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1
2
Entrevista com um
Messias Indiscreto
Ato Único
STRUFTS
3
Oi Você!
Preparado (a) para queimar etapas?
Preparado uma ova! Você não vai entender patavina deste livro!
Mas, mesmo assim, tente!
Lembre-se que não precisa acreditar no todo, em parte ou nada dele, ainda lhe resta esta
liberdade.
Sua bênção, leitores.
Strufts
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Participantes
- Senhor Messias
- Senhora X, locutora
- Senhora X, mística, esotérica
- Senhor X, bispo católico
- Senhora X, dona de casa
- Senhor X, espírita
- Senhor X, pastor evangélico
- Senhor X, político
- Senhor X, pedinte
- Senhor X, jovem universitário
Participação de público: por meio de telefone
Local: Estúdio de Televisão (Mesa Redonda)
Horário: Noturno.
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Transcrição
(Dez pessoas, homens e mulheres, sentados ao redor de uma grande mesa. Compõem a
mesa: a entrevistadora, o entrevistado e demais componentes. À frente de cada um deles
veem-se cinzeiros, blocos de papel, canetas e copos. Onde está a locutora, vê-se ainda um
aparelho telefônico. Ao lado, uma enorme tela de TV mostra as imagens da própria reunião.
A redor da mesa movimentam-se várias câmaras).
Locutora: iniciando o programa, apresento aos telespectadores nosso convidado de hoje.
Trata-se de um senhor muito circunspecto, a quem os que tiveram contato direto, encaram-
no como um Mestre ou um Messias, à julgar pelos testemunhos tomados. Ele nega, porém,
tal pretensão. Observem a câmara focalizando-o. Irreverentemente, o dedo mínimo
coçando o nariz. Reparem suas feições, aparenta completa calma. Provavelmente os
telespectadores nunca viram este rosto nem ouviram falar a respeito dos seus feitos ditos
“maravilhosos” por dezenas de pessoas entrevistadas por nossa equipe. A Produção leva
hoje a vocês suas palavras, seguindo o esquema de entrevistar todas as semanas um
personagem, típico ou atípico, para falar de suas ideias ou realizações. Antes de fazermos
as apresentações dos demais elementos que compõem a mesa, colocaremos no ar uma das
externas preparadas pela Produção, com depoimentos surpreendentes, prestados por
pessoas que tiveram algum tipo de contato com este nosso entrevistado. Devo confessar que
foi dificílimo seguir as pistas para localizá-lo. Vamos à primeira externa.
(Entra imagem de externa)
Repórter – Bem, senhores telespectadores, aqui ao meu lado este senhor. Vocês podem vê-
lo. Gente humilde do interior, tem algo a relatar sobre o entrevistado de hoje. Fale aqui ao
microfone, por favor, conte a sua história.
Entrevistado: Pois é, seu moço, o homem passou por nossa cidade há coisa de dois meses,
né? Eu estava ali, na esquina, sentado em minha cadeira de rodas, vendendo bilhetes de
loteria, aí ele parou na minha frente, né? Ah, tem pra mais de trinta anos que sou aleijado,
né? Aí ele parou a uns metros de distância e ficou olhando para mim. Eu olhei para ele e os
olhos pretos com que me olhava me deu um arrepio no pé do espinhaço, bem na junta onde
quebrou na queda. Aí ele falou: “Faz o favor de trazer um bilhete para mim”. Eu nem sei
por que, ao invés de ir empurrando a cadeira, me levantei e fui andando até onde ele estava,
né? (olhos e voz chorosos), mas não comprou nada, só falou bem baixinho ao meu ouvido:
“Você não precisa mais daquela cadeira, pode dá-la para outra pessoa”. Aí ele foi embora e
eu nem agradeci, né?.
Repórter: Nunca mais viu o tal moço?
Entrevistado: Nunca mais, né? Sumiu que nem fumaça e eu nem agradeci esta graça de
Deus.
Repórter: O senhor acha que foi um milagre?
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Entrevistado: Pois foi! Aquele homem é um santo!
Repórter: O senhor é católico?
Entrevistado: Sei não. Depois que fiquei aleijado desacreditei desse negócio de igreja. Mas
o padre, de vez em quando, me encontrava na rua e me cobrava ir à missa. Aí eu ia para não
contrariar, né?
Repórter: Tem aqui na cidade dezenas de pessoas querendo testemunhar que o homem era
realmente paralítico há mais de trinta anos, consequência da queda de uma árvore. Vamos
conversar agora com o prefeito daqui.
(Imagem muda para outro local)
Repórter: Este aqui, senhores, é o prefeito da cidade e, segundo fui informado, é amigo de
infância do ex-aleijado. Por favor, senhor prefeito, estamos fazendo uma cobertura
jornalística e gostaríamos de ouvir suas palavras a respeito deste fato ocorrido com o seu
amigo.
Prefeito: Não vi pessoalmente o que aconteceu por não estar presente naquele momento. O
que tomei conhecimento foi por meio de outras pessoas, mas posso adiantar que foi uma
comoção aqui na cidade. Logo que me contaram o ocorrido, fui até sua casa e o encontrei
andando e feliz. Me abraçou chorando e, de tão emocionado, não conseguia nem falar.
Repórter: Ele era realmente uma pessoa imobilizada na cadeira de rodas?
Prefeito: Ah, isto era! Aquela cadeira já fazia parte de sua vida.
Repórter: Na sua opinião, o que pode ter acontecido?
Prefeito: Acho que foi um milagre, né? Se o homem não andava há trinta anos e de repente
começou a andar só pode ser um milagre!
Repórter: E sobre o homem a quem estão imputando o milagre, o senhor o conheceu?
Prefeito: Pessoalmente não. Correm histórias por aí de que ele teria feito milagres também
em outros locais.
Repórter: Obrigado senhor prefeito. Vamos agora localizar o vigário da cidade.
(Imagem muda para a frente de uma Igreja)
Repórter: Estamos aqui com o pároco da cidade. Senhor padre, o que tem a dizer sobre o
aleijado que andou depois de trinta anos numa cadeira de rodas?
Pároco: Eu o conheço pessoalmente, sempre foi um homem muito católico, nunca faltou à
missa.
7
Repórter: O senhor acredita que pode ter havido um milagre?
Pároco: Foi um milagre de São Dimas. Ele é devoto do santo. Toda semana acendia uma
vela.
Repórter: Mas não foi aquele homem que o mandou levantar da cadeira?
Pároco: Pois é, inspiração de São Dimas.
Repórter: O senhor pretende informar ao Vaticano a ocorrência do milagre?
Pároco: Não tem jeito. Foi um milagre de São Dimas, que já é canonizado.
Repórter: Mas ocorrem histórias de outros milagres feitos por esse homem.
Pároco: São só boatos.
Repórter: Ouvimos assim os testemunhos diretos com o ex-paralítico, com o prefeito e o
pároco. Os telespectadores podem assim tirar suas próprias conclusões. Meus
agradecimentos e voltemos ao estúdio.
(Volta imagem ao estúdio)
Locutora: Os presentes e os amigos telespectadores tiveram a oportunidade de assistir a um
dos inúmeros testemunhos gravados pela Produção e que serão apresentados no decorrer do
programa. Passemos agora à apresentação dos participantes de hoje em nossa Mesa
Redonda. Á minha direita o Sr.X, representante do Clero; à direita do Reverendo o Sr.X,
conceituado político, atualmente sem cargo público; à sua direita está o Sr.X, estudante
universitário, e, logo a seguir a Srª X, dona de casa. À minha esquerda está o Sr.X, pastor
evangélico; a seguir, o Sr.X, que se autodenomina “pedinte de carteirinha”; à sua esquerda
a Srª X, mística e esotérica; ao seu lado, o Sr. X, presidente da União Espírita e, finalmente,
à minha frente, o motivo e objeto desta entrevista. Vamos inicialmente conversar com o
mesmo.
Locutora: Boa noite!
Entrevistado: Boa noite!
Locutora: Nossa rede e eu pessoalmente agradecemos por sua aquiescência em comparecer
ao programa. E olhe que foi um bocado difícil localizá-lo, não foi?
Entrevistado: Acho que não. A gente está sempre por perto.
Locutora: Inicialmente as perguntas de praxe para identifica-lo perante quem nos vê. Seu
nome?
Entrevistado: Não importa o nome.
8
Locutora: Não importa? Como assim?
Entrevistado: Qualquer nome está bom.
Locutora: Qualquer nome, é?
Entrevistado: É.
Locutora: Então o chamaremos de Messias, ok?
Entrevistado: Eu não sou um Messias!
Locutora: Bem... ah... neste caso... podemos chamá-lo de João?
Entrevistado: Está bom assim.
Locutora: Então, senhor João, qual é a sua idade?
João: Indefinida.
(risos generalizados)
Locutora: Como indefinida? O senhor não sabe quando nasceu?
João: É que isto não tem importância. Estou entendendo que você se refere à idade física...
Locutora: Naturalmente!
João: Só que, além desta idade dita física, temos ainda a idade mental, a idade da
experiência, a idade da vivência e, ainda, dentro da física quântica, a idade de sua vibração
e mutação perante o Cosmo.
Locutora: Parece complicado, não senhor João?
João: Não. É de uma simplicidade incrível!
Locutora: Bem... passemos adiante. Religião, alguma?
João: Todas e nenhuma.
(Risos generalizados)
Locutora: Senhor João, penso haver explicado em nosso primeiro contato que o trabalho
aqui é sério e de responsabilidade perante o público. Somos profissionais, por isso peço
mais objetividade em suas respostas.
João: Estou sendo claro, direto e objetivo.
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Locutora: Estado civil?
João: Nós também não temos este tipo de caracterização do indivíduo.
Locutora: Nós quem?
João: Nós, que superamos a dualidade deste mundo, estamos desobrigados a esses vínculos
extemporâneos.
Locutora: Como veem, senhores telespectadores, não está adiantando muito a tentativa de
identificação deste senhor. Esperamos que no decorrer da entrevista se esclareça melhor
esta indefinição. Lembramos a vocês de casa que também podem participar por telefone.
Faça sua pergunta, questione, peça esclarecimentos, dê sua opinião. Concorde ou discorde,
mas ligue pra gente. Algum dos presentes quer perguntar?
(levantaram os braços o bispo, o pastor, a mística e o pedinte)
Locutora: Começamos pelo senhor Bispo.
Bispo: Eu queria apenas saber porque me chamaram aqui para conversar com um palhaço...
(todos se surpreendem, pasmos)
Locutora: Quero realçar que não serão aceitas ofensas gratuitas a nenhum dos participantes.
O ofendido tem direito imediato a resposta. Senhor João?
João: É compreensível o nervosismo do bispo, e com razão, pois foi escolhido em sorteio
na Diocese, por isso sua presença compulsória no programa. Ele está perdendo, e é o que
realmente o preocupa, um encontro com um rapazinho...
(O Bispo levava à boca o copo d´água e o susto foi tamanho que engasgou)
Bispo: (cuspindo) (tosse, tosse). Mas como é que... (tosse), mas... (tosse) é...(tosse) isto é
um absurdo! (tosse).
Locutora: Senhor João, é inaceitável esta insinuação!
João: Não estou insinuando nada, ele está realmente perden...
Locutora: (Interrompendo) Por favor! Passo a palavra ao Senhor Pastor.
Pastor: O moço tem uma língua afiada, não? Bem, quero saber o que você acha do
evangelho. Ou será que não tem capacidade de achar alguma coisa?
João. Tenho. Não acho nada.
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Pastor: Como não acha nada?! O Evangelho, a Bíblia, a palavra de Deus!
João: Isto é para você e os que acreditam.
Pastor: Gente, este cara é um herege!
João: Se quer negociar assim, respeito a sua opinião.
Pastor: Isto não é uma questão de opinião, é a realidade! É a palavra de Deus (gritando)!
João: Esta é a sua realidade. E não precisa gritar.
Pastor: O senhor não acredita na Bíblia?
João: Em qual delas?
Pastor: A Bíblia, ora! A nossa Bíblia!
João: Escute, meu caro senhor, existem dezenas de Bíblias, diferentes umas das outras, e
você só conhece a “sua” Bíblia, assim parece.
Pastor: A Bíblia é a palavra de Cisto e só existe uma! (gritando, espumando de raiva).
João: Espere um pouco... você disse antes que a Bíblia era a palavra de Deus, agora afirma
que é a palavra de Cristo.
Pastor: É tudo a mesma coisa, Cristo é filho de Deus!
João: (comentando) Coitado do meu colega, até esta culpa estão jogando em cima dele...
(falando mais alto) quero fazer um pequeno destaque. Compareci a este programa para ser
entrevistado e não para discutir religião, mormentemente, porque isto de religião só é bom
mesmo para seus líderes, que vendem céus, graças e indulgências, cultivando uma eterna
lavagem cerebral em seus fieis, bloqueando sua evolução espiritual. É por culpa das
religiões que o mundo está com três mil anos de atraso.
Pastor: Ora, o senhor se diz um Messias e não quer discutir religião?
João: Somente uma pequena correção: não me acho absolutamente nada, dentro do padrão
de vocês, e uma coisa é conversar sobre a religião, outra é discutir. Para esta segunda não
contem comigo. Querem conversar? Conversemos.
Mística: (tomando a palavra) O senhor então seria um Mestre?
João: Você quer dizer um fazedor de milagres?
Mística: É, é... exatamente isto!
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João: Não, não sou. Milagres não existem.
Espírita: Gostaria de saber...
Locutora: (interrompendo) Um momento, por favor. Já temos aqui uma pergunta
interessante de um telespectador. Ele quer saber quais são as dezenas de Bíblias. O senhor
quer responder?
João: Sem dúvida! A Bíblia dos católicos tem já suas diferenças entre romanos, ortodoxos,
e outras cismas, e diferem substancialmente das inúmeras outras, evangélicas,
presbiterianas, adventistas, pentecostais e por aí afora, que também diferem entre si, pelo
menos em interpretação. Os judeus têm sua própria Bíblia, os mulçumanos idem, os
maometanos, islâmicos, etc. Muitas destas Bíblias recebem outros nomes, como Talmud,
Corão, Livro dos Vedas, Evangelhos segundo Fulano ou Sicrano e até mesmo os espíritas
têm o seu Evangelho. E quer saber mais? As tantas Bíblias propagadas aos quatro ventos,
nada mais são do que escritos de inúmeros autores que, com o correr do tempo, iam
incluindo itens e aspectos, com a finalidade de manter o povo sob julgo, dando assim
continuidade aos privilégios do clero e dos reis. E tudo isso, colocando palavras nas bocas
dos outros. Ah, existe ainda uma Bíblia enfocada à luz dos extraterrenos. São Bíblias
demais...
Locutora: Voltamos a palavra ao senhor X que interrompemos.
Espírita: Gostaria de saber sua opinião sobre a reencarnação.
João: De certa forma pode-se dizer que existe.
Dona de casa: Vocês estão conversando depressa demais e não estou entendendo
praticamente nada...
Jovem: É... vocês estão conversando muito rápido.
Pedinte: E o tal lanche que me prometeram? Até agora só tomei aquele café com pão na
cantina.
Locutora: Calma gente, vamos organizar. Conversemos mais explicitamente sobre os temas
tratados. Todos podem e devem perguntar suas dúvidas.
Dona de casa: Só entendi até agora uma coisa: este homem está querendo ser Deus, é?
Locutora: Não sei. Quem responde é ele?
João: Não minha senhora. Não este Deus que vocês têm na cabeça: um velhinho de barbas
brancas e olhos bondosos, premiando e castigando seus filhos. Mas se a senhora se refere
ao Deus, Suprema Energia e Vibração, faço parte dele. Você também.
Dona de casa: Aí é que eu não entendi nada mesmo. Quer dizer que existem “dois Deus”?
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Locutora (interrompendo) Senhor João, a Produção informa que recebemos até agora oito
telefonemas pedindo para tirá-lo do ar e vinte e três outros achando ótimo o andamento da
entrevista. Continuemos então.
João: A senhora X diz não haver compreendido nada. Para explicar melhor teria que entrar
em detalhes mais profundos e que seriam por demais complexos para seu entendimento.
Fiquemos assim, bem fácil: não existem “dois Deus”, o que existem são interpretações as
mais diversas sobre esse Deus.
Jovem: É isso aí, assim mais fácil a gente entender. Me diga agora uma coisa, o que acha
do barato?
João: Você quer dizer o uso de drogas, não é?
Jovem: Tóóóó!...
João: O “barato”, as viagens e alucinações, provocados pelo uso de drogas, são falsos,
irreais e nefastos. Eu explico: a droga atua na corrente sanguínea, levando sua química aos
neurônios, diretamente ao cérebro. Tudo falso. Daí advém a queima dos neurônios, que são
irrecuperáveis, criando concomitantemente uma dependência física. Começa um círculo
vicioso: mais drogas, menos neurônios, até a completa imbecilização do indivíduo. Uma
alteração de consciência mais perfeita, real e sem efeitos nefastos, se consegue através do
relaxamento físico, da respiração e da meditação.
Jovem: Pô meu, falou bonito mesmo!
João: Se quiser posso falar das consequências de uma sessão de drogas da qual você e dois
amigos participaram há coisa de dois meses atrás.
Jovem: É isso aí, pode falar.
João: Caso queira posso falar também sobre um futuro seu, dentro de dois anos.
Jovem: Vamos nessa! Adoro futuro...futuro...ro... como é mesmo? F-U-T-U-R-O-L-O-G-I-
A . É isso aí!
João: Há coisa de dois meses e dias, você e dois amigos, após fumarem maconha,
montaram em suas motos e foram dar um giro pela orla marítima. Ao passarem por uma
certa praia, avistaram uma senhora que acendia velas na areia e rezava. Quando a mulher se
viu cercada pelos três, correu para o mar. Você, especificamente você, entrou na água,
puxando-a pelos cabelos de volta à praia. Vocês gargalhavam.
Jovem: (interrompendo). Pô meu, para com isso! A gente só estava brincando, se
divertindo. Era tudo brincadeira, e se você estava lá, por que não foi ajudar a mulher?
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João: Eu não estava lá. Não saímos por aí socorrendo ninguém. As pessoas sofrem revezes
ou benesses, apenas com sua própria aceitação. Não acho que seja diversão estuprar e
afogar uma pessoa.
Jovem: Peraí ó cara, a gente não fez nada disso. Demos um susto na mulher e fomos
embora.
João: Não estou julgando ninguém, apenas relatando uma passagem de sua vida, com o seu
consentimento. Quer saber agora sobre o futuro de que lhe falei?
Jovem: Sei lá. Já estou nervoso com essa história. Mas vá lá, conte aí.
João: Você é um rapaz muito inteligente, mas a droga o matará de forma violenta daqui a
dois anos e três dias. Pode anotar isto.
Locutora: Temos aqui alguns telefonemas com perguntas. O primeiro indaga em que o
senhor se baseia para fazer tais afirmações.
João: Para nós, que temos acesso a outras dimensões, é fácil.
Locutora: Já respondeu? Só isso? Bem... a segunda pergunta é de uma pessoa que se
identifica como católico e diz que o catolicismo não aceita a reencarnação. Como o senhor
falou que ela existe ele quer maiores esclarecimentos.
João: Não há maiores esclarecimentos. O amigo que fez esta pergunta deve continuar
acreditando naquilo que sua evolução espiritual alcança. Não existe nenhum erro em não se
acreditar na reencarnação, assim como não existe a verdade absoluta. O que existe é a
realidade de cada um.
Locutora: O terceiro telefonema é um pouco estranho. Um telespectador disse estar
gravando o programa em vídeo e, segundo ele, voltou a fita para ver a qualidade da
gravação e não havia nada gravado, a não ser uma branca e luminosa luz, onde deveriam
estar as imagens. Bem, pode ser um defeito do seu aparelho.
João: Então não era uma pergunta.
Locutora: Não, não era (olhando o relógio). Passemos aos comerciais e enquanto isso será
providenciado café para todos e um lanche para o senhor X.
(Alguns minutos mais tarde, volta-se a focar o recinto, onde o pedinte ainda come com
avidez)
Locutora: Durante o intervalo, o senhor X, que ainda faz o seu lanche, indagou-me se ele
poderia fazer perguntas. Respondi-lhe que todos estão aqui para questionar. Quer perguntar,
senhor X?
Pedinte: Onde o senhor mora tem muita comida?
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João: Lá não precisamos de comida.
Pedinte: Então não presta, uai!
João: Tenho certeza de que você não pensa só em comida. Fale-me desta criança que existe
em sua alma. Pode falar abertamente.
Pedinte: Ué, o senhor sabe disso?
João: Vamos, fale para nós sobre Cintie.
Pedinte: (com lágrimas nos olhos) O senhor sabe disso também?
João: Sei. É uma experiência muito especial esta sua.
Pedinte: Não sei se devo falar... é uma coisa em que ninguém acreditará... (lágrimas nos
olhos) é como o senhor diz, é muito lindo...
João: Não se acanhe, conte para nós porque você não aceitou o chamado de Núbia para
estar com ela em outra dimensão, abandonando este mundo. Lembra-se? Aquela tarde...
Pedinte: O senhor sabe disso também?
João: Sei.
Pastor: Pera aí, não estou entendendo nada desta conversa paralela.
João: Eu lhe explico, já que a emoção não deixa o senhor X se expressar. Apesar das
aparências, ele não é o que vemos. Ele também tem acesso a outras dimensões, só que
ainda não se deu conta. E existem duas entidades que o acompanham.
Espírita: Entidades espirituais?
João: Não, um pouco além. Entidades de luz, paz e imenso amor. São seus guardiões, pode-
se assim dizer.
Locutora: Desculpe interromper, mas os telefones não param. A Produção acaba de
informar que mais cinco pessoas telefonaram dizendo que não conseguem gravar o
programa. Dizem que a imagem da TV está ótima, mas no vídeo, apesar de estar sendo
gravado o diálogo, não há imagem, só uma luz branca.
João: Oriente a Produção, ou melhor, posso falar diretamente. Ocorre que a imagem
gravada reflete minha real forma de ser. Podem suspender qualquer tentativa de gravação,
pois continuará assim. Ah, vale também para o vídeo tape que está sendo gravado aqui.
Totalmente inúteis.
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Locutora: Estranho isto, não gente?
João: Minha imagem de três dimensões não pode ficar neste mundo.
Bispo: O senhor é mesmo esquisito. A que vem tudo isso?
João: Nada, apenas estou alguns passos além da crença.
Mística: Estou realmente admirada. Li coisas a respeito e sempre tive isto como ficção ou
algo para pessoas iluminadas, altamente desenvolvidas espiritualmente. O que o senhor
acha do esoterismo?
João: Uma gota de água no oceano. Os esotéricos se degladiando entre si, achando-se donos
da verdade e brigando por uma fatia nos lucros. Não diferem muito dos adeptos de outras
religiões: egocentrismo, charlatanismo, fanatismo, hipocrisia, interesses venais, uso de
drogas e por aí.
Mística: Isto é uma opinião generalizada? Não há exceções?
João: Em tudo há exceções. Grande parte das pessoas que se dizem esotéricas lutam por um
ecumenismo, tentando criar uma igreja universal, unindo todas as crenças, o que é
inconcebível no mundo atual. As únicas linguagens universais possíveis são o amor, a
música e os esportes.
Mística: Nós tentamos manter uma hierarquia.
João: Vocês criam graus de evolução, o que satisfaz apenas o ego de cada um. Fazem
rituais e usam indumentárias somente procurando ser diferentes dos outros.
Mística: O senhor é duro, hein?
João: Mas é exatamente isto que acontece: os esotéricos riem dos rituais católicos por não
verem neles nenhuma praticidade, mas inventam seus próprios rituais, dignos também de
risos. Tome por exemplo a pantomina da missa: uma pessoa vestido com roupas que o faz
diferente e “respeitável”, fazendo gestos e falando coisas automaticamente, sem nenhum
sentimento no coração, enquanto do outro lado, pessoas fazendo olhares angelicais, repetem
as palavras e gestos, tudo superficialmente. O homem lá na frente está mais preocupado
com a quantia que os fieis vão deixar – aquela história de “vamos correr a sacolinha”. Na
plateia, as mulheres observam o que as outras estão fazendo, que roupas estão vestindo, etc.
Os homens ficam imaginando se esta ou aquela mulher, que ali está cheia de véus, roupas e
rosário na mão, deve ter uma boa trepada ou então uma merda. É algo tão automático e
supérfluo que não eleva a espiritualidade de ninguém. Os esotéricos criam também
pantominas de rituais sem nenhuma expressividade, às vezes somente para serem diferentes
dos adeptos de outras seitas.
Mística: Milhares de pessoas, mesmo sem ser esotéricas, acreditam e seguem os
horóscopos.
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João: Puta merda! Ops, desculpem a expressão, mas não resisti e esqueci que estamos ao
vivo. Olhe, essas pessoas que seguem horóscopos de jornais e rádios, esses horóscopos
diários, feitos em série, são os maiores engodos. Quando falo em charlatanismo na área
esotérica, incluo estes fazedores de horóscopos como os maiores enganadores. Eles se
aproveitam dos crédulos e “jogam barro na parede”. Faça comigo um raciocínio: a
população mundial é de mais de seis bilhões de pessoas e se dividirmos estes seis bilhões
por doze, que são os signos do horóscopo, teremos o equivalente a seiscentos milhões de
pessoas para cada signo, ou seja, duas vezes o equivalente à população dos Estados Unidos
da América, e, quando o horóscopo diz que “você vai receber hoje uma importância em
dinheiro”, será que há este dinheiro para atender a estes seiscentos milhões de pessoas?
Agora, há o lado sério do horóscopo, que cuida da influência dos astros nos seres humanos.
Isto de acreditar em horóscopo diário faz parte da fraqueza mental por que passa este
mundo.
Mística: No que tange à leitura de mãos e bolas de cristal?
João: Nesse aspecto, as pessoas que o fazem utilizam-se de recursos mentais como a
intuição. Geralmente, antes de fazerem suas previsões, entram em transe e penetram no
inconsciente de quem está se consultando, obtendo ali as informações que querem, dizendo
ao consulente o que ele quer ouvir.
Mística: Na realidade eu concordo que há muita coisa irregular.
João: Em resumo, os esotéricos criam regras e inventam rituais para ter alguma norma a
seguir e a temer. Criam graus para serem melhores que os outros.
Locutora: Interessante... muito interessante senhor João. A Produção repassou o “tape” e
nenhuma imagem aparece.
João: Não falei?
Locutora: E tem mais. Lá fora do prédio já existe um grupo de mais de trinta pessoas,
algumas em cadeiras de rodas, esperando-o.A segurança está tendo dificuldades para
mantê-los em ordem. E estamos recebendo telefonemas de tal monta que requisitamos
telefonista extra. Até agora temos as seguintes estatísticas: 39 telefonemas achando-o um
charlatão; 17 achando-o um maluco; 76 achando-o ótimo; 34 elogiando o programa e 12
pedindo que o senhor fale mais. Tem um outro telefonema do arcebispo certificando-o de
que gostaria de receber mais informações sobre o relato que fez do bispo e, finalmente,
mais um telefonema, desta feita de um delegado de polícia, inquirindo-o a ampliar o relato
sobre o jovem, pois acredita estar aí a solução para o cadáver de uma mulher encontrada
morta e estuprada.
Jovem (histérico): Gente, deixem de bobagem! Já falei que nós apenas assustamos a mulher
e fomos embora.
17
Locutora: Calma senhor X, estou apenas passando informações. E, por fim, indagam sobre
sua citação da Bíblia, à luz de extraterrenos.
João: Com respeito ao arcebispo e ao delegado, nada tenho a acrescentar, nem informar.
Referente à Bíblia, existem dezenas de sociedades secretas operando neste mundo. Uma
delas, das maiores e mais disseminadas, por sinal a mais séria e bem conceituada, dentre
seus ensinamentos secretos, divulga uma Bíblia em que os assuntos abordados são
enfocados à luz da presença de extraterrestres aqui na Terra. Cita-se a destruição de
Sodoma e Gomorra como uma explosão atômica; a abertura do Mar Morto; as tábuas de
Moisés, assim como tantos outros eventos, todos eles explicados como atos de
extraterrestres aqui na Terra, participando da vida das pessoas. O próprio Cristo é citado
como extraterreno.
Locutora (dirigindo-se ao político): Não quer fazer uso da palavra, senhor X?
Político: Meus amigos, até agora só fiz observar as conversações, esse vai e vem de
palavras. Não perguntei nada por achar não ter chegada a hora de intervir. Quero antes
chegar à conclusão se o que este homem faz e diz é bom para o meu povo, o meu país,
destarte que, como político, tenho que zelar pelo bem-estar de minha gente! Não é
admissível que o povo continue suportando as agruras de maus governantes...
Locutora (interrompendo): Senhor X, o assunto tratado aqui é outro...
Jovem: Ele já deu umas cochiladas caindo aqui para o meu lado. Chegou até a roncar.
Locutora: É gente, parece que os telefonemas estão agitando bem mais do que a entrevista.
Houve uma senhora que ligou do interior e diz reconhecer este senhor como o homem que
fez sair água de umas pedras apenas apontando o dedo e dizendo: “Vocês estão sem água
nenhuma, pois aqui tem ó!” Aí começou a sair água puríssima do meio das pedras. Ela e
toda a cidade mandam agradecê-lo.
João: Não fiz nada disso. A água sempre esteve ali, faltava apenas uma pressãozinha de
dentro para fora. Fiz apenas esta pressão.
Pastor: Prestando bastante atenção e conjecturando sobre o que está se passando, até que
seus truques estão muito bem feitos, e seus amigos ligando para cá estão trabalhando
direitinho, não é?
João: Não é não.
Pastor: O senhor aparenta, pela sua conversa, ser uma pessoa de instrução e de bastante
leitura, e já que se apresenta como fazedor de milagres, por que não transforma esta água
em vinagre?
João: Não sou nenhum fazedor de milagres, apenas exponho uma realidade e também não
estou aqui para provar nada a ninguém, mas como sou uma pessoa muito espirituosa e
adoro uma brincadeira, dê-me o privilégio de dar uma boa gargalhada. Beba sua água!
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(O pastor com um olhar cético e um sorriso de escárnio nos lábios, levou o copo à boca,
engolindo de uma só vez um grande gole)
Pastor (assustando-se e cuspindo): É vinagre! Quem fez esta brincadeira? Quem foi o
engraçadinho?
João: Ninguém fez nada. O senhor aí (dirigindo-se ao jovem), prove desta água.
Jovem: Não estou a fim de beber vinagre!
João: Isto não é vinagre, beba!
Jovem: Bem... vou tentar!
(um pouco temeroso, levou o copo à boca, cheirou-o e bebeu dois goles)
Jovem: É água, fresquinha...
Pastor: Dê cá esta porcaria (bebeu outro gole)! Vinagre! Que brincadeira é esta?
João: Faça o favor de passar o restante para outra pessoa.
(O pastor passa o copo para a Locutora que antes cheira, passa a língua pelas bordas e bebe
um gole).
Locutora: É água!
Pastor: Vocês querem é me deixar maluco!
Locutora: Senhor João, estão informando da presença de mais de cem pessoas lá fora. Elas
perguntam se pretende atende-las pessoalmente.
João: De maneira nenhuma. Nada tenho para eles.
Locutora: Então teremos que pedir reforço policial, pois está virando uma baderna!
João: É um dos atrasos da humanidade, se tudo que precisam está dentro deles próprios.
Teimam em querer ajuda de fora para dentro, apelando para santos, mesinhas e simpatias,
quando toda e qualquer solução está dentro de si mesmos.
Mística: O senhor poderia falar mais profundamente sobre misticismo e forças ocultas?
Locutora (interrompendo): Queiram desculpar a interrupção, vamos entrar nos comerciais e
tentar solucionar alguns problemas de ordem interna. Olha gente, antes uma boa notícia,
estamos com um índice de 63% de televisores ligados ao programa. E os telefonemas não
param. Contamos agora com quatro telefonistas e dois produtores fazendo a triagem.
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Muitas pessoas insistem em um contato direto e ao vivo com o senhor, mas,
definitivamente, está fora de cogitação. Comerciais, por favor!
(Passam-se alguns minutos)
Locutora (voltando ao ar): Tomamos algumas providências para minimizar o problema lá
fora. Pedimos um batalhão de policiais e colocamos dois telões. A segunda maior rede de
televisão do país nos solicitou e autorizamos a transmissão em cadeia. O interessante é que
a Direção já estava para decidir pelo encerramento antecipado da entrevista. Agora já se
pensa em uma prorrogação do horário. Tudo bem para o senhor?
João: Por mim tudo bem.
Locutora: Foram computados até agora 1.115 telefonemas recebidos. É certo que a grande
maioria são de comentários tolos e perguntas descabidas, mas no computo geral o senhor
está agradando.
João: Eu não, o seu programa.
Locutora: Obrigada. Com a entrada no ar desta outra rede, o índice de audiência passa a ser
de 87%. Estamos batendo todos os recordes para o horário. Peço à Produção que focalize o
movimento aí fora para que todos possamos ver.
(Entra imagem da multidão aglomerada do lado de fora)
Locutora: Aí está o movimento de pessoas em frente à emissora. A câmara vai mostrando o
cordão de isolamento... ali um grupo de pessoas, algumas de muletas. Vejam quantas
pessoas em cadeiras de rodas. Olhe ali, é uma maca, não é? Dá para calcular para mais de
duzentas pessoas, eu acho. Alô Produção, temos condição de mandar alguém lá fora?
Produção: Já está chegando lá um repórter.
Repórter: Minha gente, isto aqui está uma coisa incrível! O que tem de pessoas doentes é
realmente incrível! Veja aqui uma senhora de muletas, vamos ver o que ela diz. Por favor,
fale aqui no microfone, por que está aqui?
Entrevistada: Este santo homem que está aí vai curar a minha perna!
Repórter: O que tem a sua perna?
Entrevistada: Gangrena! Está gangrenada!
Repórter: A senhora não prefere ir a um hospital?
Entrevistada: Cadê o dinheiro moço?! É tudo muito caro. Não tenho dinheiro e vou perder a
perna. Os remédios e o hospital são muito caros, moço!
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Repórter: E esta senhora, aqui do meu lado, com uma criança no colo. Vejam o tamanho da
cabeça do menino! O que tem esta criança? Fale aqui para os telespectadores.
Entrevistada: O menino sofre de elefantíase e vim para ver se o moço aí dá um jeito. Dizem
que ele está fazendo milagres!
Repórter: Ali tem uma pessoa na maca, está, inclusive, tomando soro. Vamos chegar até lá.
Quem é este doente, moço?
Entrevistada: É meu irmão.
Repórter: O que tem ele e por que está na maca?
Entrevistada: Ele tem Aids e já está quase chegando ao fim. Pelo amor de Deus, fale com o
homem lá dentro para dar uma olhada em meu irmão, por favor! (desesperada).
Repórter: Ele está lá dentro e está ouvindo a senhora, tenha calma. Vejam vocês o mundão
de gente que está aqui e, pelo visto, todos têm alguma doença. Vamos ver o que está
acontecendo naquele canto, parecer ser uma carrocinha. Vamos abrindo caminho... é
mesmo uma carrocinha! Impressionante, aqui, a esta hora, um pipoqueiro em plena
multidão! Vem cá pipoqueiro, fale aqui pra gente, como é que chegou aqui a esta hora?
Pipoqueiro: É que moro aqui perto e ia voltando para casa, vi este mundo de gente e resolvi
ganhar mais alguns trocados.
Repórter: E está vendendo bem?
Pipoqueiro: Estou até fazendo mais pipocas. Dizem que lá dentro tem um homem santo, é
verdade?
Repórter: Ele diz que não. Antes de voltarmos ao estúdio, a câmera vai fazer uma passagem
geral. Encerrando.
(A câmera mostra imagens gerais e volta à imagem do estúdio)
Locutora: Devo confessar que não esperava tamanha repercussão. É realmente uma lástima
que o sistema de saúde de nosso país esteja tão deficiente e os menos aquinhoados sem a
mínima possibilidade de atendimentos médico-hospitalares ou ambulatoriais. A presença
dessas pessoas aí fora é uma denúncia do descaso em que vivem os pobres e assalariados
deste país...
Político (interrompendo): Está aí senhores e senhoras, a minha plataforma eleitoral: inclui
abrir um guarda-chuva para proteção deste povo doente. Se eleito for...
Locutora (interrompendo): Por favor, senhor X, este não é o momento para lançar
plataforma eleitoral, desculpe-nos, sim? A Produção vai agora passar mais um testemunho.
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(Entra imagem externa)
Repórter: Localizamos esta senhora que tem algo a relatar. Pode falar ao microfone, por
favor.
Entrevistada: Este homem que vocês estão procurando... está vendo essas crianças aqui, ó,
para mais de vinte! Ele salvou todas elas de morrerem queimadas... as crianças faziam um
piquenique, então, o mato seco e muito alto começou a pegar fogo e todo mundo endoidou!
Eu gritava para alguém acudir e, sem mais nem menos, com o céu limpinho de nuvens, caiu
um temporal. Era cada pingo do tamanho de um dedo... o fogo se apagou rapidamente e eu
nem tinha visto, mas ele estava do meu lado. O fogo apagou e ele fez um gesto no ar e a
chuva parou tão de repente como havia começado. Olha moço, eu não estou falando isto
para aparecer não. Quero que Deus me castigue se estou mentindo! Foi ele, foi ele sim! Não
sei como, mas foi ele quem mandou a chuva cair!
Repórter: Ele se parece com o desenho deste retrato?
Entrevistada: É ele mesmo! Igualzinho... mas ao olhos, eu vi bem, eram de um preto
brilhante! É ele mesmo!
Repórter: Encerramos aqui o testemunho.
(Volta a imagem do estúdio)
Locutora: Vocês viram aí mais um pungente testemunho. São pessoas que a nossa equipe
foi localizando, após inúmeras buscas e seguindo pistas por mais de seis meses. Quando
pensávamos que localizaríamos o homem, ele sumia do mapa. Encontramo-lo quase por
acaso. Um carro da equipe ia passando por uma ponte quando avistaram um homem
pescando no riacho. Nesta hora falou mais alto o instinto aguçado do repórter que,
lembrando-se do retrato falado, mandou o motorista dar uma ré. De longe aparentava ser a
pessoa que procurávamos. Desceu até o rio e... realmente era ele e aqui o temos então.
Bem... penso que interrompi uma pergunta feita anteriormente pela senhora X, por favor,
quer repetir?
Mística: Eu havia pedido que ele falasse mais detalhadamente sobre misticismo e forças
ocultas.
João: Sobre forças ocultas, devo adiantar que nada existe de oculto. Todos os fenômenos
denominados paranormais têm origem no poder do pensamento e sua capacidade de
concentração. A pessoa é, vive, sofre, goza e vê, somente o que pensa. O pensamento é
criação. Se você pensa, por exemplo, que existe um demônio, todo o Cosmo trabalha em
função de dar forma ao seu pensamento, aí então você passa a ter o seu demônio particular.
Em resumo, tudo neste mundo é uma ilusão criada pela forma de pensamento.
Mística: É sobre misticismo?
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João: É tudo uma questão de qual corrente seguir. Temos aí uma gama delas: cristalogia,
práticas adivinhatórias, tarot, magia e inúmeras outras. Cada seita que se funda, seus
adeptos se acham os donos da verdade. E cada seita cresce arrebanhando seguidores, e
posteriormente seus membros se desentendem por questões de liderança ou mercantis, e aí
ela se racha, se divide em facções. Como eu disse antes, o Planeta Terra está com mais de
três mil anos de atraso espiritual. Existem naturalmente muitas exceções, são aqueles que
conseguem a iluminação ainda nesta dimensão terrestre.
Mística: Então tudo isso é falso?
João: Não! Tudo isso é válido! Mesmo com os excessos, drogas ou fanatismo, a pessoa está
trilhando o caminho da Senda. Este caminho pode ser muito longo ou menos curto,
dependendo da sua capacidade em conseguir uma alteração de consciência que o permita
atingir outros planos astrais ou dimensões. Nisto não existe nada que se possa chamar de
religião. É uma constante evolução e mutação pessoal. Sua capacidade de alteração de
consciência o leva a entrar em faixas vibratórias cada vez mais evoluídas. Neste trabalho de
busca da perfeição não precisamos de religião para nada, mas ela entra precisamente aí,
com seus dogmas, tabus e proibições, além de outras baboseiras, que só tendem a atrasar o
seu desenvolvimento espiritual. De mais a mais, qualquer – eu disse qualquer – caminho
conduzirá à iluminação: o amor, a emoção, a raiva, o ódio, o sexo, a meditação, o trabalho,
o jejum, etc. É tudo apenas uma questão de optar.
Mística: E sobre as palavras dos grandes mestres?
João: Eles jogam sementes esperando que alguma germine em você, só isso. A escolha do
caminho é sua, a experiência é sua. Em você aceitando a semente, não implica que tenha de
aceitar toda a árvore, já pronta. É você, individualmente, que vai trilhar seu caminho. É
algo muito pessoal. Uma vez com a semente em seu coração, seu próprio Mestre interno o
guiará. Dentro de você já está a árvore, linda, dando frutos saborosos. Você já é um ser
perfeito.
Espírita: E a respeito do espiritismo?
João: Pode-se dizer que já é um degrau inicial na busca da espiritualização, mormentemente
porque deixa de lado os falsos preceitos e dogmas que vêm atrasando o desenvolvimento do
ser humano. O espiritismo já se utiliza da magia, seja branca, na umbanda, ou negra, na
quimbanda. É o mesmo caso de o pensamento estar funcionando para a criação, só que os
espíritas se utilizam também de rituais e objetos, que funcionam como auxiliares
energéticos, para troca e captação de energia. A síntese do espiritismo é a junção de
profundos pensamentos, com uma espécie de auto-hipnose, que lhe abre acesso ao
subconsciente. De maneira nenhuma existem espíritos que descem à Terra através de
“médiuns” para contatos terrenos. A catarse – entenda catarse como uma alteração de
consciência – neste caso, provoca a abertura de um canal mental, levando o indivíduo a
outros níveis astrais, onde tudo é possível, até falar com os “mortos”, santos e até mesmo
Deus – Oxalá, no espiritismo. A característica principal de quem é médium é somente o
dom da intuição e concentração muito elevados.
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Espírita: É válido então o espiritismo?
João: Tudo neste mundo é válido. Vejam o espiritismo, também dividido em inúmeros
segmentos: Você tem a linha branca, também chamada de umbanda ou de Mesa. Praticam
rituais de cura e adivinhações, exercem o batismo e fazem oferendas de comidas e objetos
aos “guias”. Possuem toda uma linha de Orixás, bem como uma linguagem própria de
expressão. A linha negra do espiritismo, ou a quimbanda, também opera numa linha de
interferência na vida de outras pessoas. Este amplo uso da magia, seja branca ou negra, é o
maior exemplo que se tem do uso da mente para atingir certos objetivos. A catarse, como
citei antes, ao provocar a eliminação do consciente, dá ao indivíduo acesso a outros planos
do inconsciente e isto lhe dá poderes de entrar ou de alterar outros conscientes. O uso de
objetos ou coisas nestes trabalhos proporciona um direcionamento mais eficaz para atingir
os objetivos, porém, para se atingir maiores ou menores resultados, entra em cena a
capacidade de defesa de quem se pretende atingir. Se é uma pessoa fraca, mentalmente
vulnerável, consegue-se completo êxito. Todos estes atos são ingerências ao livre arbítrio
de outra pessoa e, sabendo-se que toda ação corresponde a uma ação igual contrária, o
feitiço pode virar contra o feiticeiro e é por isso os hospícios estão cheios de gente!
Espírita: E estes loucos nos hospícios são resultado do mau uso do espiritismo?
João: Não. Existem loucos por problemas genéticos, por drogas e por não conseguirem
suportar os reveses da vida. Há, ainda, os que se acomodam à loucura, mas a grande
maioria são pessoas com problemas espirituais e mentais mesmo.
Pastor: O senhor fala realmente bonito e com convicção, mas em que se baseia para falar
tudo isso sem dar uma prova sequer?
João: Não precisam provas. Sua mente está aí, seu consciente e subconsciente lhes
pertencem.
Pastor: E por causa disto é preciso esculhambar as religiões dessa maneira?
João: É questão de interpretação. Não estou esculhambando religião alguma, o que faço é
colocar a potencialidade mental do homem no seu devido lugar e isto nada tem de religioso.
Ocorre é que os líderes sabem da existência destas potencialidades e sabem também que, se
o ser humano descobrir e colocar para funcionar todas as suas latentes qualidades, eles não
precisarão de religião nenhuma para guia-los, aí, muita gente vai perder o emprego e suas
benesses. O povo tem de continuar amordaçado.
Pastor: E o que o senhor diz dos evangélicos?
João: Abrangendo-se todas as diferentes e variadas religiões e seitas evangélicas, pode-se
dizer que são uma ramificação do próprio catolicismo. Um pastor ou outro faz algumas
interpretações nos dogmas, cria esta ou aquela regra e pronto! Temos uma religião nova! O
povo mesmo, são cordeirinhos que seguem aquele que falar mais e melhor, e nisso os
evangélicos são muito bons.
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Pastor: A Bíblia diz...
João (interrompendo): Este ponto já ficou claro antes! A Bíblia não diz nada, vocês é que
dizem por ela.
Pastor: Mas o senhor não deixa a gente falar...
João: Não quando você quer entrar novamente em discussões religiosas.
Pastor: Pois para mim o senhor é um charlatão e um paranoico.
João: Que seja assim. A diferença que existe entre nós é que o dízimo não me deu
condições de ter uma mansão com piscina, dois carros na garagem, duas fazendas de gado,
uma chácara, oito casas de aluguel, gorda conta nos bancos e mulheres quantas queira. E o
senhor tem tudo isso.
Pastor: Minha vida particular não está em pauta.
João: Claro que não, estou somente separando o joio do trigo, como vocês mesmos dizem.
Locutora (intervindo): Dentre os quase dois mil telefonemas recebidos, selecionamos
algumas observações e perguntas que valem à pena ser citadas. Uma delas é: de onde o
senhor veio?
João: Sou daqui da Terra mesmo.
Locutora: O que o senhor fazia antes?
João: Viagens. Sempre fui um andarilho.
Locutora: Perguntam se não adianta nada rezar.
João: A reza é um mantra para ser repetido constantemente, criando condições para que o
pedido aconteça, mas é também o mental funcionando.
Locutora: Perguntam o que o senhor fez para transformar a água em vinagre?
João: Não fui eu, foi o próprio pensamento dele que possibilitou a transformação. Se vocês
observaram bem, somente ele sentiu o gosto do vinagre.
Locutora: Estão insistindo sobre a história de o senhor X ter uma criança na alma e ter
acesso a outras dimensões.
João: Este é um particular muito íntimo dele, portanto, é preciso que ele me autorize a falar
a respeito.
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Pedinte: Se o senhor quer falar, eu deixo, mas fale somente o essencial, sem entrar no
mérito.
João: O senhor X é um filósofo. É uma pessoa lida e estudada, já foi casado, com filhos,
enfim, um cidadão igual a outro qualquer. Aos poucos foi descobrindo que este mundo em
que vive não correspondia à sua realidade interior. Passou muito tempo entre duas dúvidas:
se estava em crise de identidade ou se esse não era realmente o seu mundo. Optou pela
segunda hipótese – estava no mundo errado. Viu-se só, cercado por bilhões de outros
humanos. Nesse processo, o Cosmo o compensou com uma companhia mágica, aliás, duas:
Cintie e Núbia. Cíntie, no caso, ocupou uma lacuna, ajudando-o como companheiro a
aceitar as idiotices deste mundo, convivendo com elas, e Núbia supria-lhe o lado afetivo.
Não precisava de mais nada. Tudo que almejava estava em suas mãos.
Locutora: E sobre o acesso a outras dimensões?
João: Sim, é isso mesmo. Cintie e Núbia são presentes do Cosmo e pertencem a outras
dimensões. Cintie é uma criança mágica, sem sexo nem cor, mas pode aparecer também
sob a forma de um animal, um velho ou um objeto, dependendo da forma que queira tomar
nesta dimensão. Já a Núbia é realmente uma mulher – uma negra lindíssima – puro carinho,
amor e compreensão.
Pedinte: Senhor João, por favor, pare aí, sim?
João: Como queira.
Locutora: Outra pessoa indaga sobre extraterrenos.
João: Esta Terra onde vivemos é um nada. Uma titicazinha de merda em comparação ao
Universo. Os extraterrenos não perderam nada aqui, nem têm nada a aprender conosco.
Alguns chegam até aqui para dar boas gargalhadas. Enquanto você vive o seu dia a dia,
comendo, bebendo, dormindo, seus horizontes são pequenos demais para imaginar sequer a
grandiosidade do Universo. Muitos de vocês acreditam ter sido os únicos privilegiados em
um Cosmo infinito, que se compõe de trilhões de astros, e porque somente a sua “santa
terrinha” tem este privilégio de estar habitada e ser protegida por Deus? Tremenda
babaquice mesmo.
Locutora: Estão perguntando como se pode iluminar através do sexo. O senhor falou algo
assim, não foi?
João: Falei. A iluminação se dá através da magia sexual, ou seja, a retenção do orgasmo e
da ejaculação. A energia criada pelo ato de copular é retida, subindo através dos chacras
para a glândula pineal, ou sétimo chacra. Isto provoca a iluminação do indivíduo,
proporcionando acesso a outros planos e dimensões, mas é algo um tanto perigoso, pois a
pessoa passa por uma etapa que se chama “loucura divina” antes de se iluminar, e isso, se
não se sabe controlar, pois pode prejudica-lo irreversivelmente. Dá-se também o nome de
alquimia sexual a este processo.
Locutora: Por que o senhor está falando tudo isso?
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João: Porque estão perguntando.
Locutora: Sim, é claro! Porque estão perguntando... mas acredito que esta pergunta do
telespectador seria mais abrangente, digamos assim, por que o senhor está falando tão
abertamente?
João: Tudo isso que eu falo... tudo não, a maior parte do que falo é inerente aos grandes
segredos não revelados, que estão escondidos a sete chaves por líderes religiosos, governos
e grandes mestres. Os líderes religiosos, por temerem perder o controle sobre seus
seguidores, pois estes conhecimentos tornariam as religiões desnecessárias. Os governos
temem perder suas fontes de renda, suas fronteiras e o controle sobre o povo. E os mestres
temem que estes conhecimentos sejam usados de forma prejudicial ao próprio povo, por
isso estes segredos continuam guardados e o povo cada vez mais imbecilizado. Eu falo
simplesmente por que não sou líder religioso, político ou grande mestre.
Locutora: Perguntam agora se a Aids é realmente um castigo de Deus, devido ao atual
procedimento sexual.
João: Esta pergunta incorre em dois erros fundamentais, primeiro, Deus não castiga
ninguém; segundo, não está havendo nenhum “atual procedimento sexual”, o que há é a
liberalização inerente à própria evolução do homem, deixando fluir a sexualidade latente e
normal em todo ser humano., mas que são tolhidas por preconceitos, tabus e dogmas
castrantes. Já a Aids existe por um erro de laboratório. Eu explico: um projeto, levado a
efeito por um certo país, através do seu serviço secreto, tentava criar em laboratório um tipo
de doença que atacasse somente as pessoas de epiderme escura, visando ao controle da
população negra no mundo, quiçá eliminando-a. Cobaias foram usadas na África e o
processo fugiu ao controle dos cientistas e o resultado, vê-se aí.
Locutora: Indagam se o senhor tem família, pátria e religião.
João: Três questões irrelevantes, pois não tenho nada disso, nem preciso. O homem é o
único animal que se casa, tem pátria e religião. O casamento é uma prisão tanto para o
homem e a mulher quanto para os próprios filhos. É um dos recursos que a Igreja e o
governo usam para manter os homens amordaçados. O mundo, a Terra, não têm fronteiras
nem donos, mas a eliminação das mesmas eliminaria também os sanguessugas dos
governos que fazem guerras para vender armas. E a religião? Bem, só para ilustrar, das
quase dez mil guerras de que se tem conhecimento de que ocorreram e ainda ocorrem,
oitenta por cento são de cunho religioso. Isto quer dizer que mata-se discriminadamente em
nome de um Deus qualquer. Os outros vinte por cento são por motivos econômicos.
Locutora: Algum dos presentes tem observações a fazer?
Dona de Casa: Bem, devagarinho estou começando a entender alguma coisa, mas está
muito difícil entrar na minha cabeça tantas informações. E este negócio de família que o
senhor falou aí, onde ficam os filhos?
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João: Para início de conversa, ninguém “possui” realmente os filhos, mas a família está
calcada no amor-posse. É um tal de “meu marido”, “minha mulher”, “minha avó”, “meu
filho”, e por aí. Nos, na qualidade de animais, agimos o tempo todo ferindo os nossos
próprios instintos, e este amor-posse é uma grande barbaridade. E é a isso que vocês
chamam de civilização. O animal irracional não ri, mas é imensamente mais feliz que nós, e
seria mais ainda não fossem os homens. A família, a religião e os professores castram as
crianças desde que elas começam a entender que estão no mundo. Tolhem o que há de mais
belo no ser humano: a espontaneidade. Com suas ideias, seus tabus e suas proibições, criam
crianças robotizadas, iguaizinhas aos pais.
Dona de Casa: Quer dizer que não posso mandar nos meus filhos?
João: O que a senhora pode ou não fazer com seus filhos é um problema seu. Estou apenas
apontando a cruel e desumana criação que é dada às crianças. O resultado está aí, doenças,
paranoias, esquizofrenias, taras, ambições, ódios, vinganças. Tornam-se mortos-vivos.
Neste mundo ninguém em sã consciência é o que realmente gostaria de ser.
Bispo: O senhor acha que o catolicismo aceitaria estas suas opiniões? O senhor está
cavando uma excomunhão.
João: Uma excomunhão ou dez fazem o mesmo efeito, ou seja, nenhum. Está mais do que
claro que o catolicismo em tempo algum aceitaria um mínimo que fosse das assertivas aqui
expostas, apesar de nos porões do Vaticano existir estas e outras mais profundas
informações cujo acesso é vedado ao próprio Papa.
Locutora: Interrompemos um instante para os comerciais.
(Voltando à cena minutos mais tarde)
Locutora: Este seria o último bloco do programa de hoje, mas o diretor está propenso a
prolongar o horário, ficando o filme anunciado para após o término da entrevista. Aliás, não
é ainda uma decisão tomada, precisamos da aquiescência de vocês. Senhor João?
João: Por mim tudo bem!
Locutora: Senhor Bispo?
Bispo: Por mim também.
Locutora: Senhor Pastor?
Pastor: Bem.
Locutora: Senhor jovem, aí?
Jovem: Ok.
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Locutora: A senhora dona de casa?
Dona de Casa: Tenho que ver com meu marido que está sentado ali me esperando.
Locutora: Onde?
Dona de Casa: Aquele ali ó (apontando), de camisa azul.
Locutora (olhando para ele): Parece que está fazendo um sinal positivo. E o companheiro
aqui?
Espírita: Não há problema.
Locutora: Senhor X?
Pedinte: Tá tudo bem.
Locutora: Senhora X?
Mística: Posso ficar.
Locutora: E o senhor?
Político: A gente espera.
Locutora: Todos estão de acordo. Pedimos agora aos telespectadores em casa que deem sua
opinião por telefone durante o decorrer deste bloco até o próximo intervalo. Temos agora
dez linhas telefônicas interligadas em busca automática. Podem ligar das cidades do
interior, chamando o código de área, pois a ligação é gratuita. Você quer que a entrevista
continue? Ligue, dê sua opinião, ela é muito importante. Nossa audiência agora, como
acesso da coirmã, subiu e estacionou em 91%. Temos computadas até agora quase três mil
telefonemas, muitos perguntando se podem vir para cá trazendo algum parente doente.
Estamos desencorajando qualquer vinda. Por falar em vir para cá, vamos dar um pulinho lá
fora. Alô Produção!
(Entre imagem do exterior)
Locutora: Nossa gente! Dobrou o número de pessoas, observem! Vê-se também repórteres
e fotógrafos... Chegaram mais policiais e parece que impera um maior nervosismo. Senhor
João, o que podemos fazer?
(Volta imagem do estúdio)
João: Podemos encerrar o programa.
Locutora: O senhor está louco? Esta entrevista está sendo a minha glória! (risos)
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João: Podemos fazer então o seguinte, mande distribuir um copo de água a todos os
doentes.
Locutora: Água???!!!
João: É, em copos descartáveis.
Locutora: Isto vai resolver o problema?
João: Espero que sim. Distribua a água, orientando a voltarem para suas casas. Depois
mande estender o cordão de isolamento para mais distante. Olhe, dê um copo de água
também ao pipoqueiro, pois ele sofre de úlcera.
Locutora: Vamos ver se a produção está aparelhada para isto.
João: E avise aí, ao vivo, olhos nos olhos: “Você que está em casa, não venha para cá, pois
não vai adiantar nada! Vocês ouviram? Nada!
Locutora: Espero que os telespectadores que têm intenção de vir para cá, não o façam.
João: Tenho uma surpresa para vocês. Eu ia mostrar quando o programa estivesse quase no
final, mas ele fica a todo momento me beliscando e pedindo para sair...
(Tirou-o de uma espécie de bolso na parte de baixo da camisa e o colocou em cima da
mesa. Era um homenzinho, com pouco mais de um palmo de tamanho. Calça vermelha,
sapatos pretos e pontudos. Vestia uma espécie de jaqueta verde, com bolsos pretos. Na
cabeça usava um boné em cone. Rosto enrugado e um grande nariz).
João: Este é o Zigur.
Locutora: Zigur? É vivo?
João: Sim, é um elemental, um duende.
Mística: Nossa, que gracinha! Sempre acreditei que existissem mas nunca havia visto um.
Jovem: Ô meu, que mágica legal!
(Em cima da mesa Zigur dava cambalhotas, saltos mortais e ria, ria...)
João: Vamos Zigur, fale com o pessoal.
Zigur: Deixa eu parar de rir primeiro (mais risadas). Isto é gente? (chegando em frente ao
político) mas ele não gosta de mulher não, ele gosta é de homem.
(O político, tomado de súbita raiva, leva a mão espalmada visando esmagar o duende. Seu
gesto ficou parado no ar, como se um braço forte segurasse sua mão).
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João: Zigur, olhe a língua!
Zigur (dando mais cambalhotas): Ele é bicha! Ele é bicha! (ria e ria).
João: Zigur, você prometeu que não ia fazer essas coisas.
Zigur: Mas ele é uma bicha engraçada... (ficou de quatro com a bunda para cima) quem
quer me comer? Quem quer me comer? Eu sou bicha! Eu sou bicha! (apontando para o
político).
João: Vou lhe recolher novamente. Já lhe falei que as pessoas têm todo o direito de escolher
o que lhe convém.
Zigur: Recolhe não, já parei. (mais risos e saiu dando cambalhotas até onde estava a dona
de casa). Por que a senhora não trouxe seus meninos pequenos para brincar comigo?
Dona de Casa: Eles não podem vir por causa do horário, mas estão em casa vendo você...
não... acho que já estão dormindo.
Zigur: Dê isto aqui para Marina, a mais novinha (tirando do bolso uma varinha, fez um
movimento no ar, aparecendo um punhado de estrelinhas, que já aglutinaram e formaram
uma flor).
Zigur: É uma flor silvestre e se demorar muito ela murcha. Ela é muito sensível.
Dona de Casa: Obrigada, você é um amor!
Zigur: Só gosto de pessoas puras de coração. Não gosto dele (apontando para o bispo), nem
dele (apontando para o pastor), nem dele (apontando para o jovem), e dela eu gosto
(apontando para a locutora), porque ela tem um filho excepcional e gosta muito dele, o trata
com muito carinho. Este aqui ó (o espírita) tem umas coisas esquisitas na cabeça. Deste
aqui eu gosto mais (o pedinte), gosto muito mesmo, porque ele tem um amiguinho igual a
mim (dirigindo-se ao pedinte). Onde está Cintie?
Pedinte: Deve estar muito bem acomodado em minha alma. Ele está sempre bem. É
igualzinho a você, fala tudo o que pensa e está sempre rindo e feliz.
Zigur: Claro, né, a gente não é burro igual a esses homens.
Locutora: Quanto anos você tem?
Zigur: Pra lá de trezentos. Ô barrigudo! (dirigindo-se ao político). Onde está o seu anel?
(O político olha sua mão esquerda e se espanta)
Político: Meu anel! Cadê o meu anel?
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Zigur: Tá ali ó, no dedo daquele moço (apontando um câmara). Eu coloquei lá.
(O político se levanta e tropeça nas próprias pernas, se esborrachando no chão).
Zigur: (gargalhando) Amarrei os cadarços dos sapatos dele... (rindo e rindo) que tombão
feio! (rindo e rindo).
João: Zigur, outra dessas e eu guardo você de volta.
Zigur: Vou ficar quietinho agora, mas por que você não deixa eu trazer os outros?
João: Imagine o que não iriam aprontar juntos. Vem para cá, fique quietinho aqui.
Locutora: Este é um autêntico duende, né?
João: É.
Locutora: E porque conseguimos vê-lo se é sabido que eles não aparecem para as pessoas?
João: Ele confia em mim, mas a colocação é inversa, são as pessoas que não têm a
capacidade de vê-los, a não ser as crianças, que inclusive brincam com eles. É só uma
questão de vibração de sua aura.
Locutora: O que é a aura?
João: É uma espécie de campo luminoso que nos cerca. É o campo de vibração, o corpo
etéreo.
Pastor: O senhor quer fazer o favor de mandar este bonequinho parar de fazer careta para
mim!
João: Calma gente, ele é inofensivo. É só um brincalhão.
Locutora: Passemos a focalizar o lado de fora, pois parece que está acontecendo coisas
incríveis.
(mostra imagem externa)
Locutora: Veio a informação de que pessoas jogaram fora as muletas após beberem a água.
Vejamos as imagens, muita gente chorando...pessoas ajoelhadas... a maca! Cadê a pessoa
que estava na maca! Está vazia! O pessoal avança nos que estão entregando a água, a
polícia tenta fazer um cordão de isolamento... o pessoal empurra... alguns copos de água
caem no chão... pessoas lambendo o chão, outras pisam... ali uma senhora dançado e
chorando... um homem sem camisa mostrando as costas para as pessoas... vejam! O
pipoqueiro jogando pipocas para o alto... deu a louca em todo mundo... a política está
orientando as pessoas a irem para casa... algumas teimam em ficar... soldados ampliam o
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cordão de isolamento... e ali? Um carro de bombeiros e... também uma ambulância... carros
de reportagem, “flashes” pipocando por todos os lados... é... terão uma bela reportagem
amanhã... bem, voltamos ao estúdio!
(volta imagem do estúdio)
Locutora: Aquela água que está sendo distribuída foi tirada dos bebedouros, então, por que
este efeito nas pessoas (dirigindo-se ao Messias)?
João: É o poder da sugestão. Eles estão acreditando naquela água.
Mística: Quero fazer uma pergunta, senhor João.
João: Pode fazer.
Mística: Sobre o karma.
João: É incrível como até mesmo a sabedoria oriental procura colocar uma espada pendente
na cabeça das pessoas. Andou errado, pimba! Desce a espada e degola. Vocês podem
acreditar que tanto o céu, o inferno e mesmo o karma, são instrumentos usados para manter
as pessoas boazinhas e quietinhas. Falso, tudo falso! Não existe karma adquirido ou karma
a se queimar durante encarnações e mais encarnações. O interessante é que, mesmo com
todos esses instrumentos para manejar a consciência humana, está aí o mundo como você
vê:Fomes, guerras, politicagem e doenças.
Mística: Não seria pior se não houvesse esses instrumentos?
João: O homem iluminado não faz a guerra nem política e nem tem doenças. Ele supera em
si mesmo a dualidade e encontra o caminho do meio, sem necessidade de instrumentos de
controle da sua consciência. Ele extrapola, enfim, sua própria consciência.
Mística: E essa dualidade?
João: Neste mundo de três dimensões, que é a Terra, prevalece a dualidade temporal:
bem/mal, claro/escuro, amor/ódio, silêncio/barulho e estes são polos aparentemente
equidistantes que se completam e limitam o ser humano. São impossíveis de se separar e
um não existe sem o outro. É impossível se delimitar, por exemplo, onde começa e termina
o bem o mal. O bem de um pode ser o mal de outrem. A chuva é boa par a lavoura, mas
grandemente prejudicial à indústria do turismo. O claro é a ausência do escuro ou vice-
versa? A música é um barulho, mas não fossem os intervalos do silêncio entre uma nota e
outra não haveria musica. Os opostos se interpelam e se interdependem.
Locutora: Vamos passar para mais algumas perguntas feitas por telespectadores. Perguntam
o que você diz de Adão e Eva.
João: Não tenho nada a dizer sobre coisas que não existem, pura balela. Se partíssemos da
premissa da existência de Adão e Eva, a igreja teria que explicar porque condena o incesto.
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Será que naquela época o filho podia ter relações sexuais com a mãe, com as irmãs? Pai
com filha? É porque isto hoje é tido como pecado? Pura hipocrisia que ninguém explica.
Locutora: Vejamos agora... Ah, uma senhora diz aqui... se você pode fazer tudo isso que
estamos vendo e as pessoas testemunhando, de onde vem todo esse poder?
João: Nossa! Até que enfim uma pergunta inteligente. Antes de responder farei um
retrospecto da vida do homem, é coisa rapidinha. A criança nasce, e, aí, traz consigo todos
os dons. Seu consciente ainda não está dominado pelas imposições falsas que os adultos
impõem. O seu consciente, por sua vez, ainda não domina o inconsciente, que, com toda a
experiência e conhecimentos acumulados se encontram ainda latentes em nível total. Ela
brinca com fadas e duendes porque sua faixa de vibração está totalmente livre. A criança vê
a aura das pessoas, se comunica com animais, enfim, tem acesso ao conhecimento total que
se encontra guardado no seu subconsciente. Com o correr dos anos vai perdendo a pureza
porque tanto os pais quanto os professores e a religião tolhem sistematicamente suas ações
e liberdades, impondo-lhes proibições, regras e o medo. Aos poucos vai-se-lhe embotando
o inconsciente, criando e fortalecendo uma consciência em que ela tem que ser, pensar e
agir igualzinho a eles, como manda a sociedade e a religião. Pronto: Foi-se a criança e entra
o adulto com sua mesquinhez e sordidez. Agora, entro propriamente na explicação sobre o
tal poder indagado pelo telespectador. Trata-se de se conseguir por intermédio da mente,
liberar novamente o subconsciente, anulando o controle exercido pelo consciente. Você
volta assim a ter acesso aos dons perdidos e ao tal “poder” de fazer milagres! Isto lhe dá
acesso a outros planos astrais e outras dimensões, liberando-o da dualidade terrestre e
possibilitando o acesso a conhecimentos incomensuráveis. Quem está na terceira dimensão,
aqui neste mundo, não pode afetar em nada nas dimensões superiores. Já em estando na
quarta e posteriores dimensões, pode-se agir na terceira dimensão, por isso acontecem o
que vocês chamam de milagres.
Locutora: É hora dos comerciais. Aproveitaremos para ver o resultado dos telefonemas de
nossos telespectadores, para termos ou não o prolongamento do programa. Comerciais, por
favor.
(minutos após volta a imagem do estúdio)
Locutora: Continuaremos o programa com a aprovação de trezentos e dezessete
telefonemas, contra a opinião de apenas cinquenta e seis. Pelo que conta a produção foram
56 adversários ferrenhos, que esbravejavam e queriam até a sua morte.
João: Eles têm sempre o recurso de mudar de canal ou de desligar o aparelho. Os outros que
pediram a continuação do programa. Fazem parte da maioria desejosa de se libertar de
todos estes grilhões que sufocam o seu cotidiano.
Locutora: Sua vida pessoal, seu a dia dia como é?
João: Comuníssimo, mas totalmente diferente dos padrões convencionais de vocês.
Locutora: Pergunto eu então, como é?
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João: Extrapolando a ambição. Estou vários passos além da crença.
Locutora: O senhor não abre mesmo o jogo né? Acho que os telespectadores gostariam
realmente de saber o seu dia a dia.
João: Não tenho dia a dia, se quer saber. Esta colocação de tempo inexiste. O próprio dia a
dia, o presente, não existe. Bem... acho que tenho que explicar melhor... o futuro, o presente
e o passado não existem, simplesmente porque o futuro é o que virá, o passado é o que já
foi e o presente é uma eterna transposição de um para o outro. Se você pensa em falar uma
palavra, quando fala ela já está no passado, não restando nenhum momento presente. É uma
contínua transposição direta. O mundo todo, tudo e todos é somente uma ilusão. Não existe
o dia a dia.
Jovem: Então se o mundo não existe, como estamos vivendo nele?
João: Nem você existe, nem eu. Isto falando em termos materiais. Tudo o que existe são
átomos criando esta forma, e o átomo é pura energia e vibração. Tudo que existe são
átomos aglutinados tomando esta ou aquela forma. Em se dissociando os trilhões e trilhões
que o compõem, você passa a ser somente energia e vibração, desaparecendo a forma que
se vê.
Locutora: Mais uma pergunta de fora. Que solução o senhor daria para o mundo?
João: Nenhuma. Cada pessoa pode escolher seu próprio caminho, suas alegrias, suas
tristezas, suas certezas e suas dúvidas. Eu, pessoalmente, não quero mudar nada, mas
gostaria que não houvesse forças opressoras tipo forças armadas e polícias. Gostaria que as
religiões liberassem as pessoas para serem livres, gostaria que não houvesse fronteiras, que
a ciência tivesse liberdade de pesquisa e criação, sem ingerência de nenhum grupo.
Gostaria de eliminar do mundo o fanatismo tipo fundamentalista, que só deixa às mulheres
o direito de respirar. Gostaria de ver eliminado o culto à personalidade e a exploração do
homem pelo homem, enfim, que as pessoas tivessem um real motivo para sorrir e viver.
Locutora: Tem aqui uma pergunta diferente: o senhor sabe que está pecando contra as leis
de Deus?
João: Mais uma asneira. Ninguém peca contra uma coisa inexistente. O Ser Supremo, a
Suprema Energia, o Indefinível, Pura Luz, Deus, não se apega a estas ninharias. Ele quer
que você cresça, se espiritualize, descubra e desenvolva suas vibrações, aumentando sua luz
e energia, pois em você crescendo, faz também com que Ele cresça, uma vez que você é
uma centelha divina. Você faz parte Dele. Esta história de pecado é invenção de religiões
para conservá-lo na ignorância e manietado. O Deus a ser cultuado é de pura felicidade,
alegria e paz. Não é este Deus que castiga, trazendo medo às pessoas. Vou um pouco mais
além, se você tirar a vida de uma pessoa, não há implicação nenhuma no que se refere ao
pecado ou karma. Esta pessoa, se pudesse, agradecer-lhe-ia por tê-la libertado dessa
couraça material que é o corpo. Nesta inversão de valores, imposta pelas religiões, o corpo
humano é tido apenas como uma fábrica de fezes e urina, e não o receptáculo da Centelha
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Divina. É certo que a lei dos homens o agarraria por isso, como o agarraria também se
tentasse tirar a sua própria vida e falhasse. Mas não há pecado nisso.
Locutora: Temos aqui um recado para o senhor bispo, vem da Diocese e ordena a saída dele
da entrevista para não continuar “compactuando com as barbaridades aqui ditas” segundo
palavras do próprio arcebispo.
João: Mas ele não precisa sair, basta compactuar com o diálogo.
Zigur: Mas ele não vai sair, né?
João: Acho que não.
Bispo: Como não vou? Recebi uma ordem direta do meu superior e vou me retirar.
João: Será que ainda terá tempo de se encontrar com o tal rapazinho?
Bispo: Vou me retirar direto para a Diocese. Vamos traçar planos para contra ataca-lo.
Zigur: Ele vai sair Mestre?
João: Aposto como ele não consegue se levantar da cadeira.
(O bispo tenta se levantar de cadeira e não consegue)
Bispo: O que é que está havendo? (tentando se levantar). Quem está me prendendo aqui?
Zigur: Chiiiiiiii! Ficou preso!
Pastor: Não recebi nenhuma ordem, mas também me retiro!
Zigur: Olhe aí Mestre, ele também!
João: Os senhores continuarão aí, sentadinhos até o final do programa. Podem até ficar
calados, mas sentados.
(O pastor tenta e também não consegue se levantar)
Pastor: O senhor tem parte com o demônio!
João: O demônio não existe moço!
Zigur: Ohhh Mestre, nunca pensei que ia ser tão divertido. Posso amarrar os cadarços dos
sapatos deles?
João: Não, fiquei quietinho aí!
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Espírita: Senhor João, por que eles não podem se levantar?
João: Poder eles podem, bastava ter um pouquinho de poder mental para quebrar o encanto,
mas a preocupação mental deles é só com o dinheiro e os bens. E olhe que não sou eu quem
os está retendo, é o Zigur.
Zigur: Boto uns formigões dentro das roupas deles?
João: Não Zigur, não faça isso!
Pastor: O senhor não pode fazer isto conosco. Eu protesto!
João: Zigur, o homem está protestando!
Zigur: Deixa eu colocar umas sanguessugas na pele dele?
João: Não!
Bispo: Isso é inconcebível! Vim aqui para uma entrevista e não para ser destratado! Vamos
mover uma ação contra a emissora. Vamos retirar toda a nossa propaganda desta empresa!
Pastor: Vamos fazer o mesmo! Vamos reunir todas as congregações evangélicas e retirar as
propagandas que temos neste canal!
Locutora: Senhor João, o senhor está nos criando um grande problema!
João: Não retiram não. Eles precisam da mídia para continuar faturando!
Locutora: Eu lhe peço para libertar esses senhores.
João: Você tem que falar com o Zigur, foi ele quem fez a magia.
(O telefone toca)
Locutora: Alô! Sim! Sim! Eu falo (respondo o fone no gancho). Senhor João, o presidente
da emissora está aqui e pede para o senhor ir até o seu gabinete.
João: Se ele quiser falar comigo é aqui, ao vivo.
Zigur: Quer que eu amarre os cadarços dele?
João: Psiuuu!
Locutora: Ele disse que se não libertar o pastor e o bispo o programa sairá do ar.
João: Sai nada, ele não vai perder uma audiência de 91%.
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Locutora: (Rindo): Eu espero que não (novamente ao telefone). Sim? Sim senhor! O
presidente pergunta o que está havendo na sala dele. Diz que os quadros caíram da parede,
papeis estão voando, cadeiras caindo, cinzeiros mexendo...
João: É o Zigur brincando!
Locutora: O presidente mandou entrar os comerciais e está vindo para cá.
(Entram os comerciais e o presidente chega)
Presidente: Que brincadeira é esta?
João: Brincadeira?
Presidente: O senhor que me explicar o que está havendo? Um mundo de gente aí fora,
repórteres por todos os cantos querendo entrar, estes senhores presos em sua cadeira, meu
escritório de pernas para o ar...
João: Enfoque os fatos de que a sua emissora está tendo a oportunidade única de apresentar
um programa ao vivo, sem precedentes. O senhor não vai interromper uma audiência de
91% em total desrespeito aos telespectadores, vai?
Presidente: Sim, sim... quer dizer, não, não! Mas porque eles ficaram presos em suas
cadeiras?
João: Eles não estão presos, estão sentados!
Presidente (gritando para o contrarregra): Fala com a produção para passar outro take de
externa depois dos comerciais (virando-se para o Messias) e este bonequinho aí, que
bagunça está fazendo?
João: Por favor, não fale assim, ele é muito sensível!
(O presidente sai bufando de raiva, aparece a imagem de externa já em andamento)
Entrevistado: ... o carro parou de repente na beirada do barranco e todo mundo se salvou.
Repórter: O carro vinha a mais de 100 km, o senhor diz?
Entrevistado: É... a estrada é muito boa e a gente estava com pressa, aí estourou um pneu
dianteiro, né? E eu não conseguia parar o carro. A gente ia cair todo mundo no
despenhadeiro, eu, minha mulher e as crianças!
Repórter: Quantas crianças?
Entrevistado: Cinco, todos meus filhos.
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Repórter: E então?
Entrevistado: Aí nós saltamos do carro, todo mundo tremendo. Os meninos chorando, um
deles vomitou. Cheguei à beirada do barranco onde o carro parou e tomei um susto maior
ainda. Tinha um homem sentado em uma pedra, logo abaixo, com um livro na mão,
justamente no lugar onde o carro ia começar a rolar na ribanceira.
Repórter: Este homem parecia com este aqui da foto? (mostrando o retrato falado)
Entrevistado: É este, é ele mesmo!
Repórter: Voltamos ao estúdio.
(Volta imagem da mesa redonda)
Locutora: Estamos aqui de volta. Gostaria de fazer um apanhado geral das opiniões de
todos aqui presentes sobre o que viram e ouviram até agora. Podem falar abertamente
porque o Zigur não vai interferir, não é senhor João?
João: Podem falar sim. Ele vai ficar comportadinho.
Locutora: À minha direita, quer falar senhor Bispo?
Bispo: Mas eu ainda estou preso na cadeira.
Locutora: Senhor João, dê um jeito nisso, por favor.
João: É que o Zigur é um velhinho teimoso, mas ele vai liberá-los.
Locutora: Bem, senhor Bispo, pode falar.
Bispo: Como eu disse antes, nós estamos totalmente contra estas sandices...
Locutora (interrompendo): Um momento que o telefone está tocando, deve ser algo
urgente. Alô! Sim senhor, vou chamá-lo (dirigindo-se ao Bispo). É para o senhor, é o
arcebispo.
(O bispo, temerosamente, faz menção de se levantar da cadeira e consegue, encaminhando-
se ao telefone)
Bispo: Pois não Eminência! (Fica ouvindo durante alguns instantes). Pois não senhor, assim
será feito!
(O bispo volta a sentar-se)
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Bispo: Bem, como eu ia dizendo (pigarreia)... Bem, a igreja católica por mim aqui
representada não discorda totalmente das posições assumidas por este senhor, apesar de
achar que ele exagera em algumas assertivas. Tenho autorização da arquidiocese para
permanecer até o fim do programa e estendo o convite para uma reunião na Cúria, em data
e hora que eu mesmo posso combinar. Quando seria bom para o senhor?
João: Posso levar o Zigur?
Bispo: Bem, acho que não, o convite é para sua pessoa.
João: Haverá presença da imprensa?
Bispo: Não, penso que não.
João: Então vocês querem me “imprensar”?
(Risos)
Bispo: O que é isso senhor? O convite é de boa fé.
João: Sei, estarão lá alguns cardeais... um padre bruxo... e muita água benta para me
exorcizar.
Bispo: Assim o senhor me ofende.
João: Os nomes Guido, Luigi e Wojtila lhe dizem alguma coisa?
Bispo: São cardeais em Roma e o último é o Papa.
João: Vou citar o trecho de uma reportagem dada pela repórter Oriana Fallaci, conhecida
internacionalmente por entrevistar líderes mundiais. Em sua entrevista a Robert Sheer,
redator do Los Angeles Times, no ano de 1982, ela diz: “É muito engraçado que nos
Estados Unidos, toda vez que um presidente abre a boca, seja ele quem fôr, precisa
mencionar Deus! Quero dizer que nem o Papa faz isso. Jamais acontecerá na Europa. Sabe,
a Itália, em particular, tem um povo pagão! O povo não é religioso! Talvez a metade
acredite em Deus, nas os nossos papas nunca acreditaram. Esqueceram disso. Sabe por que
este novo Papa, Wojtila, foi eleito? Quando o outro morreu, todos os cardeais italianos se
reuniram e disseram: “Hei, algum de nós acredita em Deus? Não? Bem, ainda nos restam
dois países onde se acredita em Deus, a Irlanda e a Polônia. Tentemos o primeiro, a Irlanda.
As linhas estão ocupadas? Ok, vamos tentar a Polonia. Alô Wojtila, você acredita em
Deus? Acredita? Venha para Roma, seja o nosso papa!” Esta história é real, palavra de
Oriana”.
Bispo: E... com respeito ao convite?
João: Definitivamente não. O que acontece é que daqui a pouco vou desaparecer outra vez.
Vou passar para uma nova etapa do meu trabalho aqui na terra.
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Locutora: E o senhor X, quer dar sua posição?
Político: Concordo plenamente com a maioria.
Locutora: Mas não há maioria nem minoria, senhor X.
Político: Então vou esperar.
Locutora: E o jovem aí?
Jovem: Esse cara é um barato, um barato mesmo. Está armando uma baita confusão. Taí, a
gente tem mesmo é que revirar este mundo às avessas.
Locutora: E a senhora X?
Dona de Casa: Isto tudo está me deixando com a cabeça confusa. Lá em casa somos todos
tementes a Deus, apesar de não frequentarmos nenhuma igreja... mas não sei... desde
pequena a gente aprende a adorar santos e a pedir bênção aos padres, a ter medo de
demônios, aí eu fico com medo de dizer alguma coisa e estar pecando. Tenho um irmão que
frequenta um centro espírita e ele sempre fala que sou médium e tenho que me desenvolver.
Já minha tia é crente, daquelas que gritam e berram nos cultos. Ela sempre fala que eu
tenho que ir lá para tirar o diabo do corpo e ouvir a palavra de Deus, mas não vou não, fico
no meu cantinho. É tudo tão confuso...
Locutora: E a senhora aqui?
Mística: Nós estamos diante de um Mestre iluminado, o que raramente tem-se a
oportunidade de se ver ao vivo. Aprendi com suas palavras a melhor e maior lição de minha
vida e vou de agora em diante coloca-la em prática. Vou deixar de lado estas coisas
superficiais e desenvolver mais o mental. Podem acreditar, recebi um raio de luz ao saber
que sou uma Centelha Divina. Obrigada senhor Messias.
Locutora: Senhor X, aqui do lado?
Espírita: Apesar de algumas afirmações contrárias aos meus princípios religiosos, ditas por
este senhor, vejo em suas palavras muita lucidez. Tenho lido muita literatura esotérica e
minha mente é aberta a novas ideias e novas revelações. Acho mesmo que adotar posições
fixas, preestabelecidas e inalteráveis é uma forma de estagnação do ser humano. Este
senhor é uma pessoa muito lúcida.
Locutora: Agora o senhor X.
Pedinte: Não vou mais reclamar da falta de lanche porque ele me desmascarou. Um novo
mundo se abriu para mim, acho que na realidade eu me fazia de vítima e compadecia-me de
mim mesmo. Vou adotar outra postura e trilhar meu caminho com mais afã. Cintie e Nubia
estarão comigo no caminho.
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Locutora: E por último o senhor X.
Pastor: Eu não quero adotar uma posição irreversivelmente contrária porque tenho certeza
de que as palavras simplesmente ditas aqui não vão abalar as estruturas milenares das
religiões. Ainda acho que o demônio mandou este senhor aqui com suas palavras que
queimam. É só.
Locutora: Tivemos a opinião pessoal de cada um dos presentes. Tem algo a refutar ou
comentar senhor João?
João: Não, mil vezes não. Concordo plenamente com tudo o que foi dito. Não pretendo
mudar nem explicar mais nada.
Locutora: Vamos fazer uma geral. Alô repórter, fale aí de fora.
(Entra imagem externa do prédio)
Repórter: Aqui fora, como vocês podem ver pelas imagens, está um pouco mais calmo
porque a polícia ampliou o cordão de isolamento para mais longe do prédio. Acontece que
os copos estão se acabando e pelo jeito continua a chegar mais gente. Acho que teremos
que parar logo com a distribuição de água. Quem está criando muito caso são os repórteres
e fotógrafos, querendo ter acesso às nossas dependências. Segundo dizem, mandaram parar
as rotativas à espera do encerramento da entrevista, o que será manchete em todos os
jornais. Tem gente aqui até querendo contratar este moço como garoto propaganda.
Continua chegando mais pessoas, apesar do apelo para que não viessem. Está aqui também
um delegado de polícia que quer interrogar o rapaz que está aí dentro participando da mesa
redonda. Alegamos que o mesmo se encontra sob proteção da imprensa, não sei se colou
esta desculpa, mas o fato é que não insistiu mais. Bem, esta é uma geral do que está
acontecendo aqui fora. Voltemos ao estúdio.
(Volta imagem do estúdio)
Locutora: Ótimo, ainda bem que está tudo sob controle. Vejamos agora os telefonemas. As
meninas estão dando tudo de si e apesar do cansaço delas, continuamos. Foram computados
até agora 5.642 telefonemas e tenho à minha frente uma centena de perguntas, mas,
infelizmente, grande parte delas ficará sem resposta. Mas quem sabe no decorrer do
programa o que for dito aqui acabará por respondê-las? A maioria dos telefonemas é de
apoio, grande número nos parabenizam pela coragem que tivemos em levar ao ar o tema tão
explosivo, mas devo confessar que eu não esperava mesmo que fosse tão explosivo assim.
O senhor Messias está revolvendo uma poeira muito densa. De qualquer forma, temos
agora carta branca da presidência para continuarmos, mas antes, os comerciais.
(minutos depois)
Locutora: Selecionamos algumas perguntas sobre temas que estão um pouco fora do
roteiro, para ver se acaba de explodir tudo de uma vez (risos). Desculpem, é que estou
muito feliz com o sucesso do programa. Perguntam o que o senhor acha da política.
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João: Inteiramente irresponsável e dispensável.
Locutora: Sobre o amor?
João: Aí é um pouco mais complicado, exatamente como o próprio ser humano, que
complica tudo. Misturam amor com sexo, amor com ódio, amor com ciúmes, amor com
posse, amor com tragédia e transformaram o amor em cobranças e exigências. Mas ainda
resta alguma coisa. Resta ainda um sentimento que sai do fundo do coração. O amor
também faz parte da dualidade amor/ódio e nunca se sabe qual vai prevalecer.
Locutora: Sobre sexo?
João: Taí, o sexo, tão vilipendiado pelas religiões, é a segunda maior força da natureza
humana. A primeira é a mente. Fora do mental, é o único caminho que a pessoa tem para se
iluminar. O sexo é a única força que supera o mental, nem que seja por segundos, durante a
ocorrência da pequena morte, ou seja, o orgasmo. O sexo é também uma força criadora.
Locutora: Sobre dinheiro?
João: É também a segunda força... provocadora de guerras. A primeira, como já foi dito, é a
religião. Inteiramente dispensável o dinheiro. Algo sujo e repelente, separador de classes e
impiedoso que os que menos têm.
Locutora: Estão pedindo para explicar melhor o Zigur.
João: É um elemental da terra, um duende. Não este duende das lendas de potes de ouro.
Ele faz parte da força criadora da natureza, assim como o homem, só que se mantém em
outra faixa vibratória e isto lhe dá certos poderes, digamos, mágicos. Há também os
elementos da água, do fogo e do ar.
Locutora: Por que este nome Zigur e por que ele fala a nossa língua?
João: O nome fui eu quem colocou e eles não têm uma linguagem própria, suas
comunicações são puramente telepáticas.
Locutora: Mas este aí está falando...
João: Tudo o que ele fala, extrai da mente das pessoas.
Locutora: Existem outros, naturalmente.
João: Claro, milhões e milhões. Onde há uma árvore pode haver um ali. E sua função é
ajudar a natureza. Eles vivem centenas de anos. O Zigur, por exemplo, tem quase 1.500
anos.
Locutora: Ele disse que tinha uns trezentos.
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João: É que eles são muito divertidos e brincalhões. Eles têm respostas para tudo, mas não
significa que eles saibam tudo, eles tiram essas respostas do seu subconsciente.
Locutora: Comumente não se pode vê-los, não é?
João: É uma questão de vibração. O ser humano e os duendes vivem em faixas vibratórias
diferentes. Eles podem se deixar ver, mudando sua faixa, assim como os humanos também.
Locutora: Como eles nascem e vivem?
João: Você terá que descobrir por si mesma.
Locutora: Mas isto está sendo assunto de reportagem de interesse geral e os telespectadores
gostariam de saber.
João: Eles terão que descobrir por si mesmos. Olhe, o melhor e mais perfeito método de
aprendizado é aquele em que você fica calado, nada de questionamentos. Quando você se
pergunta algo, a resposta vem intuitivamente, mas quando começa a perguntar o porquê
das coisas, recebe sempre uma resposta que implica um outro porquê. E de porquês em
porquês, nunca se tem uma resposta satisfatória. Uma pergunta mental ao subconsciente
recebe uma resposta mental, intuitiva, total e completa, sem porquês.
Locutora: Quando estávamos organizando o programa durante a semana, tive oportunidade
de ver todos os “takes” em que foram tomados testemunhos dos seus feitos pelo interior.
Em um deles, segundo a pessoa que falou ao repórter, o senhor aparecia nu, em um
acampamento de menino e menina, à beira de uma lagoa. Era necessário estar nu?
João: É uma lástima que o ser humano se envergonhe da mais perfeita obra do Criador. As
ideias de “coisa feia” e de “pecado” são incutidas na criançada, tornando-se mais uma
causa de traumas e recalques. O corpo é lindo, o sexo é lindo. Existem pais de mente mais
arejada, que se banham e se trocam na frente dos filhos. É uma coisa muito salutar para a
educação sexual. A criança quando descobre a diferença dos sexos, não tem nenhuma
maldade, somente uma curiosidade natural de querer saber. Ele quer conhecer e isto faz
parte de sua evolução.
Locutora: Tem uma pergunta sobre família e fidelidade.
João: Mais uma agressão ao mais puro instinto animal do homem. O ser humano não pode,
por obrigação, ter um só parceiro por toda a vida. É algo biológico mesmo.
Locutora: Estou observando que os nossos convidados estão calados. Qual é o motivo
gente?
Mística: Eu me calei porque estou embevecida, bebendo estas sublimes palavras.
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Espírita: Estou analisando.
Jovem: Estou pensando numa maneira de escapulir do delegado, mas o parceiro aqui
(apontando para o político) está dormindo.
Bispo: Tudo o que eu tinha que falar já foi dito.
Pastor: Tenho a mesma posição.
Locutora: Pelo visto, esta é a primeira vez na história em que os católicos e crentes se unem
numa mesma opinião. Se prepara, senhor João, pois vem chumbo grosso para o seu lado.
João: Para mim não altera nada, só lastimo que o povo continue sendo engambelado. Mas
você se engana ao dizer que é a primeira vez que católicos e crentes têm a mesma opinião.
Eles têm há muito o mesmo processo de arrecadação de numerários e bens, assim como o
mesmo sistema de coação e lavagem cerebral dos fieis. Posso fazer aqui uma sequência das
ações que farão contra mim. Primeiramente vão me excomungar, logo a seguir, através da
mídia, vão fazer de mim um louco, devorador de criancinhas e de lares. Se ainda perdurasse
a inquisição, me queimariam na fogueira em praça pública. Vão fazer milhares de sermões
para os imbecis que continuarão a engordar as burras da igreja. Não se pode negar o poder
da teologia como dominador das massas. E seria tão fácil mudar o mundo para melhor,
bastaria que deixassem o homem pensar por si mesmo. Já que os colegas da mesa estão
fechados no mutismo, poderia chamar os repórteres que estão lá fora, ávidos por resposta.
Poderia autorizar a entrada deles, mas sem fotógrafos.
Locutora: Deixe-me consultar o diretor (pegando o telefone). Ouviu aí? Vai autorizar?
Tudo bem.
(Em instantes aparecem os contrarregras trazendo cadeiras que são colocadas lado a lado e,
a seguir, entram os repórteres em tremendo burburinho e o político acorda)
Locutora: Peço aos colegas que tomem assento ordenadamente nas cadeiras. Vale a regra
de primeiro a casa e eu coordenarei as perguntas. Pela ordem, você aí do canto.
Repórter: O senhor não imagina a celeuma que está fazendo esta entrevista. Nosso jornal
está mandando matéria completa para as agências internacionais, apesar de termos recebido
pedidos da Curia para minimizar o assunto. Há pedido de redes de outros países para
transmissão em cadeia, mas parece estar havendo bloqueio da igreja. Bem, queria perguntar
até onde vai o seu medo das consequências de suas palavras aqui?
João: Não existe nenhum medo.
Locutora: O seguinte.
Repórter: O senhor pode ser processado por incitamento, sabia?
João: Que venham os processos.
45
Locutora: O próximo.
Repórter: Minha revista solicita uma entrevista exclusiva para publicação a nível
internacional. Pagamos regiamente.
João: Entrevista negada. Esta é a primeira e única.
Locutora: O seguinte.
Repórter: Por que você quer mudar o mundo?
João: Ninguém muda o mundo sem mudar primeiro as pessoas e eu não quero mudar nada,
apenas exponho uma realidade. Quem tiver capacidade de entender, que entenda.
(O telefone toca)
Locutora (atendendo): Alô! Hein?! Não me diga! Só se for ao vivo. Mande-o aqui.
(Entra o senhor de terno, acompanhado por dois policiais)
Locutora: O senhor é o Oficial de Justiça? Por favor, use este microfone aqui, dê ao vivo
sua informação, mas não é necessária a presença de policiais, eles podem ficar lá fora.
Oficial: Eu queria apenas entregar este mandado de liminar, suspendendo o programa
(nervosismo)
Locutora (pegando o papel): Vou ler para os senhores telespectadores os termos deste
mandado. Aqui diz: “O senhor Juiz... etc... etc... parará, parará, a pedido da Curia
Diocesana... etc...etc...expede o presente mandado da liminar para efeito
suspensivo...etc...etc... por se tratar de um latente atentado de incitamento às normas
estabelecidas... etc...etc... parará, parará... cumpra-se na forma da Lei”. Bem, como vocês
veem, aí está o documento.
Oficial: Senhora, por favor, assine aqui.
Locutora: Calma, companheiro, não é assim não! Isto aqui é um ato arbitrário e fere
frontalmente a Lei de Imprensa. Vamos com calma!
(O telefone toca)
Locutora (atendendo): Alô! Sim senhor! Já???? Isto é que é presteza! Nossa Senhora! Traga
agora, já!
(Entra outro senhor de terno)
46
Locutora: Senhores e senhoras, o mundo não está totalmente perdido. Este aqui é o senhor
X, que faz parte do nosso corpo jurídico. Ele tem a palavra.
Advogado: Quero apresentar aos telespectadores e ao senhor oficial aqui presente um
mandado de liminar suspensiva deste programa, emitida por uma instância superior,
portanto, passo às suas mãos o documento e o seu trabalho está encerrado. Passe bem!
(O oficial se retira)
Locutora (emocionada): Escuta colega, nunca pensei que nosso departamento jurídico fosse
assim tão ágil.
Advogado (rindo): Eu também não. Imagine que eu estava em casa vendo este programa e
de repente me deu uma vontade imperiosa de vir até aqui. Mal entrei na minha sala quando
bateram à porta. Fui atender e era um contrarregra com este papel que, segundo ele, foi
entregue lá na portaria. Chegou bem na hora.
Locutora: Ufa, que alívio! (advogado se retira). Onde estávamos?
Ah, sim! O próximo colega pode perguntar.
Repórter: O que o senhor diz do fim do mundo, apregoado para este final de milênio?
João: Como você deve saber, neste mundo nada se acaba, é sempre uma transformação. É
um contrassenso dizer que o mundo vai se acabar. O que pode haver é uma transformação
e ela se dará para melhor. Seria assim como uma reação da natureza, algo muito normal,
pois os homens a agridem constantemente e, impensadamente, enchem a atmosfera de
gases, criando o efeito estufa, acarretando o degelo dos polos com o consequente aumento
do volume de água dos oceanos, o que desequilibra o eixo terrestre. Daí resulta todo um
processo de transformação. Por outro lado, a ganância provocará o caos na economia
mundial. O dinheiro nas mãos de poucos acarretará grandes e insuperáveis crises, que
culminarão na quebra de empresas e países. Em contrapartida, existem inúmeros
movimentos de grupos que tentam abrir a mente das pessoas, criando a lucidez necessária
para tentar reverter estas catástrofes. Não haverá fim do mundo.
Locutora: Quem é o próximo a perguntar?
Repórter: Eu. O senhor é o Messias reencarnado?
João: O que é isso cara, sou uma pessoa igual a você.
Locutora: Vamos dar um tempinho para os comerciais?
(Minutos depois)
Locutora: Estamos recebendo telefonemas de apoio ao programa, tanto da população
quanto de autoridades, escritores, artistas e... pasmem, religiosos!
47
João: Não é de estranhar, pois a igreja é composta de inúmeros segmentos para satisfazer a
todos os gostos. O Zigur dormiu (sacudindo-o). Acorde Zigur!
Zigur: Sim, sim! Já acabou?
João: Ainda não, você quer dormir no meu bolso?
Zigur: O negócio é que esses humanos são muito chatos, ficam discutindo banalidades.
João: Fique brincando aí na mesa. Mas não faça estripulias nem mexa nas coisas!
Zigur: Aquele homem, o tal presidente, sabe? Aquele que me chamou de boneco, até agora
não deu pela falta de sua carteira? Eu a escondi.
(Todos riem)
João: Zigur, você não fez isso!!!
Zigur: Fiz, fiz e fiz! Está escondida ali, ó! (aponta para um jarro de plantas plásticas)
(Zigur sai dando cambalhotas e rindo, espalhando estrelinhas pelo ar)
Repórter: O senhor é casado?
João: Sem perguntas pessoais.
Locutora: Outro colega aí.
Repórter: Faça uma mágica ao vivo para a gente ver.
João: Não trato desses assuntos.
Locutora: Parece que a maneira direta de explanar as coisas, está deixando as pessoas sem
capacidade de perguntar.
João: É verdade, o homem se repete assim como a história. Por falar em história, vou contar
uma.
Locutora: Fique à vontade.
João: Um disco voador desceu lentamente das nuvens, pairou no ar algum tempo e desceu
em um campo de nudismo. Todo um jogo de luzes e cores, um verdadeiro espetáculo.
Embaixo, a histeria total. Pessoas gritavam, choravam, escondiam as crianças. Virou uma
balbúrdia. O disco foi pousando suavemente no gramado. Silêncio total. Todos
desapareceram atrás de algumas árvores, moitas e prédios. Em instantes abriu-se uma
espécie de porta de onde saiu uma escadinha até o chão. Uma nuvem branca de fumaça
envolveu o disco totalmente e, de dentro desta nuvem, surgiu sorridente e nua uma mulher
48
escultural. Os homens escondidos esticaram um pouco mais os pescoços, arregalando os
olhos. A mulher caminhou até uma cadeira tipo espreguiçadeira, sentou-se recostando-se e
começou a se alisar vagarosamente. Em poucos segundos já se encontrava contorcendo-se
em espasmos e gozos. Os homens, a esta altura, haviam saído de seus esconderijos e,
temerosamente, iam chegando até onde a mulher se masturbava. Ao chegarem mais perto, a
mulher fez um gesto a um deles, chamando-o.Com medo, mas em estado de ereção, chegou
mais perto. A mulher, tomando-o pela mão, levou-o para o interior do disco. Instantes
depois surgia de entre a fumaça o homem nu. Um belo exemplar de raça masculina.
Encaminhou-se até a mesma cadeira, sentou-se e, recostando-se, começou a se alisar. Em
poucos segundos sua ereção era total e se masturbava abertamente. Foi a vez das mulheres
irem chegando. Ao chegarem bem perto, ocorreu a mesma coisa: o homem fez um gesto a
uma delas, pegou-a pela mão e a levou para o interior do disco. Passados uns trinta
minutos, sai o casal do meio da fumaça. A escada se recolhe e o disco alça voo. Todos
correm aflitos, indagando o que ocorrera. “Nada de mais”, explicam, “aquele casal eram
apenas bonecos de borracha e lá dentro do disco apenas tiramos fotografias para uma
revista intergalática de nudismo.
(Todos riem)
Locutora: Os colegas podem reiniciar as perguntas.
Repórter: Fale-nos sobre o demônio.
João: Este demônio divulgado pela religião não existe. Este Deus também. É apenas uma
face da dualidade terrena. Se o homem tem em si a Centelha Divina, em contrapartida
subentende-se que tem também a centelha demoníaca, mas não é nada disso que se diz. O
ser de chifres, espargindo enxofre, arrebanhando pessoas para o inferno, fazendo-as
incorrerem em pecado. Tudo isso é apenas uma opção e você tem que fazer a escolha entre
uma centelha e outra. Elas se entrelaçam, assim como se entrelaçam o bem e o mal. A este
respeito seria muito bom a leitura de um livro chamado “A Rebelião de Lúcifer”, de autoria
do autor espanhol J.J Benitez.
Locutora: Fazendo propaganda gratuita, senhor João?
João: Não. Existem realmente bons livros que merecem ser lidos por enfocarem aspectos
mais realistas. Recomendo também a leitura de “A Última Tentação de Cristo”.
Locutora: O senhor não falou sobre a Maçonaria.
João: Falei sim, não explicitamente. Seus segredos devem ser respeitados e não se pode
citar certas fontes.
Locutora: Mas o senhor tem revelado segredos e citado a igreja.
João: Tem uma grande diferença. A Maçonaria é autêntica em suas premissas e a igreja
prevalece com a hipocrisia e a mentira.
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  • 3. 3 Oi Você! Preparado (a) para queimar etapas? Preparado uma ova! Você não vai entender patavina deste livro! Mas, mesmo assim, tente! Lembre-se que não precisa acreditar no todo, em parte ou nada dele, ainda lhe resta esta liberdade. Sua bênção, leitores. Strufts
  • 4. 4 Participantes - Senhor Messias - Senhora X, locutora - Senhora X, mística, esotérica - Senhor X, bispo católico - Senhora X, dona de casa - Senhor X, espírita - Senhor X, pastor evangélico - Senhor X, político - Senhor X, pedinte - Senhor X, jovem universitário Participação de público: por meio de telefone Local: Estúdio de Televisão (Mesa Redonda) Horário: Noturno.
  • 5. 5 Transcrição (Dez pessoas, homens e mulheres, sentados ao redor de uma grande mesa. Compõem a mesa: a entrevistadora, o entrevistado e demais componentes. À frente de cada um deles veem-se cinzeiros, blocos de papel, canetas e copos. Onde está a locutora, vê-se ainda um aparelho telefônico. Ao lado, uma enorme tela de TV mostra as imagens da própria reunião. A redor da mesa movimentam-se várias câmaras). Locutora: iniciando o programa, apresento aos telespectadores nosso convidado de hoje. Trata-se de um senhor muito circunspecto, a quem os que tiveram contato direto, encaram- no como um Mestre ou um Messias, à julgar pelos testemunhos tomados. Ele nega, porém, tal pretensão. Observem a câmara focalizando-o. Irreverentemente, o dedo mínimo coçando o nariz. Reparem suas feições, aparenta completa calma. Provavelmente os telespectadores nunca viram este rosto nem ouviram falar a respeito dos seus feitos ditos “maravilhosos” por dezenas de pessoas entrevistadas por nossa equipe. A Produção leva hoje a vocês suas palavras, seguindo o esquema de entrevistar todas as semanas um personagem, típico ou atípico, para falar de suas ideias ou realizações. Antes de fazermos as apresentações dos demais elementos que compõem a mesa, colocaremos no ar uma das externas preparadas pela Produção, com depoimentos surpreendentes, prestados por pessoas que tiveram algum tipo de contato com este nosso entrevistado. Devo confessar que foi dificílimo seguir as pistas para localizá-lo. Vamos à primeira externa. (Entra imagem de externa) Repórter – Bem, senhores telespectadores, aqui ao meu lado este senhor. Vocês podem vê- lo. Gente humilde do interior, tem algo a relatar sobre o entrevistado de hoje. Fale aqui ao microfone, por favor, conte a sua história. Entrevistado: Pois é, seu moço, o homem passou por nossa cidade há coisa de dois meses, né? Eu estava ali, na esquina, sentado em minha cadeira de rodas, vendendo bilhetes de loteria, aí ele parou na minha frente, né? Ah, tem pra mais de trinta anos que sou aleijado, né? Aí ele parou a uns metros de distância e ficou olhando para mim. Eu olhei para ele e os olhos pretos com que me olhava me deu um arrepio no pé do espinhaço, bem na junta onde quebrou na queda. Aí ele falou: “Faz o favor de trazer um bilhete para mim”. Eu nem sei por que, ao invés de ir empurrando a cadeira, me levantei e fui andando até onde ele estava, né? (olhos e voz chorosos), mas não comprou nada, só falou bem baixinho ao meu ouvido: “Você não precisa mais daquela cadeira, pode dá-la para outra pessoa”. Aí ele foi embora e eu nem agradeci, né?. Repórter: Nunca mais viu o tal moço? Entrevistado: Nunca mais, né? Sumiu que nem fumaça e eu nem agradeci esta graça de Deus. Repórter: O senhor acha que foi um milagre?
  • 6. 6 Entrevistado: Pois foi! Aquele homem é um santo! Repórter: O senhor é católico? Entrevistado: Sei não. Depois que fiquei aleijado desacreditei desse negócio de igreja. Mas o padre, de vez em quando, me encontrava na rua e me cobrava ir à missa. Aí eu ia para não contrariar, né? Repórter: Tem aqui na cidade dezenas de pessoas querendo testemunhar que o homem era realmente paralítico há mais de trinta anos, consequência da queda de uma árvore. Vamos conversar agora com o prefeito daqui. (Imagem muda para outro local) Repórter: Este aqui, senhores, é o prefeito da cidade e, segundo fui informado, é amigo de infância do ex-aleijado. Por favor, senhor prefeito, estamos fazendo uma cobertura jornalística e gostaríamos de ouvir suas palavras a respeito deste fato ocorrido com o seu amigo. Prefeito: Não vi pessoalmente o que aconteceu por não estar presente naquele momento. O que tomei conhecimento foi por meio de outras pessoas, mas posso adiantar que foi uma comoção aqui na cidade. Logo que me contaram o ocorrido, fui até sua casa e o encontrei andando e feliz. Me abraçou chorando e, de tão emocionado, não conseguia nem falar. Repórter: Ele era realmente uma pessoa imobilizada na cadeira de rodas? Prefeito: Ah, isto era! Aquela cadeira já fazia parte de sua vida. Repórter: Na sua opinião, o que pode ter acontecido? Prefeito: Acho que foi um milagre, né? Se o homem não andava há trinta anos e de repente começou a andar só pode ser um milagre! Repórter: E sobre o homem a quem estão imputando o milagre, o senhor o conheceu? Prefeito: Pessoalmente não. Correm histórias por aí de que ele teria feito milagres também em outros locais. Repórter: Obrigado senhor prefeito. Vamos agora localizar o vigário da cidade. (Imagem muda para a frente de uma Igreja) Repórter: Estamos aqui com o pároco da cidade. Senhor padre, o que tem a dizer sobre o aleijado que andou depois de trinta anos numa cadeira de rodas? Pároco: Eu o conheço pessoalmente, sempre foi um homem muito católico, nunca faltou à missa.
  • 7. 7 Repórter: O senhor acredita que pode ter havido um milagre? Pároco: Foi um milagre de São Dimas. Ele é devoto do santo. Toda semana acendia uma vela. Repórter: Mas não foi aquele homem que o mandou levantar da cadeira? Pároco: Pois é, inspiração de São Dimas. Repórter: O senhor pretende informar ao Vaticano a ocorrência do milagre? Pároco: Não tem jeito. Foi um milagre de São Dimas, que já é canonizado. Repórter: Mas ocorrem histórias de outros milagres feitos por esse homem. Pároco: São só boatos. Repórter: Ouvimos assim os testemunhos diretos com o ex-paralítico, com o prefeito e o pároco. Os telespectadores podem assim tirar suas próprias conclusões. Meus agradecimentos e voltemos ao estúdio. (Volta imagem ao estúdio) Locutora: Os presentes e os amigos telespectadores tiveram a oportunidade de assistir a um dos inúmeros testemunhos gravados pela Produção e que serão apresentados no decorrer do programa. Passemos agora à apresentação dos participantes de hoje em nossa Mesa Redonda. Á minha direita o Sr.X, representante do Clero; à direita do Reverendo o Sr.X, conceituado político, atualmente sem cargo público; à sua direita está o Sr.X, estudante universitário, e, logo a seguir a Srª X, dona de casa. À minha esquerda está o Sr.X, pastor evangélico; a seguir, o Sr.X, que se autodenomina “pedinte de carteirinha”; à sua esquerda a Srª X, mística e esotérica; ao seu lado, o Sr. X, presidente da União Espírita e, finalmente, à minha frente, o motivo e objeto desta entrevista. Vamos inicialmente conversar com o mesmo. Locutora: Boa noite! Entrevistado: Boa noite! Locutora: Nossa rede e eu pessoalmente agradecemos por sua aquiescência em comparecer ao programa. E olhe que foi um bocado difícil localizá-lo, não foi? Entrevistado: Acho que não. A gente está sempre por perto. Locutora: Inicialmente as perguntas de praxe para identifica-lo perante quem nos vê. Seu nome? Entrevistado: Não importa o nome.
  • 8. 8 Locutora: Não importa? Como assim? Entrevistado: Qualquer nome está bom. Locutora: Qualquer nome, é? Entrevistado: É. Locutora: Então o chamaremos de Messias, ok? Entrevistado: Eu não sou um Messias! Locutora: Bem... ah... neste caso... podemos chamá-lo de João? Entrevistado: Está bom assim. Locutora: Então, senhor João, qual é a sua idade? João: Indefinida. (risos generalizados) Locutora: Como indefinida? O senhor não sabe quando nasceu? João: É que isto não tem importância. Estou entendendo que você se refere à idade física... Locutora: Naturalmente! João: Só que, além desta idade dita física, temos ainda a idade mental, a idade da experiência, a idade da vivência e, ainda, dentro da física quântica, a idade de sua vibração e mutação perante o Cosmo. Locutora: Parece complicado, não senhor João? João: Não. É de uma simplicidade incrível! Locutora: Bem... passemos adiante. Religião, alguma? João: Todas e nenhuma. (Risos generalizados) Locutora: Senhor João, penso haver explicado em nosso primeiro contato que o trabalho aqui é sério e de responsabilidade perante o público. Somos profissionais, por isso peço mais objetividade em suas respostas. João: Estou sendo claro, direto e objetivo.
  • 9. 9 Locutora: Estado civil? João: Nós também não temos este tipo de caracterização do indivíduo. Locutora: Nós quem? João: Nós, que superamos a dualidade deste mundo, estamos desobrigados a esses vínculos extemporâneos. Locutora: Como veem, senhores telespectadores, não está adiantando muito a tentativa de identificação deste senhor. Esperamos que no decorrer da entrevista se esclareça melhor esta indefinição. Lembramos a vocês de casa que também podem participar por telefone. Faça sua pergunta, questione, peça esclarecimentos, dê sua opinião. Concorde ou discorde, mas ligue pra gente. Algum dos presentes quer perguntar? (levantaram os braços o bispo, o pastor, a mística e o pedinte) Locutora: Começamos pelo senhor Bispo. Bispo: Eu queria apenas saber porque me chamaram aqui para conversar com um palhaço... (todos se surpreendem, pasmos) Locutora: Quero realçar que não serão aceitas ofensas gratuitas a nenhum dos participantes. O ofendido tem direito imediato a resposta. Senhor João? João: É compreensível o nervosismo do bispo, e com razão, pois foi escolhido em sorteio na Diocese, por isso sua presença compulsória no programa. Ele está perdendo, e é o que realmente o preocupa, um encontro com um rapazinho... (O Bispo levava à boca o copo d´água e o susto foi tamanho que engasgou) Bispo: (cuspindo) (tosse, tosse). Mas como é que... (tosse), mas... (tosse) é...(tosse) isto é um absurdo! (tosse). Locutora: Senhor João, é inaceitável esta insinuação! João: Não estou insinuando nada, ele está realmente perden... Locutora: (Interrompendo) Por favor! Passo a palavra ao Senhor Pastor. Pastor: O moço tem uma língua afiada, não? Bem, quero saber o que você acha do evangelho. Ou será que não tem capacidade de achar alguma coisa? João. Tenho. Não acho nada.
  • 10. 10 Pastor: Como não acha nada?! O Evangelho, a Bíblia, a palavra de Deus! João: Isto é para você e os que acreditam. Pastor: Gente, este cara é um herege! João: Se quer negociar assim, respeito a sua opinião. Pastor: Isto não é uma questão de opinião, é a realidade! É a palavra de Deus (gritando)! João: Esta é a sua realidade. E não precisa gritar. Pastor: O senhor não acredita na Bíblia? João: Em qual delas? Pastor: A Bíblia, ora! A nossa Bíblia! João: Escute, meu caro senhor, existem dezenas de Bíblias, diferentes umas das outras, e você só conhece a “sua” Bíblia, assim parece. Pastor: A Bíblia é a palavra de Cisto e só existe uma! (gritando, espumando de raiva). João: Espere um pouco... você disse antes que a Bíblia era a palavra de Deus, agora afirma que é a palavra de Cristo. Pastor: É tudo a mesma coisa, Cristo é filho de Deus! João: (comentando) Coitado do meu colega, até esta culpa estão jogando em cima dele... (falando mais alto) quero fazer um pequeno destaque. Compareci a este programa para ser entrevistado e não para discutir religião, mormentemente, porque isto de religião só é bom mesmo para seus líderes, que vendem céus, graças e indulgências, cultivando uma eterna lavagem cerebral em seus fieis, bloqueando sua evolução espiritual. É por culpa das religiões que o mundo está com três mil anos de atraso. Pastor: Ora, o senhor se diz um Messias e não quer discutir religião? João: Somente uma pequena correção: não me acho absolutamente nada, dentro do padrão de vocês, e uma coisa é conversar sobre a religião, outra é discutir. Para esta segunda não contem comigo. Querem conversar? Conversemos. Mística: (tomando a palavra) O senhor então seria um Mestre? João: Você quer dizer um fazedor de milagres? Mística: É, é... exatamente isto!
  • 11. 11 João: Não, não sou. Milagres não existem. Espírita: Gostaria de saber... Locutora: (interrompendo) Um momento, por favor. Já temos aqui uma pergunta interessante de um telespectador. Ele quer saber quais são as dezenas de Bíblias. O senhor quer responder? João: Sem dúvida! A Bíblia dos católicos tem já suas diferenças entre romanos, ortodoxos, e outras cismas, e diferem substancialmente das inúmeras outras, evangélicas, presbiterianas, adventistas, pentecostais e por aí afora, que também diferem entre si, pelo menos em interpretação. Os judeus têm sua própria Bíblia, os mulçumanos idem, os maometanos, islâmicos, etc. Muitas destas Bíblias recebem outros nomes, como Talmud, Corão, Livro dos Vedas, Evangelhos segundo Fulano ou Sicrano e até mesmo os espíritas têm o seu Evangelho. E quer saber mais? As tantas Bíblias propagadas aos quatro ventos, nada mais são do que escritos de inúmeros autores que, com o correr do tempo, iam incluindo itens e aspectos, com a finalidade de manter o povo sob julgo, dando assim continuidade aos privilégios do clero e dos reis. E tudo isso, colocando palavras nas bocas dos outros. Ah, existe ainda uma Bíblia enfocada à luz dos extraterrenos. São Bíblias demais... Locutora: Voltamos a palavra ao senhor X que interrompemos. Espírita: Gostaria de saber sua opinião sobre a reencarnação. João: De certa forma pode-se dizer que existe. Dona de casa: Vocês estão conversando depressa demais e não estou entendendo praticamente nada... Jovem: É... vocês estão conversando muito rápido. Pedinte: E o tal lanche que me prometeram? Até agora só tomei aquele café com pão na cantina. Locutora: Calma gente, vamos organizar. Conversemos mais explicitamente sobre os temas tratados. Todos podem e devem perguntar suas dúvidas. Dona de casa: Só entendi até agora uma coisa: este homem está querendo ser Deus, é? Locutora: Não sei. Quem responde é ele? João: Não minha senhora. Não este Deus que vocês têm na cabeça: um velhinho de barbas brancas e olhos bondosos, premiando e castigando seus filhos. Mas se a senhora se refere ao Deus, Suprema Energia e Vibração, faço parte dele. Você também. Dona de casa: Aí é que eu não entendi nada mesmo. Quer dizer que existem “dois Deus”?
  • 12. 12 Locutora (interrompendo) Senhor João, a Produção informa que recebemos até agora oito telefonemas pedindo para tirá-lo do ar e vinte e três outros achando ótimo o andamento da entrevista. Continuemos então. João: A senhora X diz não haver compreendido nada. Para explicar melhor teria que entrar em detalhes mais profundos e que seriam por demais complexos para seu entendimento. Fiquemos assim, bem fácil: não existem “dois Deus”, o que existem são interpretações as mais diversas sobre esse Deus. Jovem: É isso aí, assim mais fácil a gente entender. Me diga agora uma coisa, o que acha do barato? João: Você quer dizer o uso de drogas, não é? Jovem: Tóóóó!... João: O “barato”, as viagens e alucinações, provocados pelo uso de drogas, são falsos, irreais e nefastos. Eu explico: a droga atua na corrente sanguínea, levando sua química aos neurônios, diretamente ao cérebro. Tudo falso. Daí advém a queima dos neurônios, que são irrecuperáveis, criando concomitantemente uma dependência física. Começa um círculo vicioso: mais drogas, menos neurônios, até a completa imbecilização do indivíduo. Uma alteração de consciência mais perfeita, real e sem efeitos nefastos, se consegue através do relaxamento físico, da respiração e da meditação. Jovem: Pô meu, falou bonito mesmo! João: Se quiser posso falar das consequências de uma sessão de drogas da qual você e dois amigos participaram há coisa de dois meses atrás. Jovem: É isso aí, pode falar. João: Caso queira posso falar também sobre um futuro seu, dentro de dois anos. Jovem: Vamos nessa! Adoro futuro...futuro...ro... como é mesmo? F-U-T-U-R-O-L-O-G-I- A . É isso aí! João: Há coisa de dois meses e dias, você e dois amigos, após fumarem maconha, montaram em suas motos e foram dar um giro pela orla marítima. Ao passarem por uma certa praia, avistaram uma senhora que acendia velas na areia e rezava. Quando a mulher se viu cercada pelos três, correu para o mar. Você, especificamente você, entrou na água, puxando-a pelos cabelos de volta à praia. Vocês gargalhavam. Jovem: (interrompendo). Pô meu, para com isso! A gente só estava brincando, se divertindo. Era tudo brincadeira, e se você estava lá, por que não foi ajudar a mulher?
  • 13. 13 João: Eu não estava lá. Não saímos por aí socorrendo ninguém. As pessoas sofrem revezes ou benesses, apenas com sua própria aceitação. Não acho que seja diversão estuprar e afogar uma pessoa. Jovem: Peraí ó cara, a gente não fez nada disso. Demos um susto na mulher e fomos embora. João: Não estou julgando ninguém, apenas relatando uma passagem de sua vida, com o seu consentimento. Quer saber agora sobre o futuro de que lhe falei? Jovem: Sei lá. Já estou nervoso com essa história. Mas vá lá, conte aí. João: Você é um rapaz muito inteligente, mas a droga o matará de forma violenta daqui a dois anos e três dias. Pode anotar isto. Locutora: Temos aqui alguns telefonemas com perguntas. O primeiro indaga em que o senhor se baseia para fazer tais afirmações. João: Para nós, que temos acesso a outras dimensões, é fácil. Locutora: Já respondeu? Só isso? Bem... a segunda pergunta é de uma pessoa que se identifica como católico e diz que o catolicismo não aceita a reencarnação. Como o senhor falou que ela existe ele quer maiores esclarecimentos. João: Não há maiores esclarecimentos. O amigo que fez esta pergunta deve continuar acreditando naquilo que sua evolução espiritual alcança. Não existe nenhum erro em não se acreditar na reencarnação, assim como não existe a verdade absoluta. O que existe é a realidade de cada um. Locutora: O terceiro telefonema é um pouco estranho. Um telespectador disse estar gravando o programa em vídeo e, segundo ele, voltou a fita para ver a qualidade da gravação e não havia nada gravado, a não ser uma branca e luminosa luz, onde deveriam estar as imagens. Bem, pode ser um defeito do seu aparelho. João: Então não era uma pergunta. Locutora: Não, não era (olhando o relógio). Passemos aos comerciais e enquanto isso será providenciado café para todos e um lanche para o senhor X. (Alguns minutos mais tarde, volta-se a focar o recinto, onde o pedinte ainda come com avidez) Locutora: Durante o intervalo, o senhor X, que ainda faz o seu lanche, indagou-me se ele poderia fazer perguntas. Respondi-lhe que todos estão aqui para questionar. Quer perguntar, senhor X? Pedinte: Onde o senhor mora tem muita comida?
  • 14. 14 João: Lá não precisamos de comida. Pedinte: Então não presta, uai! João: Tenho certeza de que você não pensa só em comida. Fale-me desta criança que existe em sua alma. Pode falar abertamente. Pedinte: Ué, o senhor sabe disso? João: Vamos, fale para nós sobre Cintie. Pedinte: (com lágrimas nos olhos) O senhor sabe disso também? João: Sei. É uma experiência muito especial esta sua. Pedinte: Não sei se devo falar... é uma coisa em que ninguém acreditará... (lágrimas nos olhos) é como o senhor diz, é muito lindo... João: Não se acanhe, conte para nós porque você não aceitou o chamado de Núbia para estar com ela em outra dimensão, abandonando este mundo. Lembra-se? Aquela tarde... Pedinte: O senhor sabe disso também? João: Sei. Pastor: Pera aí, não estou entendendo nada desta conversa paralela. João: Eu lhe explico, já que a emoção não deixa o senhor X se expressar. Apesar das aparências, ele não é o que vemos. Ele também tem acesso a outras dimensões, só que ainda não se deu conta. E existem duas entidades que o acompanham. Espírita: Entidades espirituais? João: Não, um pouco além. Entidades de luz, paz e imenso amor. São seus guardiões, pode- se assim dizer. Locutora: Desculpe interromper, mas os telefones não param. A Produção acaba de informar que mais cinco pessoas telefonaram dizendo que não conseguem gravar o programa. Dizem que a imagem da TV está ótima, mas no vídeo, apesar de estar sendo gravado o diálogo, não há imagem, só uma luz branca. João: Oriente a Produção, ou melhor, posso falar diretamente. Ocorre que a imagem gravada reflete minha real forma de ser. Podem suspender qualquer tentativa de gravação, pois continuará assim. Ah, vale também para o vídeo tape que está sendo gravado aqui. Totalmente inúteis.
  • 15. 15 Locutora: Estranho isto, não gente? João: Minha imagem de três dimensões não pode ficar neste mundo. Bispo: O senhor é mesmo esquisito. A que vem tudo isso? João: Nada, apenas estou alguns passos além da crença. Mística: Estou realmente admirada. Li coisas a respeito e sempre tive isto como ficção ou algo para pessoas iluminadas, altamente desenvolvidas espiritualmente. O que o senhor acha do esoterismo? João: Uma gota de água no oceano. Os esotéricos se degladiando entre si, achando-se donos da verdade e brigando por uma fatia nos lucros. Não diferem muito dos adeptos de outras religiões: egocentrismo, charlatanismo, fanatismo, hipocrisia, interesses venais, uso de drogas e por aí. Mística: Isto é uma opinião generalizada? Não há exceções? João: Em tudo há exceções. Grande parte das pessoas que se dizem esotéricas lutam por um ecumenismo, tentando criar uma igreja universal, unindo todas as crenças, o que é inconcebível no mundo atual. As únicas linguagens universais possíveis são o amor, a música e os esportes. Mística: Nós tentamos manter uma hierarquia. João: Vocês criam graus de evolução, o que satisfaz apenas o ego de cada um. Fazem rituais e usam indumentárias somente procurando ser diferentes dos outros. Mística: O senhor é duro, hein? João: Mas é exatamente isto que acontece: os esotéricos riem dos rituais católicos por não verem neles nenhuma praticidade, mas inventam seus próprios rituais, dignos também de risos. Tome por exemplo a pantomina da missa: uma pessoa vestido com roupas que o faz diferente e “respeitável”, fazendo gestos e falando coisas automaticamente, sem nenhum sentimento no coração, enquanto do outro lado, pessoas fazendo olhares angelicais, repetem as palavras e gestos, tudo superficialmente. O homem lá na frente está mais preocupado com a quantia que os fieis vão deixar – aquela história de “vamos correr a sacolinha”. Na plateia, as mulheres observam o que as outras estão fazendo, que roupas estão vestindo, etc. Os homens ficam imaginando se esta ou aquela mulher, que ali está cheia de véus, roupas e rosário na mão, deve ter uma boa trepada ou então uma merda. É algo tão automático e supérfluo que não eleva a espiritualidade de ninguém. Os esotéricos criam também pantominas de rituais sem nenhuma expressividade, às vezes somente para serem diferentes dos adeptos de outras seitas. Mística: Milhares de pessoas, mesmo sem ser esotéricas, acreditam e seguem os horóscopos.
  • 16. 16 João: Puta merda! Ops, desculpem a expressão, mas não resisti e esqueci que estamos ao vivo. Olhe, essas pessoas que seguem horóscopos de jornais e rádios, esses horóscopos diários, feitos em série, são os maiores engodos. Quando falo em charlatanismo na área esotérica, incluo estes fazedores de horóscopos como os maiores enganadores. Eles se aproveitam dos crédulos e “jogam barro na parede”. Faça comigo um raciocínio: a população mundial é de mais de seis bilhões de pessoas e se dividirmos estes seis bilhões por doze, que são os signos do horóscopo, teremos o equivalente a seiscentos milhões de pessoas para cada signo, ou seja, duas vezes o equivalente à população dos Estados Unidos da América, e, quando o horóscopo diz que “você vai receber hoje uma importância em dinheiro”, será que há este dinheiro para atender a estes seiscentos milhões de pessoas? Agora, há o lado sério do horóscopo, que cuida da influência dos astros nos seres humanos. Isto de acreditar em horóscopo diário faz parte da fraqueza mental por que passa este mundo. Mística: No que tange à leitura de mãos e bolas de cristal? João: Nesse aspecto, as pessoas que o fazem utilizam-se de recursos mentais como a intuição. Geralmente, antes de fazerem suas previsões, entram em transe e penetram no inconsciente de quem está se consultando, obtendo ali as informações que querem, dizendo ao consulente o que ele quer ouvir. Mística: Na realidade eu concordo que há muita coisa irregular. João: Em resumo, os esotéricos criam regras e inventam rituais para ter alguma norma a seguir e a temer. Criam graus para serem melhores que os outros. Locutora: Interessante... muito interessante senhor João. A Produção repassou o “tape” e nenhuma imagem aparece. João: Não falei? Locutora: E tem mais. Lá fora do prédio já existe um grupo de mais de trinta pessoas, algumas em cadeiras de rodas, esperando-o.A segurança está tendo dificuldades para mantê-los em ordem. E estamos recebendo telefonemas de tal monta que requisitamos telefonista extra. Até agora temos as seguintes estatísticas: 39 telefonemas achando-o um charlatão; 17 achando-o um maluco; 76 achando-o ótimo; 34 elogiando o programa e 12 pedindo que o senhor fale mais. Tem um outro telefonema do arcebispo certificando-o de que gostaria de receber mais informações sobre o relato que fez do bispo e, finalmente, mais um telefonema, desta feita de um delegado de polícia, inquirindo-o a ampliar o relato sobre o jovem, pois acredita estar aí a solução para o cadáver de uma mulher encontrada morta e estuprada. Jovem (histérico): Gente, deixem de bobagem! Já falei que nós apenas assustamos a mulher e fomos embora.
  • 17. 17 Locutora: Calma senhor X, estou apenas passando informações. E, por fim, indagam sobre sua citação da Bíblia, à luz de extraterrenos. João: Com respeito ao arcebispo e ao delegado, nada tenho a acrescentar, nem informar. Referente à Bíblia, existem dezenas de sociedades secretas operando neste mundo. Uma delas, das maiores e mais disseminadas, por sinal a mais séria e bem conceituada, dentre seus ensinamentos secretos, divulga uma Bíblia em que os assuntos abordados são enfocados à luz da presença de extraterrestres aqui na Terra. Cita-se a destruição de Sodoma e Gomorra como uma explosão atômica; a abertura do Mar Morto; as tábuas de Moisés, assim como tantos outros eventos, todos eles explicados como atos de extraterrestres aqui na Terra, participando da vida das pessoas. O próprio Cristo é citado como extraterreno. Locutora (dirigindo-se ao político): Não quer fazer uso da palavra, senhor X? Político: Meus amigos, até agora só fiz observar as conversações, esse vai e vem de palavras. Não perguntei nada por achar não ter chegada a hora de intervir. Quero antes chegar à conclusão se o que este homem faz e diz é bom para o meu povo, o meu país, destarte que, como político, tenho que zelar pelo bem-estar de minha gente! Não é admissível que o povo continue suportando as agruras de maus governantes... Locutora (interrompendo): Senhor X, o assunto tratado aqui é outro... Jovem: Ele já deu umas cochiladas caindo aqui para o meu lado. Chegou até a roncar. Locutora: É gente, parece que os telefonemas estão agitando bem mais do que a entrevista. Houve uma senhora que ligou do interior e diz reconhecer este senhor como o homem que fez sair água de umas pedras apenas apontando o dedo e dizendo: “Vocês estão sem água nenhuma, pois aqui tem ó!” Aí começou a sair água puríssima do meio das pedras. Ela e toda a cidade mandam agradecê-lo. João: Não fiz nada disso. A água sempre esteve ali, faltava apenas uma pressãozinha de dentro para fora. Fiz apenas esta pressão. Pastor: Prestando bastante atenção e conjecturando sobre o que está se passando, até que seus truques estão muito bem feitos, e seus amigos ligando para cá estão trabalhando direitinho, não é? João: Não é não. Pastor: O senhor aparenta, pela sua conversa, ser uma pessoa de instrução e de bastante leitura, e já que se apresenta como fazedor de milagres, por que não transforma esta água em vinagre? João: Não sou nenhum fazedor de milagres, apenas exponho uma realidade e também não estou aqui para provar nada a ninguém, mas como sou uma pessoa muito espirituosa e adoro uma brincadeira, dê-me o privilégio de dar uma boa gargalhada. Beba sua água!
  • 18. 18 (O pastor com um olhar cético e um sorriso de escárnio nos lábios, levou o copo à boca, engolindo de uma só vez um grande gole) Pastor (assustando-se e cuspindo): É vinagre! Quem fez esta brincadeira? Quem foi o engraçadinho? João: Ninguém fez nada. O senhor aí (dirigindo-se ao jovem), prove desta água. Jovem: Não estou a fim de beber vinagre! João: Isto não é vinagre, beba! Jovem: Bem... vou tentar! (um pouco temeroso, levou o copo à boca, cheirou-o e bebeu dois goles) Jovem: É água, fresquinha... Pastor: Dê cá esta porcaria (bebeu outro gole)! Vinagre! Que brincadeira é esta? João: Faça o favor de passar o restante para outra pessoa. (O pastor passa o copo para a Locutora que antes cheira, passa a língua pelas bordas e bebe um gole). Locutora: É água! Pastor: Vocês querem é me deixar maluco! Locutora: Senhor João, estão informando da presença de mais de cem pessoas lá fora. Elas perguntam se pretende atende-las pessoalmente. João: De maneira nenhuma. Nada tenho para eles. Locutora: Então teremos que pedir reforço policial, pois está virando uma baderna! João: É um dos atrasos da humanidade, se tudo que precisam está dentro deles próprios. Teimam em querer ajuda de fora para dentro, apelando para santos, mesinhas e simpatias, quando toda e qualquer solução está dentro de si mesmos. Mística: O senhor poderia falar mais profundamente sobre misticismo e forças ocultas? Locutora (interrompendo): Queiram desculpar a interrupção, vamos entrar nos comerciais e tentar solucionar alguns problemas de ordem interna. Olha gente, antes uma boa notícia, estamos com um índice de 63% de televisores ligados ao programa. E os telefonemas não param. Contamos agora com quatro telefonistas e dois produtores fazendo a triagem.
  • 19. 19 Muitas pessoas insistem em um contato direto e ao vivo com o senhor, mas, definitivamente, está fora de cogitação. Comerciais, por favor! (Passam-se alguns minutos) Locutora (voltando ao ar): Tomamos algumas providências para minimizar o problema lá fora. Pedimos um batalhão de policiais e colocamos dois telões. A segunda maior rede de televisão do país nos solicitou e autorizamos a transmissão em cadeia. O interessante é que a Direção já estava para decidir pelo encerramento antecipado da entrevista. Agora já se pensa em uma prorrogação do horário. Tudo bem para o senhor? João: Por mim tudo bem. Locutora: Foram computados até agora 1.115 telefonemas recebidos. É certo que a grande maioria são de comentários tolos e perguntas descabidas, mas no computo geral o senhor está agradando. João: Eu não, o seu programa. Locutora: Obrigada. Com a entrada no ar desta outra rede, o índice de audiência passa a ser de 87%. Estamos batendo todos os recordes para o horário. Peço à Produção que focalize o movimento aí fora para que todos possamos ver. (Entra imagem da multidão aglomerada do lado de fora) Locutora: Aí está o movimento de pessoas em frente à emissora. A câmara vai mostrando o cordão de isolamento... ali um grupo de pessoas, algumas de muletas. Vejam quantas pessoas em cadeiras de rodas. Olhe ali, é uma maca, não é? Dá para calcular para mais de duzentas pessoas, eu acho. Alô Produção, temos condição de mandar alguém lá fora? Produção: Já está chegando lá um repórter. Repórter: Minha gente, isto aqui está uma coisa incrível! O que tem de pessoas doentes é realmente incrível! Veja aqui uma senhora de muletas, vamos ver o que ela diz. Por favor, fale aqui no microfone, por que está aqui? Entrevistada: Este santo homem que está aí vai curar a minha perna! Repórter: O que tem a sua perna? Entrevistada: Gangrena! Está gangrenada! Repórter: A senhora não prefere ir a um hospital? Entrevistada: Cadê o dinheiro moço?! É tudo muito caro. Não tenho dinheiro e vou perder a perna. Os remédios e o hospital são muito caros, moço!
  • 20. 20 Repórter: E esta senhora, aqui do meu lado, com uma criança no colo. Vejam o tamanho da cabeça do menino! O que tem esta criança? Fale aqui para os telespectadores. Entrevistada: O menino sofre de elefantíase e vim para ver se o moço aí dá um jeito. Dizem que ele está fazendo milagres! Repórter: Ali tem uma pessoa na maca, está, inclusive, tomando soro. Vamos chegar até lá. Quem é este doente, moço? Entrevistada: É meu irmão. Repórter: O que tem ele e por que está na maca? Entrevistada: Ele tem Aids e já está quase chegando ao fim. Pelo amor de Deus, fale com o homem lá dentro para dar uma olhada em meu irmão, por favor! (desesperada). Repórter: Ele está lá dentro e está ouvindo a senhora, tenha calma. Vejam vocês o mundão de gente que está aqui e, pelo visto, todos têm alguma doença. Vamos ver o que está acontecendo naquele canto, parecer ser uma carrocinha. Vamos abrindo caminho... é mesmo uma carrocinha! Impressionante, aqui, a esta hora, um pipoqueiro em plena multidão! Vem cá pipoqueiro, fale aqui pra gente, como é que chegou aqui a esta hora? Pipoqueiro: É que moro aqui perto e ia voltando para casa, vi este mundo de gente e resolvi ganhar mais alguns trocados. Repórter: E está vendendo bem? Pipoqueiro: Estou até fazendo mais pipocas. Dizem que lá dentro tem um homem santo, é verdade? Repórter: Ele diz que não. Antes de voltarmos ao estúdio, a câmera vai fazer uma passagem geral. Encerrando. (A câmera mostra imagens gerais e volta à imagem do estúdio) Locutora: Devo confessar que não esperava tamanha repercussão. É realmente uma lástima que o sistema de saúde de nosso país esteja tão deficiente e os menos aquinhoados sem a mínima possibilidade de atendimentos médico-hospitalares ou ambulatoriais. A presença dessas pessoas aí fora é uma denúncia do descaso em que vivem os pobres e assalariados deste país... Político (interrompendo): Está aí senhores e senhoras, a minha plataforma eleitoral: inclui abrir um guarda-chuva para proteção deste povo doente. Se eleito for... Locutora (interrompendo): Por favor, senhor X, este não é o momento para lançar plataforma eleitoral, desculpe-nos, sim? A Produção vai agora passar mais um testemunho.
  • 21. 21 (Entra imagem externa) Repórter: Localizamos esta senhora que tem algo a relatar. Pode falar ao microfone, por favor. Entrevistada: Este homem que vocês estão procurando... está vendo essas crianças aqui, ó, para mais de vinte! Ele salvou todas elas de morrerem queimadas... as crianças faziam um piquenique, então, o mato seco e muito alto começou a pegar fogo e todo mundo endoidou! Eu gritava para alguém acudir e, sem mais nem menos, com o céu limpinho de nuvens, caiu um temporal. Era cada pingo do tamanho de um dedo... o fogo se apagou rapidamente e eu nem tinha visto, mas ele estava do meu lado. O fogo apagou e ele fez um gesto no ar e a chuva parou tão de repente como havia começado. Olha moço, eu não estou falando isto para aparecer não. Quero que Deus me castigue se estou mentindo! Foi ele, foi ele sim! Não sei como, mas foi ele quem mandou a chuva cair! Repórter: Ele se parece com o desenho deste retrato? Entrevistada: É ele mesmo! Igualzinho... mas ao olhos, eu vi bem, eram de um preto brilhante! É ele mesmo! Repórter: Encerramos aqui o testemunho. (Volta a imagem do estúdio) Locutora: Vocês viram aí mais um pungente testemunho. São pessoas que a nossa equipe foi localizando, após inúmeras buscas e seguindo pistas por mais de seis meses. Quando pensávamos que localizaríamos o homem, ele sumia do mapa. Encontramo-lo quase por acaso. Um carro da equipe ia passando por uma ponte quando avistaram um homem pescando no riacho. Nesta hora falou mais alto o instinto aguçado do repórter que, lembrando-se do retrato falado, mandou o motorista dar uma ré. De longe aparentava ser a pessoa que procurávamos. Desceu até o rio e... realmente era ele e aqui o temos então. Bem... penso que interrompi uma pergunta feita anteriormente pela senhora X, por favor, quer repetir? Mística: Eu havia pedido que ele falasse mais detalhadamente sobre misticismo e forças ocultas. João: Sobre forças ocultas, devo adiantar que nada existe de oculto. Todos os fenômenos denominados paranormais têm origem no poder do pensamento e sua capacidade de concentração. A pessoa é, vive, sofre, goza e vê, somente o que pensa. O pensamento é criação. Se você pensa, por exemplo, que existe um demônio, todo o Cosmo trabalha em função de dar forma ao seu pensamento, aí então você passa a ter o seu demônio particular. Em resumo, tudo neste mundo é uma ilusão criada pela forma de pensamento. Mística: É sobre misticismo?
  • 22. 22 João: É tudo uma questão de qual corrente seguir. Temos aí uma gama delas: cristalogia, práticas adivinhatórias, tarot, magia e inúmeras outras. Cada seita que se funda, seus adeptos se acham os donos da verdade. E cada seita cresce arrebanhando seguidores, e posteriormente seus membros se desentendem por questões de liderança ou mercantis, e aí ela se racha, se divide em facções. Como eu disse antes, o Planeta Terra está com mais de três mil anos de atraso espiritual. Existem naturalmente muitas exceções, são aqueles que conseguem a iluminação ainda nesta dimensão terrestre. Mística: Então tudo isso é falso? João: Não! Tudo isso é válido! Mesmo com os excessos, drogas ou fanatismo, a pessoa está trilhando o caminho da Senda. Este caminho pode ser muito longo ou menos curto, dependendo da sua capacidade em conseguir uma alteração de consciência que o permita atingir outros planos astrais ou dimensões. Nisto não existe nada que se possa chamar de religião. É uma constante evolução e mutação pessoal. Sua capacidade de alteração de consciência o leva a entrar em faixas vibratórias cada vez mais evoluídas. Neste trabalho de busca da perfeição não precisamos de religião para nada, mas ela entra precisamente aí, com seus dogmas, tabus e proibições, além de outras baboseiras, que só tendem a atrasar o seu desenvolvimento espiritual. De mais a mais, qualquer – eu disse qualquer – caminho conduzirá à iluminação: o amor, a emoção, a raiva, o ódio, o sexo, a meditação, o trabalho, o jejum, etc. É tudo apenas uma questão de optar. Mística: E sobre as palavras dos grandes mestres? João: Eles jogam sementes esperando que alguma germine em você, só isso. A escolha do caminho é sua, a experiência é sua. Em você aceitando a semente, não implica que tenha de aceitar toda a árvore, já pronta. É você, individualmente, que vai trilhar seu caminho. É algo muito pessoal. Uma vez com a semente em seu coração, seu próprio Mestre interno o guiará. Dentro de você já está a árvore, linda, dando frutos saborosos. Você já é um ser perfeito. Espírita: E a respeito do espiritismo? João: Pode-se dizer que já é um degrau inicial na busca da espiritualização, mormentemente porque deixa de lado os falsos preceitos e dogmas que vêm atrasando o desenvolvimento do ser humano. O espiritismo já se utiliza da magia, seja branca, na umbanda, ou negra, na quimbanda. É o mesmo caso de o pensamento estar funcionando para a criação, só que os espíritas se utilizam também de rituais e objetos, que funcionam como auxiliares energéticos, para troca e captação de energia. A síntese do espiritismo é a junção de profundos pensamentos, com uma espécie de auto-hipnose, que lhe abre acesso ao subconsciente. De maneira nenhuma existem espíritos que descem à Terra através de “médiuns” para contatos terrenos. A catarse – entenda catarse como uma alteração de consciência – neste caso, provoca a abertura de um canal mental, levando o indivíduo a outros níveis astrais, onde tudo é possível, até falar com os “mortos”, santos e até mesmo Deus – Oxalá, no espiritismo. A característica principal de quem é médium é somente o dom da intuição e concentração muito elevados.
  • 23. 23 Espírita: É válido então o espiritismo? João: Tudo neste mundo é válido. Vejam o espiritismo, também dividido em inúmeros segmentos: Você tem a linha branca, também chamada de umbanda ou de Mesa. Praticam rituais de cura e adivinhações, exercem o batismo e fazem oferendas de comidas e objetos aos “guias”. Possuem toda uma linha de Orixás, bem como uma linguagem própria de expressão. A linha negra do espiritismo, ou a quimbanda, também opera numa linha de interferência na vida de outras pessoas. Este amplo uso da magia, seja branca ou negra, é o maior exemplo que se tem do uso da mente para atingir certos objetivos. A catarse, como citei antes, ao provocar a eliminação do consciente, dá ao indivíduo acesso a outros planos do inconsciente e isto lhe dá poderes de entrar ou de alterar outros conscientes. O uso de objetos ou coisas nestes trabalhos proporciona um direcionamento mais eficaz para atingir os objetivos, porém, para se atingir maiores ou menores resultados, entra em cena a capacidade de defesa de quem se pretende atingir. Se é uma pessoa fraca, mentalmente vulnerável, consegue-se completo êxito. Todos estes atos são ingerências ao livre arbítrio de outra pessoa e, sabendo-se que toda ação corresponde a uma ação igual contrária, o feitiço pode virar contra o feiticeiro e é por isso os hospícios estão cheios de gente! Espírita: E estes loucos nos hospícios são resultado do mau uso do espiritismo? João: Não. Existem loucos por problemas genéticos, por drogas e por não conseguirem suportar os reveses da vida. Há, ainda, os que se acomodam à loucura, mas a grande maioria são pessoas com problemas espirituais e mentais mesmo. Pastor: O senhor fala realmente bonito e com convicção, mas em que se baseia para falar tudo isso sem dar uma prova sequer? João: Não precisam provas. Sua mente está aí, seu consciente e subconsciente lhes pertencem. Pastor: E por causa disto é preciso esculhambar as religiões dessa maneira? João: É questão de interpretação. Não estou esculhambando religião alguma, o que faço é colocar a potencialidade mental do homem no seu devido lugar e isto nada tem de religioso. Ocorre é que os líderes sabem da existência destas potencialidades e sabem também que, se o ser humano descobrir e colocar para funcionar todas as suas latentes qualidades, eles não precisarão de religião nenhuma para guia-los, aí, muita gente vai perder o emprego e suas benesses. O povo tem de continuar amordaçado. Pastor: E o que o senhor diz dos evangélicos? João: Abrangendo-se todas as diferentes e variadas religiões e seitas evangélicas, pode-se dizer que são uma ramificação do próprio catolicismo. Um pastor ou outro faz algumas interpretações nos dogmas, cria esta ou aquela regra e pronto! Temos uma religião nova! O povo mesmo, são cordeirinhos que seguem aquele que falar mais e melhor, e nisso os evangélicos são muito bons.
  • 24. 24 Pastor: A Bíblia diz... João (interrompendo): Este ponto já ficou claro antes! A Bíblia não diz nada, vocês é que dizem por ela. Pastor: Mas o senhor não deixa a gente falar... João: Não quando você quer entrar novamente em discussões religiosas. Pastor: Pois para mim o senhor é um charlatão e um paranoico. João: Que seja assim. A diferença que existe entre nós é que o dízimo não me deu condições de ter uma mansão com piscina, dois carros na garagem, duas fazendas de gado, uma chácara, oito casas de aluguel, gorda conta nos bancos e mulheres quantas queira. E o senhor tem tudo isso. Pastor: Minha vida particular não está em pauta. João: Claro que não, estou somente separando o joio do trigo, como vocês mesmos dizem. Locutora (intervindo): Dentre os quase dois mil telefonemas recebidos, selecionamos algumas observações e perguntas que valem à pena ser citadas. Uma delas é: de onde o senhor veio? João: Sou daqui da Terra mesmo. Locutora: O que o senhor fazia antes? João: Viagens. Sempre fui um andarilho. Locutora: Perguntam se não adianta nada rezar. João: A reza é um mantra para ser repetido constantemente, criando condições para que o pedido aconteça, mas é também o mental funcionando. Locutora: Perguntam o que o senhor fez para transformar a água em vinagre? João: Não fui eu, foi o próprio pensamento dele que possibilitou a transformação. Se vocês observaram bem, somente ele sentiu o gosto do vinagre. Locutora: Estão insistindo sobre a história de o senhor X ter uma criança na alma e ter acesso a outras dimensões. João: Este é um particular muito íntimo dele, portanto, é preciso que ele me autorize a falar a respeito.
  • 25. 25 Pedinte: Se o senhor quer falar, eu deixo, mas fale somente o essencial, sem entrar no mérito. João: O senhor X é um filósofo. É uma pessoa lida e estudada, já foi casado, com filhos, enfim, um cidadão igual a outro qualquer. Aos poucos foi descobrindo que este mundo em que vive não correspondia à sua realidade interior. Passou muito tempo entre duas dúvidas: se estava em crise de identidade ou se esse não era realmente o seu mundo. Optou pela segunda hipótese – estava no mundo errado. Viu-se só, cercado por bilhões de outros humanos. Nesse processo, o Cosmo o compensou com uma companhia mágica, aliás, duas: Cintie e Núbia. Cíntie, no caso, ocupou uma lacuna, ajudando-o como companheiro a aceitar as idiotices deste mundo, convivendo com elas, e Núbia supria-lhe o lado afetivo. Não precisava de mais nada. Tudo que almejava estava em suas mãos. Locutora: E sobre o acesso a outras dimensões? João: Sim, é isso mesmo. Cintie e Núbia são presentes do Cosmo e pertencem a outras dimensões. Cintie é uma criança mágica, sem sexo nem cor, mas pode aparecer também sob a forma de um animal, um velho ou um objeto, dependendo da forma que queira tomar nesta dimensão. Já a Núbia é realmente uma mulher – uma negra lindíssima – puro carinho, amor e compreensão. Pedinte: Senhor João, por favor, pare aí, sim? João: Como queira. Locutora: Outra pessoa indaga sobre extraterrenos. João: Esta Terra onde vivemos é um nada. Uma titicazinha de merda em comparação ao Universo. Os extraterrenos não perderam nada aqui, nem têm nada a aprender conosco. Alguns chegam até aqui para dar boas gargalhadas. Enquanto você vive o seu dia a dia, comendo, bebendo, dormindo, seus horizontes são pequenos demais para imaginar sequer a grandiosidade do Universo. Muitos de vocês acreditam ter sido os únicos privilegiados em um Cosmo infinito, que se compõe de trilhões de astros, e porque somente a sua “santa terrinha” tem este privilégio de estar habitada e ser protegida por Deus? Tremenda babaquice mesmo. Locutora: Estão perguntando como se pode iluminar através do sexo. O senhor falou algo assim, não foi? João: Falei. A iluminação se dá através da magia sexual, ou seja, a retenção do orgasmo e da ejaculação. A energia criada pelo ato de copular é retida, subindo através dos chacras para a glândula pineal, ou sétimo chacra. Isto provoca a iluminação do indivíduo, proporcionando acesso a outros planos e dimensões, mas é algo um tanto perigoso, pois a pessoa passa por uma etapa que se chama “loucura divina” antes de se iluminar, e isso, se não se sabe controlar, pois pode prejudica-lo irreversivelmente. Dá-se também o nome de alquimia sexual a este processo. Locutora: Por que o senhor está falando tudo isso?
  • 26. 26 João: Porque estão perguntando. Locutora: Sim, é claro! Porque estão perguntando... mas acredito que esta pergunta do telespectador seria mais abrangente, digamos assim, por que o senhor está falando tão abertamente? João: Tudo isso que eu falo... tudo não, a maior parte do que falo é inerente aos grandes segredos não revelados, que estão escondidos a sete chaves por líderes religiosos, governos e grandes mestres. Os líderes religiosos, por temerem perder o controle sobre seus seguidores, pois estes conhecimentos tornariam as religiões desnecessárias. Os governos temem perder suas fontes de renda, suas fronteiras e o controle sobre o povo. E os mestres temem que estes conhecimentos sejam usados de forma prejudicial ao próprio povo, por isso estes segredos continuam guardados e o povo cada vez mais imbecilizado. Eu falo simplesmente por que não sou líder religioso, político ou grande mestre. Locutora: Perguntam agora se a Aids é realmente um castigo de Deus, devido ao atual procedimento sexual. João: Esta pergunta incorre em dois erros fundamentais, primeiro, Deus não castiga ninguém; segundo, não está havendo nenhum “atual procedimento sexual”, o que há é a liberalização inerente à própria evolução do homem, deixando fluir a sexualidade latente e normal em todo ser humano., mas que são tolhidas por preconceitos, tabus e dogmas castrantes. Já a Aids existe por um erro de laboratório. Eu explico: um projeto, levado a efeito por um certo país, através do seu serviço secreto, tentava criar em laboratório um tipo de doença que atacasse somente as pessoas de epiderme escura, visando ao controle da população negra no mundo, quiçá eliminando-a. Cobaias foram usadas na África e o processo fugiu ao controle dos cientistas e o resultado, vê-se aí. Locutora: Indagam se o senhor tem família, pátria e religião. João: Três questões irrelevantes, pois não tenho nada disso, nem preciso. O homem é o único animal que se casa, tem pátria e religião. O casamento é uma prisão tanto para o homem e a mulher quanto para os próprios filhos. É um dos recursos que a Igreja e o governo usam para manter os homens amordaçados. O mundo, a Terra, não têm fronteiras nem donos, mas a eliminação das mesmas eliminaria também os sanguessugas dos governos que fazem guerras para vender armas. E a religião? Bem, só para ilustrar, das quase dez mil guerras de que se tem conhecimento de que ocorreram e ainda ocorrem, oitenta por cento são de cunho religioso. Isto quer dizer que mata-se discriminadamente em nome de um Deus qualquer. Os outros vinte por cento são por motivos econômicos. Locutora: Algum dos presentes tem observações a fazer? Dona de Casa: Bem, devagarinho estou começando a entender alguma coisa, mas está muito difícil entrar na minha cabeça tantas informações. E este negócio de família que o senhor falou aí, onde ficam os filhos?
  • 27. 27 João: Para início de conversa, ninguém “possui” realmente os filhos, mas a família está calcada no amor-posse. É um tal de “meu marido”, “minha mulher”, “minha avó”, “meu filho”, e por aí. Nos, na qualidade de animais, agimos o tempo todo ferindo os nossos próprios instintos, e este amor-posse é uma grande barbaridade. E é a isso que vocês chamam de civilização. O animal irracional não ri, mas é imensamente mais feliz que nós, e seria mais ainda não fossem os homens. A família, a religião e os professores castram as crianças desde que elas começam a entender que estão no mundo. Tolhem o que há de mais belo no ser humano: a espontaneidade. Com suas ideias, seus tabus e suas proibições, criam crianças robotizadas, iguaizinhas aos pais. Dona de Casa: Quer dizer que não posso mandar nos meus filhos? João: O que a senhora pode ou não fazer com seus filhos é um problema seu. Estou apenas apontando a cruel e desumana criação que é dada às crianças. O resultado está aí, doenças, paranoias, esquizofrenias, taras, ambições, ódios, vinganças. Tornam-se mortos-vivos. Neste mundo ninguém em sã consciência é o que realmente gostaria de ser. Bispo: O senhor acha que o catolicismo aceitaria estas suas opiniões? O senhor está cavando uma excomunhão. João: Uma excomunhão ou dez fazem o mesmo efeito, ou seja, nenhum. Está mais do que claro que o catolicismo em tempo algum aceitaria um mínimo que fosse das assertivas aqui expostas, apesar de nos porões do Vaticano existir estas e outras mais profundas informações cujo acesso é vedado ao próprio Papa. Locutora: Interrompemos um instante para os comerciais. (Voltando à cena minutos mais tarde) Locutora: Este seria o último bloco do programa de hoje, mas o diretor está propenso a prolongar o horário, ficando o filme anunciado para após o término da entrevista. Aliás, não é ainda uma decisão tomada, precisamos da aquiescência de vocês. Senhor João? João: Por mim tudo bem! Locutora: Senhor Bispo? Bispo: Por mim também. Locutora: Senhor Pastor? Pastor: Bem. Locutora: Senhor jovem, aí? Jovem: Ok.
  • 28. 28 Locutora: A senhora dona de casa? Dona de Casa: Tenho que ver com meu marido que está sentado ali me esperando. Locutora: Onde? Dona de Casa: Aquele ali ó (apontando), de camisa azul. Locutora (olhando para ele): Parece que está fazendo um sinal positivo. E o companheiro aqui? Espírita: Não há problema. Locutora: Senhor X? Pedinte: Tá tudo bem. Locutora: Senhora X? Mística: Posso ficar. Locutora: E o senhor? Político: A gente espera. Locutora: Todos estão de acordo. Pedimos agora aos telespectadores em casa que deem sua opinião por telefone durante o decorrer deste bloco até o próximo intervalo. Temos agora dez linhas telefônicas interligadas em busca automática. Podem ligar das cidades do interior, chamando o código de área, pois a ligação é gratuita. Você quer que a entrevista continue? Ligue, dê sua opinião, ela é muito importante. Nossa audiência agora, como acesso da coirmã, subiu e estacionou em 91%. Temos computadas até agora quase três mil telefonemas, muitos perguntando se podem vir para cá trazendo algum parente doente. Estamos desencorajando qualquer vinda. Por falar em vir para cá, vamos dar um pulinho lá fora. Alô Produção! (Entre imagem do exterior) Locutora: Nossa gente! Dobrou o número de pessoas, observem! Vê-se também repórteres e fotógrafos... Chegaram mais policiais e parece que impera um maior nervosismo. Senhor João, o que podemos fazer? (Volta imagem do estúdio) João: Podemos encerrar o programa. Locutora: O senhor está louco? Esta entrevista está sendo a minha glória! (risos)
  • 29. 29 João: Podemos fazer então o seguinte, mande distribuir um copo de água a todos os doentes. Locutora: Água???!!! João: É, em copos descartáveis. Locutora: Isto vai resolver o problema? João: Espero que sim. Distribua a água, orientando a voltarem para suas casas. Depois mande estender o cordão de isolamento para mais distante. Olhe, dê um copo de água também ao pipoqueiro, pois ele sofre de úlcera. Locutora: Vamos ver se a produção está aparelhada para isto. João: E avise aí, ao vivo, olhos nos olhos: “Você que está em casa, não venha para cá, pois não vai adiantar nada! Vocês ouviram? Nada! Locutora: Espero que os telespectadores que têm intenção de vir para cá, não o façam. João: Tenho uma surpresa para vocês. Eu ia mostrar quando o programa estivesse quase no final, mas ele fica a todo momento me beliscando e pedindo para sair... (Tirou-o de uma espécie de bolso na parte de baixo da camisa e o colocou em cima da mesa. Era um homenzinho, com pouco mais de um palmo de tamanho. Calça vermelha, sapatos pretos e pontudos. Vestia uma espécie de jaqueta verde, com bolsos pretos. Na cabeça usava um boné em cone. Rosto enrugado e um grande nariz). João: Este é o Zigur. Locutora: Zigur? É vivo? João: Sim, é um elemental, um duende. Mística: Nossa, que gracinha! Sempre acreditei que existissem mas nunca havia visto um. Jovem: Ô meu, que mágica legal! (Em cima da mesa Zigur dava cambalhotas, saltos mortais e ria, ria...) João: Vamos Zigur, fale com o pessoal. Zigur: Deixa eu parar de rir primeiro (mais risadas). Isto é gente? (chegando em frente ao político) mas ele não gosta de mulher não, ele gosta é de homem. (O político, tomado de súbita raiva, leva a mão espalmada visando esmagar o duende. Seu gesto ficou parado no ar, como se um braço forte segurasse sua mão).
  • 30. 30 João: Zigur, olhe a língua! Zigur (dando mais cambalhotas): Ele é bicha! Ele é bicha! (ria e ria). João: Zigur, você prometeu que não ia fazer essas coisas. Zigur: Mas ele é uma bicha engraçada... (ficou de quatro com a bunda para cima) quem quer me comer? Quem quer me comer? Eu sou bicha! Eu sou bicha! (apontando para o político). João: Vou lhe recolher novamente. Já lhe falei que as pessoas têm todo o direito de escolher o que lhe convém. Zigur: Recolhe não, já parei. (mais risos e saiu dando cambalhotas até onde estava a dona de casa). Por que a senhora não trouxe seus meninos pequenos para brincar comigo? Dona de Casa: Eles não podem vir por causa do horário, mas estão em casa vendo você... não... acho que já estão dormindo. Zigur: Dê isto aqui para Marina, a mais novinha (tirando do bolso uma varinha, fez um movimento no ar, aparecendo um punhado de estrelinhas, que já aglutinaram e formaram uma flor). Zigur: É uma flor silvestre e se demorar muito ela murcha. Ela é muito sensível. Dona de Casa: Obrigada, você é um amor! Zigur: Só gosto de pessoas puras de coração. Não gosto dele (apontando para o bispo), nem dele (apontando para o pastor), nem dele (apontando para o jovem), e dela eu gosto (apontando para a locutora), porque ela tem um filho excepcional e gosta muito dele, o trata com muito carinho. Este aqui ó (o espírita) tem umas coisas esquisitas na cabeça. Deste aqui eu gosto mais (o pedinte), gosto muito mesmo, porque ele tem um amiguinho igual a mim (dirigindo-se ao pedinte). Onde está Cintie? Pedinte: Deve estar muito bem acomodado em minha alma. Ele está sempre bem. É igualzinho a você, fala tudo o que pensa e está sempre rindo e feliz. Zigur: Claro, né, a gente não é burro igual a esses homens. Locutora: Quanto anos você tem? Zigur: Pra lá de trezentos. Ô barrigudo! (dirigindo-se ao político). Onde está o seu anel? (O político olha sua mão esquerda e se espanta) Político: Meu anel! Cadê o meu anel?
  • 31. 31 Zigur: Tá ali ó, no dedo daquele moço (apontando um câmara). Eu coloquei lá. (O político se levanta e tropeça nas próprias pernas, se esborrachando no chão). Zigur: (gargalhando) Amarrei os cadarços dos sapatos dele... (rindo e rindo) que tombão feio! (rindo e rindo). João: Zigur, outra dessas e eu guardo você de volta. Zigur: Vou ficar quietinho agora, mas por que você não deixa eu trazer os outros? João: Imagine o que não iriam aprontar juntos. Vem para cá, fique quietinho aqui. Locutora: Este é um autêntico duende, né? João: É. Locutora: E porque conseguimos vê-lo se é sabido que eles não aparecem para as pessoas? João: Ele confia em mim, mas a colocação é inversa, são as pessoas que não têm a capacidade de vê-los, a não ser as crianças, que inclusive brincam com eles. É só uma questão de vibração de sua aura. Locutora: O que é a aura? João: É uma espécie de campo luminoso que nos cerca. É o campo de vibração, o corpo etéreo. Pastor: O senhor quer fazer o favor de mandar este bonequinho parar de fazer careta para mim! João: Calma gente, ele é inofensivo. É só um brincalhão. Locutora: Passemos a focalizar o lado de fora, pois parece que está acontecendo coisas incríveis. (mostra imagem externa) Locutora: Veio a informação de que pessoas jogaram fora as muletas após beberem a água. Vejamos as imagens, muita gente chorando...pessoas ajoelhadas... a maca! Cadê a pessoa que estava na maca! Está vazia! O pessoal avança nos que estão entregando a água, a polícia tenta fazer um cordão de isolamento... o pessoal empurra... alguns copos de água caem no chão... pessoas lambendo o chão, outras pisam... ali uma senhora dançado e chorando... um homem sem camisa mostrando as costas para as pessoas... vejam! O pipoqueiro jogando pipocas para o alto... deu a louca em todo mundo... a política está orientando as pessoas a irem para casa... algumas teimam em ficar... soldados ampliam o
  • 32. 32 cordão de isolamento... e ali? Um carro de bombeiros e... também uma ambulância... carros de reportagem, “flashes” pipocando por todos os lados... é... terão uma bela reportagem amanhã... bem, voltamos ao estúdio! (volta imagem do estúdio) Locutora: Aquela água que está sendo distribuída foi tirada dos bebedouros, então, por que este efeito nas pessoas (dirigindo-se ao Messias)? João: É o poder da sugestão. Eles estão acreditando naquela água. Mística: Quero fazer uma pergunta, senhor João. João: Pode fazer. Mística: Sobre o karma. João: É incrível como até mesmo a sabedoria oriental procura colocar uma espada pendente na cabeça das pessoas. Andou errado, pimba! Desce a espada e degola. Vocês podem acreditar que tanto o céu, o inferno e mesmo o karma, são instrumentos usados para manter as pessoas boazinhas e quietinhas. Falso, tudo falso! Não existe karma adquirido ou karma a se queimar durante encarnações e mais encarnações. O interessante é que, mesmo com todos esses instrumentos para manejar a consciência humana, está aí o mundo como você vê:Fomes, guerras, politicagem e doenças. Mística: Não seria pior se não houvesse esses instrumentos? João: O homem iluminado não faz a guerra nem política e nem tem doenças. Ele supera em si mesmo a dualidade e encontra o caminho do meio, sem necessidade de instrumentos de controle da sua consciência. Ele extrapola, enfim, sua própria consciência. Mística: E essa dualidade? João: Neste mundo de três dimensões, que é a Terra, prevalece a dualidade temporal: bem/mal, claro/escuro, amor/ódio, silêncio/barulho e estes são polos aparentemente equidistantes que se completam e limitam o ser humano. São impossíveis de se separar e um não existe sem o outro. É impossível se delimitar, por exemplo, onde começa e termina o bem o mal. O bem de um pode ser o mal de outrem. A chuva é boa par a lavoura, mas grandemente prejudicial à indústria do turismo. O claro é a ausência do escuro ou vice- versa? A música é um barulho, mas não fossem os intervalos do silêncio entre uma nota e outra não haveria musica. Os opostos se interpelam e se interdependem. Locutora: Vamos passar para mais algumas perguntas feitas por telespectadores. Perguntam o que você diz de Adão e Eva. João: Não tenho nada a dizer sobre coisas que não existem, pura balela. Se partíssemos da premissa da existência de Adão e Eva, a igreja teria que explicar porque condena o incesto.
  • 33. 33 Será que naquela época o filho podia ter relações sexuais com a mãe, com as irmãs? Pai com filha? É porque isto hoje é tido como pecado? Pura hipocrisia que ninguém explica. Locutora: Vejamos agora... Ah, uma senhora diz aqui... se você pode fazer tudo isso que estamos vendo e as pessoas testemunhando, de onde vem todo esse poder? João: Nossa! Até que enfim uma pergunta inteligente. Antes de responder farei um retrospecto da vida do homem, é coisa rapidinha. A criança nasce, e, aí, traz consigo todos os dons. Seu consciente ainda não está dominado pelas imposições falsas que os adultos impõem. O seu consciente, por sua vez, ainda não domina o inconsciente, que, com toda a experiência e conhecimentos acumulados se encontram ainda latentes em nível total. Ela brinca com fadas e duendes porque sua faixa de vibração está totalmente livre. A criança vê a aura das pessoas, se comunica com animais, enfim, tem acesso ao conhecimento total que se encontra guardado no seu subconsciente. Com o correr dos anos vai perdendo a pureza porque tanto os pais quanto os professores e a religião tolhem sistematicamente suas ações e liberdades, impondo-lhes proibições, regras e o medo. Aos poucos vai-se-lhe embotando o inconsciente, criando e fortalecendo uma consciência em que ela tem que ser, pensar e agir igualzinho a eles, como manda a sociedade e a religião. Pronto: Foi-se a criança e entra o adulto com sua mesquinhez e sordidez. Agora, entro propriamente na explicação sobre o tal poder indagado pelo telespectador. Trata-se de se conseguir por intermédio da mente, liberar novamente o subconsciente, anulando o controle exercido pelo consciente. Você volta assim a ter acesso aos dons perdidos e ao tal “poder” de fazer milagres! Isto lhe dá acesso a outros planos astrais e outras dimensões, liberando-o da dualidade terrestre e possibilitando o acesso a conhecimentos incomensuráveis. Quem está na terceira dimensão, aqui neste mundo, não pode afetar em nada nas dimensões superiores. Já em estando na quarta e posteriores dimensões, pode-se agir na terceira dimensão, por isso acontecem o que vocês chamam de milagres. Locutora: É hora dos comerciais. Aproveitaremos para ver o resultado dos telefonemas de nossos telespectadores, para termos ou não o prolongamento do programa. Comerciais, por favor. (minutos após volta a imagem do estúdio) Locutora: Continuaremos o programa com a aprovação de trezentos e dezessete telefonemas, contra a opinião de apenas cinquenta e seis. Pelo que conta a produção foram 56 adversários ferrenhos, que esbravejavam e queriam até a sua morte. João: Eles têm sempre o recurso de mudar de canal ou de desligar o aparelho. Os outros que pediram a continuação do programa. Fazem parte da maioria desejosa de se libertar de todos estes grilhões que sufocam o seu cotidiano. Locutora: Sua vida pessoal, seu a dia dia como é? João: Comuníssimo, mas totalmente diferente dos padrões convencionais de vocês. Locutora: Pergunto eu então, como é?
  • 34. 34 João: Extrapolando a ambição. Estou vários passos além da crença. Locutora: O senhor não abre mesmo o jogo né? Acho que os telespectadores gostariam realmente de saber o seu dia a dia. João: Não tenho dia a dia, se quer saber. Esta colocação de tempo inexiste. O próprio dia a dia, o presente, não existe. Bem... acho que tenho que explicar melhor... o futuro, o presente e o passado não existem, simplesmente porque o futuro é o que virá, o passado é o que já foi e o presente é uma eterna transposição de um para o outro. Se você pensa em falar uma palavra, quando fala ela já está no passado, não restando nenhum momento presente. É uma contínua transposição direta. O mundo todo, tudo e todos é somente uma ilusão. Não existe o dia a dia. Jovem: Então se o mundo não existe, como estamos vivendo nele? João: Nem você existe, nem eu. Isto falando em termos materiais. Tudo o que existe são átomos criando esta forma, e o átomo é pura energia e vibração. Tudo que existe são átomos aglutinados tomando esta ou aquela forma. Em se dissociando os trilhões e trilhões que o compõem, você passa a ser somente energia e vibração, desaparecendo a forma que se vê. Locutora: Mais uma pergunta de fora. Que solução o senhor daria para o mundo? João: Nenhuma. Cada pessoa pode escolher seu próprio caminho, suas alegrias, suas tristezas, suas certezas e suas dúvidas. Eu, pessoalmente, não quero mudar nada, mas gostaria que não houvesse forças opressoras tipo forças armadas e polícias. Gostaria que as religiões liberassem as pessoas para serem livres, gostaria que não houvesse fronteiras, que a ciência tivesse liberdade de pesquisa e criação, sem ingerência de nenhum grupo. Gostaria de eliminar do mundo o fanatismo tipo fundamentalista, que só deixa às mulheres o direito de respirar. Gostaria de ver eliminado o culto à personalidade e a exploração do homem pelo homem, enfim, que as pessoas tivessem um real motivo para sorrir e viver. Locutora: Tem aqui uma pergunta diferente: o senhor sabe que está pecando contra as leis de Deus? João: Mais uma asneira. Ninguém peca contra uma coisa inexistente. O Ser Supremo, a Suprema Energia, o Indefinível, Pura Luz, Deus, não se apega a estas ninharias. Ele quer que você cresça, se espiritualize, descubra e desenvolva suas vibrações, aumentando sua luz e energia, pois em você crescendo, faz também com que Ele cresça, uma vez que você é uma centelha divina. Você faz parte Dele. Esta história de pecado é invenção de religiões para conservá-lo na ignorância e manietado. O Deus a ser cultuado é de pura felicidade, alegria e paz. Não é este Deus que castiga, trazendo medo às pessoas. Vou um pouco mais além, se você tirar a vida de uma pessoa, não há implicação nenhuma no que se refere ao pecado ou karma. Esta pessoa, se pudesse, agradecer-lhe-ia por tê-la libertado dessa couraça material que é o corpo. Nesta inversão de valores, imposta pelas religiões, o corpo humano é tido apenas como uma fábrica de fezes e urina, e não o receptáculo da Centelha
  • 35. 35 Divina. É certo que a lei dos homens o agarraria por isso, como o agarraria também se tentasse tirar a sua própria vida e falhasse. Mas não há pecado nisso. Locutora: Temos aqui um recado para o senhor bispo, vem da Diocese e ordena a saída dele da entrevista para não continuar “compactuando com as barbaridades aqui ditas” segundo palavras do próprio arcebispo. João: Mas ele não precisa sair, basta compactuar com o diálogo. Zigur: Mas ele não vai sair, né? João: Acho que não. Bispo: Como não vou? Recebi uma ordem direta do meu superior e vou me retirar. João: Será que ainda terá tempo de se encontrar com o tal rapazinho? Bispo: Vou me retirar direto para a Diocese. Vamos traçar planos para contra ataca-lo. Zigur: Ele vai sair Mestre? João: Aposto como ele não consegue se levantar da cadeira. (O bispo tenta se levantar de cadeira e não consegue) Bispo: O que é que está havendo? (tentando se levantar). Quem está me prendendo aqui? Zigur: Chiiiiiiii! Ficou preso! Pastor: Não recebi nenhuma ordem, mas também me retiro! Zigur: Olhe aí Mestre, ele também! João: Os senhores continuarão aí, sentadinhos até o final do programa. Podem até ficar calados, mas sentados. (O pastor tenta e também não consegue se levantar) Pastor: O senhor tem parte com o demônio! João: O demônio não existe moço! Zigur: Ohhh Mestre, nunca pensei que ia ser tão divertido. Posso amarrar os cadarços dos sapatos deles? João: Não, fiquei quietinho aí!
  • 36. 36 Espírita: Senhor João, por que eles não podem se levantar? João: Poder eles podem, bastava ter um pouquinho de poder mental para quebrar o encanto, mas a preocupação mental deles é só com o dinheiro e os bens. E olhe que não sou eu quem os está retendo, é o Zigur. Zigur: Boto uns formigões dentro das roupas deles? João: Não Zigur, não faça isso! Pastor: O senhor não pode fazer isto conosco. Eu protesto! João: Zigur, o homem está protestando! Zigur: Deixa eu colocar umas sanguessugas na pele dele? João: Não! Bispo: Isso é inconcebível! Vim aqui para uma entrevista e não para ser destratado! Vamos mover uma ação contra a emissora. Vamos retirar toda a nossa propaganda desta empresa! Pastor: Vamos fazer o mesmo! Vamos reunir todas as congregações evangélicas e retirar as propagandas que temos neste canal! Locutora: Senhor João, o senhor está nos criando um grande problema! João: Não retiram não. Eles precisam da mídia para continuar faturando! Locutora: Eu lhe peço para libertar esses senhores. João: Você tem que falar com o Zigur, foi ele quem fez a magia. (O telefone toca) Locutora: Alô! Sim! Sim! Eu falo (respondo o fone no gancho). Senhor João, o presidente da emissora está aqui e pede para o senhor ir até o seu gabinete. João: Se ele quiser falar comigo é aqui, ao vivo. Zigur: Quer que eu amarre os cadarços dele? João: Psiuuu! Locutora: Ele disse que se não libertar o pastor e o bispo o programa sairá do ar. João: Sai nada, ele não vai perder uma audiência de 91%.
  • 37. 37 Locutora: (Rindo): Eu espero que não (novamente ao telefone). Sim? Sim senhor! O presidente pergunta o que está havendo na sala dele. Diz que os quadros caíram da parede, papeis estão voando, cadeiras caindo, cinzeiros mexendo... João: É o Zigur brincando! Locutora: O presidente mandou entrar os comerciais e está vindo para cá. (Entram os comerciais e o presidente chega) Presidente: Que brincadeira é esta? João: Brincadeira? Presidente: O senhor que me explicar o que está havendo? Um mundo de gente aí fora, repórteres por todos os cantos querendo entrar, estes senhores presos em sua cadeira, meu escritório de pernas para o ar... João: Enfoque os fatos de que a sua emissora está tendo a oportunidade única de apresentar um programa ao vivo, sem precedentes. O senhor não vai interromper uma audiência de 91% em total desrespeito aos telespectadores, vai? Presidente: Sim, sim... quer dizer, não, não! Mas porque eles ficaram presos em suas cadeiras? João: Eles não estão presos, estão sentados! Presidente (gritando para o contrarregra): Fala com a produção para passar outro take de externa depois dos comerciais (virando-se para o Messias) e este bonequinho aí, que bagunça está fazendo? João: Por favor, não fale assim, ele é muito sensível! (O presidente sai bufando de raiva, aparece a imagem de externa já em andamento) Entrevistado: ... o carro parou de repente na beirada do barranco e todo mundo se salvou. Repórter: O carro vinha a mais de 100 km, o senhor diz? Entrevistado: É... a estrada é muito boa e a gente estava com pressa, aí estourou um pneu dianteiro, né? E eu não conseguia parar o carro. A gente ia cair todo mundo no despenhadeiro, eu, minha mulher e as crianças! Repórter: Quantas crianças? Entrevistado: Cinco, todos meus filhos.
  • 38. 38 Repórter: E então? Entrevistado: Aí nós saltamos do carro, todo mundo tremendo. Os meninos chorando, um deles vomitou. Cheguei à beirada do barranco onde o carro parou e tomei um susto maior ainda. Tinha um homem sentado em uma pedra, logo abaixo, com um livro na mão, justamente no lugar onde o carro ia começar a rolar na ribanceira. Repórter: Este homem parecia com este aqui da foto? (mostrando o retrato falado) Entrevistado: É este, é ele mesmo! Repórter: Voltamos ao estúdio. (Volta imagem da mesa redonda) Locutora: Estamos aqui de volta. Gostaria de fazer um apanhado geral das opiniões de todos aqui presentes sobre o que viram e ouviram até agora. Podem falar abertamente porque o Zigur não vai interferir, não é senhor João? João: Podem falar sim. Ele vai ficar comportadinho. Locutora: À minha direita, quer falar senhor Bispo? Bispo: Mas eu ainda estou preso na cadeira. Locutora: Senhor João, dê um jeito nisso, por favor. João: É que o Zigur é um velhinho teimoso, mas ele vai liberá-los. Locutora: Bem, senhor Bispo, pode falar. Bispo: Como eu disse antes, nós estamos totalmente contra estas sandices... Locutora (interrompendo): Um momento que o telefone está tocando, deve ser algo urgente. Alô! Sim senhor, vou chamá-lo (dirigindo-se ao Bispo). É para o senhor, é o arcebispo. (O bispo, temerosamente, faz menção de se levantar da cadeira e consegue, encaminhando- se ao telefone) Bispo: Pois não Eminência! (Fica ouvindo durante alguns instantes). Pois não senhor, assim será feito! (O bispo volta a sentar-se)
  • 39. 39 Bispo: Bem, como eu ia dizendo (pigarreia)... Bem, a igreja católica por mim aqui representada não discorda totalmente das posições assumidas por este senhor, apesar de achar que ele exagera em algumas assertivas. Tenho autorização da arquidiocese para permanecer até o fim do programa e estendo o convite para uma reunião na Cúria, em data e hora que eu mesmo posso combinar. Quando seria bom para o senhor? João: Posso levar o Zigur? Bispo: Bem, acho que não, o convite é para sua pessoa. João: Haverá presença da imprensa? Bispo: Não, penso que não. João: Então vocês querem me “imprensar”? (Risos) Bispo: O que é isso senhor? O convite é de boa fé. João: Sei, estarão lá alguns cardeais... um padre bruxo... e muita água benta para me exorcizar. Bispo: Assim o senhor me ofende. João: Os nomes Guido, Luigi e Wojtila lhe dizem alguma coisa? Bispo: São cardeais em Roma e o último é o Papa. João: Vou citar o trecho de uma reportagem dada pela repórter Oriana Fallaci, conhecida internacionalmente por entrevistar líderes mundiais. Em sua entrevista a Robert Sheer, redator do Los Angeles Times, no ano de 1982, ela diz: “É muito engraçado que nos Estados Unidos, toda vez que um presidente abre a boca, seja ele quem fôr, precisa mencionar Deus! Quero dizer que nem o Papa faz isso. Jamais acontecerá na Europa. Sabe, a Itália, em particular, tem um povo pagão! O povo não é religioso! Talvez a metade acredite em Deus, nas os nossos papas nunca acreditaram. Esqueceram disso. Sabe por que este novo Papa, Wojtila, foi eleito? Quando o outro morreu, todos os cardeais italianos se reuniram e disseram: “Hei, algum de nós acredita em Deus? Não? Bem, ainda nos restam dois países onde se acredita em Deus, a Irlanda e a Polônia. Tentemos o primeiro, a Irlanda. As linhas estão ocupadas? Ok, vamos tentar a Polonia. Alô Wojtila, você acredita em Deus? Acredita? Venha para Roma, seja o nosso papa!” Esta história é real, palavra de Oriana”. Bispo: E... com respeito ao convite? João: Definitivamente não. O que acontece é que daqui a pouco vou desaparecer outra vez. Vou passar para uma nova etapa do meu trabalho aqui na terra.
  • 40. 40 Locutora: E o senhor X, quer dar sua posição? Político: Concordo plenamente com a maioria. Locutora: Mas não há maioria nem minoria, senhor X. Político: Então vou esperar. Locutora: E o jovem aí? Jovem: Esse cara é um barato, um barato mesmo. Está armando uma baita confusão. Taí, a gente tem mesmo é que revirar este mundo às avessas. Locutora: E a senhora X? Dona de Casa: Isto tudo está me deixando com a cabeça confusa. Lá em casa somos todos tementes a Deus, apesar de não frequentarmos nenhuma igreja... mas não sei... desde pequena a gente aprende a adorar santos e a pedir bênção aos padres, a ter medo de demônios, aí eu fico com medo de dizer alguma coisa e estar pecando. Tenho um irmão que frequenta um centro espírita e ele sempre fala que sou médium e tenho que me desenvolver. Já minha tia é crente, daquelas que gritam e berram nos cultos. Ela sempre fala que eu tenho que ir lá para tirar o diabo do corpo e ouvir a palavra de Deus, mas não vou não, fico no meu cantinho. É tudo tão confuso... Locutora: E a senhora aqui? Mística: Nós estamos diante de um Mestre iluminado, o que raramente tem-se a oportunidade de se ver ao vivo. Aprendi com suas palavras a melhor e maior lição de minha vida e vou de agora em diante coloca-la em prática. Vou deixar de lado estas coisas superficiais e desenvolver mais o mental. Podem acreditar, recebi um raio de luz ao saber que sou uma Centelha Divina. Obrigada senhor Messias. Locutora: Senhor X, aqui do lado? Espírita: Apesar de algumas afirmações contrárias aos meus princípios religiosos, ditas por este senhor, vejo em suas palavras muita lucidez. Tenho lido muita literatura esotérica e minha mente é aberta a novas ideias e novas revelações. Acho mesmo que adotar posições fixas, preestabelecidas e inalteráveis é uma forma de estagnação do ser humano. Este senhor é uma pessoa muito lúcida. Locutora: Agora o senhor X. Pedinte: Não vou mais reclamar da falta de lanche porque ele me desmascarou. Um novo mundo se abriu para mim, acho que na realidade eu me fazia de vítima e compadecia-me de mim mesmo. Vou adotar outra postura e trilhar meu caminho com mais afã. Cintie e Nubia estarão comigo no caminho.
  • 41. 41 Locutora: E por último o senhor X. Pastor: Eu não quero adotar uma posição irreversivelmente contrária porque tenho certeza de que as palavras simplesmente ditas aqui não vão abalar as estruturas milenares das religiões. Ainda acho que o demônio mandou este senhor aqui com suas palavras que queimam. É só. Locutora: Tivemos a opinião pessoal de cada um dos presentes. Tem algo a refutar ou comentar senhor João? João: Não, mil vezes não. Concordo plenamente com tudo o que foi dito. Não pretendo mudar nem explicar mais nada. Locutora: Vamos fazer uma geral. Alô repórter, fale aí de fora. (Entra imagem externa do prédio) Repórter: Aqui fora, como vocês podem ver pelas imagens, está um pouco mais calmo porque a polícia ampliou o cordão de isolamento para mais longe do prédio. Acontece que os copos estão se acabando e pelo jeito continua a chegar mais gente. Acho que teremos que parar logo com a distribuição de água. Quem está criando muito caso são os repórteres e fotógrafos, querendo ter acesso às nossas dependências. Segundo dizem, mandaram parar as rotativas à espera do encerramento da entrevista, o que será manchete em todos os jornais. Tem gente aqui até querendo contratar este moço como garoto propaganda. Continua chegando mais pessoas, apesar do apelo para que não viessem. Está aqui também um delegado de polícia que quer interrogar o rapaz que está aí dentro participando da mesa redonda. Alegamos que o mesmo se encontra sob proteção da imprensa, não sei se colou esta desculpa, mas o fato é que não insistiu mais. Bem, esta é uma geral do que está acontecendo aqui fora. Voltemos ao estúdio. (Volta imagem do estúdio) Locutora: Ótimo, ainda bem que está tudo sob controle. Vejamos agora os telefonemas. As meninas estão dando tudo de si e apesar do cansaço delas, continuamos. Foram computados até agora 5.642 telefonemas e tenho à minha frente uma centena de perguntas, mas, infelizmente, grande parte delas ficará sem resposta. Mas quem sabe no decorrer do programa o que for dito aqui acabará por respondê-las? A maioria dos telefonemas é de apoio, grande número nos parabenizam pela coragem que tivemos em levar ao ar o tema tão explosivo, mas devo confessar que eu não esperava mesmo que fosse tão explosivo assim. O senhor Messias está revolvendo uma poeira muito densa. De qualquer forma, temos agora carta branca da presidência para continuarmos, mas antes, os comerciais. (minutos depois) Locutora: Selecionamos algumas perguntas sobre temas que estão um pouco fora do roteiro, para ver se acaba de explodir tudo de uma vez (risos). Desculpem, é que estou muito feliz com o sucesso do programa. Perguntam o que o senhor acha da política.
  • 42. 42 João: Inteiramente irresponsável e dispensável. Locutora: Sobre o amor? João: Aí é um pouco mais complicado, exatamente como o próprio ser humano, que complica tudo. Misturam amor com sexo, amor com ódio, amor com ciúmes, amor com posse, amor com tragédia e transformaram o amor em cobranças e exigências. Mas ainda resta alguma coisa. Resta ainda um sentimento que sai do fundo do coração. O amor também faz parte da dualidade amor/ódio e nunca se sabe qual vai prevalecer. Locutora: Sobre sexo? João: Taí, o sexo, tão vilipendiado pelas religiões, é a segunda maior força da natureza humana. A primeira é a mente. Fora do mental, é o único caminho que a pessoa tem para se iluminar. O sexo é a única força que supera o mental, nem que seja por segundos, durante a ocorrência da pequena morte, ou seja, o orgasmo. O sexo é também uma força criadora. Locutora: Sobre dinheiro? João: É também a segunda força... provocadora de guerras. A primeira, como já foi dito, é a religião. Inteiramente dispensável o dinheiro. Algo sujo e repelente, separador de classes e impiedoso que os que menos têm. Locutora: Estão pedindo para explicar melhor o Zigur. João: É um elemental da terra, um duende. Não este duende das lendas de potes de ouro. Ele faz parte da força criadora da natureza, assim como o homem, só que se mantém em outra faixa vibratória e isto lhe dá certos poderes, digamos, mágicos. Há também os elementos da água, do fogo e do ar. Locutora: Por que este nome Zigur e por que ele fala a nossa língua? João: O nome fui eu quem colocou e eles não têm uma linguagem própria, suas comunicações são puramente telepáticas. Locutora: Mas este aí está falando... João: Tudo o que ele fala, extrai da mente das pessoas. Locutora: Existem outros, naturalmente. João: Claro, milhões e milhões. Onde há uma árvore pode haver um ali. E sua função é ajudar a natureza. Eles vivem centenas de anos. O Zigur, por exemplo, tem quase 1.500 anos. Locutora: Ele disse que tinha uns trezentos.
  • 43. 43 João: É que eles são muito divertidos e brincalhões. Eles têm respostas para tudo, mas não significa que eles saibam tudo, eles tiram essas respostas do seu subconsciente. Locutora: Comumente não se pode vê-los, não é? João: É uma questão de vibração. O ser humano e os duendes vivem em faixas vibratórias diferentes. Eles podem se deixar ver, mudando sua faixa, assim como os humanos também. Locutora: Como eles nascem e vivem? João: Você terá que descobrir por si mesma. Locutora: Mas isto está sendo assunto de reportagem de interesse geral e os telespectadores gostariam de saber. João: Eles terão que descobrir por si mesmos. Olhe, o melhor e mais perfeito método de aprendizado é aquele em que você fica calado, nada de questionamentos. Quando você se pergunta algo, a resposta vem intuitivamente, mas quando começa a perguntar o porquê das coisas, recebe sempre uma resposta que implica um outro porquê. E de porquês em porquês, nunca se tem uma resposta satisfatória. Uma pergunta mental ao subconsciente recebe uma resposta mental, intuitiva, total e completa, sem porquês. Locutora: Quando estávamos organizando o programa durante a semana, tive oportunidade de ver todos os “takes” em que foram tomados testemunhos dos seus feitos pelo interior. Em um deles, segundo a pessoa que falou ao repórter, o senhor aparecia nu, em um acampamento de menino e menina, à beira de uma lagoa. Era necessário estar nu? João: É uma lástima que o ser humano se envergonhe da mais perfeita obra do Criador. As ideias de “coisa feia” e de “pecado” são incutidas na criançada, tornando-se mais uma causa de traumas e recalques. O corpo é lindo, o sexo é lindo. Existem pais de mente mais arejada, que se banham e se trocam na frente dos filhos. É uma coisa muito salutar para a educação sexual. A criança quando descobre a diferença dos sexos, não tem nenhuma maldade, somente uma curiosidade natural de querer saber. Ele quer conhecer e isto faz parte de sua evolução. Locutora: Tem uma pergunta sobre família e fidelidade. João: Mais uma agressão ao mais puro instinto animal do homem. O ser humano não pode, por obrigação, ter um só parceiro por toda a vida. É algo biológico mesmo. Locutora: Estou observando que os nossos convidados estão calados. Qual é o motivo gente? Mística: Eu me calei porque estou embevecida, bebendo estas sublimes palavras.
  • 44. 44 Espírita: Estou analisando. Jovem: Estou pensando numa maneira de escapulir do delegado, mas o parceiro aqui (apontando para o político) está dormindo. Bispo: Tudo o que eu tinha que falar já foi dito. Pastor: Tenho a mesma posição. Locutora: Pelo visto, esta é a primeira vez na história em que os católicos e crentes se unem numa mesma opinião. Se prepara, senhor João, pois vem chumbo grosso para o seu lado. João: Para mim não altera nada, só lastimo que o povo continue sendo engambelado. Mas você se engana ao dizer que é a primeira vez que católicos e crentes têm a mesma opinião. Eles têm há muito o mesmo processo de arrecadação de numerários e bens, assim como o mesmo sistema de coação e lavagem cerebral dos fieis. Posso fazer aqui uma sequência das ações que farão contra mim. Primeiramente vão me excomungar, logo a seguir, através da mídia, vão fazer de mim um louco, devorador de criancinhas e de lares. Se ainda perdurasse a inquisição, me queimariam na fogueira em praça pública. Vão fazer milhares de sermões para os imbecis que continuarão a engordar as burras da igreja. Não se pode negar o poder da teologia como dominador das massas. E seria tão fácil mudar o mundo para melhor, bastaria que deixassem o homem pensar por si mesmo. Já que os colegas da mesa estão fechados no mutismo, poderia chamar os repórteres que estão lá fora, ávidos por resposta. Poderia autorizar a entrada deles, mas sem fotógrafos. Locutora: Deixe-me consultar o diretor (pegando o telefone). Ouviu aí? Vai autorizar? Tudo bem. (Em instantes aparecem os contrarregras trazendo cadeiras que são colocadas lado a lado e, a seguir, entram os repórteres em tremendo burburinho e o político acorda) Locutora: Peço aos colegas que tomem assento ordenadamente nas cadeiras. Vale a regra de primeiro a casa e eu coordenarei as perguntas. Pela ordem, você aí do canto. Repórter: O senhor não imagina a celeuma que está fazendo esta entrevista. Nosso jornal está mandando matéria completa para as agências internacionais, apesar de termos recebido pedidos da Curia para minimizar o assunto. Há pedido de redes de outros países para transmissão em cadeia, mas parece estar havendo bloqueio da igreja. Bem, queria perguntar até onde vai o seu medo das consequências de suas palavras aqui? João: Não existe nenhum medo. Locutora: O seguinte. Repórter: O senhor pode ser processado por incitamento, sabia? João: Que venham os processos.
  • 45. 45 Locutora: O próximo. Repórter: Minha revista solicita uma entrevista exclusiva para publicação a nível internacional. Pagamos regiamente. João: Entrevista negada. Esta é a primeira e única. Locutora: O seguinte. Repórter: Por que você quer mudar o mundo? João: Ninguém muda o mundo sem mudar primeiro as pessoas e eu não quero mudar nada, apenas exponho uma realidade. Quem tiver capacidade de entender, que entenda. (O telefone toca) Locutora (atendendo): Alô! Hein?! Não me diga! Só se for ao vivo. Mande-o aqui. (Entra o senhor de terno, acompanhado por dois policiais) Locutora: O senhor é o Oficial de Justiça? Por favor, use este microfone aqui, dê ao vivo sua informação, mas não é necessária a presença de policiais, eles podem ficar lá fora. Oficial: Eu queria apenas entregar este mandado de liminar, suspendendo o programa (nervosismo) Locutora (pegando o papel): Vou ler para os senhores telespectadores os termos deste mandado. Aqui diz: “O senhor Juiz... etc... etc... parará, parará, a pedido da Curia Diocesana... etc...etc...expede o presente mandado da liminar para efeito suspensivo...etc...etc... por se tratar de um latente atentado de incitamento às normas estabelecidas... etc...etc... parará, parará... cumpra-se na forma da Lei”. Bem, como vocês veem, aí está o documento. Oficial: Senhora, por favor, assine aqui. Locutora: Calma, companheiro, não é assim não! Isto aqui é um ato arbitrário e fere frontalmente a Lei de Imprensa. Vamos com calma! (O telefone toca) Locutora (atendendo): Alô! Sim senhor! Já???? Isto é que é presteza! Nossa Senhora! Traga agora, já! (Entra outro senhor de terno)
  • 46. 46 Locutora: Senhores e senhoras, o mundo não está totalmente perdido. Este aqui é o senhor X, que faz parte do nosso corpo jurídico. Ele tem a palavra. Advogado: Quero apresentar aos telespectadores e ao senhor oficial aqui presente um mandado de liminar suspensiva deste programa, emitida por uma instância superior, portanto, passo às suas mãos o documento e o seu trabalho está encerrado. Passe bem! (O oficial se retira) Locutora (emocionada): Escuta colega, nunca pensei que nosso departamento jurídico fosse assim tão ágil. Advogado (rindo): Eu também não. Imagine que eu estava em casa vendo este programa e de repente me deu uma vontade imperiosa de vir até aqui. Mal entrei na minha sala quando bateram à porta. Fui atender e era um contrarregra com este papel que, segundo ele, foi entregue lá na portaria. Chegou bem na hora. Locutora: Ufa, que alívio! (advogado se retira). Onde estávamos? Ah, sim! O próximo colega pode perguntar. Repórter: O que o senhor diz do fim do mundo, apregoado para este final de milênio? João: Como você deve saber, neste mundo nada se acaba, é sempre uma transformação. É um contrassenso dizer que o mundo vai se acabar. O que pode haver é uma transformação e ela se dará para melhor. Seria assim como uma reação da natureza, algo muito normal, pois os homens a agridem constantemente e, impensadamente, enchem a atmosfera de gases, criando o efeito estufa, acarretando o degelo dos polos com o consequente aumento do volume de água dos oceanos, o que desequilibra o eixo terrestre. Daí resulta todo um processo de transformação. Por outro lado, a ganância provocará o caos na economia mundial. O dinheiro nas mãos de poucos acarretará grandes e insuperáveis crises, que culminarão na quebra de empresas e países. Em contrapartida, existem inúmeros movimentos de grupos que tentam abrir a mente das pessoas, criando a lucidez necessária para tentar reverter estas catástrofes. Não haverá fim do mundo. Locutora: Quem é o próximo a perguntar? Repórter: Eu. O senhor é o Messias reencarnado? João: O que é isso cara, sou uma pessoa igual a você. Locutora: Vamos dar um tempinho para os comerciais? (Minutos depois) Locutora: Estamos recebendo telefonemas de apoio ao programa, tanto da população quanto de autoridades, escritores, artistas e... pasmem, religiosos!
  • 47. 47 João: Não é de estranhar, pois a igreja é composta de inúmeros segmentos para satisfazer a todos os gostos. O Zigur dormiu (sacudindo-o). Acorde Zigur! Zigur: Sim, sim! Já acabou? João: Ainda não, você quer dormir no meu bolso? Zigur: O negócio é que esses humanos são muito chatos, ficam discutindo banalidades. João: Fique brincando aí na mesa. Mas não faça estripulias nem mexa nas coisas! Zigur: Aquele homem, o tal presidente, sabe? Aquele que me chamou de boneco, até agora não deu pela falta de sua carteira? Eu a escondi. (Todos riem) João: Zigur, você não fez isso!!! Zigur: Fiz, fiz e fiz! Está escondida ali, ó! (aponta para um jarro de plantas plásticas) (Zigur sai dando cambalhotas e rindo, espalhando estrelinhas pelo ar) Repórter: O senhor é casado? João: Sem perguntas pessoais. Locutora: Outro colega aí. Repórter: Faça uma mágica ao vivo para a gente ver. João: Não trato desses assuntos. Locutora: Parece que a maneira direta de explanar as coisas, está deixando as pessoas sem capacidade de perguntar. João: É verdade, o homem se repete assim como a história. Por falar em história, vou contar uma. Locutora: Fique à vontade. João: Um disco voador desceu lentamente das nuvens, pairou no ar algum tempo e desceu em um campo de nudismo. Todo um jogo de luzes e cores, um verdadeiro espetáculo. Embaixo, a histeria total. Pessoas gritavam, choravam, escondiam as crianças. Virou uma balbúrdia. O disco foi pousando suavemente no gramado. Silêncio total. Todos desapareceram atrás de algumas árvores, moitas e prédios. Em instantes abriu-se uma espécie de porta de onde saiu uma escadinha até o chão. Uma nuvem branca de fumaça envolveu o disco totalmente e, de dentro desta nuvem, surgiu sorridente e nua uma mulher
  • 48. 48 escultural. Os homens escondidos esticaram um pouco mais os pescoços, arregalando os olhos. A mulher caminhou até uma cadeira tipo espreguiçadeira, sentou-se recostando-se e começou a se alisar vagarosamente. Em poucos segundos já se encontrava contorcendo-se em espasmos e gozos. Os homens, a esta altura, haviam saído de seus esconderijos e, temerosamente, iam chegando até onde a mulher se masturbava. Ao chegarem mais perto, a mulher fez um gesto a um deles, chamando-o.Com medo, mas em estado de ereção, chegou mais perto. A mulher, tomando-o pela mão, levou-o para o interior do disco. Instantes depois surgia de entre a fumaça o homem nu. Um belo exemplar de raça masculina. Encaminhou-se até a mesma cadeira, sentou-se e, recostando-se, começou a se alisar. Em poucos segundos sua ereção era total e se masturbava abertamente. Foi a vez das mulheres irem chegando. Ao chegarem bem perto, ocorreu a mesma coisa: o homem fez um gesto a uma delas, pegou-a pela mão e a levou para o interior do disco. Passados uns trinta minutos, sai o casal do meio da fumaça. A escada se recolhe e o disco alça voo. Todos correm aflitos, indagando o que ocorrera. “Nada de mais”, explicam, “aquele casal eram apenas bonecos de borracha e lá dentro do disco apenas tiramos fotografias para uma revista intergalática de nudismo. (Todos riem) Locutora: Os colegas podem reiniciar as perguntas. Repórter: Fale-nos sobre o demônio. João: Este demônio divulgado pela religião não existe. Este Deus também. É apenas uma face da dualidade terrena. Se o homem tem em si a Centelha Divina, em contrapartida subentende-se que tem também a centelha demoníaca, mas não é nada disso que se diz. O ser de chifres, espargindo enxofre, arrebanhando pessoas para o inferno, fazendo-as incorrerem em pecado. Tudo isso é apenas uma opção e você tem que fazer a escolha entre uma centelha e outra. Elas se entrelaçam, assim como se entrelaçam o bem e o mal. A este respeito seria muito bom a leitura de um livro chamado “A Rebelião de Lúcifer”, de autoria do autor espanhol J.J Benitez. Locutora: Fazendo propaganda gratuita, senhor João? João: Não. Existem realmente bons livros que merecem ser lidos por enfocarem aspectos mais realistas. Recomendo também a leitura de “A Última Tentação de Cristo”. Locutora: O senhor não falou sobre a Maçonaria. João: Falei sim, não explicitamente. Seus segredos devem ser respeitados e não se pode citar certas fontes. Locutora: Mas o senhor tem revelado segredos e citado a igreja. João: Tem uma grande diferença. A Maçonaria é autêntica em suas premissas e a igreja prevalece com a hipocrisia e a mentira.