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ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO



ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO
    EM PRÁTICAS ACADÊMICAS:
                    UM ESTUDO DO RESUMO

                                  Maria de Lourdes Meirelles Matencio*



                                                      RESUMO
              A    produção de resumos na universidade é uma das maneiras através
                   das quais o estudante, além de registrar sua leitura de textos acadê-
              micos, manifesta sua compreensão de conceitos e do saber fazer em sua
              área de conhecimento. Essa atividade, que implica retextualização – ou
              seja, a produção de um novo texto a partir de um ou mais textos-base –, é,
              obviamente, essencial ao processo de formação e de ensino/aprendiza-
              gem que aí se desenvolve. Considerando a importância desse tipo de
              atividade, este texto tem como objetivo refletir sobre as operações tex-
              tual-discursivas envolvidas na produção do resumo, à luz de uma tipo-
              logia que considera o modo de produção e circulação desse gênero.1
              Palavras-chave: Retextualização; Práticas discursivas; Gênero textual;
                              Resumo.




A
         s dificuldades vivenciadas na formação – inicial e continuada – do professor
         de Português no que diz respeito à leitura e produção de textos que circulam
         no meio acadêmico e, por extensão, ao modo de funcionamento dos discur-
sos que constroem e constituem o campo dos estudos da linguagem têm sido cons-
tantemente objeto de trabalhos voltados à formação e prática de ensino/aprendiza-
gem (cf., dentre outros, Assis, Matencio e Silva, 2000; Kleiman, Signorini e colabora-
dores, 2000; Kleiman, 2001; Marinho, 2001).
          Em contribuição anterior (Matencio, 2001), centrei-me na complexa rela-
ção que se estabelece entre o discurso científico, o discurso de vulgarização e o dis-
curso didático – seja na formação do professor, seja em situações de ensino/aprendi-
zagem de língua materna – e em seus efeitos para a interação em sala de aula.

*
    Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
1
    As reflexões apresentadas neste artigo têm sua origem nos estudos desenvolvidos pela equipe do grupo de pes-
    quisa “Estratégias de (re)textualização na oralidade e na escrita”, por mim coordenado.



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Maria de Lourdes Meirelles Matencio

           Naquela ocasião, já assinalava a importância de considerar, na análise do
funcionamento dos discursos sobre a língua/gem, o modo de apropriação da realida-
de por parte das diferentes instituições que interferem na produção de saberes sobre
a língua/gem e seu ensino: (i) as instituições universitárias e de pesquisa, que produ-
zem um saber legitimado sobre a língua/gem como objeto de estudo científico; (ii) as
diversas instituições através das quais esse discurso chega a grupos maiores do que
aqueles que o produzem – particularmente, as instituições governamentais, que ori-
entam os fazeres nas práticas de ensino/aprendizagem, as editoras, que produzem
material didático e, também, a mídia, que cumpre papel crucial para a divulgação
dos discursos produzidos nessas diferentes instituições; (iii) as escolas, instituições
nas quais é fundamentalmente produzido o discurso didático sobre a língua/gem.
Salientava, então, que as especificidades dessas instituições quanto à produção de
seu discurso – seus paradigmas de definições (conceituações), de designações (mo-
dos de nomeação) e de descrições (delimitação de traços) do objeto (cf. Beacco, Moi-
rand, 1995) – dão origem a práticas discursivas bastante diversificadas, particular-
mente no que diz respeito à constituição dos gêneros textuais e à sua atualização em
eventos específicos de interação. Evidenciava, ainda, que o modo de recepção, isto é,
a relação entre produtores e receptores – de simetria ou assimetria, de complementa-
ridade ou não – e a forma de circulação dos textos nessas instituições é bastante
variada. Em outras palavras, dizia que, ao se construir a realidade que cerca a língua/
gem como objeto de estudo e de ensino, defrontam-se objetivos institucionais diver-
sos e, em conseqüência, modos distintos de dizer esse objeto e de saberes sobre ele.
           Mantendo-me fiel a essa perspectiva, neste trabalho investigo a relação en-
tre os discursos que se engendram para constituir os saberes sobre a língua/gem atra-
vés da análise de uma das estratégias mais freqüentes na formação de professores –
que, idealmente, deveria envolver tanto a apropriação e sistematização dos saberes
científicos quanto a construção de conhecimento –, a saber, a retextualização de um
texto acadêmico para o gênero resumo.


TEXTUALIZAR E RETEXTUALIZAR

         Os dados analisados no presente trabalho foram coletados no âmbito do
projeto “Retextualização de textos acadêmicos: leitura, produção de textos e constru-
ção de conhecimentos”,2 cujo objetivo é estudar atividades de retextualização de tex-
tos acadêmicos em situações de ensino que visem à formação profissional, para, de
um lado, (i) descrever as operações textual-discursivas envolvidas no processo de

2
    Desenvolvido desde 2001, com financiamento da Fapemig (SHA 0419/01).


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ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO

retextualização de texto escrito para texto escrito e, de outro, (ii) propor abordagens
do processo de retextualização em situações de ensino que o privilegiem como uma
estratégia de aprendizagem.
           No referido projeto de pesquisa parte-se do princípio de que retextualizar é
produzir um novo texto a partir de um texto-base, pressupondo-se que essa atividade
envolve tanto relações entre gêneros e textos – o fenômeno da intertextualidade –
quanto relações entre discursos – a interdiscursividade. O estudo dessas relações, no
desenvolvimento da pesquisa, não se limita, vale ressaltar, àquelas habitualmente
tratadas quando se aborda a heterogeneidade textual-discursiva – seja ela explícita
ou não –, uma vez que o foco recai sobre o modo como se (re)textualiza, o que en-
volve investigar, na materialidade textual, a manifestação de operações: (i) propria-
mente lingüísticas, ou seja, de organização da informação – de construção dos tópi-
cos, de equilíbrio entre informações dadas/novas –, de formulação do texto – de modos
de dizer – e de progressão referencial – de retomada de referentes e de remissão a re-
ferentes, explícitos ou não; (ii) textuais, já que se referem aos tipos textuais através
dos quais as seqüências lingüísticas dos textos ganham vida – tipo narrativo, disserta-
tivo, argumentativo, injuntivo ou dialogal – e à superestrutura do gênero textual – seu
esquema global; e (iii) discursivas, uma vez que remetem ao evento de interação do
qual o texto emerge – tanto à construção do quadro interlocutivo, isto é, à assunção,
pelos sujeitos, de lugares e papéis sociais, à delimitação de propósitos comunicativos
e do espaço e tempo da interação, quanto aos mecanismos enunciativos, portanto à
diafonia, à polifonia e à modalização.
           É preciso, também, salientar que a forma como a retextualização de texto
escrito para texto escrito tem sido encarada no projeto não permite que se confunda
essa atividade com a de reescrita.3 Em sua origem e desenvolvimento, o referido pro-
jeto adotou a concepção de Marcuschi (2001, p. 46)4 de que retextualizar é transfor-
mar um texto em outro. Entretanto, as análises iniciais e seus resultados foram sufi-
cientes para demonstrar que reescrever/revisar5 um texto qualquer é atividade signi-
ficativamente distinta de produzir um novo texto a partir de um que lhe antecede na


3
    Obviamente, não desconhecemos o fato de que, em muitas práticas sociais, sejam elas escolares ou não, reescri-
    ta e retextualização se confundem com freqüência, mas não podemos negar que, do ponto de vista teórico-
    metodológico, a abordagem dessas atividades não é equivalente.
4
    Há diversos estudos que, assim como o nosso, têm-se pautado na proposta do autor, dentre eles, remeto a Go-
    mes (1995), Laudares (2000) e Rosa (2000).
5
    Dentre os estudos que abordam a reescrita no Brasil, têm-se, em Abaurre et al. (1997), resultados de pesquisa
    que, inserida no paradigma indiciário, trata da reescrita no interior do processo mais amplo de aquisição da es-
    crita e, em Ruiz (2001), resultados de investigação sobre a prática da reescrita – ou refacção – em situações de
    ensino/aprendizagem. Ressalva seja feita para o fato de que, embora seja possível (e desejável) tratar a reescrita
    como atividade distinta da revisão, considerando-se, inclusive, os diferentes eventos de interação que envol-
    vem essas atividades em situações externas à sala de aula, em situações de ensino/aprendizagem, reescrita e re-
    visão podem ser tratadas como equivalentes, por serem concebidas, geralmente, como etapas sucessivas do pro-
    cesso de refacção de textos produzidos pelos alunos.



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Maria de Lourdes Meirelles Matencio

leitura. A esse respeito, o pressuposto é de que, embora, de fato, a atividade de retex-
tualização envolva operações lingüísticas similares àquelas envolvidas no que se tem
denominado reescrita – tais como as operações de acrescentamento, supressão, subs-
tituição e reordenação tópica –, no que se refere às operações textuais e discursivas,
essa semelhança é muito menor; além disso, as variáveis que interferem nesses dois
processos não se comportam de forma semelhante.
          Para discutir as diferenças entre as atividades consideradas no projeto pro-
priamente da retextualização e aquelas que representariam especificamente a rees-
crita de um texto, retomo brevemente as variáveis propostas por Marcuschi (2001) ao
tratar da retextualização de texto falado para texto escrito.
          Segundo o autor, há fundamentalmente quatro variáveis a interferir na ati-
vidade de retextualização. A primeira delas é o propósito da retextualização, o que
determinará as escolhas relativas ao conteúdo temático do texto-base e às estruturas
que se pretende preservar. A segunda variável é relativa à relação entre produtor do
texto-base e transformador. Pode-se dizer que o estabelecimento dessa variável ba-
seia-se em diferentes hipóteses, dentre as quais salienta-se a de que, na retextualiza-
ção, se o retextualizador é também o produtor do texto-base, então se sentirá mais à
vontade para alterar forma e conteúdo; ou a de que, se um retextualizador tem co-
nhecimento do autor e/ou do assunto do texto-base, pode acrescentar informações
que muitas vezes não se encontram (explicitamente) no texto-base; ou, ainda, a de
que as representações que se têm da escrita fazem com que alguns retextualizadores,
por atribuírem valor documental ao texto escrito, sintam-se inibidos na retextualiza-
ção. Também a relação tipológica entre texto-base e retextualização interfere, uma
vez que é possível prever que manter o gênero do texto retextualizado é de alguma
forma seguir uma configuração já definida no texto-base. A formulação típica de
cada modalidade é, também, fator de relevância, já que retextualizar um texto para a
mesma modalidade lingüística em que ele foi produzido é diferente de retextualizá-
lo para outra modalidade.
          Em síntese, o que autor sugere, ao indicar essas diferentes variáveis, é que a
alteração em um ou outro dos fatores que constituem condições de produção/recep-
ção do texto – em outras palavras, na projeção dos interlocutores envolvidos, de seus
propósitos comunicativos, do espaço e tempo da produção/recepção e da modalidade
lingüística à qual se recorre – é determinante dos resultados da retextualização (em-
bora seja possível prever que, em situações diferentes, esses fatores possam ter graus
de interferência também distintos).
          Ora, se retextualizar é produzir um novo texto, então se pode dizer que
toda e qualquer atividade propriamente de retextualização irá implicar, necessaria-
mente, mudança de propósito, porque não se trata mais de operar sobre o mesmo
texto, para transformá-lo – o que seria o caso na reescrita –, mas de produzir novo


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ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO

texto. Uma ilustração expondo a interferência das diferentes variáveis nas atividades
de reescrever/revisar um texto e retextualizar um ou mais textos esclarecerá o que
pretendo dizer.
          Tome-se o exemplo da revisão de um texto feita pelo próprio autor. Nesse
caso, o que está em jogo é fundamentalmente o aprimoramento da escrita, de forma
a adequá-la ao propósito, ao gênero e à modalidade estabelecida. Já na revisão feita
por outrem, não se pode dizer que as alterações resultem propriamente de mudanças
relativas ao propósito, ao gênero e à modalidade (porque o propósito do retextualiza-
dor está, em princípio, subordinado ao propósito do autor do texto-base), mas, sim,
da compreensão do propósito pelo retextualizador e de suas representações do gêne-
ro e da modalidade. Considerem-se, também, as práticas escolares, em que a reescri-
ta tem, freqüentemente, natureza idêntica à da revisão, e nas quais o fator determi-
nante para as alterações sugeridas na transformação do texto parece ser a relação pro-
fessor/aluno, pois a idealização do gênero e da modalidade está subordinada, nesses
casos, ao propósito maior da produção, o de tornar o texto adequado os parâmetros
vigentes de avaliação. Ressalve-se, também, que, mesmo nas práticas escolares que já
incorporaram a reescrita como processo através da qual o aluno executa atividade re-
flexiva sobre a ação de escrever, e nas quais, portanto, essa atividade visa a minorar a
subordinação dos propósitos da reescrita ao processo de avaliação, ainda assim rees-
crever limita-se, geralmente, às atividades em que o aluno deve retomar seu texto pa-
ra aperfeiçoá-lo. Em suma, a reescrita é atividade na qual, através do refinamento
dos parâmetros discursivos, textuais e lingüísticos que norteiam a produção original,
materializa-se uma nova versão do texto.
          Já na retextualização, tal como entendida aqui, opera-se, fundamentalmente,
com novos parâmetros de ação da linguagem, porque se produz novo texto: trata-se,
além de redimensionar as projeções de imagem dos interlocutores, de seus papéis so-
ciais e comunicativos, dos conhecimentos partilhados, assim como de motivações e
intenções, de espaço e tempo de produção/recepção, de atribuir novo propósito à
produção linguageira.


A RETEXTUALIZAÇÃO COMO PROCEDIMENTO DE INSERÇÃO
DO ALUNO NO UNIVERSO DA ESCRITA ACADÊMICA


           Do ponto de vista adotado, analisar a retextualização de textos científicos
ou de vulgarização (científica) implica, como se pode depreender, reflexão sobre ques-
tões relativas não apenas ao próprio objeto de estudo e aos gêneros acadêmicos como
também às práticas discursivas nas quais eles circulam. Em outras palavras, dessa
perspectiva, propor atividades de retextualização na formação do aluno ingressante é


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Maria de Lourdes Meirelles Matencio

também promover sua inserção nas práticas discursivas universitárias, em um movi-
mento que engloba tanto a apropriação de conceitos e procedimentos acadêmico-ci-
entíficos – um saber fazer, portanto – quanto de modos de referência e de textualiza-
ção dos saberes – em outras palavras, um saber dizer.
           Um primeiro aspecto a ser salientado quanto aos percalços na trajetória de
inserção dos alunos diz respeito ao seu desconhecimento de conceitos e de termino-
logia na área. Uma vez que os alunos estão tão-somente começando a ter acesso ao
fazer científico das disciplinas implicadas em seu curso, pode-se supor que, para eles,
uma das maiores dificuldades é ter clareza sobre como abordar as informações lidas
(o que deve ser considerado secundário?, o que deve ser considerado relevante?, o
que deve ser substituído e retextualizado por meio de reformulações?). Isso porque
esses alunos, em sua grande maioria, desconhecem as práticas sociais envolvidas na
produção do saber do domínio científico implicado por seu curso – desconhecem como
se faz pesquisa na área.
           Mas os alunos ingressantes desconhecem, também, as práticas discursivas
das quais emergem os textos que lêem e devem passar a produzir – desconhecem
como são produzidos, recebidos e como circulam os textos produzidos na área. Assim,
pode-se dizer que vivenciam dificuldades relativas ao modo como os papéis sociais,
comunicativos e pessoais devem ser construídos/representados na produção de tex-
tos e também ao uso dos mecanismos enunciativos que sinalizam os enunciadores
(saliente-se aí, como mecanismo enunciativo que representa enorme obstáculo, o
agenciamento de vozes no texto, seja na citação direta, no discurso relatado ou na
assunção de um determinado ponto de vista no seio de uma comunidade discursiva).
           Há, ainda, as dificuldades vinculadas ao conhecimento da configuração e
funcionamento dos gêneros discursivos: tanto as referentes ao conhecimento de sua
configuração regular – a superestrutura do próprio gênero e dos tipos textuais aos quais
se recorre regularmente no gênero, se for o caso – quanto ao funcionamento desse
gênero – modos de produção, recepção e circulação dos textos do referido gênero.
           Também em relação aos propósitos enunciativos pode-se prever a ocorrên-
cia de dificuldades, vinculadas à manifestação dos propósitos enunciativos (ligadas,
por exemplo, ao grau de explicitude das informações considerado adequado pelo
produtor do texto, ao equilíbrio entre informações postas e pressupostas, ou, ainda,
às normas sociais que delineiam as estratégias de manifestação dos propósitos enun-
ciativos); essas dificuldades ligam-se, obviamente, às referentes ao quadro interlocu-
tivo e à atualização do gênero nas práticas sociais em que ele é previsto.
           Finalmente, há dificuldades vinculadas aos recursos passíveis de utilização
no suporte selecionado (considerando-se as possibilidades habituais do gênero tex-
tual) e à representação do contexto institucional, portanto sócio-histórico, de produ-
ção, recepção e circulação do texto (considerando-se a construção do quadro interlo-


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ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO

cutivo, a configuração, o funcionamento e os propósitos habitualmente previstos para
o gênero textual selecionado). Em outras palavras, os alunos sentem-se inseguros em
termos das representações da delimitação do contexto de produção, recepção e circu-
lação do texto.


LER E RESUMIR EM PRÁTICAS ACADÊMICAS

           Para tratar da produção do gênero que interessa a este trabalho – o resumo –,
é preciso refletir sobre o fato de que a noção do que seja resumir recobre diferentes
realidades.
           A ação de resumir está envolvida na atividade de leitura. Em outras pala-
vras, ler um texto implica resumir/sumarizar, mesmo que não demande a escrita de
um outro texto. É desse processo que trata Van Dijk (1988), ao descrever as macror-
regras de sumarização – ou regras de redução da informação semântica de um texto –
através das quais, pela leitura, se chega à macroestrutura de um segmento do texto
ou do texto como um todo. Ou seja, identificar a macroestrutura é, desse ponto de
vista, depreender a proposição de maior alto grau de um dado segmento do texto ou
do texto como um todo, aquela proposição a partir da qual seria possível extrair as
demais.
           As macrorregras, que podem ser consideradas como estratégias através das
quais o leitor sumariza o texto, retendo as informações que considera centrais, envol-
vem estratégias de apagamento, em que há a seleção de proposições relevantes, e
estratégias de substituição, em que se dá a generalização – isto é, a substituição de
um conjunto de nomes de seres, de propriedades e de ações por um nome, proprie-
dade ou ação mais geral – e a construção – ou seja, a substituição de uma seqüência
de proposições por uma proposição que dela é deduzida (cf. Machado, 2002).
           Quando a ação de resumir um texto, além de implicar leitura, envolve tam-
bém a elaboração de um novo texto, isto é, uma retextualização, tem-se a produção
do gênero resumo. Depreender as características desse gênero não é tarefa fácil, pois
seus traços mais relevantes dependem das funções atribuídas à atividade de retextua-
lização.
           É assim que, nas práticas acadêmicas, não raro encontram-se resumos cu-
jas macroestruturas vinculam-se estreitamente apenas a algumas das macroestru-
truras do texto-base; além disso, nesse caso, pode-se verificar que as macroestruturas
selecionadas se encontram no resumo não porque sejam, necessariamente, as princi-
pais na estrutura do texto-base, mas, sim, porque são principais em relação aos pro-
pósitos enunciativos do autor da retextualização. Seriam exemplos desse tipo de re-
sumo aqueles encontrados no interior de artigos, dissertações e teses, cuja função é


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Maria de Lourdes Meirelles Matencio

integrar a discussão do estado da arte em relação ao objeto de estudo daquele que
retextualiza.
           Ainda nas práticas acadêmicas de produção de um resumo podem-se en-
contrar aqueles resumos que, integrados a um texto acadêmico (ao artigo, à disserta-
ção ou à tese), têm a função central de descrever o modo de realização do trabalho
acadêmico e não necessariamente sua estrutura. Novamente, nesse caso, a noção do
que seja principal está diretamente subordinada aos propósitos da retextualização
específica. São exemplos desse tipo de resumo os résumés ou abstracts de trabalho
científico.
           Há pelo menos mais um tipo de resumo encontrado nas práticas acadêmi-
cas, aquele envolvido no processo de elaboração da pesquisa, na etapa em que se faz
levantamento bibliográfico e fichamento das leituras. Esse resumo, diferentemente
dos dois primeiros tipos, tem a função de mapear um campo de estudos ainda a ser
desvendado pelo retextualizador e tem também a função de servir como referência
para consulta em momentos posteriores da pesquisa. Freqüentemente, a elaboração
desse resumo implica alto grau de subordinação ao texto-base, pois se trata de regis-
trar a leitura com uma fidelidade que permita recuperar integralmente os movimen-
tos de sentido do texto-base, ou seja, suas macroproposições.6
           Esses exemplos são o bastante para demonstrar o quanto varia a configura-
ção de um resumo, como decorrência da variação nas representações que se têm da
ação de resumir e das diversas funções que essa ação pode receber nas práticas dis-
cursivas. Esses exemplos são também suficientes para demonstrar dois aspectos en-
volvidos na ação de resumir que se mantêm regularmente nas práticas em que essa
ação se desenrola e que devem, por essa razão, pautar a abordagem desse gênero.
           De um lado, resumir pressupõe selecionar macroproposições, relacioná-las
e reconstruí-las em função dos propósitos atribuídos ao autor do texto-base ou dos
propósitos de uma nova produção, a retextualização. Por outro lado, e em função dos
propósitos da retextualização, o resumo pode funcionar como gênero que não se in-
tegra ao funcionamento de um outro gênero, e nessa situação freqüentemente guar-
dará os traços de configuração do texto-base; ou, então, o resumo pode integrar-se a
um ou mais gêneros, perdendo traços da configuração do texto-base para funcionar
como estratégia textual-discursiva do novo texto ao qual se integra. Portanto, em ter-
mos de práticas de produção de resumos nas instituições de ensino, esses exemplos
parecem indicar que haveria um continuum entre os diferentes tipos de resumo, que
iriam daqueles que mais se aproximam do texto-base – cuja função primordial é a de


6
    Devem ser mencionados, ainda, os resumos que regularmente são produzidos na escola, cuja função primor-
    dial é indicar a compreensão do texto-base. Nesse caso, parece ser desejável a produtores e receptores que o re-
    sumo mantenha um alto grau de fidelidade com relação à configuração – macroestrutural – do texto-base.


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ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO

registrar a leitura – até aqueles que guardam do texto-base apenas referências, que
podem servir a uma nova produção de texto.


RESUMIR NA UNIVERSIDADE: AS OPERAÇÕES REALIZADAS PELOS ALUNOS

          Dois exemplos de resumos do texto “Leitura e gramática” (de autoria de
Angela Kleiman), produzidos por alunos do 2o período de um curso de Letras, po-
dem ilustrar o que estou dizendo. Para elaborar esses resumos, que fazem parte das
primeiras atividades de uma disciplina cujo objetivo é tratar justamente da leitura e
da produção de textos acadêmicos, os alunos não tiveram uma instrução específica.
          A proposta de análise é partir das estratégias textual-discursivas através das
quais os alunos constroem as macroestruturas textuais de seus resumos, procurando,
a partir daí, identificar que relação eles estabelecem com o texto-base e de que modo
eles manifestam essa relação.
          Exemplo 1

             O texto trata da introdução da leitura nas aulas português, dos diversos problemas
             que a gramática convencional possui e da forma equivocada como ela é introdu-
             zida nas escolas, pela metaliguagem e pela análise gramatical.
             Discute-se também a abordagem de diferentes tipos de textos e das várias inter-
             pretações que cada um deles pode assumir de acordo com os interlocutores.
             Há uma reflexão sobre o adjetivo na estrutura lingüística de um texto e sobre as
             funções que ele assume de acordo com seu contexto. Ele é analisado em dois tex-
             tos: um jornalístico e um propagandístico. Finalizando a análise do adjetivo, a
             autora fala da capacidade informativa que o adjetivo possui e de que forma ele
             pode agir nos interlocutores.
             A autora quer que as aulas de português levem o aluno a refletir melhor sobre sua
             língua.

           Nesse primeiro exemplo, o aluno inicia o resumo descrevendo aquela que
seria, a seu ver, a principal proposição do texto-base – o texto trata da introdução da
leitura nas aulas português. No resumo, essa proposição vem acompanhada de duas
outras proposições que seriam, aparentemente, secundárias, embora pareçam essen-
ciais ao movimento argumentativo do texto-base: a primeira refere-se ao fato de o
texto tratar dos diversos problemas que a gramática convencional possui, e a segunda
refere-se ao fato de que o texto trata da forma equivocada como ela (a leitura) é intro-
duzida nas escolas. O aluno chega também a ilustrar as críticas da autora ao tratamen-
to da leitura na escola, referindo-se ao foco na metaliguagem e na análise gramatical.
           Nos dois parágrafos seguintes, o aluno apresenta mais uma série de propo-
sições, mas, nesses trechos, não apresenta, como no 1o parágrafo, uma proposição


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Maria de Lourdes Meirelles Matencio

através da qual seria possível identificar os propósitos da autora do texto-base ao
construir sua argumentação. Em outras palavras, o aluno não chega a indicar a im-
portância da discussão sobre a multiplicidade de leitura dos diferentes tipos de texto
e a relevância da discussão sobre o funcionamento do adjetivo desenvolvida pela au-
tora do texto-base. Além disso, o resumo não cria vínculos explícitos ou inferíveis en-
tre as reflexões às quais se faz menção no 3o e no 4o parágrafo e a proposição de que
o texto trata da introdução da leitura nas aulas português, o que dificultaria a compre-
ensão do movimento argumentativo do texto-base para alguém que o desconheça e
desconheça também a filiação teórico-metodológica da autora. Vale lembrar que a
proposição o texto trata da introdução da leitura nas aulas português é identificada pelo
aluno como a proposição central ao texto-base, portanto, a discussão a que se fez
menção nos parágrafos 3 e 4 deveria ser retomada como argumento para que se de-
fenda a introdução da leitura nas aulas de português. Entretanto, essa proposição é
retomada apenas no último parágrafo, em que se diz que a autora quer que as aulas de
português levem o aluno a refletir melhor sobre sua língua. Nessa retomada, porém, o
aluno não faz referência às relações entre aprendizagem (reflexiva) da língua, ensino
da leitura e ensino da gramática.
           Um dos pontos que merecem atenção é o uso que o aluno faz dos mecanis-
mos enunciativos através dos quais ele atribui à autora do texto-base a co-participa-
ção em sua retextualização. Refiro-me, especificamente, aos segmentos o texto trata
(1a linha), discute-se também (4a linha), há uma reflexão (6a linha), a autora fala (8a li-
nha), a autora quer (penúltima linha). Esses segmentos textuais funcionam como
operações textual-discursivas que nos permitem concluir que o aluno faz mais do
que registrar a leitura ou referir-se a aspectos do texto-base. Afinal, através desses
segmentos, o aluno realiza uma série de operações textual-discursivas cuja função é,
simultaneamente: (i) articular os parágrafos e períodos do texto, (ii) iniciar os seg-
mentos em que são apresentadas as proposições do texto-base, (iii) manifestar a po-
sição da autora do texto-base, (iv) manifestar a posição do autor do resumo em rela-
ção ao que é dito pelo autor do texto-base e (v) estabelecer interlocução com o leitor
do resumo. Portanto, ao lado da relação entre as proposições e macroestruturas do
resumo, o gerenciamento de vozes no texto é uma dimensão que permite fazer uma
série de afirmações sobre o conhecimento que esse aluno tem acerca do gênero e de
suas funções nas práticas discursivas.
           Em termos da análise desse exemplo, pode-se dizer que o resumo do aluno
apresenta alguns problemas em relação ao modo como se relacionam as proposições
e as macroestruturas que ele identificou no texto-base e selecionou para fazer seu
próprio texto. Pode-se também dizer que as estratégias textual-discursivas agencia-
das no gerenciamento de vozes dão indicações da perspectiva adotada pela autora e
da perspectiva de leitura do próprio aluno, além de fornecerem dados sobre uma


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ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO

certa configuração depreendida no texto-base por esse aluno. E, ao fornecerem essas
diferentes indicações, essas estratégias funcionam, também, para estabelecer a inter-
locução com o leitor do resumo.
         No exemplo a seguir, o aluno realiza uma retextualização que, ao contrário
da primeira, tem estrutura a partir da qual é efetivamente impossível estabelecer um
vínculo com o texto-base, caso se desconheça esse texto. Por outro lado, esse é o
resumo que mantém relação mais explícita com as proposições do texto-base.
         Exemplo 2

             O ensino da leitura em âmbito escolar está diretamente relacionado a outras ativi-
             dades do ensino da língua. O ensino da gramática representa um embaraço neste
             processo de ensino, pois verifica-se a inclusão de métodos considerados errados
             para a verdadeira compreensão da leitura.

           O primeiro segmento desse resumo – o ensino da leitura em âmbito escolar
está diretamente relacionado a outras atividades do ensino da língua – é a reformulação
da proposição inicial do texto-base: o ensino da leitura em contexto escolar está indisso-
luvelmente relacionado a outras atividades do ensino de língua materna. O segundo
segmento do texto – o ensino da gramática representa um embaraço neste processo de
ensino – é, por sua vez, a reformulação de um trecho do 2o período do texto-base: eu
gostaria de relacionar aspectos da aula de leitura ao assunto que me parece ser o grande nó
do ensino de língua materna: o ensino de gramática. Finalmente, o segmento final do
resumo – pois verifica-se a inclusão de métodos considerados errados para a verdadeira
compreensão da leitura – retoma ilustrações, fornecidas pela autora, do tratamento
equivocado que a escola dá à gramática: Há duas razões pelas quais considero essa dis-
cussão importante. Primeiro, porque existe uma tendência em introduzir como tópicos
gramaticais a metalinguagem da gramática de texto: em vez de o aluno ter que definir
verbo ele terá de definir coesão. Segundo, porque existe uma tendência em reproduzir a
antiga análise gramatical da frase no texto: assim, o aluno, em vez de ter que procurar um
sujeito na frase terá que achá-lo no poema, ou no conto. A atitude em relação ao ensino
de gramática continua sendo a mesma, porém com rótulos diferentes.
           Pode-se dizer, aliás, que o aluno realiza efetivamente a ação de resumir
apenas na construção desse segmento final. Ou seja, é apenas nesse segmento que se
percebe um movimento de sumarização que implica tanto o apagamento de propo-
sições pela seleção das proposições mais relevantes, como a generalização de uma
série de propriedades de um referente (nesse caso, um objeto-do-discurso: o ensino
de gramática) e a construção de uma nova formulação, através da qual se verifica a
macroproposição central de um segmento de maior extensão. Em outras palavras,
embora os segmentos anteriores do resumo envolvam, como seu segmento final, a
seleção de proposições do texto-base e sua substituição por uma nova formulação,


SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002                             119
Maria de Lourdes Meirelles Matencio

não envolvem a generalização. Um outro aspecto que parece ser relevante é o fato de
que aparece nesse 3o segmento uma marca sutil de que o aluno, ao enunciar, estabe-
lece uma forma de interlocução sobre o dito, quando afirma verifica-se a inclusão de
métodos considerados errados e, pela indeterminação do sujeito, faz referência a um
ponto de vista genérico sobre aquilo que diz.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

           O que esses dois exemplos parecem mostrar é que o gerenciamento de vo-
zes é um dos aspectos de maior importância na abordagem da atividade de resumir,
seja em termos do resumo como ação implicada na leitura, seja em relação ao resu-
mo como gênero textual ao qual se recorre em diferentes práticas discursivas.
           O primeiro resumo mostra que as estratégias de gerenciamento de vozes
são multifuncionais, pois servem, simultaneamente, para: (i) articular as proposi-
ções e macroestruturas do texto-base e do resumo, (ii) manifestar o ponto de vista do
autor do texto-base e o do autor do resumo, (iii) estabelecer a interlocução com o
leitor do resumo. Já o segundo exemplo mostra que a ausência de estratégias que
aspectualizem o gerenciamento de vozes, além de ser uma forma de apagar a interlo-
cução entre os diferentes sujeitos envolvidos na produção e recepção do resumo, pode
ocultar as dificuldades de sumarização na leitura.
           Os dois resumos analisados, representativos do corpus do projeto de pesqui-
sa, que tem acompanhado o processo de aprendizagem de alunos ingressantes em
um curso de Letras de forma longitudinal, são indicadores precisos de um aspecto de
central relevância da abordagem da retextualizações em situação de ensino, a saber, a
de que se deve enfatizar tanto a dimensão proposicional – em segmentos textuais de
extensões variadas (da escolha lexical à construção de enunciados e organização de
tipos textuais) – quanto o gerenciamento de vozes, sobretudo no que diz respeito às
relações entre o texto-base e texto construído a partir dele e no que se refere aos
potenciais efeitos de sentido provocados pelas operações lingüísticas, textuais e dis-
cursivas materializadas na retextualização.
           Acrescento que, ainda do ponto de vista do processo de ensino/aprendiza-
gem, o grupo de trabalho tem clareza de que há muitos questionamentos a respon-
der, dentre os quais podem ser destacados os seguintes: em que medida uma opera-
ção sobre o conteúdo proposicional dá indicações da origem da dificuldade do aluno
(se relativa à compreensão, ao desconhecimento do gênero ou à variante lingüística
que ele utiliza)?; quando uma operação nos dá indícios de que o aluno, embora
tenha compreendido o texto, tem dificuldades de identificar a extensão do conceito
discutido no texto em relação ao campo dos estudos da linguagem?; quando uma


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ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO

operação relativa aos mecanismos enunciativos nos dá indicações de que a dificulda-
de do aluno é vinculada, por exemplo, à delineação do quadro interlocutivo ou, en-
tão, a uma dificuldade relativa à construção da referenciação? Fica registrado aqui o
compromisso de procurar responder a essas perguntas brevemente.




                                                       RÉSUMÉ
             L    a production de résumés à l’Université est l’une des formes par les-
                  quelles l’étudiant enregistre sa lecture des textes scientifiques qu’il
             étudie et en même temps démontre sa compréhension des concepts et
             du savoir faire dans son domaine d’études. Cette activité, qui implique
             la retextualisation – c’est-à-dire, la production d’un nouveau texte à
             partir d’un ou de plusieurs textes – est, naturellement, fondamentale
             pour le processus de formation et de l’enseignement/apprentissage dé-
             veloppé à l’Université. Etant donné l’importance de ce type d’activité,
             cet article a pour but de réfléchir sur les opérations textuelles et discur-
             sives comprises dans la production de résumés, en considérant le fonc-
             tionnement de ce genre textuel.
             Mots-clés: Retextualisation; Pratiques discursives; Genre textuel; Ré-
                        sumé.




Referências bibliográficas
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BEACCO, J.-C.; MOIRAND, S. Autour des discours de transmission de connaissances.
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SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002                              121
Maria de Lourdes Meirelles Matencio

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122                                         SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002

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Resumos

  • 1. ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO Maria de Lourdes Meirelles Matencio* RESUMO A produção de resumos na universidade é uma das maneiras através das quais o estudante, além de registrar sua leitura de textos acadê- micos, manifesta sua compreensão de conceitos e do saber fazer em sua área de conhecimento. Essa atividade, que implica retextualização – ou seja, a produção de um novo texto a partir de um ou mais textos-base –, é, obviamente, essencial ao processo de formação e de ensino/aprendiza- gem que aí se desenvolve. Considerando a importância desse tipo de atividade, este texto tem como objetivo refletir sobre as operações tex- tual-discursivas envolvidas na produção do resumo, à luz de uma tipo- logia que considera o modo de produção e circulação desse gênero.1 Palavras-chave: Retextualização; Práticas discursivas; Gênero textual; Resumo. A s dificuldades vivenciadas na formação – inicial e continuada – do professor de Português no que diz respeito à leitura e produção de textos que circulam no meio acadêmico e, por extensão, ao modo de funcionamento dos discur- sos que constroem e constituem o campo dos estudos da linguagem têm sido cons- tantemente objeto de trabalhos voltados à formação e prática de ensino/aprendiza- gem (cf., dentre outros, Assis, Matencio e Silva, 2000; Kleiman, Signorini e colabora- dores, 2000; Kleiman, 2001; Marinho, 2001). Em contribuição anterior (Matencio, 2001), centrei-me na complexa rela- ção que se estabelece entre o discurso científico, o discurso de vulgarização e o dis- curso didático – seja na formação do professor, seja em situações de ensino/aprendi- zagem de língua materna – e em seus efeitos para a interação em sala de aula. * Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. 1 As reflexões apresentadas neste artigo têm sua origem nos estudos desenvolvidos pela equipe do grupo de pes- quisa “Estratégias de (re)textualização na oralidade e na escrita”, por mim coordenado. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002 109
  • 2. Maria de Lourdes Meirelles Matencio Naquela ocasião, já assinalava a importância de considerar, na análise do funcionamento dos discursos sobre a língua/gem, o modo de apropriação da realida- de por parte das diferentes instituições que interferem na produção de saberes sobre a língua/gem e seu ensino: (i) as instituições universitárias e de pesquisa, que produ- zem um saber legitimado sobre a língua/gem como objeto de estudo científico; (ii) as diversas instituições através das quais esse discurso chega a grupos maiores do que aqueles que o produzem – particularmente, as instituições governamentais, que ori- entam os fazeres nas práticas de ensino/aprendizagem, as editoras, que produzem material didático e, também, a mídia, que cumpre papel crucial para a divulgação dos discursos produzidos nessas diferentes instituições; (iii) as escolas, instituições nas quais é fundamentalmente produzido o discurso didático sobre a língua/gem. Salientava, então, que as especificidades dessas instituições quanto à produção de seu discurso – seus paradigmas de definições (conceituações), de designações (mo- dos de nomeação) e de descrições (delimitação de traços) do objeto (cf. Beacco, Moi- rand, 1995) – dão origem a práticas discursivas bastante diversificadas, particular- mente no que diz respeito à constituição dos gêneros textuais e à sua atualização em eventos específicos de interação. Evidenciava, ainda, que o modo de recepção, isto é, a relação entre produtores e receptores – de simetria ou assimetria, de complementa- ridade ou não – e a forma de circulação dos textos nessas instituições é bastante variada. Em outras palavras, dizia que, ao se construir a realidade que cerca a língua/ gem como objeto de estudo e de ensino, defrontam-se objetivos institucionais diver- sos e, em conseqüência, modos distintos de dizer esse objeto e de saberes sobre ele. Mantendo-me fiel a essa perspectiva, neste trabalho investigo a relação en- tre os discursos que se engendram para constituir os saberes sobre a língua/gem atra- vés da análise de uma das estratégias mais freqüentes na formação de professores – que, idealmente, deveria envolver tanto a apropriação e sistematização dos saberes científicos quanto a construção de conhecimento –, a saber, a retextualização de um texto acadêmico para o gênero resumo. TEXTUALIZAR E RETEXTUALIZAR Os dados analisados no presente trabalho foram coletados no âmbito do projeto “Retextualização de textos acadêmicos: leitura, produção de textos e constru- ção de conhecimentos”,2 cujo objetivo é estudar atividades de retextualização de tex- tos acadêmicos em situações de ensino que visem à formação profissional, para, de um lado, (i) descrever as operações textual-discursivas envolvidas no processo de 2 Desenvolvido desde 2001, com financiamento da Fapemig (SHA 0419/01). 110 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002
  • 3. ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO retextualização de texto escrito para texto escrito e, de outro, (ii) propor abordagens do processo de retextualização em situações de ensino que o privilegiem como uma estratégia de aprendizagem. No referido projeto de pesquisa parte-se do princípio de que retextualizar é produzir um novo texto a partir de um texto-base, pressupondo-se que essa atividade envolve tanto relações entre gêneros e textos – o fenômeno da intertextualidade – quanto relações entre discursos – a interdiscursividade. O estudo dessas relações, no desenvolvimento da pesquisa, não se limita, vale ressaltar, àquelas habitualmente tratadas quando se aborda a heterogeneidade textual-discursiva – seja ela explícita ou não –, uma vez que o foco recai sobre o modo como se (re)textualiza, o que en- volve investigar, na materialidade textual, a manifestação de operações: (i) propria- mente lingüísticas, ou seja, de organização da informação – de construção dos tópi- cos, de equilíbrio entre informações dadas/novas –, de formulação do texto – de modos de dizer – e de progressão referencial – de retomada de referentes e de remissão a re- ferentes, explícitos ou não; (ii) textuais, já que se referem aos tipos textuais através dos quais as seqüências lingüísticas dos textos ganham vida – tipo narrativo, disserta- tivo, argumentativo, injuntivo ou dialogal – e à superestrutura do gênero textual – seu esquema global; e (iii) discursivas, uma vez que remetem ao evento de interação do qual o texto emerge – tanto à construção do quadro interlocutivo, isto é, à assunção, pelos sujeitos, de lugares e papéis sociais, à delimitação de propósitos comunicativos e do espaço e tempo da interação, quanto aos mecanismos enunciativos, portanto à diafonia, à polifonia e à modalização. É preciso, também, salientar que a forma como a retextualização de texto escrito para texto escrito tem sido encarada no projeto não permite que se confunda essa atividade com a de reescrita.3 Em sua origem e desenvolvimento, o referido pro- jeto adotou a concepção de Marcuschi (2001, p. 46)4 de que retextualizar é transfor- mar um texto em outro. Entretanto, as análises iniciais e seus resultados foram sufi- cientes para demonstrar que reescrever/revisar5 um texto qualquer é atividade signi- ficativamente distinta de produzir um novo texto a partir de um que lhe antecede na 3 Obviamente, não desconhecemos o fato de que, em muitas práticas sociais, sejam elas escolares ou não, reescri- ta e retextualização se confundem com freqüência, mas não podemos negar que, do ponto de vista teórico- metodológico, a abordagem dessas atividades não é equivalente. 4 Há diversos estudos que, assim como o nosso, têm-se pautado na proposta do autor, dentre eles, remeto a Go- mes (1995), Laudares (2000) e Rosa (2000). 5 Dentre os estudos que abordam a reescrita no Brasil, têm-se, em Abaurre et al. (1997), resultados de pesquisa que, inserida no paradigma indiciário, trata da reescrita no interior do processo mais amplo de aquisição da es- crita e, em Ruiz (2001), resultados de investigação sobre a prática da reescrita – ou refacção – em situações de ensino/aprendizagem. Ressalva seja feita para o fato de que, embora seja possível (e desejável) tratar a reescrita como atividade distinta da revisão, considerando-se, inclusive, os diferentes eventos de interação que envol- vem essas atividades em situações externas à sala de aula, em situações de ensino/aprendizagem, reescrita e re- visão podem ser tratadas como equivalentes, por serem concebidas, geralmente, como etapas sucessivas do pro- cesso de refacção de textos produzidos pelos alunos. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002 111
  • 4. Maria de Lourdes Meirelles Matencio leitura. A esse respeito, o pressuposto é de que, embora, de fato, a atividade de retex- tualização envolva operações lingüísticas similares àquelas envolvidas no que se tem denominado reescrita – tais como as operações de acrescentamento, supressão, subs- tituição e reordenação tópica –, no que se refere às operações textuais e discursivas, essa semelhança é muito menor; além disso, as variáveis que interferem nesses dois processos não se comportam de forma semelhante. Para discutir as diferenças entre as atividades consideradas no projeto pro- priamente da retextualização e aquelas que representariam especificamente a rees- crita de um texto, retomo brevemente as variáveis propostas por Marcuschi (2001) ao tratar da retextualização de texto falado para texto escrito. Segundo o autor, há fundamentalmente quatro variáveis a interferir na ati- vidade de retextualização. A primeira delas é o propósito da retextualização, o que determinará as escolhas relativas ao conteúdo temático do texto-base e às estruturas que se pretende preservar. A segunda variável é relativa à relação entre produtor do texto-base e transformador. Pode-se dizer que o estabelecimento dessa variável ba- seia-se em diferentes hipóteses, dentre as quais salienta-se a de que, na retextualiza- ção, se o retextualizador é também o produtor do texto-base, então se sentirá mais à vontade para alterar forma e conteúdo; ou a de que, se um retextualizador tem co- nhecimento do autor e/ou do assunto do texto-base, pode acrescentar informações que muitas vezes não se encontram (explicitamente) no texto-base; ou, ainda, a de que as representações que se têm da escrita fazem com que alguns retextualizadores, por atribuírem valor documental ao texto escrito, sintam-se inibidos na retextualiza- ção. Também a relação tipológica entre texto-base e retextualização interfere, uma vez que é possível prever que manter o gênero do texto retextualizado é de alguma forma seguir uma configuração já definida no texto-base. A formulação típica de cada modalidade é, também, fator de relevância, já que retextualizar um texto para a mesma modalidade lingüística em que ele foi produzido é diferente de retextualizá- lo para outra modalidade. Em síntese, o que autor sugere, ao indicar essas diferentes variáveis, é que a alteração em um ou outro dos fatores que constituem condições de produção/recep- ção do texto – em outras palavras, na projeção dos interlocutores envolvidos, de seus propósitos comunicativos, do espaço e tempo da produção/recepção e da modalidade lingüística à qual se recorre – é determinante dos resultados da retextualização (em- bora seja possível prever que, em situações diferentes, esses fatores possam ter graus de interferência também distintos). Ora, se retextualizar é produzir um novo texto, então se pode dizer que toda e qualquer atividade propriamente de retextualização irá implicar, necessaria- mente, mudança de propósito, porque não se trata mais de operar sobre o mesmo texto, para transformá-lo – o que seria o caso na reescrita –, mas de produzir novo 112 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002
  • 5. ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO texto. Uma ilustração expondo a interferência das diferentes variáveis nas atividades de reescrever/revisar um texto e retextualizar um ou mais textos esclarecerá o que pretendo dizer. Tome-se o exemplo da revisão de um texto feita pelo próprio autor. Nesse caso, o que está em jogo é fundamentalmente o aprimoramento da escrita, de forma a adequá-la ao propósito, ao gênero e à modalidade estabelecida. Já na revisão feita por outrem, não se pode dizer que as alterações resultem propriamente de mudanças relativas ao propósito, ao gênero e à modalidade (porque o propósito do retextualiza- dor está, em princípio, subordinado ao propósito do autor do texto-base), mas, sim, da compreensão do propósito pelo retextualizador e de suas representações do gêne- ro e da modalidade. Considerem-se, também, as práticas escolares, em que a reescri- ta tem, freqüentemente, natureza idêntica à da revisão, e nas quais o fator determi- nante para as alterações sugeridas na transformação do texto parece ser a relação pro- fessor/aluno, pois a idealização do gênero e da modalidade está subordinada, nesses casos, ao propósito maior da produção, o de tornar o texto adequado os parâmetros vigentes de avaliação. Ressalve-se, também, que, mesmo nas práticas escolares que já incorporaram a reescrita como processo através da qual o aluno executa atividade re- flexiva sobre a ação de escrever, e nas quais, portanto, essa atividade visa a minorar a subordinação dos propósitos da reescrita ao processo de avaliação, ainda assim rees- crever limita-se, geralmente, às atividades em que o aluno deve retomar seu texto pa- ra aperfeiçoá-lo. Em suma, a reescrita é atividade na qual, através do refinamento dos parâmetros discursivos, textuais e lingüísticos que norteiam a produção original, materializa-se uma nova versão do texto. Já na retextualização, tal como entendida aqui, opera-se, fundamentalmente, com novos parâmetros de ação da linguagem, porque se produz novo texto: trata-se, além de redimensionar as projeções de imagem dos interlocutores, de seus papéis so- ciais e comunicativos, dos conhecimentos partilhados, assim como de motivações e intenções, de espaço e tempo de produção/recepção, de atribuir novo propósito à produção linguageira. A RETEXTUALIZAÇÃO COMO PROCEDIMENTO DE INSERÇÃO DO ALUNO NO UNIVERSO DA ESCRITA ACADÊMICA Do ponto de vista adotado, analisar a retextualização de textos científicos ou de vulgarização (científica) implica, como se pode depreender, reflexão sobre ques- tões relativas não apenas ao próprio objeto de estudo e aos gêneros acadêmicos como também às práticas discursivas nas quais eles circulam. Em outras palavras, dessa perspectiva, propor atividades de retextualização na formação do aluno ingressante é SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002 113
  • 6. Maria de Lourdes Meirelles Matencio também promover sua inserção nas práticas discursivas universitárias, em um movi- mento que engloba tanto a apropriação de conceitos e procedimentos acadêmico-ci- entíficos – um saber fazer, portanto – quanto de modos de referência e de textualiza- ção dos saberes – em outras palavras, um saber dizer. Um primeiro aspecto a ser salientado quanto aos percalços na trajetória de inserção dos alunos diz respeito ao seu desconhecimento de conceitos e de termino- logia na área. Uma vez que os alunos estão tão-somente começando a ter acesso ao fazer científico das disciplinas implicadas em seu curso, pode-se supor que, para eles, uma das maiores dificuldades é ter clareza sobre como abordar as informações lidas (o que deve ser considerado secundário?, o que deve ser considerado relevante?, o que deve ser substituído e retextualizado por meio de reformulações?). Isso porque esses alunos, em sua grande maioria, desconhecem as práticas sociais envolvidas na produção do saber do domínio científico implicado por seu curso – desconhecem como se faz pesquisa na área. Mas os alunos ingressantes desconhecem, também, as práticas discursivas das quais emergem os textos que lêem e devem passar a produzir – desconhecem como são produzidos, recebidos e como circulam os textos produzidos na área. Assim, pode-se dizer que vivenciam dificuldades relativas ao modo como os papéis sociais, comunicativos e pessoais devem ser construídos/representados na produção de tex- tos e também ao uso dos mecanismos enunciativos que sinalizam os enunciadores (saliente-se aí, como mecanismo enunciativo que representa enorme obstáculo, o agenciamento de vozes no texto, seja na citação direta, no discurso relatado ou na assunção de um determinado ponto de vista no seio de uma comunidade discursiva). Há, ainda, as dificuldades vinculadas ao conhecimento da configuração e funcionamento dos gêneros discursivos: tanto as referentes ao conhecimento de sua configuração regular – a superestrutura do próprio gênero e dos tipos textuais aos quais se recorre regularmente no gênero, se for o caso – quanto ao funcionamento desse gênero – modos de produção, recepção e circulação dos textos do referido gênero. Também em relação aos propósitos enunciativos pode-se prever a ocorrên- cia de dificuldades, vinculadas à manifestação dos propósitos enunciativos (ligadas, por exemplo, ao grau de explicitude das informações considerado adequado pelo produtor do texto, ao equilíbrio entre informações postas e pressupostas, ou, ainda, às normas sociais que delineiam as estratégias de manifestação dos propósitos enun- ciativos); essas dificuldades ligam-se, obviamente, às referentes ao quadro interlocu- tivo e à atualização do gênero nas práticas sociais em que ele é previsto. Finalmente, há dificuldades vinculadas aos recursos passíveis de utilização no suporte selecionado (considerando-se as possibilidades habituais do gênero tex- tual) e à representação do contexto institucional, portanto sócio-histórico, de produ- ção, recepção e circulação do texto (considerando-se a construção do quadro interlo- 114 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002
  • 7. ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO cutivo, a configuração, o funcionamento e os propósitos habitualmente previstos para o gênero textual selecionado). Em outras palavras, os alunos sentem-se inseguros em termos das representações da delimitação do contexto de produção, recepção e circu- lação do texto. LER E RESUMIR EM PRÁTICAS ACADÊMICAS Para tratar da produção do gênero que interessa a este trabalho – o resumo –, é preciso refletir sobre o fato de que a noção do que seja resumir recobre diferentes realidades. A ação de resumir está envolvida na atividade de leitura. Em outras pala- vras, ler um texto implica resumir/sumarizar, mesmo que não demande a escrita de um outro texto. É desse processo que trata Van Dijk (1988), ao descrever as macror- regras de sumarização – ou regras de redução da informação semântica de um texto – através das quais, pela leitura, se chega à macroestrutura de um segmento do texto ou do texto como um todo. Ou seja, identificar a macroestrutura é, desse ponto de vista, depreender a proposição de maior alto grau de um dado segmento do texto ou do texto como um todo, aquela proposição a partir da qual seria possível extrair as demais. As macrorregras, que podem ser consideradas como estratégias através das quais o leitor sumariza o texto, retendo as informações que considera centrais, envol- vem estratégias de apagamento, em que há a seleção de proposições relevantes, e estratégias de substituição, em que se dá a generalização – isto é, a substituição de um conjunto de nomes de seres, de propriedades e de ações por um nome, proprie- dade ou ação mais geral – e a construção – ou seja, a substituição de uma seqüência de proposições por uma proposição que dela é deduzida (cf. Machado, 2002). Quando a ação de resumir um texto, além de implicar leitura, envolve tam- bém a elaboração de um novo texto, isto é, uma retextualização, tem-se a produção do gênero resumo. Depreender as características desse gênero não é tarefa fácil, pois seus traços mais relevantes dependem das funções atribuídas à atividade de retextua- lização. É assim que, nas práticas acadêmicas, não raro encontram-se resumos cu- jas macroestruturas vinculam-se estreitamente apenas a algumas das macroestru- truras do texto-base; além disso, nesse caso, pode-se verificar que as macroestruturas selecionadas se encontram no resumo não porque sejam, necessariamente, as princi- pais na estrutura do texto-base, mas, sim, porque são principais em relação aos pro- pósitos enunciativos do autor da retextualização. Seriam exemplos desse tipo de re- sumo aqueles encontrados no interior de artigos, dissertações e teses, cuja função é SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002 115
  • 8. Maria de Lourdes Meirelles Matencio integrar a discussão do estado da arte em relação ao objeto de estudo daquele que retextualiza. Ainda nas práticas acadêmicas de produção de um resumo podem-se en- contrar aqueles resumos que, integrados a um texto acadêmico (ao artigo, à disserta- ção ou à tese), têm a função central de descrever o modo de realização do trabalho acadêmico e não necessariamente sua estrutura. Novamente, nesse caso, a noção do que seja principal está diretamente subordinada aos propósitos da retextualização específica. São exemplos desse tipo de resumo os résumés ou abstracts de trabalho científico. Há pelo menos mais um tipo de resumo encontrado nas práticas acadêmi- cas, aquele envolvido no processo de elaboração da pesquisa, na etapa em que se faz levantamento bibliográfico e fichamento das leituras. Esse resumo, diferentemente dos dois primeiros tipos, tem a função de mapear um campo de estudos ainda a ser desvendado pelo retextualizador e tem também a função de servir como referência para consulta em momentos posteriores da pesquisa. Freqüentemente, a elaboração desse resumo implica alto grau de subordinação ao texto-base, pois se trata de regis- trar a leitura com uma fidelidade que permita recuperar integralmente os movimen- tos de sentido do texto-base, ou seja, suas macroproposições.6 Esses exemplos são o bastante para demonstrar o quanto varia a configura- ção de um resumo, como decorrência da variação nas representações que se têm da ação de resumir e das diversas funções que essa ação pode receber nas práticas dis- cursivas. Esses exemplos são também suficientes para demonstrar dois aspectos en- volvidos na ação de resumir que se mantêm regularmente nas práticas em que essa ação se desenrola e que devem, por essa razão, pautar a abordagem desse gênero. De um lado, resumir pressupõe selecionar macroproposições, relacioná-las e reconstruí-las em função dos propósitos atribuídos ao autor do texto-base ou dos propósitos de uma nova produção, a retextualização. Por outro lado, e em função dos propósitos da retextualização, o resumo pode funcionar como gênero que não se in- tegra ao funcionamento de um outro gênero, e nessa situação freqüentemente guar- dará os traços de configuração do texto-base; ou, então, o resumo pode integrar-se a um ou mais gêneros, perdendo traços da configuração do texto-base para funcionar como estratégia textual-discursiva do novo texto ao qual se integra. Portanto, em ter- mos de práticas de produção de resumos nas instituições de ensino, esses exemplos parecem indicar que haveria um continuum entre os diferentes tipos de resumo, que iriam daqueles que mais se aproximam do texto-base – cuja função primordial é a de 6 Devem ser mencionados, ainda, os resumos que regularmente são produzidos na escola, cuja função primor- dial é indicar a compreensão do texto-base. Nesse caso, parece ser desejável a produtores e receptores que o re- sumo mantenha um alto grau de fidelidade com relação à configuração – macroestrutural – do texto-base. 116 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002
  • 9. ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO registrar a leitura – até aqueles que guardam do texto-base apenas referências, que podem servir a uma nova produção de texto. RESUMIR NA UNIVERSIDADE: AS OPERAÇÕES REALIZADAS PELOS ALUNOS Dois exemplos de resumos do texto “Leitura e gramática” (de autoria de Angela Kleiman), produzidos por alunos do 2o período de um curso de Letras, po- dem ilustrar o que estou dizendo. Para elaborar esses resumos, que fazem parte das primeiras atividades de uma disciplina cujo objetivo é tratar justamente da leitura e da produção de textos acadêmicos, os alunos não tiveram uma instrução específica. A proposta de análise é partir das estratégias textual-discursivas através das quais os alunos constroem as macroestruturas textuais de seus resumos, procurando, a partir daí, identificar que relação eles estabelecem com o texto-base e de que modo eles manifestam essa relação. Exemplo 1 O texto trata da introdução da leitura nas aulas português, dos diversos problemas que a gramática convencional possui e da forma equivocada como ela é introdu- zida nas escolas, pela metaliguagem e pela análise gramatical. Discute-se também a abordagem de diferentes tipos de textos e das várias inter- pretações que cada um deles pode assumir de acordo com os interlocutores. Há uma reflexão sobre o adjetivo na estrutura lingüística de um texto e sobre as funções que ele assume de acordo com seu contexto. Ele é analisado em dois tex- tos: um jornalístico e um propagandístico. Finalizando a análise do adjetivo, a autora fala da capacidade informativa que o adjetivo possui e de que forma ele pode agir nos interlocutores. A autora quer que as aulas de português levem o aluno a refletir melhor sobre sua língua. Nesse primeiro exemplo, o aluno inicia o resumo descrevendo aquela que seria, a seu ver, a principal proposição do texto-base – o texto trata da introdução da leitura nas aulas português. No resumo, essa proposição vem acompanhada de duas outras proposições que seriam, aparentemente, secundárias, embora pareçam essen- ciais ao movimento argumentativo do texto-base: a primeira refere-se ao fato de o texto tratar dos diversos problemas que a gramática convencional possui, e a segunda refere-se ao fato de que o texto trata da forma equivocada como ela (a leitura) é intro- duzida nas escolas. O aluno chega também a ilustrar as críticas da autora ao tratamen- to da leitura na escola, referindo-se ao foco na metaliguagem e na análise gramatical. Nos dois parágrafos seguintes, o aluno apresenta mais uma série de propo- sições, mas, nesses trechos, não apresenta, como no 1o parágrafo, uma proposição SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002 117
  • 10. Maria de Lourdes Meirelles Matencio através da qual seria possível identificar os propósitos da autora do texto-base ao construir sua argumentação. Em outras palavras, o aluno não chega a indicar a im- portância da discussão sobre a multiplicidade de leitura dos diferentes tipos de texto e a relevância da discussão sobre o funcionamento do adjetivo desenvolvida pela au- tora do texto-base. Além disso, o resumo não cria vínculos explícitos ou inferíveis en- tre as reflexões às quais se faz menção no 3o e no 4o parágrafo e a proposição de que o texto trata da introdução da leitura nas aulas português, o que dificultaria a compre- ensão do movimento argumentativo do texto-base para alguém que o desconheça e desconheça também a filiação teórico-metodológica da autora. Vale lembrar que a proposição o texto trata da introdução da leitura nas aulas português é identificada pelo aluno como a proposição central ao texto-base, portanto, a discussão a que se fez menção nos parágrafos 3 e 4 deveria ser retomada como argumento para que se de- fenda a introdução da leitura nas aulas de português. Entretanto, essa proposição é retomada apenas no último parágrafo, em que se diz que a autora quer que as aulas de português levem o aluno a refletir melhor sobre sua língua. Nessa retomada, porém, o aluno não faz referência às relações entre aprendizagem (reflexiva) da língua, ensino da leitura e ensino da gramática. Um dos pontos que merecem atenção é o uso que o aluno faz dos mecanis- mos enunciativos através dos quais ele atribui à autora do texto-base a co-participa- ção em sua retextualização. Refiro-me, especificamente, aos segmentos o texto trata (1a linha), discute-se também (4a linha), há uma reflexão (6a linha), a autora fala (8a li- nha), a autora quer (penúltima linha). Esses segmentos textuais funcionam como operações textual-discursivas que nos permitem concluir que o aluno faz mais do que registrar a leitura ou referir-se a aspectos do texto-base. Afinal, através desses segmentos, o aluno realiza uma série de operações textual-discursivas cuja função é, simultaneamente: (i) articular os parágrafos e períodos do texto, (ii) iniciar os seg- mentos em que são apresentadas as proposições do texto-base, (iii) manifestar a po- sição da autora do texto-base, (iv) manifestar a posição do autor do resumo em rela- ção ao que é dito pelo autor do texto-base e (v) estabelecer interlocução com o leitor do resumo. Portanto, ao lado da relação entre as proposições e macroestruturas do resumo, o gerenciamento de vozes no texto é uma dimensão que permite fazer uma série de afirmações sobre o conhecimento que esse aluno tem acerca do gênero e de suas funções nas práticas discursivas. Em termos da análise desse exemplo, pode-se dizer que o resumo do aluno apresenta alguns problemas em relação ao modo como se relacionam as proposições e as macroestruturas que ele identificou no texto-base e selecionou para fazer seu próprio texto. Pode-se também dizer que as estratégias textual-discursivas agencia- das no gerenciamento de vozes dão indicações da perspectiva adotada pela autora e da perspectiva de leitura do próprio aluno, além de fornecerem dados sobre uma 118 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002
  • 11. ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO certa configuração depreendida no texto-base por esse aluno. E, ao fornecerem essas diferentes indicações, essas estratégias funcionam, também, para estabelecer a inter- locução com o leitor do resumo. No exemplo a seguir, o aluno realiza uma retextualização que, ao contrário da primeira, tem estrutura a partir da qual é efetivamente impossível estabelecer um vínculo com o texto-base, caso se desconheça esse texto. Por outro lado, esse é o resumo que mantém relação mais explícita com as proposições do texto-base. Exemplo 2 O ensino da leitura em âmbito escolar está diretamente relacionado a outras ativi- dades do ensino da língua. O ensino da gramática representa um embaraço neste processo de ensino, pois verifica-se a inclusão de métodos considerados errados para a verdadeira compreensão da leitura. O primeiro segmento desse resumo – o ensino da leitura em âmbito escolar está diretamente relacionado a outras atividades do ensino da língua – é a reformulação da proposição inicial do texto-base: o ensino da leitura em contexto escolar está indisso- luvelmente relacionado a outras atividades do ensino de língua materna. O segundo segmento do texto – o ensino da gramática representa um embaraço neste processo de ensino – é, por sua vez, a reformulação de um trecho do 2o período do texto-base: eu gostaria de relacionar aspectos da aula de leitura ao assunto que me parece ser o grande nó do ensino de língua materna: o ensino de gramática. Finalmente, o segmento final do resumo – pois verifica-se a inclusão de métodos considerados errados para a verdadeira compreensão da leitura – retoma ilustrações, fornecidas pela autora, do tratamento equivocado que a escola dá à gramática: Há duas razões pelas quais considero essa dis- cussão importante. Primeiro, porque existe uma tendência em introduzir como tópicos gramaticais a metalinguagem da gramática de texto: em vez de o aluno ter que definir verbo ele terá de definir coesão. Segundo, porque existe uma tendência em reproduzir a antiga análise gramatical da frase no texto: assim, o aluno, em vez de ter que procurar um sujeito na frase terá que achá-lo no poema, ou no conto. A atitude em relação ao ensino de gramática continua sendo a mesma, porém com rótulos diferentes. Pode-se dizer, aliás, que o aluno realiza efetivamente a ação de resumir apenas na construção desse segmento final. Ou seja, é apenas nesse segmento que se percebe um movimento de sumarização que implica tanto o apagamento de propo- sições pela seleção das proposições mais relevantes, como a generalização de uma série de propriedades de um referente (nesse caso, um objeto-do-discurso: o ensino de gramática) e a construção de uma nova formulação, através da qual se verifica a macroproposição central de um segmento de maior extensão. Em outras palavras, embora os segmentos anteriores do resumo envolvam, como seu segmento final, a seleção de proposições do texto-base e sua substituição por uma nova formulação, SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002 119
  • 12. Maria de Lourdes Meirelles Matencio não envolvem a generalização. Um outro aspecto que parece ser relevante é o fato de que aparece nesse 3o segmento uma marca sutil de que o aluno, ao enunciar, estabe- lece uma forma de interlocução sobre o dito, quando afirma verifica-se a inclusão de métodos considerados errados e, pela indeterminação do sujeito, faz referência a um ponto de vista genérico sobre aquilo que diz. CONSIDERAÇÕES FINAIS O que esses dois exemplos parecem mostrar é que o gerenciamento de vo- zes é um dos aspectos de maior importância na abordagem da atividade de resumir, seja em termos do resumo como ação implicada na leitura, seja em relação ao resu- mo como gênero textual ao qual se recorre em diferentes práticas discursivas. O primeiro resumo mostra que as estratégias de gerenciamento de vozes são multifuncionais, pois servem, simultaneamente, para: (i) articular as proposi- ções e macroestruturas do texto-base e do resumo, (ii) manifestar o ponto de vista do autor do texto-base e o do autor do resumo, (iii) estabelecer a interlocução com o leitor do resumo. Já o segundo exemplo mostra que a ausência de estratégias que aspectualizem o gerenciamento de vozes, além de ser uma forma de apagar a interlo- cução entre os diferentes sujeitos envolvidos na produção e recepção do resumo, pode ocultar as dificuldades de sumarização na leitura. Os dois resumos analisados, representativos do corpus do projeto de pesqui- sa, que tem acompanhado o processo de aprendizagem de alunos ingressantes em um curso de Letras de forma longitudinal, são indicadores precisos de um aspecto de central relevância da abordagem da retextualizações em situação de ensino, a saber, a de que se deve enfatizar tanto a dimensão proposicional – em segmentos textuais de extensões variadas (da escolha lexical à construção de enunciados e organização de tipos textuais) – quanto o gerenciamento de vozes, sobretudo no que diz respeito às relações entre o texto-base e texto construído a partir dele e no que se refere aos potenciais efeitos de sentido provocados pelas operações lingüísticas, textuais e dis- cursivas materializadas na retextualização. Acrescento que, ainda do ponto de vista do processo de ensino/aprendiza- gem, o grupo de trabalho tem clareza de que há muitos questionamentos a respon- der, dentre os quais podem ser destacados os seguintes: em que medida uma opera- ção sobre o conteúdo proposicional dá indicações da origem da dificuldade do aluno (se relativa à compreensão, ao desconhecimento do gênero ou à variante lingüística que ele utiliza)?; quando uma operação nos dá indícios de que o aluno, embora tenha compreendido o texto, tem dificuldades de identificar a extensão do conceito discutido no texto em relação ao campo dos estudos da linguagem?; quando uma 120 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002
  • 13. ATIVIDADES DE (RE)TEXTUALIZAÇÃO EM PRÁTICAS ACADÊMICAS: UM ESTUDO DO RESUMO operação relativa aos mecanismos enunciativos nos dá indicações de que a dificulda- de do aluno é vinculada, por exemplo, à delineação do quadro interlocutivo ou, en- tão, a uma dificuldade relativa à construção da referenciação? Fica registrado aqui o compromisso de procurar responder a essas perguntas brevemente. RÉSUMÉ L a production de résumés à l’Université est l’une des formes par les- quelles l’étudiant enregistre sa lecture des textes scientifiques qu’il étudie et en même temps démontre sa compréhension des concepts et du savoir faire dans son domaine d’études. Cette activité, qui implique la retextualisation – c’est-à-dire, la production d’un nouveau texte à partir d’un ou de plusieurs textes – est, naturellement, fondamentale pour le processus de formation et de l’enseignement/apprentissage dé- veloppé à l’Université. Etant donné l’importance de ce type d’activité, cet article a pour but de réfléchir sur les opérations textuelles et discur- sives comprises dans la production de résumés, en considérant le fonc- tionnement de ce genre textuel. Mots-clés: Retextualisation; Pratiques discursives; Genre textuel; Ré- sumé. Referências bibliográficas ABAURRE, M. B.; FIAD, R.; MAYRINK-SABINSON, M. L. Cenas de aquisição da escri- ta: o sujeito e o trabalho com o texto. Campinas: Mercado de Letras, 1997. ASSIS, J. A., MATENCIO, M. L. M., SILVA, J. Q. Explorando as representações do texto escrito. Scripta, Belo Horizonte, v. 4, n. 7, p. 125-140, 2001. BEACCO, J.-C.; MOIRAND, S. Autour des discours de transmission de connaissances. Languages, Paris: Didier Érudition, n. 117, p. 32-53, 1995. BRONCKART, J.-P Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo . sócio-discursivo. Trad. Anna Rachel Machado e Péricles Cunha. São Paulo: EDUC, 1999. GOMES, I. M. Dos laboratórios aos jornais: um estudo sobre jornalismo científico. Recife: UFPE, 1995. (Dissertação, Mestrado) KLEIMAN, A.; SIGNORINI, I. (Orgs.). O ensino e a formação do professor. Porto Ale- gre: Artmed, 2002. KLEIMAN, A. (Org.). A formação do professor: perspectivas da lingüística aplicada. Cam- pinas: Mercado de Letras, 2001. LAUDARES, A. M. Relatório final do Projeto “Da fala para a escrita”: o fenômeno da retextualização. Belo Horizonte: PUC Minas, 2000. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002 121
  • 14. Maria de Lourdes Meirelles Matencio MACHADO, A. R. Revisitando o conceito de resumo. In: DIONÍSIO, A.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs.). Gêneros textuais e ensino. São Paulo/Rio de Janeiro; EDUC/ Lucerna, 2002. MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cor- tez, 2001. MARINHO, Marildes (Org.). Ler e navegar: espaços e percursos da leitura. Campinas: ALB/CEALE/Mercado de Letras, 2001. MATENCIO, M. L. M. Retextualização de textos acadêmicos: leitura, produção de textos e construção de conhecimentos. Projeto de Pesquisa/Fapemig. Belo Horizonte: PUC Mi- nas, 2001. MATENCIO, M. L. M. Estudo da língua falada e aula de língua materna: uma aborda- gem processual da interação professor/alunos. Campinas: Mercado de Letras, 2001. ROSA, C. Do oral para o escrito: trajetória de uma retextualização coletiva. Belo Horizon- te: PUC Minas, 2000. (Dissertação, Mestrado em Língua Portuguesa). RUIZ, E. M. Como se corrige redação na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2001. VAN DIJK, T. La ciencia del texto. Madrid: Paidós, 1988. 122 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002