Junior/CB/D.A Press - 12/12/14
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
As pessoas
precisam olhar
para a frente
e verem que há
boas perspectivas
profissionais.
É o que nos move”
Erdman Correia da Silva,
recepcionista
R$ 23 milhões no programa de
qualidade de vida no trabalho,
que existe há cinco anos. O re-
cursoédistribuídoentreasagên-
cias para pagar, por exemplo,
massagensafuncionáriosecom-
prar lanches saudáveis, incluin-
do pão integral e frutas. A pes-
quisa de satisfação entre os fun-
cionários teve, neste ano, o me-
lhor resultado desde 2004.
0
InflaçãoDólar EuroBolsas Global30Bovespa CDB
11,15%R$3,282
Índice Bovespa nos
últimos dias (em pontos)
Título da dívida externa
brasileira na terça-feira
Na terça-feira Últimas cotações (em R$)
Comercial, venda
na terça-feira
Na terça-feira
Prefixado
30dias(aoano)
IPCAdoIBGE(em%)Naterça-feira
Capitaldegiro
48.495
18/12 19/12 22/12 23/12
50.889
R$2,705
( ▲ 1,64%)
US$5,198
(Estável)
Julho/2014 0,01
Agosto/2014 0,25
Setembro/2014 0,57
Outubro/2014 0,42
Novembro/2014 0,51
0,42%
Nova York
16/dezembro 2,73
17/dezembro 2,73
18/dezembro 2,65
19/dezembro 2,65
22/dezembro 2,65 15,14%1,53%
SãoPaulo
4. C M Y K
CMYK
8 • Economia • Brasília, quinta-feira, 25 de dezembro de 2014 • CORREIO BRAZILIENSE
» PAULO SILVA PINTO
D
esde que estreamos no
primeiro emprego até a
aposentadoria, vão-se
embora metade de nos-
sosdias,considerandoamédiado
que os brasileiros esperam viver.
Durante esse período, de segunda
a sexta-feira, ao menos, ficamos
mais tempo no trabalho do que
em qualquer outro lugar enquan-
to estamos com os olhos abertos.
Convivemos mais com os colegas,
clientes e fornecedores, com
quem muitas vezes também nos
sentamos à mesa para almoçar,
doquecomocônjugeouosfilhos.
Considerado o tempo em que
se passa imerso na produção, é
impossível imaginar uma pessoa
que seja feliz se tiver uma vida
profissional terrível ou mesmo in-
satisfatória. E é uma ilusão pensar
que tem sorte quem não precisa
trabalhar ou quem consegue um
trabalhodebaixaexigência.“Uma
das realizações das pessoas é se-
rem produtivas”, explica Mário
César Ferreira, professor do Insti-
tuto de Psicologia da Universida-
de de Brasília (UnB) e especialista
emrelaçõesprofissionais.
Tampouco é necessário con-
quistar o emprego dos sonhos.
Um caso famoso é o de um faxi-
neiro da estação Grand Central,
emNovaYork.Eletrabalhouládu-
rantedécadas,semmudardefun-
ção, limpando o local por onde
passam milhares de pessoas por
dia, e onde não se tem ideia se há
sol, chuva ou neve lá fora. Ele se
dizia uma pessoa extremamente
feliz. E quem o encontrava não ti-
nhadúvidasdisso.
Estímulo
A psicologia positiva, que, no
lugar de decifrar as mazelas hu-
manas tem como foco identificar
o que o homem precisa para ser
feliz, chegou à conclusão de que
50% das razões estão na genética
— e o faxineiro de estação prova-
velmente teve uma sorte grande
nesse quesito, ainda que não em
outros. Outros 40% dependem do
esforçopessoal,sobretudooauto-
conhecimento. E apenas 10% são
o resultado das contingências, in-
cluindo o emprego que consegui-
mos conquistar, a economia do
país e os infortúnios que ocorrem
emnossopercurso.
Na combinação das nossas es-
colhas e das contingências, po-
rém, há grande chance de enfren-
tarmos problemas de menor ou
maior gravidade. Do ponto de vis-
ta do patrão, as queixas são de
funcionáriosqueerram,faltamou
deixam de cumprir com suas res-
ponsabilidades. Para Ferreira, da
UnB, as empresas teriam menos
problemas caso colocassem o
bem-estar no foco de suas aten-
ções. “Em vez disso, fazem uma
espécie de ofurô corporativo. Co-
locam atendentes de call center
para fazer ioga por dez minutos.
Só que eles saem de lá e encon-
tram todos os problemas nova-
mente.Oresultadoéumaenorme
rotatividade. E os empresários
acham que não tem outro jeito
nessetipodeatividade”,afirma.
Estresse é algo necessário e be-
néfico, explica Ferreira. Com o es-
tímulo, fica-se alerta, pronto para
executar o trabalho. O problema é
quando esse estímulo passa do li-
mite, situação em que, tecnica-
mente, o que existe é o distresse.
Seostrabalhadoresdabasesãoví-
timas disso, não estão sozinhos. É
grande o número de executivos
que padecem do problema, conta
o pesquisador e professor de ad-
ministração da Fundação Getulio
Vargas (FGV), André Barcaui, que
estudaafelicidadenasempresas.
Na base da pirâmide há relati-
vamente pouca pressão e pouca
autonomia de decisão. Nos níveis
gerenciais, porém, há muita pres-
são e a autonomia também é pe-
quena.“Eles são o sanduíche. É aí
que se concentra grande parte da
angústia da empresa”, conta Bar-
caui. No topo, a pressão é grande,
masnãoconstante:hámetasrigo-
rosas, só os acionistas não estão o
tempo todo cobrando. Porém, a
autonomia é grande, o que é uma
vantagem. “Nesse segmento, o
maiorproblemaéasolidão.”
Quando a pressão é excessiva e
a capacidade de reação, limitada,
o resultado mais frequente é a
doença. Isso não significa neces-
sariamente absenteísmo, ressalta
Barcaui, pois muitas pessoas pre-
ferem sofrer caladas em vez de
perder o emprego. As doenças
mais comuns são as dermatológi-
cas, que se agravam porque as
pessoas se coçam e provocam in-
fecções. O segundo tipo mais fre-
quente são as disfunções gas-
trointestinais. Em terceiro lugar
vêmaansiedadeeadepressão.
Evitar situações assim é tanto
mais fácil quanto mais cedo a
pessoa se antecipar a elas, avisa a
psicóloga Fernanda Schröder
Gonçalves, coordenadora de car-
reira do Ibmec. Ela recomenda,
em primeiro lugar, que a pessoa
saiba quem ela é.“A felicidade es-
tá profundamente ligada ao auto-
conhecimento.”Porisso,éimpor-
tante buscar o máximo de infor-
mações sobre a carreira que se
pretende seguir, incluindo o tipo
de rotina dos profissionais. Isso
também vale para a escolha do
emprego: é preciso saber bem
qual o perfil da empresa, quem
compõe a equipe e, se possível,
qualapersonalidadedochefe.
“As pessoas podem se adaptar
a muitas situações. O que nin-
guém pode, porém, é enfrentar
um obstáculo que mexa com seus
valores”, explica Fernanda. Co-
brança haverá em todos os luga-
res. O tom e a forma de tratamen-
to, porém, poderá ser um proble-
maparaalguns,eparaoutrosnão.
“Há funcionários que não se im-
portam com uma reação exagera-
da do chefe, porque conseguem
racionalizar. Outros não são as-
sim. Não há um perfil correto e
outro errado”, diz. Se a adaptação
ao ambiente pode ser uma alter-
nativa, há outra escolha que se
transforma em convite automáti-
coparaafrustração:esperarqueo
chefe ou os colegas mudem.“Não
se pode ter esse tipo de coisa. O
máximoquepodemosfazeréten-
tarmosmudarnósmesmos.”
Nova geração
Para Barcaui, da FGV, as em-
presas que ignoram a felicidade
dos funcionários podem ter cada
vez mais problemas para encon-
trartalentos.Osprofissionaismais
jovens,dachamadageraçãoY,não
topam qualquer situação de tra-
balho. “Eles sofreram com a au-
sência dos pais, que trabalhavam
demais, e viram também as con-
sequências para a vida deles: di-
vórcio, doenças. Não querem isso
paraeles”,destaca.
O administrador de empresas
Guilherme Pereira sabe bem o
queéisso.Depoisdetrabalharem
várias empresas grandes, decidiu
que não queria mais isso para ele.
Criou, com outras pessoas, o Mo-
vimentoBuenaonda,umaconsul-
toria com sede em São Paulo que
temporobjetivoexatamentepres-
tar consultoria a empresas que
pretendem se reorganizar para
garantir mais felicidade no am-
bientedetrabalho.
Com grandes clientes, incluin-
do multinacionais, o Buenaonda
não oferece os serviços: trabalha
apenas para quem bate à sua por-
ta.Ofocoédesenvolveracomuni-
cação, a autonomia e a excelência
do resultado, que a equipe consi-
deraessenciaisparaafelicidade.
A genética é determinante
Apsicologiapositivamostraquefatoreshereditárioseoesforçopessoalrespondempor90%doqueohomemprecisaparaserfeliz
Ovo ou galinha
O senso comum imagina que as conquistas, incluindo as profissionais, são
decisivas para uma pessoa ser feliz. Mas a psicóloga Sonja Lyubomirsky, da
Universidade da Califórnia, mostra que é o oposto: pessoas felizes têm mais
capacidade de perseguir seus objetivos e adquirir os meios para conquistá-
los. O ideal, portanto, é ter uma vida equilibrada, convivendo com amigos e a
família. Isso torna qualquer um mais satisfeito, inclusive no trabalho.
Quanto custa afelicidade
5. » PAULO SILVA PINTO
S
er feliz, entre tantas defi-
nições, pode ser entendi-
do pela segurança de que
não faltará nada para si
nem para as pessoas de quem a
gente gosta — o que implicita-
mente traz a ideia de um futuro
em que será possível desfrutar do
afeto delas com maior tranquili-
dade.“Felicidade é consumo”, re-
sume, sem rodeios, o professor
daescoladenegóciosIbmecMar-
cos Sarmento Mello.
Então as pessoas que já passa-
rampormetadedatrajetóriadavi-
da, aproveitaram seus prazeres e
ainda construíram algum patri-
mônio devem ser as mais felizes
dasociedade,certo?Nãoébemas-
sim.Essahipótesenãoseconfirma
pelasevidênciasencontradaspelo
Núcleo de Estudos sobre Felicida-
de e Comportamento Financeiro,
daFundaçãoGetulioVargas(FGV)
em São Paulo, um centro de pes-
quisas dedicado à nova onda da
economiadafelicidade.
Pesquisa realizada pelo núcleo
entreospaulistanosencontroual-
tos índices de satisfação entre os
maisjovenseentreosmaisvelhos.
Os piores números ficaram na fai-
xa de 40 a 49 anos, formando um
gráfico na forma de“u”.“Essa é a
faixa etária com maior ansiedade,
porque concentra pessoas que
achamquejádeveriamterrealiza-
domuitascoisas,masveemqueas
metas estão incompletas, aquém
do que esperavam”, comenta Fá-
bio Gallo, coordenador do núcleo
da felicidade da FGV.“A partir dos
50,aspessoastendemaseconfor-
mar,pensandoqueaquiloqueelas
têm éoque foipossível conseguir,
portantoestábom”,completa.
A ideia agora é partir para uma
pesquisanacionalenvolvendosa-
tisfação e dinheiro. Gallo criou o
núcleo exatamente por ter identi-
ficado carência de estudos envol-
vendo essa relação. “Havia tanta
gente estudando a felicidade, por
que não nas finanças?”, questio-
na.Trata-sedeumviés,aliás,mais
apropriado para entender as ca-
rências do que as realizações nes-
te momento pouco auspicioso
que atravessa quase todo o mun-
do, mas especialmente aqui.“Na
Europa, as pessoas tiveram de
adiar a aposentadoria por causa
da queda de valor dos ativos com
a crise iniciada em 2008. E, aqui,
os bancos estão mais arredios pa-
raemprestar”,conta.
Endividamento
Mesmo entre os funcionários
públicosmaisbempagos,hámui-
tosqueestãopenduradosemem-
préstimos. Na Advocacia-Geral da
União (AGU), por exemplo, apro-
ximadamente um quarto do qua-
dro de 11 mil pessoas espalhadas
pelo país tem parte do contrache-
que subtraído para o pagamento
doconsignado.Muitosrecorrema
instituições financeiras menores,
que cobram juros mais altos. E fa-
zemissoexatamenteporquejáes-
tão com excesso de débitos nos
grandesbancos.
Hácasosdeservidoresqueche-
gamaadministrarumadezenade
empréstimos, muitos dos quais
contraídos para pagar uma parte
dosanteriores.Empresasprivadas,
que, diferentemente do setor pú-
blico, precisam se esforçar para
reter talentos, oferecem a seus
funcionários serviços de apoio e
aconselhamento financeiro. O te-
morportrásdessebenefícioéque
osproblemasnessasearasetrans-
formem em fonte de infortúnios,
com o potencial de contaminar o
desempenhonotrabalho.
Especialistas afirmam que a
origem das angústias no orça-
mento familiar está na distância
entreopadrãodevidaquesequer
eoquecabenarenda.Evita-sees-
sa rota de dois modos: buscando
um emprego melhor ou adaptan-
do suas expectativas à realidade.
“As pessoas que se dizem mais fe-
lizessãoasqueconseguiramcum-
priroqueplanejaramparaassuas
vidas”,afirmaGallo.
Doutor em filosofia, ele apon-
ta para o fato de que há muitas
interpretações possíveis para a
felicidade. Exemplifica com o
pensamento do pai da psicanáli-
se, Sigmund Freud, para quem
esse sentimento era algo externo
ao homem, uma meta sempre
inatingível, a não ser por breves
momentos especiais de cada dia.
Na linha da ironia germânica, o
poeta Goethe dizia que não po-
deria haver nada mais chato do
que uma série de dias felizes.
Filosofia
Divergências acadêmicas à
parte, uma certeza para Gallo é
que“não é o grau de riqueza que
determina afelicidade”,massima
capacidadedeusufruirdavidaem
comunidade, compartilhando o
tempo principalmente com a fa-
míliaeosamigos.Se,comodiziao
filósofoJeanPaulSartre,“oinferno
são os outros”, o paraíso também
pareceestarnopróximo.
Até mesmo pesquisas com fo-
co em consumo corroboram es-
sa ideia. Entre os brasileiros,
69% dizem que sua prioridade é
equilibrar a vida profissional e a
pessoal, mostra levantamento
que acaba de ser realizado pelo
Instituto Qualibest, a pedido da
American Express. E, para isso,
55% estão dispostos a ganhar
menos a longo prazo, desde que
isso não os deixe com a conta
bancária no vermelho.
Para o presidente da American
Express no Brasil, José Carvalho,
essa disposição das pessoas em
agir com equilíbrio no lado pes-
soal e nas finanças“permitirá que
tenham uma vida mais enrique-
cedora”.Masháinformaçõespreo-
cupantes em pesquisa realizada
peloServiçodeProteçãoaoCrédi-
to (SPC) demonstrando que gran-
de parte dos brasileiros compra
porimpulsoemmomentosdean-
gústia, apenas para se livrar da
tristeza. Isso está longe de ser um
padrãosaudáveldeconsumo.
Se comprar sem pensar com
frequênciaéalgonegativo,sobre-
tudo para neutralizar a tristeza,
“ébomqueagentesepermitafa-
zer isso de vez em quando, sem
comprometer a conta bancária”,
nota Sarmento, do Ibmec. É co-
mo dar um presente para si. Mas
pesquisas mostram que presen-
tear os outros também é uma
grande fonte de alegria. Aliás,
proporciona prazer mais dura-
douro do que quando se adquire
algo para uso próprio. O dinheiro
ajuda, portanto, a comprar a feli-
cidade, só que, no caso da felici-
dade alheia, a relação custo be-
nefício é ainda melhor.
C M Y K
CMYK
Economia7• CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
$
EEddiittoorr:: Vicente Nunes
vicentenunes.df@dabr.com.br
3214-1148
Leia mais na página 8»
Quanto custa afelicidade
A arte de equilibrar desejos de
consumoefinançasSatisfazercarênciasemocionaispormeiodegastosdescontroladospoderesultaremproblemasquetransformarãoavidaemuminferno
0
InflaçãoDólar EuroBolsas Global30Bovespa CDB
11,15%R$3,282
Índice Bovespa nos
últimos dias (em pontos)
Título da dívida externa
brasileira na terça-feira
Na terça-feira Últimas cotações (em R$)
Comercial, venda
na terça-feira
Na terça-feira
Prefixado
30dias(aoano)
IPCAdoIBGE(em%)Naterça-feira
Capitaldegiro
48.495
18/12 19/12 22/12 23/12
50.889
R$2,705
( ▲ 1,64%)
US$5,198
(Estável)
Julho/2014 0,01
Agosto/2014 0,25
Setembro/2014 0,57
Outubro/2014 0,42
Novembro/2014 0,51
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16/dezembro 2,73
17/dezembro 2,73
18/dezembro 2,65
19/dezembro 2,65
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SãoPaulo
6. C M Y K
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8 • Economia • Brasília, sexta-feira, 26 de dezembro de 2014 • CORREIO BRAZILIENSE
Morar em outro país depois de se
aposentar pode ser uma boa
alternativa para ampliar a qualidade
de vida. Pesquisas mostram que as
pessoas tendem a ser mais felizes
em sociedades igualitárias e com
bons serviços públicos, o que está
ainda longe de ser o caso do Brasil.
É melhor ter um padrão de classe
média na Europa do que ser rico
aqui, e enfrentar todo o estresse, da
insegurança às ruas esburacadas.
Conseguir visto de residência
permanente em outro país não é
difícil para quem já consegue
amealhar um patrimônio razoável.
Mas, além do conforto econômico, é
preciso levar em conta outros
fatores, como a convivência com
amigos e família — itens
primordiais para a felicidade,
segundo especialistas.
Sociedades
igualitárias
Quanto custa afelicidade
O poder dadisciplinaOlhar para o futuro é vital para aqueles que buscam qualidade de vida. E isso passa pelo planejamento e pela poupança
É um erro
apostar tudo
no material
>>entrevista RUBENSSAKAY
Consultorafirmaqueosmaispobressãofelizesporqueosentimentodeconquistaépassageiro.Daí,aimportânciadefocarnopessoal
O engenheiro Rubens Sakay,que enveredou pela área de recursos
humanos em sua carreira,passou a se dedicar dez anos atrás ao estudo
da felicidade.Para ele,é muito difícil uma pessoa ser feliz se apostar
tudo nas coisas materiais.“O cheiro do carro novo passa logo.Isso
explica por que pessoas pouco abastadas conseguem ser felizes”,diz.Ele
aconselha às empresas que invistam no bem-estar de seus empregados,
pois o retorno é enorme.“Um vendedor feliz vende o dobro”,assegura.
Veja os principais trechos da entrevista de Sakay,que dá consultoria na
área de petróleo e é autor do livro Hoje pode ser um dia melhor.(PSP)
» PAULO SILVA PINTO
A
felicidade costuma visitar
com maior frequência as
pessoas ousadas e as es-
pontâneas, mas também
asquetrabalhamduroeasquesa-
bemcuidardofuturo.Nãohácon-
tradição entre os atributos da li-
berdade e os da disciplina. E, nes-
sa segunda categoria, um item
importante é a poupança. “Os
brasileiros ainda não têm costu-
me de se planejar, apesar de esta-
rem melhorando. Isso se aprende
comospais,comohábito.Eéalgo
que as gerações que são as mais
velhashojenãotêm,porqueope-
ríodo de inflação alta, antes do
Real, tornava isso inviável”, afirma
Marcos Sarmento Mello, profes-
sordaescoladenegóciosIbmec.
Não há limitações, avisa Mello,
que justifiquem deixar de guardar
um pouco da renda. Aliás, não se
deve falar nunca em sobra do fim
domês.“Odinheiroqueseecono-
miza tem de ser o primeiro item
do orçamento doméstico, antes
de todas as contas básicas. Nem
que sejam apenas R$ 500. O nível
de renda não é tão importante.
Conta mais a disciplina ao longo
do tempo”, avalia Sarmento, que é
sócio da consultoriaValorum.“Há
pessoas que recebem cinco salá-
rios mínimos e conseguem ter
uma vida confortável e tranquila,
enquanto funcionários públicos
com altos salários vivem muitas
vezes às voltas com problemas fi-
nanceiros”,comenta.
As pessoas que sabem poupar
se livram do tipo de gasto que
mais pune as famílias brasileiras:
o custo dos empréstimos. Num
país com baixíssima taxa de pou-
pança,agravada pelo fato de ogo-
vernoserincapazdeconterosdis-
pêndios, cobram-se juros que es-
tãoentreosmaisaltosdomundo.
Além de não se submeter a ta-
xas punitivas, os poupadores con-
seguem usar essa desvantagem
Além de usar bem o dinheiro
na hora de ir às compras e ficar de
olho no extrato bancário para não
cometer irresponsabilidade, é
preciso, muitas vezes, ter paciên-
cia para recorrer aos lojistas e fa-
bricantes nos casos em que o pro-
dutoresultaemfrustração,oqueé
umagrandefontededesgostopa-
ra muitas pessoas. CarlosThadeu
de Oliveira, gerente do Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumi-
dor (Idec), afirma que a relação
entre empresas e clientes vem
melhorando em alguns casos,
mas não em todos.“Muitas delas
são rápidas em resolver as coisas
quando há reclamações em redes
sociais, mas não apresentam a
mesma disposição quando são
procuradasdiretamente”,conta.
Outra contradição está no fato
de que 80% dos problemas pro-
cessados pelos Procons são resol-
vidos com uma simples ligação
dos órgãos para os serviços de
atendimentos ao consumidor das
empresas.“Certamente,emquase
todosessescasos,apessoajáligou
antesparaoSACdascompanhias.
Por que a empresa não resolveu o
problema antes?”, indaga ele, já
apresentando a resposta:“Porque
é mais barato resolver só alguns
casos, em que o cliente insiste, do
que solucionar todas as queixas
logoqueaparecem”.
Maria Inês Dolci, da Proteste,
vai na mesma linha.“Muitas em-
presas são reticentes em dar solu-
ção aos consumidores”. Uma saí-
da para resolver os impasses seria
globalizar a relação com as com-
panhias,algoemqueoórgãovem
investindo.“Devemos tornar a re-
clamação de qualquer consumi-
dor em um caso internacional pa-
raforçarasolução”,frisa.(PSP)
Desrespeito
é comum
Oquefazapessoaserfeliz?
A explicação genética fica
com 50%. Outros 40% têm a ver
com o que o indivíduo traz de
dentro de si: a intencionalida-
de, a atitude frente à vida. Aqui-
lo que quase todo mundo apos-
ta como a razão para a felicida-
de — o emprego bom, o bem-
estar financeiro — representa
apenas 10% da pizza. É difícil a
pessoa ser feliz se apostar tudo
em cima de coisas materiais.
Para todas essas coisas, o ho-
mem se adapta muito rapida-
mente. O cheiro do carro novo
passa logo. Isso explica por que
pessoas pouco abastadas con-
seguem ser felizes.
Aspessoasnãodeveriamse
preocuparcomdinheiro?
A preocupação deveria ser ca-
librada pela compreensão de
que isso significa 10% da felici-
dade. Se a pessoa colocar o foco
no crescimento pessoal, nos
40%, vai se beneficiar de algo in-
teressante que se observa: os
10% conjunturais serão valoriza-
dos. E até o que você é pode ser
usado a seu favor, conforme
mostra a epigenética, uma fron-
teira da ciência. Mas, se não se
esforçar,apessoaperderáagran-
de chance de ser feliz. Correrá o
risco de se dar conta de que a ve-
lhice chegou cedo demais e a sa-
bedoria, tarde demais.
Comoéissodopontodevista
dasempresas?
A pessoa feliz vende o dobro,
erra menos, tem menos conflitos,
não rouba, resolve mais proble-
mas. Médicos felizes fazem diag-
nóstico mais rápido e mais preci-
so. O Google, por exemplo, tem
um ambiente muito descontraí-
do. Por trás disso há o Chade
MengTan.TirandooLarryPage,é
a pessoa mais conhecida na em-
presa. O maior benefício é para a
saúde, o que reduz custos enor-
memente. Quando as pessoas
são felizes, a ocitocina, um hor-
mônio protetivo, é liberado. Isso
explica por que a pessoa feliz fal-
ta, em média, 13 dias. A pessoa
infeliz é debilitada.
Porque,então,todasas
empresasnãofazemisso?
Essa onda é recente. A ciência
apresentou os resultados nas
últimas três décadas. Hoje, nas
organizações, nós ainda vive-
mos um mundo que é do resul-
tado, da eficiênica, da estraté-
gia, da liderança. Tudo é expli-
cado pelo produto. Há poucas
empresas que têm alguma ini-
ciativa deliberada em prol da fe-
licidade, como o Google. Outro
bom exemplo é a Southwest Air-
lines, que colocou o amor como
valor máximo. O código das
ações dela na bolsa é LUV (se-
melhante a love, amor em in-
glês). A empresa decidiu até de-
mitir um executivo de alto esca-
lãoquenãorespeitavaesseman-
damento. Ele era tão eficiente
que teve de ser substituído por
duas pessoas. Mas, no cômputo
geral, a prioridade do amor só
aumenta o lucro empresa, que
tem resultados positivos há 40
Minervino Junior/CB/D.A Press - 9/12/14
Ed Alves/CB/D.A Press - 7/2/13
O trabalhador
que entra em
um ambiente
ruim de uma
empresa
encontrará
pessoas que
escondem
informações,
fazem fofoca.
Se ficar ali,
pode produzir
pouco e
adoecer”
do país a seu favor. Embora as re-
munerações dos fundos de inves-
timentos sejam bem inferiores às
taxas cobradas pelos bancos dos
devedores, também estão bem
acimadopatamarinternacional.
“Quem guarda uma parte do
salárioécapazdetrocardecarroa
cadatrêsanos,defazerviagensin-
ternacionaiseatémesmodecom-
prar a casa própria à vista ou com
uma entrada considerável”, avisa
Sarmento. Além de usar os juros
para multiplicar a renda, os pou-
padores têm a seu favor o fato de
terem caixa disponível. Podem,
assim, aproveitar as boas oportu-
nidades que aparecem, por meio
de promoções, ou de reduções de
impostos, como a que contem-
plou os carros e os eletrodomésti-
cos no ano passado. No mercado
imobiliário, quem tem reservas,
paciência e atenção também con-
seguefazerbonsnegócios.
Teoriadospotes
Não basta, porém, guardar. É
preciso saberparaquê. O planeja-
dor financeiro Felipe Chad, da DX
Investimentos,aconselha quenão
se misturem os canais. Ele se ba-
seianospreceitosdateoriadospo-
tes, criada naWharton, escola da
negócios da Universidade da Pen-
silvânia, nos Estados Unidos. São
três os recipientes separados da
nossapoupança:odadignidade,o
doestilodevidaeodoconforto.
No primeiro, é preciso ter algo
paragarantiraquedaderenda,no
caso de perder o emprego, por
exemplo. É importante deixar ali
algo em torno de 5% a 10% do to-
tal que se reservaa cada mês. Para
umcasalemqueumdosdoiscôn-
juges é funcionário público, por
exemplo, esse risco é menor;
portanto pode-se ficar no piso.
Para um empresário, com gran-
de variação na renda, deve ficar
no topo, ou mesmo acima dos
10%. Para alguém que tem um
emprego com carteira assinada, o
idealéficarnomeiodocaminho.
O pote do estilo de vida deve
ficar com uma parte maior, entre
10% e 15% do que se poupa. É is-
so o que vai garantir a compra
do carro novo ou de outros bens
de consumo duráveis que não
cabem no orçamento do mês.
Por fim, o pote do conforto é o
que será destinado à aposenta-
doria. Ele fica com 70% a 80% do
montante que se deixa de lado
na renda mensal.
Sobre o montante que se deve
guardar, há diversas opiniões. Re-
comenda-se, em geral, 10% do sa-
lário. Chad coloca o piso um pou-
co acima disso: 15% da renda lí-
quida, depois de todos os descon-
tos. Algumas pessoas conseguem
chegara30%ou40%.
Consumidorescostumamsairàscomprasatraídosporreduçõesdeimpostos,comonocasodoseletrodomésticos.Nemsempreadespesacompensa
anos em um setor que passa por
muitas dificuldades.
Empresas que já são eficientes
podem ser beneficiadas
pelo foco na felicidade?
Sim. Pense no atendimento
de balcão. Se o indivíduo con-
segue chegar ao trabalho feliz e
transmitir um sorriso autênti-
co, que vem do coração, o clien-
te se sentirá acolhido. Empre-
sas que colocam entre as exi-
gências do funcionário o sorri-
so fazem com que muitas vezes
ele entregue algo falso. Faz mal
à saúde e não convence. O ser
humano tem a capacidade de
identificar o que não vem de
dentro. Os bebê percebem.
E já se está fazendo isso?
Os avanços virão lentamente.
No trabalho que eu faço nas em-
presas,eunotoquepoucasveem
isso do ponto de vista da felici-
dade. Valorizam a festa de ani-
versário, a animação. Essa parte
é o verniz. Mas já é importante.
Quais são os riscos de um am-
biente ruim para o indivíduo?
Ele vai encontrar pessoas
que escondem informações, fa-
zem fofoca. Se ficar ali, pode
produzir pouco e adoecer; ou
pode ir para outra empresa pa-
ra ser feliz, mesmo ganhando
menos, porque o salário faz
parte dos 10%.
Nas boas empresas,
a cobrança não existe?
Existe e é fundamental. Esse
processo não é conflituoso. Re-
solver problemas é o nosso dia a
dia. Mas eles serão resolvidos de
modo mais saudável.