1. 249249249249249
AGOSTO
2013
O BandeirantePublicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S.Paulo
Alteridade
“Sempre expor e nunca impor ideias é assim que deve
ficar de forma consciente o princípio universal da
liberdade incondicional da palavra. Dominar a si
mesmo e elogiar trajetórias heroicas daqueles que
batalham para respeitar os costumes do seu
vizinho de apartamento, ou seja, do outro,
do distinto, do diferente.”
Leia a crônica de JOSÉ JUCOVSKY na p. 4
Curativos emergenciais
“Um lenitivo pode amenizar dores e propiciar conforto
para um lapso de sofrimento que alguém não esperava sentir.
O alívio dado à aflição é sempre bem-vindo. Não porque o
consolo seja, em si, o bálsamo que se esperava nesse
momento angustiante que a dor contém. Mas simplesmente
pelo gesto de apreço que se pressupõe.”
A prosa poética de MARCOS GIMENES SALUN está na p. 3
“Os azuis faziam os vermelhos de prisioneiros e vice-versa.
Todos se arrastavam na lama e eram picados por espinhos,
fora os carrapatos, para um avanço de trincheiras. O pessoal
da Saúde tinha que justificar a padiola determinando, vez
por outra, a algum pobre coitado da Infantaria: Você está
ferido. E lá ia o pobre coitado eleito pro chão, sendo
acomodado e transportado na padiola.”
A crônica de SÉRGIO PERAZZO você lê na p. 5
Está chegando a XII Jornada Médico-Literária Paulista - p. 7
Padiolas
Meus versos Os instantes
“A vida é a resultante
De cada instante
Que seja o bastante
Para ser relevante”
“Eu bem queria que
o meu verso
Permanecesse cálido,
vibrando”
JOSYANNE RITADE
ARRUDA FRANCO
GEOVAH PAULO
DACRUZp. 5 p. 6
2. 2 O Bandeirante - Agosto 2013
Jornal O Bandeirante
ANO XXIII - nº. 249 -
Agosto 2013
Publicação mensal da Sociedade
Brasileira de Médicos Escritores -
Regional do Estado de São Paulo
SOBRAMES-SP. Sede: Av.
Brigadeiro Luiz Antonio, 278 - 7º Andar - Sala 1 (Prédio da
Associação Paulista de Medicin a) - São Paulo - SP
Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Marcos Gimenes
Salun (MTb 20.405-SP)
Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto
(MTb 17.671-SP).
Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira
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Colaboradores desta edição (textos literários): Geovah
Paulo da Cruz, José Jucovsky, Josyanne Rita de Arruda
Franco, Marcos Gimenes Salun e Sérgio Perazzo.
Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de
1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.
Diretoria - Gestão 2013/2014 - Presidente: Josyanne Rita
de Arruda Franco. Vice-Presidente: Carlos Augusto Ferreira
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Gimenes Salun. Conselho Fiscal Suplentes: José Jucovsky,
Rodolpho Civile e José Rodrigues Louzã.
.
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus
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Editores de O Bandeirante
Flerts Nebó - novembro a dezembro de 1992
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1993-1994
Carlos Luis Campana e Hélio Celso Ferraz Najar - 1995-1996
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1996-2000
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun - 2001 a abril de 2009
Helio Begliomini - maio a dezembro de 2009
Roberto A.Aniche e Carlos Augusto F. Galvão - 2010
Josyanne R.A.Franco e CarlosAugusto F.Galvão - 2011-2012
Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun - janeiro 2013
Presidentes da Sobrames SP
1º. Flerts Nebó (1988-1990)
2º. Flerts Nebó (1990-1992)
3º. Helio Begliomini (1992-1994)
4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)
5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)
6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)
7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
8º. Luiz Giovani (2003-2004)
9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
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12º. Helio Begliomini (2009-2010)
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14º.Josyanne Rita de Arruda Franco (2013-2014)
Editores: Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun
Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto
Diagramação Marcos Gimenes Salun
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica
Expediente Editorial
Josyanne Rita deArruda Franco
Médica Pediatra Presidente da Sobrames-SP
As Pizzas Literárias da SOBRAMES-SP acontecem na
terceira quinta-feira de cada mês, a partir das 19h00
na PIZZARIA BONDE PAULISTA
Rua Oscar Freire, 1.597 - Pinheiros - S.Paulo
NESTADATAQUERIDA,
NOSSOSPARABÉNS!
Um mês de julho tão frio como foi este último nos remete à necessidade
de aconchego: família e amigos reunidos para o calor da vida, com o
recheio das emoções.ASobrames-SP eleva as baixas temperaturas com
literatura de excelente qualidade, promovendo desfrute de momentos de
quietude e reflexão. Direis ouvir estrelas ao viajar dimensões de prosa
e poesia talentosas, na agradável leitura desta edição de inverno do mês
de agosto. Saudações Literárias!
Última Superpizza: Saúde
A prosa poética “Curativos
emergenciais para a alma - sem
efeitos colaterais e sem contra-
indicação”, de autoria de Marcos
Gimenes Salun foi o texto
vencedor da última Superpizza,
cujo tema era “Saúde”. Os textos
apresentados com esse tema
foram avaliados por Maria Emilia
deAlmeida, que participa de saraus literários do Centro Cultural São
Paulo e da Casa das Rosas.
03/08 –Arary da Cruz Tiriba
05/08 – Carlos José Benatti
15/08 – Carlos Roberto Ferriani
18/08 – Vera LuciaTeixeira
26/08 – Josef Tock
28/08 – Guaracy Lourenço
da Costa
Rubem Braga: “As coisas boas da vida”
Em homenagem ao centenário de
nascimento de Rubem Braga,
comemorado em 2013, o tema da
próxima Superpizza será AS COISAS
BOAS DA VIDA, nome de uma
premiada crônica do autor. Os textos
deverão ser apresentados na Pizza
Literária de AGOSTO.
Reativada a regional Sergipe da SOBRAMES
AAcademia Sergipana de Medicina realizou em 17 de julho, no auditório
da Sociedade Médica de Sergipe - Somese, sessão especial para reativar a Socie-
dade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES - seccional Sergipe,
desativada desde 2008, e que contou com a presença do Dr. Luiz de Gonzaga
Braga Barreto, vice-presidente da Sobrames para região nordeste.
Na oportunidade, foram empossados 35 novos associados da entidade e
aclamada a comissão encarregada de organizar e convocar eleições num prazo
de 60 dias, para a diretoria da Sobrames-Sergipe (2013-2015), assim constituída:
José Hamilton Maciel Silva, Lucio Prado Dias (coordenador) e Paulo Amado
Oliveira. Desejamos vida profícua à Regional Sergipe que ora volta à ativa.
3. O Bandeirante - Agosto 2013 3
Marcos Gimenes Salun
Curativos emergenciais
para a alma
(sem efeitos colaterais e sem
contraindicações)
TEx
Carrega Dores
Cada um tem seu próprio fardo nesta vida. E
cada um sabe o peso que ele tem. Sempre que
encontrar alguém à sua frente, com a carga
de sua vida nos ombros, repare no tamanho e
pense no peso que esse fardo pode ter. E só
então pense no que vai dizer a respeito do
teu.
Bálsamos
Um lenitivo pode amenizar dores e propiciar
conforto para um lapso de sofrimento que
alguém não esperava sentir. O alívio dado à
aflição é sempre bem-vindo. Não porque o
consolo seja, em si, o bálsamo que se
esperava nesse momento angustiante que a
dor contém. Mas simplesmente pelo gesto de
apreço que se pressupõe. A diminuição da
fadiga que esse gesto infringe à dor é por si o
grande alívio imediato que se possa querer.
Muitas vezes essa cura mágica está em
pequenos momentos em que se pode ouvir
alguém desabafar suas dores, extravasar seus
sentimentos aflitivos ou chorar algumas poucas
lágrimas que só quem verte sabe a razão.
Bálsamos são assim mesmo. Quase sempre se
confundem aos placebos. Só que são
efetivamente muito mais eficazes e valiosos.
Evidências
Você descobre algumas verdades
incontestáveis quando se encontra em
situações um tanto diferentes da normalidade
de seu dia a dia. Seja lá por que motivo for:
doença, desemprego, baixo astral, depressão,
angústia ou carência emotiva... É muito
provável que nesses momentos, que são os
que você mais precisa de apoio, ajuda ou
apenas de uma conversa motivadora, você
veja as pessoas se distanciando, te evitando
e sumindo. Seja lá que motivo ou desculpa
elas tenham para isso é essa a impressão que
você terá. Contudo, em situação oposta, se
você estiver dando uma festa, por exemplo,
é bem possível que de você se aproximem
muitas pessoas, até mesmo as que estiveram
ausentes em seus momentos de
necessidade. Por essas constatações acho
que é muito prudente você não contar ou
catalogar amigos ou pessoas queridas nos
momentos de exceção, pois nos dois picos
você estará vulnerável e sujeito a
julgamentos precipitados e normalmente
errados. Espere tudo voltar ao normal. Mas
em qualquer caso, sempre considere que as
pessoas que realmente te querem bem hão
de estar por perto e disponíveis em qualquer
circunstância. Para o que der e vier.
Voluntariado
Você já pensou em dedicar seu pensamento
positivo para alguém que esteja sofrendo?
Dizem que os bons pensamentos são
condutores de extremas benquerenças, que
têm o poder da cura e do milagre. Então
tente e deseje que seu pensamento de
bondades e com poderes milagrosos seja
decisivo no avanço e engrandecimento da
vida das pessoas que você ama. Só isso já
bastará para que os degraus desta vida sejam
menos aporrinhadores e dolorosos.
(Vencedor da Superpizza com o tema SAÚDE)
4. 4 O Bandeirante - Agosto 2013
José Jucovsky
Alteridade
Em maior ou menor escala alcançada pelo
planeta Terra, torna-se imperativo e elementar
considerar que este terceiro planeta da via Láctea
reúne condições únicas para a existência da vida
humana.
As principais
premissas: atmos-
fera, água e tem-
peratura possi-
bilitaram tirar da
sombra o per-
turbador véu do
conhecimento e
imaginar o infin-
dável caminho da
evolução do ho-
mem na Terra.
Envolto numa
natureza variável,
a espécie humana,
mamífero bípede
dotado de inte-
ligência e linguagem articuladas, evoluiu do
primitivo hominídeo para vir a ser a dona absoluta
da alta tecnologia e ciência a imperar pelo mundo
atual.
Tais mudanças, representadas pelos processos
evolutivos, promovem efeito constante de
exponencial velocidade implicando no arcabouço
teórico conceitual da persistente pergunta: por
que as pessoas diferem umas das outras?
A marcha do tempo parece ter uma relação
de construção e desconstrução com tonalidades
desiguais que passam do físico para o químico e
deste por sua vez ao molecular. A ambientação no
pós-moderno capitalismo industrial promove
impactantes transformações dos centros urbanos
criando situações nem sempre idênticas, evoluindo
para certas características fenotípicas robo-
tizadas.
A vida, espaço de tempo de seres viventes,
é marcada por sensíveis mudanças no conceito
coletivo e ideológico formatadas por características
semânticas no que se refere ao pensamento
pessoal,atributo e diferença que produz a
alteridade. Para que se venha entender a
alternativa psicossocial de identidade e alteridade,
é imperativo a referência de um grupo social
dominante. Frequentemente as sociedades de uma
maneira geral não estão suficientemente
preparadas no modo de pensar sobre questões
como raça, nação, gênero, identidade e as
inumanas variáveis situações.
Diuturnamente na literatura e nos
importantes trabalhos estruturais surgem novas
colocações que tentam
demonstrar o conceito
ontológico de lidar,
interpretar e classificar
as diferentes iden-
tidades no complexo
contexto social. O tido
como diferente, pelo
simples fato de não
pertencer à igualdade
social ou religiosa,
torna-se na prática o
diferente, o estrangeiro
sujeito à confrontação
sempre com violência.
Desde o início da
organização social em
grupos, as tribos in-
tuíram a necessidade de aumentar o número de
viventes, focalizadas no receio de não serem
dominadas ou dizimadas pelas tribos vizinhas. A
humanidade fragmentada no túnel do tempo
aprofundou-se em cruéis ações de canibalismo,
passaram a viver em perpétuas guerras agressivas.
Mesmo dentro de grupos éticos, o progresso e
a evolução terminam por definir fatores variáveis
complexos num cortejo multifacetado. Prefigura-
se assim em forma de desafio um mundo
particular colocando sempre identidades em
discussão. As primaveras revolucionárias que
devem moldar relacionamentos saudáveis se
resumem em sempre expor e nunca impor ideias.
Sempre expor e nunca impor ideias é assim que
deve ficar de forma consciente o princípio universal
da liberdade incondicional da palavra. Dominar a
si mesmo e elogiar trajetórias heroicas daqueles
que batalham para respeitar os costumes do seu
vizinho de apartamento, ou seja, do outro, do
distinto, do diferente.
Sempre houve estúpidos raios borbulhantes
de fanáticos sádicos como o depravado Imperador
Calígula tirano extravagante e cruel; histo-
ricamente, porém, ele fica muito longe do maior
monstro de todos os tempos, o ególatra Hitler
sociopata insano, responsável pelo holocausto na
Segunda Guerra Mundial do século passado.
5. O Bandeirante - Agosto 2013 5
Meus versos
Josyanne Rita deArruda Franco
Padiolas
Sérgio Perazzo
Senti vontade de fazer um verso
Que arrebate a vida num açoite
E ecoe n’alma no emotivo grito,
E que perfume qual dama-da-noite.
Eu bem queria que o meu verso
Permanecesse cálido, vibrando
Em frase inesquecível, confesso;
Eternizado no hálito de um anjo.
Queria crer num verso mais eterno
Que envolva o dia em grande claridade
Trazendo brisa, se fosse preciso,
Ou vigorosa e louca tempestade...
Um verso forte e onipotente
Que nem palavras ouse proferir
E só as rugas de um olhar descrente
Sejam capazes de o traduzir.
Mas eu não sei fazer um simples verso
Se não pensar em tudo o que desejo,
Se não molhar de novo minha boca
Na vã lembrança do teu doce beijo...
Por isso meus versos são ateus...
Por isso meus versos são assim:
Despidos de eternidade e de Deus,
Sem anjos de faces carmins.
São fonte alheia, legados teus
Que instigam amar e seduzir.
Meus versos... Suspiros que não são meus.
Meus versos... Tesouros que vêm de ti!
A única vez em que me propus a ser voluntário, foi
nas vésperas do acampamento em Gericinó, na periferia
do Rio, lá pros lados de Bangu, e palco constante das
manobras de treinamento militar com um tom mais
realista.
Fiquei sabendo pela patotinha, uma meia dúzia de
colegas da faculdade, que também serviam comigo no
CPOR, que aquele que se apresentasse ao sargento como
voluntário, partiria um dia antes com a missão de armar
barracas para todo destacamento da Saúde e voltaria
algumas horas depois de terminadas as operações, para
poder desarmá-las. Em compensação, nos três dias que
durasse a guerra simulada, não precisaríamos participar
de mais nada, ficando de folga nas barracas do
acampamento, de papo pro ar. Em suma, iríamos antes
para a guerra, mas não iríamos para a guerra. Fomos
correndo falar direto com o sargento e entramos na lista.
E lá fomos nós aboletados no bojo de um velho caminhão
de transporte de tropas, sacolejando desengonçado a
caminho do local demarcado para o acampamento.
Montamos várias barracas para dez soldados,
grandes e espaçosas, verdadeiras mansões se
comparadas com as tendas para dois utilizadas nos
bivaques de uma noite, para movimentações mais curtas
que, não raro, deixavam os pés de fora e o cotovelo
fincado no estômago do parceiro.
Para cada um dos dez lugares, cavávamos uma cova
rasa que abrigaria um forro de jornal e, por cima, um
saco de dormir do Exército, de lona verde-oliva. O jornal
era o revestimento que nos protegia do frio e da umidade
que emanava do chão e, só assim, entendi a coberta dos
mendigos ressonando ao relento, mesmo com chuva e
vento cortante.
O próximo passo foi o de construir as privadas.
Tínhamos aprendido em aula específica para isso, as
(continua na p.6)
6. 6 O Bandeirante - Agosto 2013
Padiolas
dimensões exatas dos buracos a cavar para a
instalação das tais privadas de campanha:
comprimento, largura, profundidade e distância entre
uma e outra, medidas essas que tinham sido objeto de
perguntas de uma prova escrita e mais um motivo que
se acrescentara ao sentimento de inutilidade, acordar
cedo no domingo para assistir aulas sobre privadas.
O diabo é que tais buracos tinham que ser
medidos certinho, tanto como providência asséptica
de higiene, como para poder ser encaixada neles uma
tampa sêxtupla de madeira, que transportávamos no
caminhão. É isso mesmo que estou dizendo: uma tábua
de privada comprida com seis lugares emendados. Se
não entenderam ainda, explico de novo. Seis soldados
sentavam na privada ao mesmo tempo, sem a mínima
privacidade, moldando o próprio barro escatológico, um
ao lado do outro.
O único arremate possível, arremate final, era
estender uma lona por fora, como uma parede precária,
que isolasse os seis contemplados do resto do batalhão.
Não é preciso dizer o quanto de gozação sobrava para
cada visitante deste palácio do conforto, deste spa de
pétalas de rosas.
Estava marcada para a noite a mobilização da
tropa para a frente simulada de batalha, enquanto nós,
os voluntários, a cruz vermelha da Saúde pintada nos
capacetes de aço, nos acomodávamos em volta de uma
fogueira para um banquete de salsichas em lata,
presuntada fatiada e sardinhas regadas a óleo, contando
causos e discutindo futebol, concursos de miss e as dez
mais certinhas do Lalau da Revista Manchete, pela
madrugada adentro, todo mundo se preparando para
dormir, de cuecas, camiseta e touca de mano-esquiador,
exceto o Valdir, sempre o Valdir, que sacou da mochila
um pijama de flanela. Só faltava a estampa do Mickey
Mouse.
Pela manhã cedinho, mal o sol tinha nascido, chega
o pessoal das manobras, olheiras mil, extenuados,
enlameados até a raiz dos cabelos, doidos por uma caneca
de café quente que preparávamos para nós e para eles.
E aí contaram a história completa.
Eram dois exércitos. Um azul e outro vermelho e a
missão se resumia em capturar o maior número de
soldados do outro lado, envolvidos por tiros de festim e
salvas de artilharia. Cada um, munido de mapas, tinha
que se orientar pelos azimutes determinados por aquela
topografia. Convencionava-se que certo trecho do terreno
era um campo minado e quem fosse flagrado dentro de
seus limites tinha que deitar no chão e se fingir
tecnicamente de morto.
Os azuis faziam os vermelhos de prisioneiros e vice-
versa. Todos se arrastavam na lama e eram picados por
espinhos, fora os carrapatos, para um avanço de
trincheiras. O pessoal da Saúde tinha que justificar a
padiola determinando, vez por outra, a algum pobre
coitado da Infantaria: Você está ferido. E lá ia o pobre
coitado eleito pro chão, sendo acomodado e transportado
na padiola.
Quando a notícia correu, o pessoal da Infantaria
quase fez fila junto ao destacamento da Saúde. Era a
oportunidade de encerrar essa guerra de merda, sair da
lama, se abrigar da chuva, parar de correr de um lado
para o outro no escuro, com o peso da mochila, do
capacete de aço e do mosquetão, voltando inteiro como
ferido para o hospital de campanha que tinha sido
montado, para dormir sossegado até o dia raiar. Nunca o
pessoal da Saúde foi tão bem-vindo e prestigiado.
Ali ainda era tudo brincadeirinha. Mais tarde,
abriríamos as portas das ambulâncias e deixaríamos entrar
todas as mazelas do mundo, todos os sobreviventes dessa
guerra não declarada do nosso cotidiano. O resto era
enterrar os mortos.Ainda não sabíamos disso. Brindamos,
então, aos dias que viriam com as canecas de alumínio
transbordando café escaldante.
(continuação da p.5)
A vida é a resultante
De cada instante
Que seja o bastante
Para ser relevante
Fortuito ou constante
Anterior ou durante
Agora ou doravante
Neutro ou atuante
Pequeno, insignificante
Ou quase gigante
Parando ou avante
Compensador ou frustrante
Pífio ou gratificante
Viva seu cada instante
Geovah Paulo da Cruz
Os instantes
7. O Bandeirante - Agosto 2013 7
Jornadas de Botucatu prestes a começar
Está quase tudo pronto para a realização de mais um evento literário da SOBRAMES. De 26 a 29 de setembro, a
cidade de Botucatu, no interior de São Paulo, acolherá os autores da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores para
a realização simultânea da XII Jornada Médico-Literária Paulista e da VII Jornada Nacional da Sobrames.
Conheça aqui as atrações deste evento.
Além dos serviços do Hotel Primar durante o café da
manhã, almoço e coffee breaks nos intervalos das sessões
literárias, o evento contará com jantares nos restaurantes
Celeiro e Sinhô Sinhá. No sábado o almoço será a bordo
do navio Cidade de Cuesta, que navegará com os
participantes pelo Rio Tietê, até a transposição da Eclusa,
em Barra Bonita.
No último dia 27 de julho, a diretoria da Sobrames-SP reuniu-se extraordinariamente no Hotel Primar, em
Botucatu, para fazer um check list em todos os itens da programação. Estiveram presentes os diretores
Josyanne, Aída, Márcia, Hélio, Salun (e esposa Imaculada). Fomos recebidos por Evanil e Claudia, nossos
anfitriões na cidade. A reunião contou ainda com a participação de Antonio Evaldo Klar, representante da
Academia Botucatuense de Letras. Após a reunião houve um almoço de confraternização no restaurante Sinhô
Sinhá. O dia terminou com uma rápida visita à Igreja em Rubião Junior, de onde o grupo retornou para São Paulo.
A abertura da Jornada
acontecerá na quinta-feira no
Teatro Municipal de Botucatu,
onde teremos a apresentação
de um Coral e logo após será
servido um coquetel. Na sexta-
feira, haverá apresentação
especial da Camerata de
Botucatu e no sábado, no
encerramento do evento,
teremos uma apresentação de
Conjunto Folcórico Regional
durante a entrega dos prêmios.
Cultura, gastronomia e lazer
O evento conta com a inscrição de
26 autores, com 51 textos
literários, sendo 26 em prosa e
mais 25 poesias. Haverá ainda a
inclusão de 10 textos em prosa e
poesia de acadêmicos de medicina
da FMB previamente selecionados. Todos estes textos
serão publicados nos ANAIS do evento, cuja edição
está sendo preparada para impressão pelo parque
gráfico da UNESP de Botucatu. Um primoroso
trabalho. Assim, durante as quatro sessões literárias
previstas para o evento, teremos a leitura de um
livro ao vivo, na voz de seus autores. Será uma
oportunidade imperdível, aberta ao público e que
acontecerá na sala de eventos do Primar Plaza Hotel.
Concursos de prosa e verso
Todos os textos inscritos na Jornada participam dos
concursos para poesia e prosa. Os textos já foram
entregues aos membros da Academia Botucatuense de
Letras, que escolherão os vencedores. Participarão
como jurados os acadêmicos Antonio Evaldo Klar
(presidente da ABL), Evanil Pires de Campos, Maria
Amélia Blasi Toledo Pizza e Sebastião Avelar Pires. O
prêmio para os vencedores em cada modalidade será o
belíssimo e exclusivo troféu “O Bandeirante”,
confeccionado pela artísta plástica Eleonora Yoshino.
Evento tem caráter nacional
Além de sediar a XII Jornada Paulista, o evento recebe
também a VII Jornada Nacional da Sobrames, e em razão
disso, conta com a participação de representantes de
regionais de vários Estados, estando também programado
um Fórum da Academia Brasileira de Médicos Escritores -
ABRAMES.
Literatura de primeira
Diretoria reuniu-se em Botucatu
8. FATOS & OLHARES
Márcia Etelli Coelho
Jubileu de Prata
SOBRAMES-SP completa 25 ANOS
no dia 18 de setembro de 2013
e a comemoração será na Pizza
Literária do dia 19.
Participe desta efeméride!
XII Jornada Médico-Literária
Paulista e VII Jornada
Nacional da Sobrames
Dias 26, 27, 28 e
29 de setembro, no Hotel Primar
Plaza, em Botucatu-SP.
Prestigie estes eventos!
IX Antologia Paulista
Lançamento na Jornada Literária
de Botucatu em 27 de setembro.
Aguarde confirmação da
data do lançamento em
São Paulo, num Sarau na
Associação Paulista de
Medicina. Previsão para
novembro.
Pizza Literária de Natal
A reunião festiva de Natal já
tem data confirmada para 19 de
dezembro. Não perca!
2014
IX Congresso da UMEAL
De 12 a 15 de março de 2014,
será realizado na cidade de
Maputo (Moçambique) o IX
Congresso da UMEAL. A Comissão
Organizadora, presidida por
Helder Martins, prepara ampla
representatividade cultural dos
povos lusófonos, incluindo
espetáculos com a Companhia
Nacional de Canto e Dança e a
Companhia Teatral “Motumbela
Gogo”, além de sessões literárias,
passeios e gastronomia regional.
Presença confirmada de Paulina
Chiziane e do premiadíssimo Mia
Couto. Em breve maiores
informações!
“QUEM é QUEM”
Resposta na próxima edição.
Participe desta seção
enviando uma foto sua bem
antiga para a redação.
Como tradicionalmente acontece nos
meses de julho, a Pizza Literária foi
dedicada aos autores consagrados.
Assim os sobramistas leram poesias e
crônicas de seus escritores prediletos,
compartilhando com todos a beleza dos
seus textos. No dia 18 também foi
revelado que Marcos Gimenes Salun
conquistou o Prêmio Superpizza de
tema “Saúde” com a crônica
“Curativos Emergenciais para
a Alma - sem efeitos colaterais
e sem contraindicações ”.
AIDA LUCIA PULLIN DAL
SASSO BEGLIOMINI
era a criança retratada na
edição de JULHO.
DESAFIO DO MÊS
Este garoto sorridente é
hoje um ativo batalhador da
SOBRAMES. Você sabe
quem é ele?
CONSAGRADOS NA PIZZA DE JULHO
LANÇAMENTO DA
IX ANTOLOGIA PAULISTA
Em fase final de editoração, os textos
publicados em “O Bandeirante” no
período de abril de 2011 a março de
2013 resultaram em uma Antologia com
146 textos de 40 autores. Sob a
coordenação de Marcos Gimenes Salun, a
IX Antologia Paulista comemorará os 25
anos da Sobrames-SP com lançamento
oficial em setembro, durante a Jornada
em Botucatu, e no sarau na APM previsto
para novembro de 2013. Aguardem
confirmação da data no próximo “O
Bandeirante”.
(Manoel de Barros, um
dos autores consagrados
lembrados na noite)