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                                Cássia Martins, Rita de; Camargo Garanhani, Marynelma


                    A organização do espaço na educação infantil: o que contam as crianças?
                   Revista Diálogo Educacional, vol. 11, núm. 32, enero-marzo, 2011, pp. 37-56
                                   Pontifícia Universidade Católica do Paraná
                                                  Paraná, Brasil

                        Disponível em: http://www.redalyc.org/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=189118887003




                                                                    Revista Diálogo Educacional
                                                                    ISSN (Versão impressa): 1518-3483
                                                                    dialogo.educacional@pucpr.br
                                                                    Pontifícia Universidade Católica do Paraná
                                                                    Brasil




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ISSN 1518-3483
                                                        Licenciado sob uma Licença Creative Commons




         A organização do espaço na educação infantil:
                   o que contam as crianças?

            The space organization in the childhood education:
                              what is told by the children?


                Rita de Cássia Martins[a], Marynelma Camargo Garanhani[b]

[a]
      Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Secretaria
      de Educação da Prefeitura de Curitiba, Curitiba, PR, Brasil e-mail: cass.martins02@gmail.com
[b]
      Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR,
      Brasil, e-mail: marynelma@ufpr.br




Resumo

O artigo apresenta uma pesquisa que teve por objetivo compreender os significados e
os sentidos que as crianças de um Centro Municipal de Educação Infantil de Curitiba
atribuem aos espaços da instituição educativa que frequentam. Para tanto, os referen-
ciais teóricos e metodológicos utilizados foram: Forneiro (1998), Horn (2004), Carvalho
e Rubiano (2007), Faria (2007) e Santos (2008), sobre o espaço e o espaço na instituição
de educação infantil; documentos que orientam sobre a organização dos espaços nos
Centros Municipais de Educação Infantil; Demartini (2002), Cerisara (2004), Gobbi (2002,
2009), sobre pesquisas com crianças; Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (1990), sobre a
pesquisa qualitativa. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram observação



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     participante, entrevista semiestruturada, desenhos comentados e visita monitorada. Na
     análise dos dados, utilizou-se como encaminhamento teórico-metodológico a constitui-
     ção de núcleos de significação, inspirada na metodologia proposta por Aguiar e Ozella
     (2006) e empregada por Moro (2009). Apoiada nos estudos de Vygotsky (1991, 2001a,
     2001b) sobre a linguagem e o pensamento, esta pesquisa concluiu que os significados e
     os sentidos que as crianças atribuíram aos espaços, foram construídos e reelaborados por
     elas à medida que falavam sobre eles. A análise dos núcleos de significação levou a pen-
     sar que a ludicidade, a afetividade, o reconhecimento das regras de convivência social, a
     curiosidade e a imaginação podem ser considerados elementos constitutivos da infância,
     por meio dos quais as crianças atribuem significados e sentidos ao espaço institucional
     que frequentam.

     Palavras-chave: Educação infantil. Espaço. Pesquisa com crianças.


     Abstract
     The article presents a research with the goal of understanding the meanings and the
     senses which children in an Infant Education Municipal Center of Curitiba give to the
     spaces of the educational institution they attend. For that, the theoretical and meth-
     odological references used were: Forneiro (1998), Horn (2004), Carvalho and Rubiano
     (2007), Faria (2007) and Santos (2008), about the space and the space in the institution of
     Infant Education; documents which give orientation about the organization of the spaces
     in the Infant Education Municipal Centers of Curitiba; Demartini (2002), Cerisara (2004),
     Gobbi (2002, 2009), about researches with children; Lessard-Hébert, Goyette and Boutin
     (1990), about the qualitative research. The tools used for data collection were the partici-
     pative observation, semi-structured interview, commented drawings and monitored visit.
     For data analysis, the Meaning Focus inspired in the methodology proposed by Aguiar
     and Ozella (2006) and used by Moro (2009) was used as a theoretical-methodological
     approach. Supported by Vygostsky’s studies (1991, 2001a, 2001b) about language and
     thought, this research concluded that the meanings and the senses that children gave
     to these spaces were built and re-elaborated by them as they talked about them. The
     analysis of the meaning focuses led to the thinking that ludicity, affectivity, recognition
     of the social convivence rules, curiosity and imagination can be considered constitutive




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A organização do espaço na educação infantil     39



elements of the childhood, in which children give meanings and senses to the institutional
space they attend.

Keywords: Infant education. Space. Research with children.




Introdução

         O artigo apresenta uma pesquisa, cujo objetivo foi compreen-
der o que dizem as crianças de um Centro Municipal de Educação Infantil
(CMEI) de Curitiba sobre os espaços da instituição educativa que fre-
quentam, apreendendo os significados e os sentidos atribuídos por elas
a esses ambientes.
          Na educação infantil, pesquisadores apontam o espaço como
um elemento curricular (FORNEIRO, 1998), um recurso pedagógico e um
parceiro do professor na prática educativa, capaz de oportunizar apren-
dizagens às crianças, por meio das interações entre elas, com adultos,
com objetos, ou ainda com elementos da natureza (HORN, 2004, 2005;
CARVALHO; RUBIANO, 2007; FARIA, 2007).
         As atuais pesquisas também discorrem sobre a figura do pro-
fessor como alguém que “observa, registra, interfere, oportuniza no-
vos espaços e situações para que a construção do conhecimento ocorra
de maneira cada vez mais rica e interessante para as crianças” (HORN,
2005, p. 31). Para que o professor possa perceber como melhorar este
espaço, para as próprias crianças, considera-se a importância do prota-
gonismo infantil.1
         Assim como na instituição de educação infantil, as crianças pre-
cisam ser consideradas protagonistas para o desenvolvimento do trabalho
do professor. No campo acadêmico, a pesquisa “A organização do espaço

1
    Ao tratar do protagonismo infantil, Horn (2005) se refere à importância do professor estar atento
    às crianças.




                                  Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
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     na educação infantil: o que contam as crianças?” se dispôs a ouvi-las por
     acreditar que são elas que poderão ampliar a compreensão do adulto sobre
     como percebem os espaços. São as crianças que podem nos informar sobre
     os espaços da instituição educativa que frequentam, revelando o que pen-
     sam destes espaços e como dão sentido a eles.


     O problema de pesquisa

                Uma preciosa contribuição da geografia para a reflexão sobre
      o espaço é fornecida por Santos (2008). Segundo ele, sem a ação huma-
      na não há espaço, pois é o homem que atribui vida às formas espaciais:
     “quando a sociedade age sobre o espaço, não o faz sobre objetos como rea-
      lidade física, mas como realidade social” (SANTOS, 2008, p. 109). Assim,
      no espaço de uma instituição de educação infantil, são principalmente as
      crianças e adultos que compartilham este espaço que lhe atribuem um
      conteúdo social. Quando agem sobre o espaço, fazem-no sobre uma reali-
      dade social da qual fazem parte.
                 No campo da educação, Horn (2004) afirma que o espaço não é
      algo dado, natural, mas sim uma construção social, que na instituição edu-
      cativa tem estreita relação com as atividades desempenhadas pelas pes-
      soas que lá convivem. Horn (2004) apresenta algumas ideias das crianças
      sobre o espaço da instituição de educação infantil, com base nos estudos
      de Forneiro (1998). Segundo esta autora, o espaço para a criança envolve
      relação com os sentimentos, sentidos e ações vivenciados por elas: “para a
      criança, o espaço é o que sente, o que vê, o que faz nele” (FORNEIRO, 1998,
      p. 231).
                 Na educação infantil, Forneiro (1998) estuda o espaço a partir
      da perspectiva dos profissionais e das crianças, e cita o professor Enrico
      Battini, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Turim: “estamos
      acostumados a considerar o espaço como um volume, uma caixa que po-
      deríamos até encher”. No entanto, este autor lembra que a concepção do
      espaço como caixa é uma abstração dos adultos, pois


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A organização do espaço na educação infantil     41



              para as crianças pequenas o espaço é aquilo que nós chamamos de espa-
              ço equipado, ou seja, espaço com tudo que efetivamente o compõe: mó-
              veis, objetos, odores, cores, coisas duras e moles, coisas longas e curtas,
              coisas frias e quentes, etc. (BATTINI apud FORNEIRO, 1998, p. 231).


           Assim, para a criança que frequenta uma instituição de educa-
ção infantil o espaço é o lugar onde brinca, descansa, ri, chora, realiza ati-
vidades, interage com outras crianças e com adultos responsáveis por ela.
O espaço está diretamente relacionado com todas essas ações e com as
vivências, das quais cada uma delas participa. Nessa perspectiva, o papel
dos profissionais responsáveis por planejarem este espaço – de arquitetos
a educadores – é fundamental.
           Ao assumirmos que a criança entende o espaço da instituição de
educação infantil como um “conjunto completo” (FORNEIRO, 1998, p. 231),
com tudo que o compõe – mobília, objetos, pessoas, cheiros, cores, sensa-
ções, etc. – cabe uma aproximação com elas a fim de questionar: o que falam
as crianças pequenas2 sobre os espaços da instituição educativa que frequentam?
           É comum os momentos em que os profissionais discutem sobre
a organização dos espaços para as crianças: para que as crianças brinquem,
para que as crianças aprendam, para que as crianças se desenvolvam, para
favorecer o período de inserção3 das crianças etc. Como pesquisadoras, ob-
servamos uma carência de pesquisas que respondam às questões a partir
das necessidades das próprias crianças; ao invés disso, respondem às ne-
cessidades de quem se preocupa e se ocupa delas.
           A pesquisa “A organização do espaço na educação infantil: o que
contam as crianças?” veio justamente questionar as crianças sobre esta
instituição educativa que frequentam diariamente, a fim de compreen-
der suas falas sobre os espaços do CMEI e identificar os significados e


2
    Tomando por base a pesquisa de Gobbi (2002), utilizo a expressão crianças pequenas ao me referir
    àquelas com idade anterior aos 6 anos.
3
    Utilizamos o termo inserção em substituição ao termo adaptação, por tomar como referência os
    estudos de Foni (1998).




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     os sentidos que elas lhes atribuem. A pesquisa deu voz às crianças por
     considerá-las sujeitos sociais de pleno direito, competentes para falar de
     si e da instituição educativa que frequentam. E a proposta de escuta das
     crianças se apoiou nas orientações de Ferreira (2008, p. 147), que afirma
     a importância de “levar a sério a voz das crianças, reconhecendo-as como
     seres dotados de inteligência, capazes de produzir sentido e com direito
     de se apresentarem como sujeitos de conhecimento ainda que o possam
     expressar diferentemente de nós, adultos”.
                Significa que somos nós, adultos, que precisamos compreender
     as crianças, reconhecendo que elas têm muito a nos dizer. E é justamente
     este o objetivo que mobiliza a pesquisa: compreender os significados e sen-
     tidos que as crianças de um Centro Municipal de Educação Infantil de Curitiba
     atribuem sobre os espaços da instituição educativa que frequentam.


                   Pesquisas com crianças: desafios e orientações

               A proposta de tomar como objeto de análise as linguagens das
     crianças – falas, gestos, registros gráficos e demais expressões simbólicas –
     certamente não é uma tarefa fácil. Para Sarmento (20014 apud CERISARA,
     2004), as pesquisas que procuram captar as vozes das crianças enfrentam
     muitos desafios, como:

             1) adultocentrismo: por mais comprometidos que formos com as crian-
                ças, seremos sempre adultos falando pelas crianças e sobre elas;
             2) linguagens: as crianças utilizam linguagens e formas de expres-
                são distintas das dos adultos, e nós, pesquisadores adultos, ain-
                da não nos alfabetizamos suficientemente nestas linguagens;
             3) questão de poder: considerando que o pesquisador sempre tem
                uma relação de poder com os pesquisados, nas pesquisas com

     4
         Os desafios elencados foram apresentados por Manuel Jacinto Sarmento em palestra proferida em
         30 ago. 2001, em Florianópolis, e registrados por Cerisara (2004).




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A organização do espaço na educação infantil     43



        adultos já se anuncia a necessidade de criar uma atmosfera coo-
        perativa entre o pesquisador e os pesquisados com o objetivo de
        trocar pontos de vista acerca da interpretação do primeiro sobre
        os segundos, o que se torna mais difícil com crianças;
     4) questão ética: ainda que os pais autorizem legalmente a partici-
        pação das crianças nas pesquisas, outros problemas éticos per-
        manecem: como tratar os nomes e os rostos das crianças? E as
        fotos e filmagens? Como fazer a devolução às crianças e às insti-
        tuições sem comprometer ou expor as crianças?
     5) questões de métodos e técnicas: ainda há muito a caminhar, uma
        vez que estamos presos à forma tradicional de obter dados;
     6) questão política: o compromisso com uma ideia de infância e
        com os direitos das crianças parece ser o elemento definidor dos
        usos e/ou abusos que podem ser feitos com a recolha das vozes
        das crianças nas pesquisas, e devem ser claramente explicitados.

         Consideramos a importância dos desafios apresentados e desta-
camos outro: a retomada constante das concepções teóricas que norteiam
a pesquisa, sendo: a criança como ser ativo, produto e produtor de cultura,
com direitos legais, uma linguagem própria e competente para falar de
si mesma.


A trajetória da pesquisa e seus instrumentos

           A pesquisa teve como participantes seis crianças, sendo dois me-
ninos e quatro meninas, de um Centro Municipal de Educação Infantil de
Curitiba, chamado na pesquisa de CMEI Luz do Amanhecer. A observação
teve início em 2008, quando as crianças estavam na turma do maternal
III (de 3 a 4 anos), e se encerrou em 2009, quando estavam na turma do
pré (de 4 a 5 anos). Para resguardar o anonimato dos participantes, cada
criança escolheu um nome fictício: Juliana, Lara, Julia, Vanessa, Dragon
Ball Z e Motoqueiro Fantasma.


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               Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram: a observa-
     ção participante, o desenho comentado, a entrevista semiestruturada e a
     visita monitorada. A observação participante foi utilizada para contextua-
     lização do campo de pesquisa e da rotina do CMEI e no conhecimento das
     crianças (participantes da pesquisa). Os registros de observação foram
     feitos em um diário de bordo no qual se buscou descrever o percurso co-
     tidiano da investigação, observações, reflexões pessoais e vivências das
     situações (LESSARD-HÉBERT; GOYETTE; BOUTIN, 1990).
               Para captura das falas das crianças, foram utilizados dois ins-
     trumentos: os desenhos comentados e as entrevistas (gravadas em áudio e
     transcritas). Os desenhos comentados5 foram solicitados às crianças, duran-
     te conversas realizadas com grupos de três a quatro crianças. Enquanto
     realizavam seus desenhos, as crianças eram convidadas a falar sobre eles
     e este diálogo foi tão importante quanto o próprio desenho. Não foram
     simples relatos de, mas diálogos sobre o que foi desenhado.
               Durante os desenhos comentados as crianças traziam temas; eles
     emergiam sem que elas se preocupassem em deixar explícita a existência
     ou não de uma ligação entre o tema proposto pela pesquisadora e a sua
     fala. Para esta interpretação recorreu-se à literatura especializada sobre
     a linguagem e o pensamento da criança (VYGOTSKY, 1991; VYGOTSKY,
     2001a, 2001b), às pesquisas relacionadas à utilização da fala e do desenho
     (DEMARTINI, 2002; GOBBI, 2002, 2009; SILVA, 2002) e ao próprio con-
     texto de fala das crianças.
               Para captura das falas das crianças também foram utilizadas
     entrevistas semiestruturadas, e durante as conversas, os desenhos comen-
     tados e as entrevistas, as crianças falaram sobre alguns espaços do CMEI
     e sobre suas preferências. Porém, as falas sobre os espaços ainda eram
     breves, com poucos detalhes e havia a necessidade de uma proposta que
     despertasse nas crianças maior interesse e motivação para falar sobre os

     5
         Utiliza-se o termo desenho comentado para reafirmar que os desenhos foram utilizados com o
         propósito de motivar as falas dos participantes e que, nesta metodologia, o desenho e a fala de
         quem os produziu, no momento em que foram produzidos, se complementam.




     Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
A organização do espaço na educação infantil     45



diferentes espaços da sua instituição educativa. Com este objetivo, cons-
truiu-se um instrumento chamado visita monitorada.
           A visita monitorada consiste na visitação com apresentação oral,
conduzida pelas crianças participantes da pesquisa, aos espaços investi-
gados. Durante essa apresentação eles narram os espaços e, ao mesmo
tempo, falam livremente sobre eles. Muitas vezes essas falas suscitam
lembranças, desejos, sentimentos que são expressos pelas crianças e que,
dependendo do objetivo da pesquisa, poderão ser uma importante fonte
de dados. Este procedimento metodológico pode ser realizado mais de
uma vez, caso a pesquisadora sinta que ainda poderão surgir novos dados
ou caso queira confirmá-los.
           O importante é que as crianças sejam motivadas a realizar a vi-
sita monitorada, a falar sobre o tema proposto, que decidam sobre o traje-
to que será percorrido e que suas falas fluam livremente. Posteriormente
à visita monitorada, a pesquisadora oportuniza um momento para que as
crianças possam realizar um relato das visitas a outras crianças.
           Para mobilizar as visitas monitoradas, foi solicitado às crianças
que apresentassem o CMEI. Durante a primeira visita monitorada, em
2008, as crianças falaram dos espaços do CMEI, fornecendo dados impor-
tantes para a pesquisa. Porém, observou-se que o número de crianças não
permitia que suas falas fossem ouvidas integralmente, já que ocorriam fa-
las simultâneas. Por esta razão, em 2009 as visitas ocorreram em duplas.
           Assim, nesta pesquisa, cada criança participou de duas visitas
monitoradas, uma em 2008 e outra em 2009, e na sequencia realizou o rela-
to das visitas, contando para outra criança o que havia visto e dito durante a
visita. Esta organização pode ser visualizada na Figura 1 (próxima página):
           A Figura 1 mostra como foram organizadas as visitas monitora-
das nos anos de 2008 e 2009, bem como o relato das visitas. Este instru-
mento revelou-se fundamental, pois enquanto as crianças conduziram as
visitas elas revelaram informações que não surgiram em outros momen-
tos, com a utilização dos outros instrumentos.




                         Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
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                                             Visitas monitoradas
                                                     2008




                                                                  2º grupo
                                   1º grupo
                                                             Dragon Ball Z, Lara e
                           Julia, Vanessa e Juliana
                                                             Motoqueiro Fantasma




                                             Visitas monitoradas
                                                     2009




                                                 4º grupo                           5º grupo
                   3º grupo
                                                Vanessa e                         Dragon Ball Z
                  Lara e Julia
                                            Motoqueiro Fantasma                     e Juliana




                                               Relato das visitas
                                                     2009




                   Juliana e
                                                Vanessa e Lara              Dragon Ball Z e Julia
              Motoqueiro Fantasma




     Figura 1 - Organização das visitas monitoradas da pesquisa “A organização do
                espaço na educação infantil: o que contam as crianças?”
     Fonte: MARTINS, 2010.




     Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
A organização do espaço na educação infantil   47



O que contam as crianças sobre os espaços na educação infantil:
análise dos dados

          De posse dos dados foi realizada a triangulação, organizando
e comparando o que foi recolhido por meio dos diferentes instrumentos
utilizados. Para a análise dos dados, a pesquisa se inspirou na metodolo-
gia proposta por Aguiar e Ozella (2006) e empregada por Moro (2009),
com a construção e análise de núcleos de significação.
          Buscou-se chegar aos núcleos de significação, iniciando o pro-
cesso de análise dos dados, a partir de três etapas: os pré-indicadores, os
indicadores e a construção e análise dos núcleos de significação, com seus
respectivos indicadores finais. Estas três etapas foram realizadas a partir
de diversas leituras e da aglutinação dos dados.
          Os núcleos de significação e seus respectivos indicadores finais
podem ser visualizados na Figura 2:



                 Mais legal versus                                    Livre escolha
                   mais chato                                       versus proibições
                                            brinquedos e
                                            brincadeiras

      Momentos de espera


                                roƟnas                         contato
      Regras do CMEI                         núcleos de                                novas
                              insƟtuídas                        com a
                                             significação                           aprendizagens
                                                               natureza

        Espaços para
      meninos e espaços
        para meninas
                                              relações
                                              afeƟvas
               Familiares no CMEI                                  Sala dos bebezinhos




Figura 2 - Núcleos de significação e indicadores finais constituídos na pesquisa “A
           organização de espaços na educação infantil: o que contam as crianças?”
Fonte: MARTINS, 2010.




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                Os núcleos e seus respectivos indicadores se inter-relacionam.
     Significa dizer que algumas das falas e desenhos comentados das crianças
     puderam ser analisados a partir de mais de um núcleo e a constituição des-
     tes núcleos contribuiu para responder à questão e ao objetivo da pesquisa.
               A pesquisa revelou que os espaços externos do CMEI foram rela-
     cionados, principalmente, aos núcleos de significação Brinquedos e Brin-
     cadeiras e ao Contato com a Natureza, enquanto os espaços internos do
     CMEI foram relacionados a outros dois núcleos de significação: as Relações
     afetivas e as Rotinas instituídas.
                Em virtude do espaço restrito desta publicação, optamos por
     apresentar um dos núcleos de significação: Brinquedos e brincadeiras.
               As falas e desenhos comentados das crianças, relacionadas ao
     núcleo Brinquedos e Brincadeiras foram agrupadas em dois indicadores.
     O primeiro deles é o indicador Mais legal versus mais chato. A análise mostra
     que as crianças falam sobre os espaços, relacionando-os às suas brinca-
     deiras preferidas ou com o que não gostam de brincar. Entre as preferên-
     cias da maioria das crianças está o parque, como mostraram as falas de
     Juliana e do Motoqueiro Fantasma, que o apontaram como o espaço mais
     legal do CMEI (MARTINS, 2010, p. 87).
                O Dragon Ball Z também falou do parque ao contar sobre o que
     ele pretendia mostrar durante a visita monitorada no dia 18 de setembro
     de 2009 (MARTINS, 2010, p. 89):


                  Pesquisadora – que lugares você quer me mostrar no CMEI?
                  Dragon Ball Z – tá. Eu vou querer te mostrar o parque.
                  Pesquisadora – o parque?
                  Dragon Ball Z – o parque é um lugar bem legal, tem escorregador. É mui-
                  to legal aquele escorregador. Tem o azul e o verde é assim ó. Aquele ver-
                  de é legal. Tem também umas cordas e tem o chão de madeira, entendeu?
                  Mas é lá na grama isso. Foram os moços que construíram, entendeu?
                  Pesquisadora – que construíram o quê?
                  Dragon Ball Z – a ponte, o escorregador azul, o escorregador verde e
                  também aquele negócio com cordinhas assim, parece teia de aranha.
                  E também construíram aquele telhado assim e também aquela ponte.



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A organização do espaço na educação infantil     49



         Pesquisadora – e você viu os moços construindo?
         Dragon Ball Z – aham. Eu falei assim: oi bicho!


          O Dragon Ball Z destaca os brinquedos do parque e também reve-
la que acompanhou a sua construção e inclusive cumprimentou os moços
que o construíram. Em conversa com a educadora da turma ela revelou
que, após a inauguração do CMEI, o parque demorou alguns meses para
ser montado e esta demora gerou muita expectativa nas crianças.
          A maior parte do espaço externo é visto pelas crianças como es-
paço de brincadeiras, como a cancha de areia, citada na visita monitora-
da no dia 15 setembro de 2009 (MARTINS, 2010, p. 90): “ali é a areia
pra nós brincar. Areia pra nós brincar com potinho, pra pegar a colherzinha
e pegar lá areia” (VANESSA). “Pode fazer bolo também” (MOTOQUEIRO
FANTASMA). “Bolinho de mentirinha, de areia” (VANESSA).
          Porém, a preferência das crianças pelo espaço externo tem algu-
mas exceções, como o pátio externo (a calçada). Para Juliana não basta
que o espaço seja externo, amplo e possibilite o movimento; ela demons-
tra valorizar também a segurança dos espaços, ao afirmar que o pátio ex-
terno é chato porque as crianças caem e podem se machucar.
          Pelo mesmo motivo que Juliana, o Motoqueiro Fantasma também
afirma não gostar do pátio externo: “é chato. Eu já caí lá” (MOTOQUEIRO
FANTASMA, 2009 apud MARTINS, 2010, p. 91). Em 2008, o pátio tam-
bém foi citado por Lara: “o mais chato é a calçada, porque não tem brinquedo
pra gente brincar” (LARA, 2008 apud MARTINS, 2010, p. 91).
          Outro espaço externo que apareceu nas falas das crianças como
um espaço chato foi o gramado. No gramado, embora fosse observado que
as crianças, aparentemente, corressem animadas, este espaço foi indicado
pelo Motoqueiro Fantasma como o mais chato. Ele não explica por que acha
chato esse espaço. Porém, algumas conclusões são possíveis graças aos
períodos de observação, em que foi constatada a ausência de brinquedos
e de propostas de brincadeiras, e ao registro da fala de Juliana, que revela
a falta de propostas e de recursos materiais (brinquedos e jogos) que esti-
mulem as brincadeiras das crianças naquele espaço:


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                  Aqui (no gramado) a gente brinca de bola, de correr, de subir na árvore,
                  de casinha. Pergunto a ela se as crianças trazem brinquedos para brin-
                  car e ela me responde que não, que se achar uma tampinha, uma coi-
                  sinha, a gente brinca, não traz brinquedo (DIÁRIO DE BORDO, 2009
                  apud MARTINS, 2010, p. 94).


               No núcleo de significação Brinquedos e Brincadeiras, o indicador
     final Mais legal versus mais chato reuniu as falas que expressam as prefe-
     rências das crianças e os espaços que elas menos gostam. Este primeiro in-
     dicador relaciona-se com o segundo, Livre escolha versus proibições, na me-
     dida em que, muitas vezes o espaço do brinquedo preferido era proibido.
               Sobre o indicador Livre escolha versus proibições:

                  Pesquisadora – me conte um pouco sobre a sua sala. O que vocês fa-
                  zem lá?
                  Motoqueiro Fantasma – eu gosto mais de brincar das bonecas, pra
                  ser o pai.
                  Pesquisadora – é Motoqueiro Fantasma? Que legal.
                  Motoqueiro Fantasma – dos brinquedinhos, dos carrinhos, né, tam-
                  bém. Tem o quebra-cabeça. Gosto também de brincar de quebra-cabeça.
                  Pesquisadora – e o que você não gosta na sua sala?
                  Motoqueiro Fantasma – sabe onde eu tava brincando lá? Num gos-
                  to não.
                  Pesquisadora – por quê?
                  Motoqueiro Fantasma – por que é muito chato. Tem que montar. Eu
                  não gosto também das ferramentas.
                  Pesquisadora – você não gosta daquele lugar ou não gosta daquele
                  brinquedo?
                  Motoqueiro Fantasma – do brinquedo.
                  Pesquisadora – e qual era o brinquedo? Eu não lembro.
                  Motoqueiro Fantasma – sabe aquele que eu tava brincando, que tem
                  um macaquinho de montar. É muito chato. Eu não queria brincar.
                  Pesquisadora – e do que você queria brincar?
                  Motoqueiro Fantasma – das bonequinhas, pra ser o pai. Não tinha pai.
                  Tinha 3 meninas e 1 pai e tinha que ter 3 pais (ENTREVISTA, 2009
                  apud MARTINS, 2010, p. 95).



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A organização do espaço na educação infantil     51



           As razões para que a educadora não considerasse a possibilidade
de o Motoqueiro Fantasma querer brincar com as bonecas e de encaminhá-
lo a outro brinquedo, sem consultá-lo, não foram foco da pesquisa, contu-
do, cabe uma reflexão sobre a questão de gênero6 na educação infantil.
           Para Finco (2003, 2008), a escola participa sutilmente da cons-
trução da identidade de gênero e essa construção tem início desde as pri-
meiras relações da criança no ambiente coletivo da educação infantil. Finco
(2003) buscou investigar como as práticas educativas constroem e reforçam
as diferenças determinadas pelo seu sexo e nos esclarece que, quando são
proporcionadas opções de brinquedos e de brincadeiras em determinados
espaços, eles são ocupados por meninos e meninas indiscriminadamente.
           No CMEI Luz do Amanhecer, um dos meninos revelou o desejo de
brincar com as bonecas, de cuidar de um filho ou filha durante uma brincadei-
ra de faz de conta. Este desejo poderia ou não ser de outros meninos da sua
turma, mas, ao encaminhar as crianças para as brincadeiras, a possibilidade
de que os meninos pudessem brincar com as bonecas foi desconsiderada pela
educadora e pela professora da turma. Neste caso, faltou ouvir as crianças e
considerá-las no planejamento e no desenvolvimento das práticas educativas.
           As crianças apontam outro espaço de brincadeiras que conside-
ram proibidos. Trata-se do espaço das motoquinhas, com a qual elas não
podem mais brincar porque estão na turma do pré. Este brinquedo não
foi citado pelas crianças no ano de 2008, quando ainda podiam brincar com
as motoquinhas, mas em 2009, durante a visita monitorada com a Julia e
a Lara, elas avistaram as crianças do maternal andando com as motoqui-
nhas dentro do espaço do solário, pararam próximo à grade do solário e
começaram a falar uma para outra:

              Julia – nós andava né? (mostra a motoquinha pra Lara). Só que nós
              não anda mais.


6
    Utilizou-se o conceito de gênero, com base nos estudos de Finco (2008). Para essa pesquisadora,
    gênero é uma construção social que determinada cultura estabelece ou elege em relação a homens
    e mulheres.




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                  Pesquisadora – por quê?
                  Julia – porque não.
                  Julia – nós não cabe mais aí.
                  Lara – era quando nós era pequena (MARTINS, 2010, p. 96).

               No mesmo dia, durante a visita monitorada com outra dupla de
     crianças, Vanessa e o Motoqueiro Fantasma viram a turma do maternal II
     no solário com as motoquinhas e comentaram:

                  Vanessa – eles tão brincando de motinha.
                  Pesquisadora – vocês também brincam de motinha?
                  Motoqueiro Fantasma – uhum.
                  Vanessa – é, umas vezes. Mais nós crescemos e num pode mais brincar
                  de motinha, se não daí quebra e fica estragado e aí todo mundo num
                  vai poder (MARTINS, 2010, p. 96).

                As crianças se referem a um espaço de brincadeira do qual não
      podem mais participar porque cresceram. Elas explicam o motivo de não
      poder mais brincar ali, com aquele brinquedo, em função de seu tamanho
     “Nós não cabe mais aí” (JULIA) e “daí quebra e fica estragado e todo mundo
      não vai poder” (VANESSA).
                Embora entendam as razões para a proibição, em alguns mo-
      mentos elas acabam quebrando esta regra, como foi observado ao fim da
      mesma tarde, quando o Motoqueiro Fantasma, aproveitando-se de uma
      distração da educadora, se aproximou do maternal II e brincou por alguns
      minutos com uma das motoquinhas, até que a educadora lhe chamou
      para juntar-se à sua turma no pátio externo. Porém, antes de chamá-lo, a
      educadora levou algum tempo para localizá-lo no grupo do maternal, pois
      sua altura não o diferenciava dos demais – portanto, para ele o limitador
      não era a sua altura, mas a turma na qual estava matriculado, já que o
      brinquedo só era permitido até a turma do maternal III.
                A pesquisa mostrou que as crianças brincam no CMEI, que va-
      lorizam estes momentos de brincadeiras e que suas preferências sobre os
      espaços, muitas vezes, são relacionadas às brincadeiras das quais têm ou


     Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
A organização do espaço na educação infantil     53



não a oportunidade de participar. Assim, embora nomeiem os espaços de
sua preferência e aqueles dos quais não gostam, estes espaços estão mais
relacionados com as atividades possibilitadas pelo próprio espaço e auto-
rizadas pelos adultos do que pela sua estrutura física em si.
          O núcleo Brinquedos e Brincadeiras evidenciou que as crianças
querem espaços para brincar, mas não qualquer espaço. Para que elas con-
siderem os espaços bons para a brincadeira, eles precisam oferecer brinque-
dos, a possibilidade de brincar com segurança e a liberdade na escolha dos
brinquedos e dos colegas com quem brincar.


Significados e sentidos de crianças sobre os espaços na educação infantil:
conclusões e considerações

           Na pesquisa foi evidenciado que, à medida que as crianças eram
questionadas ou conversavam com os colegas sobre os espaços do CMEI,
elas também iam pensando sobre estes. Assim, os significados e os sen-
tidos que as crianças atribuíram aos espaços foram construídos por elas,
também, à medida que falavam sobre eles. Esta conclusão se apoia nos es-
tudos de Vygotsky (2001) sobre a linguagem e o pensamento. Para ele, a
linguagem não é uma expressão de um pensamento pronto. Ao transfor-
mar-se em linguagem, o pensamento se reestrutura e se modifica. Assim,
o pensamento não se expressa, mas se realiza na palavra: “as estruturas
da linguagem, dominada pela criança, tornam-se estruturas básicas de
seu pensamento” (VYGOTSKY, 2001, p. 148).
           Diante disso, conclui-se que, ao falar sobre os espaços do CMEI, as
crianças também pensam sobre eles, construindo e reelaborando significa-
dos e sentidos para estes espaços. Esses significados e sentidos foram orga-
nizados metodologicamente nos núcleos de significação: Brinquedos e Brin-
cadeiras, Relações Afetivas, Rotinas Instituídas e Contato com a Natureza.
          Por meio da análise desses núcleos de significação e de seus res-
pectivos indicadores finais, foi possível concluir que a ludicidade (núcleo de
significação Brinquedos e Brincadeiras), a afetividade (núcleo de significação


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     Relações Afetivas), o reconhecimento das regras de convivência social (núcleo
     de significação Rotinas Instituídas) e a curiosidade e imaginação (núcleo de
     significação Contato com a Natureza), podem ser considerados elementos
     constitutivos da infância por meio dos quais as crianças significam e dão
     sentido ao espaço institucional que frequentam.
               Essas conclusões nos mostram a relevância de aprofundar os es-
     tudos, situando as crianças como protagonistas da investigação, conside-
     rando-as os melhores informantes para falar sobre si mesmos. O pesquisa-
     dor, por sua vez, tem o papel de envolver as crianças como coparticipantes7
     na pesquisa, interpretando, assumindo como legítimas as suas formas de
     comunicação, validando as suas múltiplas linguagens e construindo novos
     conhecimentos com elas.


     Referências

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     (Org.). Por uma cultura da infância: metodologia de pesquisa com crianças.
     Campinas, SP: Autores Associados, 2002. p. 1-17.

     7
         Para Ferreira (2008), as crianças são coparticipantes na pesquisa quando são envolvidas, informadas,
         consultadas, ouvidas e quando é garantida a sua participação ativa no processo de pesquisa.




     Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
A organização do espaço na educação infantil     55



FARIA, A. L. G. O espaço físico como um dos elementos fundamentais para uma
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In: FARIA, A. L. G. de; MELLO, S. A. (Org.). Territórios da infância: lingua-
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HORN, M. da G. S. Sabores, cores, sons e aromas: a organização dos espaços
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                          Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
56   MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C.




     HORN, M. da G. S. O papel do espaço na formação e na transformação do educa-
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     LESSARD-HÉBERT, M.; GOYETTE, G.; BOUTIN, G. Investigação qualitativa:
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     MORO, C. de S. Ensino fundamental de 9 anos: o que dizem as professoras do
     1º ano. 2009. 315 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do
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     SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:
     EDUSP, 2008.

     SILVA, S. M. C. da. A constituição social do desenho da criança. Campinas,
     SP: Mercado de Letras, 2002.

     VYGOTSKY, L. S. As raízes genéticas do pensamento e da linguagem. In:
     VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo:
     Martins Fontes, 2001a. p. 111-150.

     VYGOTSKY, L. S. Pensamento e palavra. In: VYGOTSKY, L. S. A construção do
     pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001b. p. 395-489.

     VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
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                                                                            Recebido: 20/09/2010
                                                                             Received: 09/20/2010

                                                                            Aprovado: 30/10/2010
                                                                            Approved: 10/30/2010



     Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011

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  • 1. Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina o Caribe, a Espanha e Portugal Cássia Martins, Rita de; Camargo Garanhani, Marynelma A organização do espaço na educação infantil: o que contam as crianças? Revista Diálogo Educacional, vol. 11, núm. 32, enero-marzo, 2011, pp. 37-56 Pontifícia Universidade Católica do Paraná Paraná, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=189118887003 Revista Diálogo Educacional ISSN (Versão impressa): 1518-3483 dialogo.educacional@pucpr.br Pontifícia Universidade Católica do Paraná Brasil Como citar este artigo Número completo Mais informações do artigo Site da revista www.redalyc.org Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto
  • 2. ISSN 1518-3483 Licenciado sob uma Licença Creative Commons A organização do espaço na educação infantil: o que contam as crianças? The space organization in the childhood education: what is told by the children? Rita de Cássia Martins[a], Marynelma Camargo Garanhani[b] [a] Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Secretaria de Educação da Prefeitura de Curitiba, Curitiba, PR, Brasil e-mail: cass.martins02@gmail.com [b] Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil, e-mail: marynelma@ufpr.br Resumo O artigo apresenta uma pesquisa que teve por objetivo compreender os significados e os sentidos que as crianças de um Centro Municipal de Educação Infantil de Curitiba atribuem aos espaços da instituição educativa que frequentam. Para tanto, os referen- ciais teóricos e metodológicos utilizados foram: Forneiro (1998), Horn (2004), Carvalho e Rubiano (2007), Faria (2007) e Santos (2008), sobre o espaço e o espaço na instituição de educação infantil; documentos que orientam sobre a organização dos espaços nos Centros Municipais de Educação Infantil; Demartini (2002), Cerisara (2004), Gobbi (2002, 2009), sobre pesquisas com crianças; Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (1990), sobre a pesquisa qualitativa. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram observação Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 3. 38 MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C. participante, entrevista semiestruturada, desenhos comentados e visita monitorada. Na análise dos dados, utilizou-se como encaminhamento teórico-metodológico a constitui- ção de núcleos de significação, inspirada na metodologia proposta por Aguiar e Ozella (2006) e empregada por Moro (2009). Apoiada nos estudos de Vygotsky (1991, 2001a, 2001b) sobre a linguagem e o pensamento, esta pesquisa concluiu que os significados e os sentidos que as crianças atribuíram aos espaços, foram construídos e reelaborados por elas à medida que falavam sobre eles. A análise dos núcleos de significação levou a pen- sar que a ludicidade, a afetividade, o reconhecimento das regras de convivência social, a curiosidade e a imaginação podem ser considerados elementos constitutivos da infância, por meio dos quais as crianças atribuem significados e sentidos ao espaço institucional que frequentam. Palavras-chave: Educação infantil. Espaço. Pesquisa com crianças. Abstract The article presents a research with the goal of understanding the meanings and the senses which children in an Infant Education Municipal Center of Curitiba give to the spaces of the educational institution they attend. For that, the theoretical and meth- odological references used were: Forneiro (1998), Horn (2004), Carvalho and Rubiano (2007), Faria (2007) and Santos (2008), about the space and the space in the institution of Infant Education; documents which give orientation about the organization of the spaces in the Infant Education Municipal Centers of Curitiba; Demartini (2002), Cerisara (2004), Gobbi (2002, 2009), about researches with children; Lessard-Hébert, Goyette and Boutin (1990), about the qualitative research. The tools used for data collection were the partici- pative observation, semi-structured interview, commented drawings and monitored visit. For data analysis, the Meaning Focus inspired in the methodology proposed by Aguiar and Ozella (2006) and used by Moro (2009) was used as a theoretical-methodological approach. Supported by Vygostsky’s studies (1991, 2001a, 2001b) about language and thought, this research concluded that the meanings and the senses that children gave to these spaces were built and re-elaborated by them as they talked about them. The analysis of the meaning focuses led to the thinking that ludicity, affectivity, recognition of the social convivence rules, curiosity and imagination can be considered constitutive Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 4. A organização do espaço na educação infantil 39 elements of the childhood, in which children give meanings and senses to the institutional space they attend. Keywords: Infant education. Space. Research with children. Introdução O artigo apresenta uma pesquisa, cujo objetivo foi compreen- der o que dizem as crianças de um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) de Curitiba sobre os espaços da instituição educativa que fre- quentam, apreendendo os significados e os sentidos atribuídos por elas a esses ambientes. Na educação infantil, pesquisadores apontam o espaço como um elemento curricular (FORNEIRO, 1998), um recurso pedagógico e um parceiro do professor na prática educativa, capaz de oportunizar apren- dizagens às crianças, por meio das interações entre elas, com adultos, com objetos, ou ainda com elementos da natureza (HORN, 2004, 2005; CARVALHO; RUBIANO, 2007; FARIA, 2007). As atuais pesquisas também discorrem sobre a figura do pro- fessor como alguém que “observa, registra, interfere, oportuniza no- vos espaços e situações para que a construção do conhecimento ocorra de maneira cada vez mais rica e interessante para as crianças” (HORN, 2005, p. 31). Para que o professor possa perceber como melhorar este espaço, para as próprias crianças, considera-se a importância do prota- gonismo infantil.1 Assim como na instituição de educação infantil, as crianças pre- cisam ser consideradas protagonistas para o desenvolvimento do trabalho do professor. No campo acadêmico, a pesquisa “A organização do espaço 1 Ao tratar do protagonismo infantil, Horn (2005) se refere à importância do professor estar atento às crianças. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 5. 40 MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C. na educação infantil: o que contam as crianças?” se dispôs a ouvi-las por acreditar que são elas que poderão ampliar a compreensão do adulto sobre como percebem os espaços. São as crianças que podem nos informar sobre os espaços da instituição educativa que frequentam, revelando o que pen- sam destes espaços e como dão sentido a eles. O problema de pesquisa Uma preciosa contribuição da geografia para a reflexão sobre o espaço é fornecida por Santos (2008). Segundo ele, sem a ação huma- na não há espaço, pois é o homem que atribui vida às formas espaciais: “quando a sociedade age sobre o espaço, não o faz sobre objetos como rea- lidade física, mas como realidade social” (SANTOS, 2008, p. 109). Assim, no espaço de uma instituição de educação infantil, são principalmente as crianças e adultos que compartilham este espaço que lhe atribuem um conteúdo social. Quando agem sobre o espaço, fazem-no sobre uma reali- dade social da qual fazem parte. No campo da educação, Horn (2004) afirma que o espaço não é algo dado, natural, mas sim uma construção social, que na instituição edu- cativa tem estreita relação com as atividades desempenhadas pelas pes- soas que lá convivem. Horn (2004) apresenta algumas ideias das crianças sobre o espaço da instituição de educação infantil, com base nos estudos de Forneiro (1998). Segundo esta autora, o espaço para a criança envolve relação com os sentimentos, sentidos e ações vivenciados por elas: “para a criança, o espaço é o que sente, o que vê, o que faz nele” (FORNEIRO, 1998, p. 231). Na educação infantil, Forneiro (1998) estuda o espaço a partir da perspectiva dos profissionais e das crianças, e cita o professor Enrico Battini, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Turim: “estamos acostumados a considerar o espaço como um volume, uma caixa que po- deríamos até encher”. No entanto, este autor lembra que a concepção do espaço como caixa é uma abstração dos adultos, pois Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 6. A organização do espaço na educação infantil 41 para as crianças pequenas o espaço é aquilo que nós chamamos de espa- ço equipado, ou seja, espaço com tudo que efetivamente o compõe: mó- veis, objetos, odores, cores, coisas duras e moles, coisas longas e curtas, coisas frias e quentes, etc. (BATTINI apud FORNEIRO, 1998, p. 231). Assim, para a criança que frequenta uma instituição de educa- ção infantil o espaço é o lugar onde brinca, descansa, ri, chora, realiza ati- vidades, interage com outras crianças e com adultos responsáveis por ela. O espaço está diretamente relacionado com todas essas ações e com as vivências, das quais cada uma delas participa. Nessa perspectiva, o papel dos profissionais responsáveis por planejarem este espaço – de arquitetos a educadores – é fundamental. Ao assumirmos que a criança entende o espaço da instituição de educação infantil como um “conjunto completo” (FORNEIRO, 1998, p. 231), com tudo que o compõe – mobília, objetos, pessoas, cheiros, cores, sensa- ções, etc. – cabe uma aproximação com elas a fim de questionar: o que falam as crianças pequenas2 sobre os espaços da instituição educativa que frequentam? É comum os momentos em que os profissionais discutem sobre a organização dos espaços para as crianças: para que as crianças brinquem, para que as crianças aprendam, para que as crianças se desenvolvam, para favorecer o período de inserção3 das crianças etc. Como pesquisadoras, ob- servamos uma carência de pesquisas que respondam às questões a partir das necessidades das próprias crianças; ao invés disso, respondem às ne- cessidades de quem se preocupa e se ocupa delas. A pesquisa “A organização do espaço na educação infantil: o que contam as crianças?” veio justamente questionar as crianças sobre esta instituição educativa que frequentam diariamente, a fim de compreen- der suas falas sobre os espaços do CMEI e identificar os significados e 2 Tomando por base a pesquisa de Gobbi (2002), utilizo a expressão crianças pequenas ao me referir àquelas com idade anterior aos 6 anos. 3 Utilizamos o termo inserção em substituição ao termo adaptação, por tomar como referência os estudos de Foni (1998). Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 7. 42 MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C. os sentidos que elas lhes atribuem. A pesquisa deu voz às crianças por considerá-las sujeitos sociais de pleno direito, competentes para falar de si e da instituição educativa que frequentam. E a proposta de escuta das crianças se apoiou nas orientações de Ferreira (2008, p. 147), que afirma a importância de “levar a sério a voz das crianças, reconhecendo-as como seres dotados de inteligência, capazes de produzir sentido e com direito de se apresentarem como sujeitos de conhecimento ainda que o possam expressar diferentemente de nós, adultos”. Significa que somos nós, adultos, que precisamos compreender as crianças, reconhecendo que elas têm muito a nos dizer. E é justamente este o objetivo que mobiliza a pesquisa: compreender os significados e sen- tidos que as crianças de um Centro Municipal de Educação Infantil de Curitiba atribuem sobre os espaços da instituição educativa que frequentam. Pesquisas com crianças: desafios e orientações A proposta de tomar como objeto de análise as linguagens das crianças – falas, gestos, registros gráficos e demais expressões simbólicas – certamente não é uma tarefa fácil. Para Sarmento (20014 apud CERISARA, 2004), as pesquisas que procuram captar as vozes das crianças enfrentam muitos desafios, como: 1) adultocentrismo: por mais comprometidos que formos com as crian- ças, seremos sempre adultos falando pelas crianças e sobre elas; 2) linguagens: as crianças utilizam linguagens e formas de expres- são distintas das dos adultos, e nós, pesquisadores adultos, ain- da não nos alfabetizamos suficientemente nestas linguagens; 3) questão de poder: considerando que o pesquisador sempre tem uma relação de poder com os pesquisados, nas pesquisas com 4 Os desafios elencados foram apresentados por Manuel Jacinto Sarmento em palestra proferida em 30 ago. 2001, em Florianópolis, e registrados por Cerisara (2004). Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 8. A organização do espaço na educação infantil 43 adultos já se anuncia a necessidade de criar uma atmosfera coo- perativa entre o pesquisador e os pesquisados com o objetivo de trocar pontos de vista acerca da interpretação do primeiro sobre os segundos, o que se torna mais difícil com crianças; 4) questão ética: ainda que os pais autorizem legalmente a partici- pação das crianças nas pesquisas, outros problemas éticos per- manecem: como tratar os nomes e os rostos das crianças? E as fotos e filmagens? Como fazer a devolução às crianças e às insti- tuições sem comprometer ou expor as crianças? 5) questões de métodos e técnicas: ainda há muito a caminhar, uma vez que estamos presos à forma tradicional de obter dados; 6) questão política: o compromisso com uma ideia de infância e com os direitos das crianças parece ser o elemento definidor dos usos e/ou abusos que podem ser feitos com a recolha das vozes das crianças nas pesquisas, e devem ser claramente explicitados. Consideramos a importância dos desafios apresentados e desta- camos outro: a retomada constante das concepções teóricas que norteiam a pesquisa, sendo: a criança como ser ativo, produto e produtor de cultura, com direitos legais, uma linguagem própria e competente para falar de si mesma. A trajetória da pesquisa e seus instrumentos A pesquisa teve como participantes seis crianças, sendo dois me- ninos e quatro meninas, de um Centro Municipal de Educação Infantil de Curitiba, chamado na pesquisa de CMEI Luz do Amanhecer. A observação teve início em 2008, quando as crianças estavam na turma do maternal III (de 3 a 4 anos), e se encerrou em 2009, quando estavam na turma do pré (de 4 a 5 anos). Para resguardar o anonimato dos participantes, cada criança escolheu um nome fictício: Juliana, Lara, Julia, Vanessa, Dragon Ball Z e Motoqueiro Fantasma. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 9. 44 MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C. Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram: a observa- ção participante, o desenho comentado, a entrevista semiestruturada e a visita monitorada. A observação participante foi utilizada para contextua- lização do campo de pesquisa e da rotina do CMEI e no conhecimento das crianças (participantes da pesquisa). Os registros de observação foram feitos em um diário de bordo no qual se buscou descrever o percurso co- tidiano da investigação, observações, reflexões pessoais e vivências das situações (LESSARD-HÉBERT; GOYETTE; BOUTIN, 1990). Para captura das falas das crianças, foram utilizados dois ins- trumentos: os desenhos comentados e as entrevistas (gravadas em áudio e transcritas). Os desenhos comentados5 foram solicitados às crianças, duran- te conversas realizadas com grupos de três a quatro crianças. Enquanto realizavam seus desenhos, as crianças eram convidadas a falar sobre eles e este diálogo foi tão importante quanto o próprio desenho. Não foram simples relatos de, mas diálogos sobre o que foi desenhado. Durante os desenhos comentados as crianças traziam temas; eles emergiam sem que elas se preocupassem em deixar explícita a existência ou não de uma ligação entre o tema proposto pela pesquisadora e a sua fala. Para esta interpretação recorreu-se à literatura especializada sobre a linguagem e o pensamento da criança (VYGOTSKY, 1991; VYGOTSKY, 2001a, 2001b), às pesquisas relacionadas à utilização da fala e do desenho (DEMARTINI, 2002; GOBBI, 2002, 2009; SILVA, 2002) e ao próprio con- texto de fala das crianças. Para captura das falas das crianças também foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, e durante as conversas, os desenhos comen- tados e as entrevistas, as crianças falaram sobre alguns espaços do CMEI e sobre suas preferências. Porém, as falas sobre os espaços ainda eram breves, com poucos detalhes e havia a necessidade de uma proposta que despertasse nas crianças maior interesse e motivação para falar sobre os 5 Utiliza-se o termo desenho comentado para reafirmar que os desenhos foram utilizados com o propósito de motivar as falas dos participantes e que, nesta metodologia, o desenho e a fala de quem os produziu, no momento em que foram produzidos, se complementam. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 10. A organização do espaço na educação infantil 45 diferentes espaços da sua instituição educativa. Com este objetivo, cons- truiu-se um instrumento chamado visita monitorada. A visita monitorada consiste na visitação com apresentação oral, conduzida pelas crianças participantes da pesquisa, aos espaços investi- gados. Durante essa apresentação eles narram os espaços e, ao mesmo tempo, falam livremente sobre eles. Muitas vezes essas falas suscitam lembranças, desejos, sentimentos que são expressos pelas crianças e que, dependendo do objetivo da pesquisa, poderão ser uma importante fonte de dados. Este procedimento metodológico pode ser realizado mais de uma vez, caso a pesquisadora sinta que ainda poderão surgir novos dados ou caso queira confirmá-los. O importante é que as crianças sejam motivadas a realizar a vi- sita monitorada, a falar sobre o tema proposto, que decidam sobre o traje- to que será percorrido e que suas falas fluam livremente. Posteriormente à visita monitorada, a pesquisadora oportuniza um momento para que as crianças possam realizar um relato das visitas a outras crianças. Para mobilizar as visitas monitoradas, foi solicitado às crianças que apresentassem o CMEI. Durante a primeira visita monitorada, em 2008, as crianças falaram dos espaços do CMEI, fornecendo dados impor- tantes para a pesquisa. Porém, observou-se que o número de crianças não permitia que suas falas fossem ouvidas integralmente, já que ocorriam fa- las simultâneas. Por esta razão, em 2009 as visitas ocorreram em duplas. Assim, nesta pesquisa, cada criança participou de duas visitas monitoradas, uma em 2008 e outra em 2009, e na sequencia realizou o rela- to das visitas, contando para outra criança o que havia visto e dito durante a visita. Esta organização pode ser visualizada na Figura 1 (próxima página): A Figura 1 mostra como foram organizadas as visitas monitora- das nos anos de 2008 e 2009, bem como o relato das visitas. Este instru- mento revelou-se fundamental, pois enquanto as crianças conduziram as visitas elas revelaram informações que não surgiram em outros momen- tos, com a utilização dos outros instrumentos. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 11. 46 MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C. Visitas monitoradas 2008 2º grupo 1º grupo Dragon Ball Z, Lara e Julia, Vanessa e Juliana Motoqueiro Fantasma Visitas monitoradas 2009 4º grupo 5º grupo 3º grupo Vanessa e Dragon Ball Z Lara e Julia Motoqueiro Fantasma e Juliana Relato das visitas 2009 Juliana e Vanessa e Lara Dragon Ball Z e Julia Motoqueiro Fantasma Figura 1 - Organização das visitas monitoradas da pesquisa “A organização do espaço na educação infantil: o que contam as crianças?” Fonte: MARTINS, 2010. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 12. A organização do espaço na educação infantil 47 O que contam as crianças sobre os espaços na educação infantil: análise dos dados De posse dos dados foi realizada a triangulação, organizando e comparando o que foi recolhido por meio dos diferentes instrumentos utilizados. Para a análise dos dados, a pesquisa se inspirou na metodolo- gia proposta por Aguiar e Ozella (2006) e empregada por Moro (2009), com a construção e análise de núcleos de significação. Buscou-se chegar aos núcleos de significação, iniciando o pro- cesso de análise dos dados, a partir de três etapas: os pré-indicadores, os indicadores e a construção e análise dos núcleos de significação, com seus respectivos indicadores finais. Estas três etapas foram realizadas a partir de diversas leituras e da aglutinação dos dados. Os núcleos de significação e seus respectivos indicadores finais podem ser visualizados na Figura 2: Mais legal versus Livre escolha mais chato versus proibições brinquedos e brincadeiras Momentos de espera roƟnas contato Regras do CMEI núcleos de novas insƟtuídas com a significação aprendizagens natureza Espaços para meninos e espaços para meninas relações afeƟvas Familiares no CMEI Sala dos bebezinhos Figura 2 - Núcleos de significação e indicadores finais constituídos na pesquisa “A organização de espaços na educação infantil: o que contam as crianças?” Fonte: MARTINS, 2010. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 13. 48 MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C. Os núcleos e seus respectivos indicadores se inter-relacionam. Significa dizer que algumas das falas e desenhos comentados das crianças puderam ser analisados a partir de mais de um núcleo e a constituição des- tes núcleos contribuiu para responder à questão e ao objetivo da pesquisa. A pesquisa revelou que os espaços externos do CMEI foram rela- cionados, principalmente, aos núcleos de significação Brinquedos e Brin- cadeiras e ao Contato com a Natureza, enquanto os espaços internos do CMEI foram relacionados a outros dois núcleos de significação: as Relações afetivas e as Rotinas instituídas. Em virtude do espaço restrito desta publicação, optamos por apresentar um dos núcleos de significação: Brinquedos e brincadeiras. As falas e desenhos comentados das crianças, relacionadas ao núcleo Brinquedos e Brincadeiras foram agrupadas em dois indicadores. O primeiro deles é o indicador Mais legal versus mais chato. A análise mostra que as crianças falam sobre os espaços, relacionando-os às suas brinca- deiras preferidas ou com o que não gostam de brincar. Entre as preferên- cias da maioria das crianças está o parque, como mostraram as falas de Juliana e do Motoqueiro Fantasma, que o apontaram como o espaço mais legal do CMEI (MARTINS, 2010, p. 87). O Dragon Ball Z também falou do parque ao contar sobre o que ele pretendia mostrar durante a visita monitorada no dia 18 de setembro de 2009 (MARTINS, 2010, p. 89): Pesquisadora – que lugares você quer me mostrar no CMEI? Dragon Ball Z – tá. Eu vou querer te mostrar o parque. Pesquisadora – o parque? Dragon Ball Z – o parque é um lugar bem legal, tem escorregador. É mui- to legal aquele escorregador. Tem o azul e o verde é assim ó. Aquele ver- de é legal. Tem também umas cordas e tem o chão de madeira, entendeu? Mas é lá na grama isso. Foram os moços que construíram, entendeu? Pesquisadora – que construíram o quê? Dragon Ball Z – a ponte, o escorregador azul, o escorregador verde e também aquele negócio com cordinhas assim, parece teia de aranha. E também construíram aquele telhado assim e também aquela ponte. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 14. A organização do espaço na educação infantil 49 Pesquisadora – e você viu os moços construindo? Dragon Ball Z – aham. Eu falei assim: oi bicho! O Dragon Ball Z destaca os brinquedos do parque e também reve- la que acompanhou a sua construção e inclusive cumprimentou os moços que o construíram. Em conversa com a educadora da turma ela revelou que, após a inauguração do CMEI, o parque demorou alguns meses para ser montado e esta demora gerou muita expectativa nas crianças. A maior parte do espaço externo é visto pelas crianças como es- paço de brincadeiras, como a cancha de areia, citada na visita monitora- da no dia 15 setembro de 2009 (MARTINS, 2010, p. 90): “ali é a areia pra nós brincar. Areia pra nós brincar com potinho, pra pegar a colherzinha e pegar lá areia” (VANESSA). “Pode fazer bolo também” (MOTOQUEIRO FANTASMA). “Bolinho de mentirinha, de areia” (VANESSA). Porém, a preferência das crianças pelo espaço externo tem algu- mas exceções, como o pátio externo (a calçada). Para Juliana não basta que o espaço seja externo, amplo e possibilite o movimento; ela demons- tra valorizar também a segurança dos espaços, ao afirmar que o pátio ex- terno é chato porque as crianças caem e podem se machucar. Pelo mesmo motivo que Juliana, o Motoqueiro Fantasma também afirma não gostar do pátio externo: “é chato. Eu já caí lá” (MOTOQUEIRO FANTASMA, 2009 apud MARTINS, 2010, p. 91). Em 2008, o pátio tam- bém foi citado por Lara: “o mais chato é a calçada, porque não tem brinquedo pra gente brincar” (LARA, 2008 apud MARTINS, 2010, p. 91). Outro espaço externo que apareceu nas falas das crianças como um espaço chato foi o gramado. No gramado, embora fosse observado que as crianças, aparentemente, corressem animadas, este espaço foi indicado pelo Motoqueiro Fantasma como o mais chato. Ele não explica por que acha chato esse espaço. Porém, algumas conclusões são possíveis graças aos períodos de observação, em que foi constatada a ausência de brinquedos e de propostas de brincadeiras, e ao registro da fala de Juliana, que revela a falta de propostas e de recursos materiais (brinquedos e jogos) que esti- mulem as brincadeiras das crianças naquele espaço: Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 15. 50 MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C. Aqui (no gramado) a gente brinca de bola, de correr, de subir na árvore, de casinha. Pergunto a ela se as crianças trazem brinquedos para brin- car e ela me responde que não, que se achar uma tampinha, uma coi- sinha, a gente brinca, não traz brinquedo (DIÁRIO DE BORDO, 2009 apud MARTINS, 2010, p. 94). No núcleo de significação Brinquedos e Brincadeiras, o indicador final Mais legal versus mais chato reuniu as falas que expressam as prefe- rências das crianças e os espaços que elas menos gostam. Este primeiro in- dicador relaciona-se com o segundo, Livre escolha versus proibições, na me- dida em que, muitas vezes o espaço do brinquedo preferido era proibido. Sobre o indicador Livre escolha versus proibições: Pesquisadora – me conte um pouco sobre a sua sala. O que vocês fa- zem lá? Motoqueiro Fantasma – eu gosto mais de brincar das bonecas, pra ser o pai. Pesquisadora – é Motoqueiro Fantasma? Que legal. Motoqueiro Fantasma – dos brinquedinhos, dos carrinhos, né, tam- bém. Tem o quebra-cabeça. Gosto também de brincar de quebra-cabeça. Pesquisadora – e o que você não gosta na sua sala? Motoqueiro Fantasma – sabe onde eu tava brincando lá? Num gos- to não. Pesquisadora – por quê? Motoqueiro Fantasma – por que é muito chato. Tem que montar. Eu não gosto também das ferramentas. Pesquisadora – você não gosta daquele lugar ou não gosta daquele brinquedo? Motoqueiro Fantasma – do brinquedo. Pesquisadora – e qual era o brinquedo? Eu não lembro. Motoqueiro Fantasma – sabe aquele que eu tava brincando, que tem um macaquinho de montar. É muito chato. Eu não queria brincar. Pesquisadora – e do que você queria brincar? Motoqueiro Fantasma – das bonequinhas, pra ser o pai. Não tinha pai. Tinha 3 meninas e 1 pai e tinha que ter 3 pais (ENTREVISTA, 2009 apud MARTINS, 2010, p. 95). Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 16. A organização do espaço na educação infantil 51 As razões para que a educadora não considerasse a possibilidade de o Motoqueiro Fantasma querer brincar com as bonecas e de encaminhá- lo a outro brinquedo, sem consultá-lo, não foram foco da pesquisa, contu- do, cabe uma reflexão sobre a questão de gênero6 na educação infantil. Para Finco (2003, 2008), a escola participa sutilmente da cons- trução da identidade de gênero e essa construção tem início desde as pri- meiras relações da criança no ambiente coletivo da educação infantil. Finco (2003) buscou investigar como as práticas educativas constroem e reforçam as diferenças determinadas pelo seu sexo e nos esclarece que, quando são proporcionadas opções de brinquedos e de brincadeiras em determinados espaços, eles são ocupados por meninos e meninas indiscriminadamente. No CMEI Luz do Amanhecer, um dos meninos revelou o desejo de brincar com as bonecas, de cuidar de um filho ou filha durante uma brincadei- ra de faz de conta. Este desejo poderia ou não ser de outros meninos da sua turma, mas, ao encaminhar as crianças para as brincadeiras, a possibilidade de que os meninos pudessem brincar com as bonecas foi desconsiderada pela educadora e pela professora da turma. Neste caso, faltou ouvir as crianças e considerá-las no planejamento e no desenvolvimento das práticas educativas. As crianças apontam outro espaço de brincadeiras que conside- ram proibidos. Trata-se do espaço das motoquinhas, com a qual elas não podem mais brincar porque estão na turma do pré. Este brinquedo não foi citado pelas crianças no ano de 2008, quando ainda podiam brincar com as motoquinhas, mas em 2009, durante a visita monitorada com a Julia e a Lara, elas avistaram as crianças do maternal andando com as motoqui- nhas dentro do espaço do solário, pararam próximo à grade do solário e começaram a falar uma para outra: Julia – nós andava né? (mostra a motoquinha pra Lara). Só que nós não anda mais. 6 Utilizou-se o conceito de gênero, com base nos estudos de Finco (2008). Para essa pesquisadora, gênero é uma construção social que determinada cultura estabelece ou elege em relação a homens e mulheres. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 17. 52 MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C. Pesquisadora – por quê? Julia – porque não. Julia – nós não cabe mais aí. Lara – era quando nós era pequena (MARTINS, 2010, p. 96). No mesmo dia, durante a visita monitorada com outra dupla de crianças, Vanessa e o Motoqueiro Fantasma viram a turma do maternal II no solário com as motoquinhas e comentaram: Vanessa – eles tão brincando de motinha. Pesquisadora – vocês também brincam de motinha? Motoqueiro Fantasma – uhum. Vanessa – é, umas vezes. Mais nós crescemos e num pode mais brincar de motinha, se não daí quebra e fica estragado e aí todo mundo num vai poder (MARTINS, 2010, p. 96). As crianças se referem a um espaço de brincadeira do qual não podem mais participar porque cresceram. Elas explicam o motivo de não poder mais brincar ali, com aquele brinquedo, em função de seu tamanho “Nós não cabe mais aí” (JULIA) e “daí quebra e fica estragado e todo mundo não vai poder” (VANESSA). Embora entendam as razões para a proibição, em alguns mo- mentos elas acabam quebrando esta regra, como foi observado ao fim da mesma tarde, quando o Motoqueiro Fantasma, aproveitando-se de uma distração da educadora, se aproximou do maternal II e brincou por alguns minutos com uma das motoquinhas, até que a educadora lhe chamou para juntar-se à sua turma no pátio externo. Porém, antes de chamá-lo, a educadora levou algum tempo para localizá-lo no grupo do maternal, pois sua altura não o diferenciava dos demais – portanto, para ele o limitador não era a sua altura, mas a turma na qual estava matriculado, já que o brinquedo só era permitido até a turma do maternal III. A pesquisa mostrou que as crianças brincam no CMEI, que va- lorizam estes momentos de brincadeiras e que suas preferências sobre os espaços, muitas vezes, são relacionadas às brincadeiras das quais têm ou Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 18. A organização do espaço na educação infantil 53 não a oportunidade de participar. Assim, embora nomeiem os espaços de sua preferência e aqueles dos quais não gostam, estes espaços estão mais relacionados com as atividades possibilitadas pelo próprio espaço e auto- rizadas pelos adultos do que pela sua estrutura física em si. O núcleo Brinquedos e Brincadeiras evidenciou que as crianças querem espaços para brincar, mas não qualquer espaço. Para que elas con- siderem os espaços bons para a brincadeira, eles precisam oferecer brinque- dos, a possibilidade de brincar com segurança e a liberdade na escolha dos brinquedos e dos colegas com quem brincar. Significados e sentidos de crianças sobre os espaços na educação infantil: conclusões e considerações Na pesquisa foi evidenciado que, à medida que as crianças eram questionadas ou conversavam com os colegas sobre os espaços do CMEI, elas também iam pensando sobre estes. Assim, os significados e os sen- tidos que as crianças atribuíram aos espaços foram construídos por elas, também, à medida que falavam sobre eles. Esta conclusão se apoia nos es- tudos de Vygotsky (2001) sobre a linguagem e o pensamento. Para ele, a linguagem não é uma expressão de um pensamento pronto. Ao transfor- mar-se em linguagem, o pensamento se reestrutura e se modifica. Assim, o pensamento não se expressa, mas se realiza na palavra: “as estruturas da linguagem, dominada pela criança, tornam-se estruturas básicas de seu pensamento” (VYGOTSKY, 2001, p. 148). Diante disso, conclui-se que, ao falar sobre os espaços do CMEI, as crianças também pensam sobre eles, construindo e reelaborando significa- dos e sentidos para estes espaços. Esses significados e sentidos foram orga- nizados metodologicamente nos núcleos de significação: Brinquedos e Brin- cadeiras, Relações Afetivas, Rotinas Instituídas e Contato com a Natureza. Por meio da análise desses núcleos de significação e de seus res- pectivos indicadores finais, foi possível concluir que a ludicidade (núcleo de significação Brinquedos e Brincadeiras), a afetividade (núcleo de significação Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 19. 54 MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C. Relações Afetivas), o reconhecimento das regras de convivência social (núcleo de significação Rotinas Instituídas) e a curiosidade e imaginação (núcleo de significação Contato com a Natureza), podem ser considerados elementos constitutivos da infância por meio dos quais as crianças significam e dão sentido ao espaço institucional que frequentam. Essas conclusões nos mostram a relevância de aprofundar os es- tudos, situando as crianças como protagonistas da investigação, conside- rando-as os melhores informantes para falar sobre si mesmos. O pesquisa- dor, por sua vez, tem o papel de envolver as crianças como coparticipantes7 na pesquisa, interpretando, assumindo como legítimas as suas formas de comunicação, validando as suas múltiplas linguagens e construindo novos conhecimentos com elas. Referências AGUIAR, W. M. J.; OZELLA, S. Núcleos de significação como instrumento para a apreensão da constituição dos sentidos. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 26, n. 2, p. 222-245, 2006. CARVALHO, M. C. de; RUBIANO, M. R. B. Organização do espaço em instituições pré-escolares. In: OLIVEIRA, Z. de M. R. (Org.). Educação infantil: muitos olha- res. São Paulo: Cortez, 2007. p. 107-130. CERISARA, A. B. Em busca do ponto de vista das crianças nas pesquisas educacio- nais: primeiras aproximações. In: SARMENTO, M. J.; CERISARA, A. B. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância e educação. Lisboa: Asa, 2004. p. 35-54. DEMARTINI, Z. de B. F. Infância, pesquisa e relatos orais. In: FARIA, A. et al. (Org.). Por uma cultura da infância: metodologia de pesquisa com crianças. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. p. 1-17. 7 Para Ferreira (2008), as crianças são coparticipantes na pesquisa quando são envolvidas, informadas, consultadas, ouvidas e quando é garantida a sua participação ativa no processo de pesquisa. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 20. A organização do espaço na educação infantil 55 FARIA, A. L. G. O espaço físico como um dos elementos fundamentais para uma pedagogia da educação infantil. In: FARIA, A. L. G.; PALHARES, M. S. (Org.). Educação infantil pós-LDB: rumos e desafios. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. p. 67-97. FERREIRA, M. M. M. “Branco demasiado” ou... reflexões epistemológicas, me- todológicas e éticas acerca da pesquisa com crianças. In: SARMENTO, M. J.; GOUVEA, M. C. S. (Org.). Estudos da infância: educação e práticas sociais. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 143-162. FINCO, D. Relações de gênero nas brincadeiras de meninos e meninas na edu- cação infantil. Pro-Posições, v. 14, n. 3, 2003. Disponível em: <http://mail.fae. unicamp.br/~proposicoes/textos/42-dossie-fincod.pdf>. Acesso em: 5 maio 2010. FINCO, D. Socialização de gênero na educação infantil. 2008. Disponível em: <http://www.fazendogenero8.ufsc.br/sts/ST10/Daniela_Finco_10.pdf>. Acesso em: 4 maio 2010. FONI, A. A inserção na creche. In: BONDIOLI, A.; MANTOVANNI, S. Manual de educação infantil: de 0 a 3 anos – uma abordagem reflexiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. p. 143-156. FORNEIRO, L. I. A organização dos espaços na educação infantil. In: ZABALZA, M. A. Qualidade em educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 229-282. GOBBI, M. Desenho infantil e oralidade: instrumentos para pesquisa com crian- ças pequenas. In: FARIA, A. L. G.; DEMARTINI, Z. B. F.; PRADO, P. D. (Org.). Por uma cultura da infância: metodologia de pesquisa com crianças. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. p. 69-92. GOBBI, M. O fascínio indiscreto: crianças pequenininhas e a criação de desenhos. In: FARIA, A. L. G. de; MELLO, S. A. (Org.). Territórios da infância: lingua- gens, tempos e relações para uma pedagogia para as crianças pequenas. 2. ed. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2009. p. 119-136. HORN, M. da G. S. Sabores, cores, sons e aromas: a organização dos espaços na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011
  • 21. 56 MARTINS, R. de C.; GARANHANI, M. C. HORN, M. da G. S. O papel do espaço na formação e na transformação do educa- dor infantil. Revista Criança, Brasília, n. 38, p. 29-32, 2005. LESSARD-HÉBERT, M.; GOYETTE, G.; BOUTIN, G. Investigação qualitativa: fundamentos e práticas. Tradução de Maria João Reis. Lisboa: Instituto Piaget, 1990. MARTINS, R. de C. A organização do espaço na educação infantil: o que con- tam as crianças? 2010. 165 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010. MORO, C. de S. Ensino fundamental de 9 anos: o que dizem as professoras do 1º ano. 2009. 315 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EDUSP, 2008. SILVA, S. M. C. da. A constituição social do desenho da criança. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2002. VYGOTSKY, L. S. As raízes genéticas do pensamento e da linguagem. In: VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001a. p. 111-150. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e palavra. In: VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001b. p. 395-489. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991. Recebido: 20/09/2010 Received: 09/20/2010 Aprovado: 30/10/2010 Approved: 10/30/2010 Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 37-56, jan./abr. 2011